O governo de Brasília (GDF) anunciou semana passada um pacote de obras que tem a pretensão de melhorar a mobilidade dos brasilienses, com investimentos em anel viário, ciclovias e passarelas, entre outros. No entanto, uma análise mais detalhada sobre esse pacote revela que ele falha miseravelmente. Os números são grandiosos – R$ 350 milhões em investimentos, quase 50 quilômetros de ciclovias, um grande anel viário no final da Asa Norte – mas faltou (e muito) bom senso para garantir segurança e qualidade ao projeto, principalmente em relação aos ciclistas. Parece que o GDF ainda não sabe quais serão as reais necessidades dos ciclistas e pedestres que farão uso das novas infraestruturas.
A questão da ciclovia da EPTG, que vai ligar a Octogonal ao Pistão EPCL é que ela não conecta o Plano Piloto a Taguatinga, não havendo ainda travessias sobre o Pistão para o que o ciclista chegue em Taguatinga. Além disso, a falta de iluminação pública na região torna o trajeto da Octogonal até a EPTG perigoso aos ciclistas.
O Departamento de Estradas de Rodagem do Distrito Federal (DER-DF), responsável pelo projeto e pelas obras, afirma que a ciclovia se conectará a outras previstas para o Pistão sul e norte, só não diz quando estas serão implantadas. Afirma também que há previsão de construção de um túnel na Avenida Central de Taguatinga, mas o projeto ainda está em análise e não tem previsão alguma de ser implantado, por isso não é possível conectar a ciclovia da EPTG à avenida Central de Taguatinga.
Outro grave problema é a falta de iluminação pública nas ciclovias propostas. Em diversos trechos há locais isolados que não oferecem segurança alguma aos ciclistas – principalmente às mulheres. Aliás, essa é uma infeliz regra no Distrito Federal, que conta com mais de 400 quilômetros de ciclovias desde 2011, mas nenhuma iluminação em trecho algum. O DER diz que a Companhia Energética de Brasília (CEB) é a responsável pela iluminação, porém a obra nem prevê a instalação de uma iluminação.
Os ciclistas que se aventurarem por essa ciclovia também terão que se virar toda vez que chegarem em um ponto de ônibus na EPTG. Em quase 50% do trajeto da ciclovia, ela segue pelo canteiro central da EPTG, mas quando passa pelos pontos de ônibus, é interrompida – e o ciclista tem que ir para a rua ou passar no meio dos pedestres no ponto. Segundo o DER-DF, a interrupção das ciclovias nos pontos de ônibus foi exigência da Secretaria de Mobilidade do DF (Semob), devendo eles transitar pelo espaço entre as paradas de ônibus. O problema é que esse espaço não existe, fazendo com que os ciclistas tenham que transitar entre os passageiros do transporte público que estarão aguardando, embarcando e desembarcando dos ônibus.
Há também a questão das várias estradas de terra não oficiais que são utilizadas por automóveis e até caminhões para acessar lotes próximos à EPTG. A ciclovia vai passar por vários desses locais onde o tráfego de veículos, principalmente os pesados, irá danificar as ciclovias. O DER não prevê nenhuma solução para impedir que as ciclovias sejam destruídas por esse trânsito informal, e nem informa quem fará a manutenção caso a ciclovia seja danificada.
“Fica claro que o projeto não pensou na realidade do local onde a ciclovia será implantada, pois outras rotas e infraestruturas poderiam ser implantadas para garantir a segurança e o conforto dos ciclistas e a integridade da própria ciclovia”, afirma Yuriê Baptista, assessor político do Instituto de Estudos Socioecômicos (Inesc). “O projeto é tão falho que até mesmo a sinalização que será implantada não segue um padrão em todos os locais onde ela seria necessária.”
Segundo Yuriê, vários problemas pontuais poderiam ter sido resolvidos ou amenizados se um estudo mais detalhado do local e das necessidades dos ciclistas tivesse sido realizado. “Muitos desses problemas foram simplesmente ignorados, deixando alguns trechos sem ciclovia ou travessias. Não se preocuparam com a segurança das pessoas que vão efetivamente circular por essas áreas de bicicleta.”
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