Em artigo publicado no site da revista Carta Capital, Cida Bento, doutora em Psicologia e coordenadora executiva do Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades (CEERT), afirma que parecer haver um objetivo ‘explícito e deliberado’ das forças retrógradas que deram o golpe e tomaram o poder de “mostrar aos movimentos sociais que eles não contam no cenário político atual” e que “seus direitos, conquistados nas ruas, podem ser derrubados com qualquer canetada.” Segundo Cida Bento, o novo governo e seus integrantes deixam claro que todo e qualquer órgão criado para tratar de direitos podem ser extintos e recriados como se fosse uma estrutura burocrática qualquer.
Mas a sociedade civil tem reagido, observa a psicóloga, em todo o país e até no exterior. Mesmo com a grande mídia corporativa tentando esconder os protestos em suas páginas e programas de rádio e TV, as muitas e diversas vozes podem se fazer ouvir graças às redes sociais.
“Provavelmente, o esforço em invisibilizar as expressivas manifestações destes diferentes grupos se deve ao fato de que suas reivindicações escancaram a gravidade do retrocesso em curso. Retrocesso que desconsidera as inúmeras políticas criadas na última década para combater a violência racial e a desigualdade, num dos países mais desiguais do mundo. Isso fere e avilta a democracia.”
Cida Campos avalia que uma das chaves para barrar o retrocesso – de hoje e de amanhã – é “desenvolver esforços para que o voto seja expressivo daquilo que representa uma resposta ao retrocesso atual e um esforço na retomada do processo democrático, com todos os seus desafios”.
“Precisamos alterar, por exemplo, o perfil dos deputados e senadores, majoritariamente homens, brancos, com média de 50 anos. As mulheres representam menos de 10% do total de parlamentares, os negros idem, e as mulheres negras cerca de 2% deste total, segundo pesquisa do Instituto de Estudos Socioeconômicos – Inesc, com relação às eleições 2014.”