O Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) lança duas publicações que colocam em foco uma região extremamente estratégica para a exportação de commodities brasileiras. O distrito de Miritituba, no Pará, chega a receber até 1500 carretas de soja por dia na alta safra, vindas do estado de Mato Grosso. Da pequena cidade de 15 mil habitantes, a produção é escoada pelas águas do rio Tapajós até o porto de Santana (AP), Barcarena e Santarém (PA), fazendo assim um caminho muito mais curto do que quando a soja é exportada via os portos do sul e sudeste do país.
Um relatório da Agência Nacional Transportes Aquaviários (ANTAQ) mostra um crescimento da ordem de 10,8% das exportações de soja e milho pelos portos do norte do país em 2020. Também calcula uma evolução da movimentação de cargas de grãos, entre 2010 e 2020, que quase alcança os 500% .
Desde 2019, o Inesc acompanha esta realidade. Fruto deste trabalho, foram publicados o guia ilustrado Logística no Médio Tapajós: o caso de Itaituba-Miritituba, que aborda os interesses e atores por traz deste contexto; e o guia “Governança” da infraestrutura no Brasil: um olhar a partir de Itaituba e Miritituba, que analisa os arranjos realizados na legislação e nas políticas públicas públicas para tornar os investimentos possíveis.
“Estas publicações nascem da necessidade de avaliar criticamente o projeto ‘Arco Norte’, um complexo logístico na região amazônica de exportação de grãos que, assim como outros projetos de grandes empresas, costumam ser acompanhados de mau agouro, mas são vendidos como boa nova”, explica Tatiana Oliveira, assessora política do Inesc e co-autora das publicações.
As publicações
O guia ilustrado Logística no Médio Tapajós: o caso de Itaituba-Miritituba faz uma radiografia do contexto de investimentos em infraestrutura-logística na Amazônia e mostra como a agrovila de Miritituba tem sido obrigada a se adaptar às dinâmicas impostas pelos empreendimentos que movimentam um grande volume de mercadorias.
A publicação destaca também o papel no território das empresas ADM, Bunge, Cargill e Louis Dreyfus (conhecidas como ABCDs), cuja atividade econômica se concentra na circulação de mercadorias que alimentam as redes globais de produção. A partir de entrevistas com moradores, o guia traz, ainda, os graves impactos das estruturas portuárias no modo de vida da população que vive ali.
O segundo guia, “Governança” da infraestrutura no Brasil: um olhar a partir de Itaituba e Miritituba discute como o Estado atua como estruturador dos investimentos privados que chegam à região, transformando as demandas dos investidores em política pública. Para tanto, a publicação traz uma análise da implementação dos programas governamentais de planejamento e infraestrutura (e as reformas legislativas que os acompanham) e destaca os arranjos realizados para tornar os investimentos privados possíveis em Miritituba. O foco do estudo é o setor da infraestrutura logístico-portuária entre 2007 e 2020.