Ao longo de 2025, jovens de diferentes periferias do Distrito Federal (DF) protagonizaram um intenso processo formativo e político voltado ao enfrentamento das desigualdades sociais, raciais e territoriais. Por meio do projeto Mapa das Desigualdades: formação e incidência por transparência e redução das desigualdades, jovens periféricos e prioritariamente negros foram formados em orçamento público, transparência e direitos humanos, com foco nas políticas de educação, mobilidade urbana, raça e gênero.
O projeto Mapa das Desigualdades: formação e incidência por transparência e redução das desigualdades é apoiado pelo Fundo de Combate à Corrupção, por meio do Termo de Fomento nº 01/2024 (Processo nº 00480-00005913/2023-43).
O projeto teve como objetivo fortalecer a capacidade de jovens para monitorar políticas públicas e incidir junto ao poder público do DF, contribuindo para o aumento da transparência fiscal e para a ampliação de recursos destinados às populações historicamente vulnerabilizadas. Mais do que lidar com dados e números, o processo colocou a juventude no centro da produção de narrativas sobre suas próprias realidades. “Mais do que dados e números, o Mapa é transformação, é voz, é luta e é a potência da juventude periférica construindo narrativas sobre suas próprias realidades”, sintetiza Markão Aborígine, educador social do Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos).
Ao todo, foram realizadas 11 oficinas de formação em orçamento, direitos e políticas públicas; duas oficinas de educomunicação; seis oficinas de análise de dados e pesquisa; dois saraus político-culturais e uma audiência pública. O projeto formou 30 jovens, dos quais 15 passaram a compor um Comitê de Monitoramento do Orçamento Público, Transparência e Direitos Humanos, com ênfase nas políticas de educação, mobilidade urbana, raça e gênero do DF. “Este Comitê, apoiado pela equipe do Inesc, foi responsável pela análise dos dados que deram origem ao Mapa e definiram as ações de incidência e territoriais ao longo do projeto”, explica Cristiane Ribeiro, do colegiado de gestão do Inesc.
O contexto que mobilizou a iniciativa é marcado por profundas desigualdades no próprio território do DF. Enquanto o Lago Sul concentra a maior renda média do Distrito Federal e do Brasil, o Itapoã, região vizinha, apresenta uma das menores rendas médias, além de graves déficits no acesso a serviços públicos como creches, hospitais, transporte e saneamento básico. Essas desigualdades também se expressam racialmente: o Lago Sul tem maioria da população autodeclarada branca, enquanto o Itapoã é majoritariamente negro.
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Nesse cenário, adolescentes e jovens se afirmam como sujeitos centrais na mobilização e no enfrentamento às desigualdades, tanto por serem fortemente impactados pela negação de direitos quanto pela potência política que carregam. Um dos pontos altos do projeto foi justamente a apropriação, por parte das juventudes, dos conhecimentos sobre o funcionamento da máquina pública e do orçamento, fortalecendo a luta popular e a incidência política.

Mapa das Desigualdades 2025
O Mapa das Desigualdades reuniu jovens de inúmeros territórios periféricos do DF e do entorno, como Sobradinho, Gama, Santa Maria, Riacho Fundo II, Samambaia, Ceilândia, Estrutural, São Sebastião, Mangueiral, Taguatinga, Itapoã, Paranoá e Águas Lindas de Goiás (GO). Para os participantes, o processo foi marcado por aprendizado, fortalecimento coletivo e transformação pessoal.
“Para mim, o mapa é uma nova fase da minha vida, porque foi quando comecei a pesquisar sobre o meu território. A gente não tem dimensão de como o DF é desigual até ter acesso aos números”, relata Evelyn Oliveira, do Riacho Fundo.
Já Eli José, de São Sebastião, destaca a dimensão coletiva da experiência: “o aprendizado foi enorme, mas, além disso, a união fez com que tudo ao meu redor melhorasse. Sou muito grato a esse projeto”. Camila Rodrigues, de Sobradinho, define o Mapa como “conexão, afeto, encontro e potência”, enquanto Pajé Edinaldo Júnior, do Gama, afirma que a experiência representou esperança e reconhecimento da própria voz: “Quando a gente se une e luta por nós, isso é gratificante demais”.
Audiência pública mobilizada pelas juventudes debate desigualdades no DF
Toda essa trajetória culminou na audiência pública realizada em 18 de novembro, na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), como parte da programação da Semana Distrital do Hip Hop.
O espaço foi dedicado à apresentação das análises e reivindicações construídas coletivamente pelos jovens ao longo do projeto. “Escolhemos essa data, pois não há como vivenciar integralmente os direitos humanos sem a garantia orçamentária para políticas públicas e o enfrentamento às desigualdades”, explica Markão Aborígine. A audiência reuniu cerca de 90 participantes.
Assista a íntegra da audiência:
Próximos passos
Como próximos passos, está prevista a realização de encontros autônomos do coletivo de jovens para multiplicação dos conteúdos e divulgação do Mapa das Desigualdades. O grupo também dará continuidade às ações de incidência por meio de estratégias educomunicativas, com o lançamento de dois videoclipes — que reúnem sete artistas participantes do projeto — e de um podcast, ampliando o alcance das vozes e das pautas construídas ao longo do processo.
