Estudo realizado pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) sobre as eleições municipais de 2024 revela uma tendência preocupante no cenário político brasileiro: mais da metade dos municípios do país terão apenas um ou dois candidatos disputando a prefeitura. Dos 5.569 municípios, 2.993 terão até dois candidatos, sendo 227 com apenas um candidato.
Segundo a análise, houve um aumento significativo no número de municípios com candidaturas únicas ou duplas em relação às eleições de 2020, com um crescimento de mais de 10% na quantidade de cidades com apenas dois candidatos. Este fenômeno reflete uma mudança nas dinâmicas políticas locais, onde a polarização entre direita e esquerda, tão evidente em outros níveis, não se manifesta com a mesma intensidade nas disputas municipais.
“Essa situação limita drasticamente as opções de escolha dos eleitores, enfraquecendo a competição eleitoral que é fundamental para a democracia”, explica Carmela Zigoni, assessora política do Inesc. “A baixa representatividade também é nociva, pois isso pode reforçar dinâmicas de poder já estabelecidas, comprometendo a diversidade de ideias e novas propostas políticas para a melhoria das cidades”, acrescenta.
Nos municípios onde há duas candidaturas, que representam quase 50% do total, a ideia de polarização é desafiada pelos dados. A maioria das disputas ocorre entre partidos de direita e centro, com menos de 25% das disputas entre direita e esquerda, indicando que, no âmbito local, as questões ideológicas são frequentemente secundárias em relação às dinâmicas políticas locais.
Comparando com as eleições de 2020, o estudo indica um aumento na atuação de partidos de direita em disputas duplas, enquanto os partidos de esquerda apresentam uma presença menor.
A análise ideológica dos candidatos mostra que, nas candidaturas únicas, a maioria é composta por partidos de direita, seguidos de partidos de centro e, em menor quantidade, de esquerda. Minas Gerais e Rio Grande do Sul lideram o número de municípios com candidaturas únicas, o que representa quase 10% dos municípios gaúchos sem disputa pelo executivo local.
Outra descoberta foi que as candidaturas masculinas dominam as disputas, mas há um leve aumento na participação feminina, embora ainda insuficiente para um equilíbrio de gênero. O perfil dos candidatos em municípios com candidaturas únicas tem um leve predomínio de homens, com uma representação feminina ainda limitada. Quando se observa a distribuição por cor/raça, há uma predominância de candidatos brancos, tanto entre homens quanto entre mulheres, com uma leve diminuição em relação às eleições anteriores.
Em termos de diversidade racial, a maioria dos candidatos em disputas duplas é branca, com uma pequena representação de candidatos pardos e pretos. Além disso, há casos raros de disputas entre candidatos indígenas ou entre candidatos pretos, evidenciando a desigualdade racial persistente no cenário político.
Os municípios com candidaturas únicas têm, em média, 7 mil habitantes, caracterizando-se como pequenos. Já os municípios com duas candidaturas têm uma média de 13 mil habitantes, mas incluem também cidades de grande porte, demonstrando que a falta de competitividade eleitoral não é exclusiva de cidades pequenas.
Por fim, o estudo revela que cerca de 1,6 milhão de brasileiros estarão sem poder de escolha para prefeito, devido à existência de candidaturas únicas, enquanto aproximadamente 35,7 milhões terão que escolher entre apenas dois candidatos. Este cenário levanta questões sobre a qualidade da democracia local e a representatividade política, especialmente considerando a predominância de candidatos homens, brancos e de direita.