Há anos as elites conservadoras acalentam isso que agora estão prestes a impor à nação brasileira: um golpe de Estado para implantar a plena vigência do projeto conservador excludente que as urnas rejeitam desde 2002 e a Constituinte de 1988 rechaçou, então, a contrapelo da ascensão neoliberal no mundo.
O que se planeja, à revelia do escrutínio popular, encerra danos duradouros e representa o almejado repto dos mercados à Constituição Cidadã, nunca digerida pelas elites econômicas locais e internacionais.
Inclui-se no repertório dos usurpadores do cargo de uma Presidenta mandatada por 54 milhões de votos, a determinação de restringir ou eliminar direitos sociais, previdenciários e trabalhistas assegurados na Carta magna; desvincular despesas obrigatórias com saúde e educação; dissolver pilares da CLT em nome de um simulacro de livre negociação, sob taxas de desemprego ascendentes; alienar o que restou de patrimônio público, com destaque para o pré-sal e os bancos estatais; revogar políticas indutoras da industrialização, a exemplo do conteúdo nacional, que faz do pré-sal, talvez, o derradeiro e mais consistente impulso industrializante desde Vargas, em termos de potencial tecnológico e de inovação e, o corolário desse assalto ao futuro: escancarar o mais valioso ativo do país, seu mercado interno, em benefício de uma assimétrica agenda de livre comércio, que reserva ao Brasil o papel de sorvedouro da capacidade excedente nos parques manufatureiros globais.
O suposto que isso injetará equilíbrio fiscal e devolverá a inflação ao sacrossanto’ centro da meta’ dissimula o verdadeiro polo gravitacional do golpe: devolver as famílias trabalhadoras e os assalariados em geral, ao posto subalterno que sempre ocuparam na equação econômica excludente do conservadorismo para o país.
Para isso é preciso elidir as urnas e golpear as salvaguardas constitucionais.
Porque são elas, historicamente, que civilizam o mercado, impedem a ganância de impor sua supremacia ao destino dos povos e preservam a sorte das nações da instabilidade intrínseca ao automatismo das manadas capitalistas.
Essa é a essência profunda do movimento golpista que não por acaso unificou os interesses plutocráticos locais e internacionais em abusada investida contra a lei, a ordem democrática e agora se prepara para garrotear os direitos da população.
Quantas instalações fabris, quantas vagas de emprego qualificado, quantas famílias assalariadas sobreviverão ao plano dos guardiões do interesse rentista, que não reservam uma linha sequer ao mais estéril dos gastos públicos: os juros da dívida interna, que este ano consumirão cerca de 8% do PIB, mais de 90% do déficit ou R$ 50 bilhões ao mês?
A sorte da população, desta e das futuras gerações, está em jogo.
A renúncia ao papel do Estado na agenda do desenvolvimento dobra a aposta na racionalidade dos livres mercados. Aquela que desde 2008 submete povos e nações à mais grave e prolongada crise do capitalismo, desde 1929.
A cortina de fumaça do combate à corrupção é apenas isso: um pé de cabra operado pelo cinismo midiático, encarregado de fraudar e interditar o debate dos verdadeiros –e graves– desafios da luta pelo desenvolvimento em nosso tempo.
Toda sabotagem ao segundo governo Dilma, desde a virulenta campanha contra a sua reeleição, que prosseguiria após a vitória, praticamente impedindo-a de exercer o mandato –mesmo quando erroneamente cedeu aos mercados em busca de indulgência—visava o desfecho que agora se esboça.
O golpe visa colocar o país de joelhos, incapaz de outro desígnio que não render-se integralmente à lógica segundo a qual, ‘a população brasileira não cabe no orçamento federal feito de arrocho, não de justiça tributária; de recessão, não de crescimento; de penalização dos mais pobres, não de redução da pança rentista.
É contra isso que se luta hoje nas ruas, nas estradas, nas praças, nos locais de trabalho, nas universidades de todo o Brasil
Nós, intelectuais, estudantes, artistas, e ativistas políticos do #Fórum21 – braço de reflexão e de formulação da frente popular em formação na sociedade— temos a responsabilidade pública de declarar nosso engajamento na resistência em marcha.
Vivemos horas decisivas com o ar empesteado de avisos sombrios ecoados das sombras do golpismo através de seus mensageiros na usina de propaganda midiática.
As grandes conquistas dos brasileiros aos direitos da civilização e da democracia social estão prestes a ser obliteradas. Mas a alma da nação, seus trabalhadores, sua juventude, a classe média democrática, sua inteligência e sua arte resistirão.
Não podemos subestimar o que vem pela frente.
Esgotou-se um capítulo do crescimento brasileiro.
Outro precisa ser construído.
O #Fórum21 conclama seus integrantes, o mundo acadêmico, os intelectuais o povo brasileiro a cerrarem fileira ao lado da democracia nessa empreitada.
Não apenas para resistir à usurpação de um agrupamento ilegítimo e sem voto que se autoproclamou detentor de um poder que a sociedade não lhe concedeu.
Mas para fazer dessa resistência a fonte da repactuação entre a riqueza e o potencial de nosso país e o potencial e riqueza do nosso povo.
Significa, entre outras coisas, levar a círculos cada vez mais amplos da população a verdadeira natureza do embate que apenas começa e vai se acirrar.
O embate entre uma sociedade para 30% de sua elite, ou a árdua construção de uma verdadeira democracia social no Brasil.
Serenamente dizemos aos senhores do agrupamento ilegítimo que ora pisoteia a soberania da urna para instalar a lógica da ganância na vida da nação: vai ter luta, porque não travá-la seria renunciar à esperança em nós mesmos, na nossa capacidade de construir um Brasil soberano, próspero e mais justo para os nossos filhos e os filhos e netos que um dia eles terão.
Não temos medo de exercer a cidadania contra a usurpação.
Os integrantes do #Fórum21 já decidiram em qual margem se postarão nesse embate histórico: na dos interesses do povo brasileiro. Engaje-se também nessa luta, apoiando esse manifesto com sua assinatura.
São Paulo, outono de 2016
Assinam o Manifesto
Sócios do Fórum 21:
Adriano Luiz Duarte
Alexandre Padilha
Altamiro Borges
Amarildo Ferreira Júnior
Ana Paula Pimentel
Andre Barrocal
Andre Kaysel Velasco Cruz
André Roberto Machado
Andrei Korner
Ângelo Marcos Vieira de Arruda
Anivaldo Padilha
Antonio David Cattani
Antonio Edson Costa da Silva
Antonio Ernesto Lassance de Albuquerque Júnior
Antonio Francisco Marques
Ari Loureiro
Arlete Moyses Rodrigues
Aryosvaldo José de Sales
Augusto Cesar Lobo
Aurea Mota
Breno Altman
Bruno Felipe Alves de Lima
Bruno Pinheiro Silva
Camila Agustini
Carlos Alberto Almeida
Carlos Alberto D. Macedo
Carlos Augusto de Amorim Cardoso
Carlos Neder
Carlos Roberto Tiburcio de Oliveira
Cecília Brito
Cibele Nunes
Cilaine Alves Cunha
Claudia Santiago Giannotti
Cynara Mariano
Daniela Ribeiro Schneider
Diva Maria Ferlin Lopes
Dodora Arantes
Eduardo Fagnani
Eduardo Zanatta de Carvalho
Eliana Benassuly Bogéa Bastos
Eliane Silveira
Erminia Terezinha Menon Maricato
Esther Bemerguy de Albuquerque
Fabiana Marzenta de Andrade Neves
Fábio Fonseca de Castro
Fábio José Bechara Sanchez
Fábio Konder Comparato
Fabio Cesar Venturini
Felipe Braga Albuquerque
Fernando Kleiman
Fernando Steinbruch Milman
Fernando Gomes de Morais
Flavio Scavasin
Flavio Wolf Aguiar
Francisco César Pinto Fonseca
Gentil Corazza
Gerson Salvador
Gilberto Bercovici
Gilberto Maringoni de Oliveira
Gilnei José Oliveira da Silva
Gilvan Müller de Oliveira
Gonzalo Berrón
Guilherme Santos Mello
Helid Raphael de Carvalho Junior
Henrique Fontana Júnior
Jamil Pedro Corssi
João Bertoldo Oliveira
João José de Souza Prado
Joaquim Calheiros Soriano
Joaquim Ernesto Palhares
Jocimar Anunciação
José André Angotti
José Antonio Moroni
José Augusto Valente
José Carlos da Silva Gomes
José Luiz Del Roio
José Machado
José Maria Lopes Oeiras
Ladislau Dowbor
Laura Tavares
Laurindo Lalo Leal Filho
Ligia Duarte
Livio de Andrade Luna da Silva
Loureci Ribeiro
Lucas Baptista de Oliveira
Lucas Eduardo Maldonado
Luiz Arnaldo Dias Campos
Luiz Eduardo Matysiak
Luiz Gonzaga Belluzzo
Magda Barros Biavaschi
Marcela Pelizaro Soares da Silva
Marcelo Bento Juliatti
Marcia Jaime
Marcio Almeida Nicolau
Marcio Pochmann
Marcos Dantas Loureiro
Marcus Vinicius Scanavez Almeida
Maria Alice Vieira
Maria Aparecida de Oliveira
Maria Chalfin Coutinho
Maria Cláudia Zanin Sant Anna
Maria Helena Arronchellas
Maria Inês Nassif
Maria Luiza Bierrenbach
Maria Noemi Araujo
Maria Rita Garcia Loureiro Durand
Maria Victória Benevides
Marina Andrioli
Marina de Castro
Mario Augusto Jakobskind
Martonio Mont’Alverne Barreto Lima
Mayra Juruá Gomes de Oliveira
Milton Eric Nepomuceno
Mirian Lemos Cintra
Munir Lutfe Ayoub
Murilo Grossi
Najla Nazareth dos Passos
Orlando Médici Junior
Osvaldo Peres Maneschy
Otaviano Helene
Pablo Schwartz
Paula Klein
Paula Martins
Paulo de Tarso Carneiro
Paulo Kliass
Paulo Roberto Salvador
Paulo Sérgio Lisbôa Cardoso de Lima
Pedro Neves de Castro
Pedro Paulo Zahluth Bastos
Pedro Rafael Lapa
Pedro Rossi
Raissa Martins Lourenço
Raúl Burgos
Reginaldo de Moraes
Renato Balbim
Ricardo Luiz de Miranda Valle
Ricardo Musse
Róber Iturriet Avila
Roberta Suelen Rodrigues Alves
Rodrigo Octávio Orair
Ronaldo Küfner
Rosa Maria Marques
Rubem Leão Rego
Sandra Mendonça
Sara Müller Gorban
Sebastião Velasco
Silvia Carla Sousa Rodrigues
Silvio Caccia Bava
Simone Gonçalves de Barros Lial
Stela Beatriz Farias
Tais Ramos
Tarson Nuñez
Terezinha de Oliveira Gonzaga
Thelma Lessa da Fonseca
Thiago Pereira Perpétuo
Venício Artur de Lima
Vera Lucia Bazzo
Verônica Marques Tavares
Vinicius de Lara Ribas
Vinícius Haubert da Rocha
Wagner Nabuco
Walquíria Leão Rego
Yeda Maria de Moura Soares