Publicado por Plataforma pela Reforma do Sistema Político.
No dia 8 de março, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política fez uma entrevista com a ativista do Fórum de Juventude Negra de Brasília e educadora social pelo INESC, pedagoga pela UDF, especializada em História e Cultura Afrobrasileira e em Educação em Direitos Humanos pela UFG, Layla Maryzandra, para fazer uma reflexão sobre a luta das mulheres não só pela igualdade de gênero, mas sobre todos os recortes de raça e classe.
A entrevista:
Layla estamos iniciando mais um mês em que a luta das mulheres se verbaliza, a partir da simbologia do dia 8 de março. Na história, o dia internacional da mulher foi criado a partir da organização das primeiras Conferências de Mulheres socialistas na Europa, embora exista o mito das mulheres queimadas em uma fábrica americana. Mas, diante de tantos processos anteriores de resistência, é correto afirmar que a luta das mulheres tem como marco inicial o dia 8 de março?
Não, esta afirmação está incorreta. O dia Internacional da Mulher – 08 de março é uma continuidade na luta das mulheres, afirmar isso é negar, por exemplo, a história de Rainhas e Guerreiras negras no período pré-colonial, além de 300 anos de escravidão negra no Brasil, e invisibilizar 128 anos de pós abolição. Como se mulheres negras estivessem alheias aos processos ocorridos com ela e sua comunidade, apesar do papel passivo e submisso embutido na mulher negra, elas estavam a frente de Revoltas, Quilombos, Irmandades e Associações, em 1950, por exemplo, foi fundado o Conselho Nacional de Mulheres Negras no Rio de janeiro. Mostra-se assim que não diferente de outros grupos de mulheres, a negra tem um papel fundamental na trajetória do que ocorreu antes e depois do 08 de março.
Existe um equivoco quando se pensa a política para as mulheres de uma forma generalizada, sem entender, de forma principal, os recortes de classe e raça. A mulher negra totaliza 58,86% das mulheres vítimas de violência doméstica, a partir do Balanço do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher/2015, 68,8% das mulheres mortas por agressão são negras, a partir do diagnóstico dos homicídios no Brasil, feito pelo Ministério da Justiça/2015. Como ligar a discussão feminista ao combate ao racismo, como ligar a luta pela igualdade de gênero à justiça social?
Primeiro, penso que a teoria interseccional, consegue ligar essas pautas, pois a mesma explica como diferentes estruturas de poder interagem na vida das minorias, especialmente mulheres negras. O nome foi dado pela afroamericana Kimberlé Crenshaw em meados dos anos 1980. O conceito refere-se à continuidade de antigas articulações dentro do movimento feminista que sentiam a necessidade de pensar para além das lentes coloniais. O O feminismo negro, surge exatamente dessa necessidade, aliar as duas questões, em destaque, no Brasil temos Lélia Gonzales e nos Estados Unidos Angela Davis, dentre outros nomes, que dialogam com essa junção.
Segundo, a igualdade de gênero é uma questão de direitos humanos e uma condição de justiça social, é fomentado pelas demandas da sociedade e pela pressão política dos movimentos sociais que o Estado deve ser orientado na implementação de políticas de promoção da igualdade de gênero.
Falando sobre democracia e a representativa, um estudo realizado pelo INESC, analisou o perfis das candidaturas no pleito eleitoral de 2014. Os dados mostraram um pouco mais de 14% de candidatas negras disputando as eleições. O atual Congresso Nacional só tem apenas 56 mulheres, sendo 12 negras (11 eleitas para a Câmara e 1 para o Senado). Como reverter esse contexto de subrepresentação?
Esse contexto está aliado a toda uma estrutura racista na política brasileira que foi construída ao longo dos séculos, e a subrepresentação reverbera isso. Então teremos mais longos décadas a reverter esse processo através de consciência racial que está aliada a consciência política e que conseqüentemente poderá mudar aos poucos o quadro da representação dos negros na eleição.