A partir de pesquisas feitas em sua escola e comunidade, adolescentes do Projeto Onda criaram e produziram a campanha antirracista “Por que não amar”. Referenciada em uma personagem fictícia chamada Luzia, a campanha conta com broches, adesivos, cartazes, um calendário e um vídeo de celebração da cultura negra.
O projeto Onda – Adolescentes em Movimento, é uma iniciativa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que foi agraciado com a primeira colocação do Prêmio Itaú-Unicef. O projeto desenvolve atividades de formação cidadã em escolas públicas do Distrito Federal.
Entre os objetivos da campanha “Por que não amar?” estão se reconhecer e autoafirmar, valorizar a beleza natural e celebrar a negritude, enfrentar o racismo na escola e na comunidade e sensibilizar as pessoas para gerar a vontade de mudar. “Para mim, a campanha que estamos produzindo é importante para levar autoestima para as pessoas que cresceram ouvindo que suas características físicas eram feias e inferiores”, diz Paulo Ricardo, um dos estudantes integrantes do Onda.
Os jovens refletiram sobre o poder da linguagem e o uso de palavras racistas no cotidiano, principalmente as que são voltadas para o cabelo crespo. Tiveram oficinas sobre gênero, formatos, linguagens de comunicação, assim como escolheram os públicos prioritários da campanha. “Eu me identifiquei com a conversa sobre cabelo porque eu sempre tive vergonha do meu. Desde pequeno quis ter o cabelo igual ao de outros meninos, porém não podia, porque parecia que ele não aceitava outros tipos de corte. Por isso eu me senti obrigado a manter o cabelo bem curto”, nos conta Victor Queiroz, um dos participantes do Onda. “Com a campanha eu percebi que o cabelo crespo é lindo, mas que o racismo nos impede de reconhecer, e é uma coisa que eu quero que todas as meninas saibam”, completa Márcia Mesquita, adolescente que também integra o projeto.
A partir de conversas, análises de músicas, poemas, documentários e dinâmicas, os encontros para a produção da campanha foram permeados por muito diálogo, estudo, reflexão e uso de ferramentas criativas. Para Diego Mendonça, um dos educomunicadores que estão participando do projeto, a campanha busca uma perspectiva de transformação da vivência cotidiana do racismo que faz parte da realidade dos adolescentes. “Minha expectativa é que eles saiam do processo transformados para que possam transformar a realidade concreta deles”.
Márcia Acioli, assessora do Inesc responsável pela execução do projeto Onda, comemora a consciência da identidade racial dos adolescentes que estão aprendendo a identificar as manifestações de racismo no cotidiano. “É bonito vê-los/las alegres e orgulhosos/as de ser quem são, fortes e determinados/as a lutar por uma escola sem violência e sem racismo”, afirmou.