O Brasil está entre os 10 países que mais mata jovens no mundo, e a maior parte deles são negros e pobres, das periferias das grandes cidades. Segundo o relatório Mapa da Violência 2016, lançado semana passada (quinta-feira 15/2) na Câmara dos Deputados, em Brasília, foram mortos mais de 25 mil jovens entre 15 e 29 anos por armas de fogo no Brasil em 2014, o que representa um aumento de quase 700% em relação aos dados de 1980, quando o número de vítimas nessa faixa etária foi pouco mais de 3 mil no período.
Os dados confirmam ainda que a população negra brasileira é extremamente vulnerável: morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos no Brasil em homicídios cometidos com armas de fogo. O Mapa, inclusive, mostra que entre 2003 e 2014, o índice de mortes de pessoas negras aumentou (de 24,9 mortes por 100 mil habitantes para 27,4 – um aumento de 9,9%) enquanto que o de pessoas brancas diminuiu (de 14,5 para 10,6 – uma queda de 27,1%).
Em números absolutos, o estudo revela um crescimento de 46% no número de negros vítimas de homicídio por arma de fogo — de 20.291, em 2003, para 29.813, em 2014. Em 2003, morriam 71,7% mais negros do que brancos por esse tipo de crime. A proporção chegou a 158,9% em 2014. (2,6 vezes mais).
O estudo analisa a evolução dos homicídios por armas de fogo no Brasil no período entre 1980 e 2014, e estuda a incidência de fatores como o sexo, a raça/cor e as idades das vítimas dessa mortalidade. São apontadas as características da evolução dos homicídios por armas de fogo nas 27 Unidades da Federação, nas 27 Capitais e nos municípios com elevados níveis de mortalidade causada por armas de fogo.
“O Mapa da Violência já está existe há quase 20 anos. Precisamos denunciar que se trata de um projeto político, um sistema que extermina jovens negros. Há uma autorização social para que isso aconteça, e normas do Estado como ‘autos de resistência‘ corroboram com esse escândalo”, afirma Carmela Zigoni, assessora política do Inesc, lembrando que no cenário político atual, com as instituições desmoralizadas como estão, a tendência é termos mais repressão por meio de violência, e maior impunidade. “As comunidades e as famílias desses jovens estão em luto permanente.”
Consulte o Mapa da Violência 2016 aqui.
“Apesar de serem apontados como os principais responsáveis pelas alarmantes estatísticas no Brasil, os adolescentes são mais vítimas do que autores de atos violentos”, afirmou Jaime Nadal, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no lançamento do Mapa da Violência 2016 na Câmada dos Deputados. Para ele, é preciso mudar a forma como a juventude é vista no Brasil.
Saiba mais sobre o lançamento do relatório no site da ONU Brasil.
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