Investimentos das Instituições Financeiras Internacionais no Brasil não focaram no combate à Covid em 2020, alerta estudo

Desde o início desta pandemia, diversas Instituições Financeiras Internacionais (IFIs) se comprometeram a contribuir no combate global à Covid-19. De acordo com documentos e declarações das próprias IFIs, os investimentos no ano de 2020 deveriam direcionar ajuda e outros apoios para aqueles mais vulneráveis e impactados pela pandemia.

No entanto, o estudo publicado hoje “Investimentos de Instituições Financeiras Internacionais no Brasil em 2020: houve auxílio para o combate à pandemia  da Covid-19?” demonstra que os projetos de desenvolvimento dessas instituições, em grande parte, não abarcaram transferência direta de renda para as populações que estão passando fome e nem a compra de medicamentos, apoio a hospitais e UTIs. Os setores mais privilegiados pelas IFIs foram normativa e governança, finanças, e infraestrutura.

A pesquisa, que foi realizada pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) em parceria com o Instituto Maíra e a International Accountability Project, traz uma metodologia inovadora. Utiliza o Sistema de Alerta Prévio, que monitora e sistematiza projetos de instituições financeiras de fomento ao desenvolvimento, com o objetivo de informar previamente comunidades que possam ser afetadas. As três organizações analisaram um montante de U$13,5 bilhões alocados em 123 projetos de IFIs entre março e novembro de 2020.

Os investimentos das IFIs em 2020 

Dos 123 projetos analisados, somente 24 (19,5%) tiveram como foco o combate à Covid-19, isso corresponde a U$ 3,8 bilhões do montante total. E destes 24, apenas dois projetos (US$ 2 bilhões), foram de transferência direta às populações mais afetadas pela pandemia.

Os três setores mais privilegiados pelas IFIs foram normativa e governança; finanças, e infraestrutura, em detrimento de áreas prioritárias para o enfrentamento à pandemia, como água e saneamento, educação e saúde. Isso significa que estas instituições estiveram preocupadas, assim como nos anos anteriores, em preparar o terreno para que o setor privado tenha a rentabilidade necessária para investimento.

“Principalmente neste momento, os bancos públicos têm que ter como prioridade combater a pandemia e alocar seus recursos para áreas de necessidade emergencial: saúde, educação, auxílio para pessoas mais necessitadas. Eles disseram que iriam fazer isso, mas quando olhamos para os principais investimentos que entraram no Brasil em 2020, vemos que se manteve esta estratégia de investir em infraestrutura, reformas e modernização do Estado para atrair o setor privado”, analisa Livi Gerbase, assessora política do Inesc e co-autora do estudo.

Alexandre Andrade Sampaio, coordenador para América Latina e Caribe da International Accountability Project e co-autor do estudo observa que nem 20% dos projetos financiados por estas instituições mencionam a Covid. “E, quando mencionam, não significa que realmente estão direcionados ao tema”. Este é o caso do projeto denominado RSE COVID Jalles, da Corporação Internacional de Financiamento (IFC), que destinou US$ 20 milhões para uma empresa da agroindústria sucroenergética como recurso de resposta à Covid-19, sem detalhar a relação deste recurso com o combate emergencial ao vírus.

Além disso, a pesquisa revela que os projetos de investimento não cumpriram o mínimo necessário para assegurar que a implementação deles não piore a situação social e ambiental no país. “Estamos mostrando que muitos dos  investimentos que entraram no Brasil não têm salvaguardas e política de redução de impactos”, explica Gerbase.

A reconstrução verde

O discurso da recuperação verde vem sendo pautado pelos próprios bancos nas propostas de combate à pandemia, através do discurso do “Building Back Better”, que significa reconstruir de uma maneira melhor do que era antes. Neste panorama, as pautas energética e climática deveriam ser centrais na escolha dos investimentos para socorrer a população na atual crise sanitária.

Contraditoriamente, apesar do maior número de projetos classificados como limpos pelas IFIs, quando contrastados apenas aqueles de produção de energia, as energias não renováveis tiveram mais espaço que as renováveis, aponta a pesquisa publicada pelo Inesc. Somente 3 dos 12 projetos estão relacionados de fato à produção de energia renovável. Além disso, “nestes projetos  não é possível ver quais são as energias limpas em que de fato está se investindo”, lamenta Livi Gerbase.

A autodefinição “energia limpa” também é problemática, alertam os autores do estudo. Dos 12 projetos realizados em 2020 e relacionados ao setor energético, 10 são classificados pelos seus respectivos bancos como energia limpa. Todavia, destes projetos limpos, sete estão relacionados à distribuição elétrica, redução do consumo de energia elétrica e às emissões de gases de efeito estufa. Projetos deste tipo não estão relacionados diretamente com a produção de energia ou com o enfrentamento à pandemia, embora possam causar impactos ambientais positivos.

Falta informação sobre os impactos socioambientais dos projetos 

Embora não seja possível avaliar a execução dos 123 projetos analisados no estudo, já que a maior parte ainda estava, no momento da análise, em fase de negociação final, é notório que menos da metade (49,6%) contém a classificação de risco de impacto socioambiental. A qualificação do projeto de acordo com seus possíveis impactos pode ser entendida como um indicativo do comprometimento dos bancos em cumprir as salvaguardas, ou seja, com medidas de mitigação e controle de impactos socioambientais dos projetos.

Algumas instituições, como a Corporación Andina de Fomento e o Banco Europeu de Investimento, não possuem nenhum projeto com avaliação de risco de impacto. “É risível a porcentagem que nós temos hoje de acesso a informação de uma coisa básica. Não estou falando de detalhes sobre o projeto, estou falando de categorização de risco para saber se o projeto pode ser impactante em termos de direitos humanos e ambiental”, denuncia Alexandre Andrade Sampaio.

O estudo analisa ainda dois casos em que populações afetadas pelos investimentos internacionais – em projetos realizados anteriores à 2020 – não tiveram as salvaguardas respeitadas: a Comunidade Quilombola do Araripe, atingida pela construção de um parque eólico no nordeste do Brasil, e a Associação de Favelas de São José dos Campos.

“Sem a apresentação das análises de risco se torna inviável a apresentação das salvaguardas e, por consequência, não teríamos como proteger os direitos comunitários e as comunidades estariam mais vulneráveis. Estes erros já denunciados por comunidades no passado, já levados para as juntas diretivas dos bancos, seguem acontecendo no presente. Ou seja, muito pouco foi feito com as denúncias das comunidades e a voz delas segue silenciada”, explica Daniel Lopes Faggiano, diretor executivo do Instituto Maíra e co-autor da pesquisa.

O que ainda pode ser feito?

O estudo recomenda às IFIs que revisem a sua estratégia para o Brasil e de fato priorizem as necessidades da população brasileira, principalmente os setores mais afetados pelas crises econômica, sanitária, social e ambiental – que tendem a se agravar em 2021.

“À medida que a crise da pandemia no Brasil piora a cada semana, com um número recorde de mortes, a fome e a insegurança alimentar avançam. Estamos longe de superar o vírus, e as instituições financeiras podem ter um papel melhor neste cenário, começando por ouvir as comunidades impactadas por seus projetos e pela adoção de uma política mais transparente que mostre que de fato seus investimentos estão sendo feitos onde mais precisamos, combatendo a fome e a morte no Brasil e garantindo os direitos humanos”, reivindica Livi Gerbase.

Investimentos de Instituições Financeiras Internacionais no Brasil em 2020

O estudo  “Investimentos de Instituições Financeiras Internacionais no Brasil em 2020: houve auxílio para o combate à pandemia  da Covid-19?” demonstra que os projetos de desenvolvimento dessas instituições, em grande parte, não abarcaram transferência direta de renda para as populações que estão passando fome e nem a compra de medicamentos, apoio a hospitais e UTIs. Os setores mais privilegiados pelas IFIs foram normativa e governança, finanças, e infraestrutura.

A pesquisa foi realizada pelo Inesc  em parceria com o Instituto Maíra e a International Accountability Project.

Orçamento escancara crise e desmonte da Educação

O novo coronavírus escancarou as desigualdades, ampliadas pela opção do governo federal em jogar com a vida das pessoas, ao não atuar como líder que deveria ser no combate ao vírus e suas consequências.   A começar pela má gestão do orçamento destinado para as ações de mitigação, que em 2020 tiveram recursos não gastos, apesar da necessidade brutal de auxílio emergencial, que ficou suspenso para ser retomado em patamares muito menores, em momento de aumento de inflação, que acometeu especialmente os produtos da cesta básica. É, a fome retornou com força, assim como a falta de acesso ao ensino/aprendizagem, afetando, principalmente, quem já sofre por falta de alimentação, saúde pública, educação pública.

É nítido que se não tivéssemos instituições públicas de pesquisa como o Instituto Butantan e a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz) estaríamos ainda muito piores, pois sequer teríamos vacinado os 13% da população até aqui, já que a maior parte das doses vem desses dois centros produtores das vacinas Coronavac e AstraZeneca, em parceria com entidades da Inglaterra e da China. Somos bons nisso, o SUS sempre protagonizou grandes campanhas de vacinação, conseguimos erradicar várias doenças em território nacional com pesquisas aqui desenvolvidas.

No entanto, a Emenda do Teto dos gastos, 95 de 2016, em parceria com o atual governo negacionista e genocida, vem ao longo dos últimos anos reduzindo drasticamente os recursos para o ensino superior e para a pesquisa. Quando da votação da emenda, foi reforçado que educação e saúde não seriam afetadas, no entanto, a história é outra, pois mesmo que a arrecadação seja ampliada, os recursos para a educação, congelados em 2017, terão atualização apenas pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ou seja, é possível que ao final dos 20 anos de vigência do teto dos gastos, o mínimo de 18% da cesta de impostos esteja em patamares bem menores, de acordo com artigo “Austeridade Fiscal e Financiamento da Educação no Brasil”, o que justificou que esta regra fiscal tenha sido concretizada por meio de emenda à Constituição, porque afeta os mínimos para educação e saúde que são dispositivos constitucionais. Somos vítimas de uma guerra de narrativas fictícias, que convencem incautos.

Sobre pesquisa, conforme divulgado no  Balanço do Orçamento Geral da União  ̶  elaborado pelo Inesc  ̶  , para a Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal (Capes), o autorizado entre 2019 e 2020 caiu de R$ 4,6 bilhões para R$ 3,7 bilhões. E, além disso, o pago no ano foi R$ 3,1 bilhões, que significam menos da metade do que foi executado em 2016 (R$ 6,7 bilhões), ano de baixa arrecadação. Como se vê, há um total descaso com a pesquisa, constatado cotidianamente pelos pronunciamentos do governo, que nega a ciência.

Com relação à educação básica, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD COVID19, do IBGE, cerca de 6,5 milhões de estudantes entre 6 e 17 anos ficaram distantes do aprendizado desde o início da pandemia, somando os que não se matricularam em 2020 (1,4 milhão) com aqueles que, mesmo matriculados, não tiveram acesso ao ensino (5,5 milhões). O que equivale a cerca de 15% da população de crianças e adolescentes na citada faixa etária.

Orçamento 2021

A situação é gravíssima e não é possível ver a luz no final do túnel, até porque, para 2021, duas regras fiscais recaíram como bombas para a política pública. Em razão da regra de ouro, ficou para ser aprovado em crédito suplementar, cerca de R$ 55 bilhões para a educação. E do que foi aprovado, parte foi bloqueado devido ao teto de gastos. Houve um bloqueio geral de R$ 9,2 bilhões, dos quais R$ 2,7 bilhões apenas na educação, ou seja, a maior parte do bolo, ou cerca de 30% do total

Com relação à pesquisa, o orçamento aprovado (inicial) para Capes caiu ainda mais, desta vez pela metade do que foi aprovado para 2020, agora serão R$ 1,9 bilhão, contra os R$ 3,8 bilhões de 2020, que já foram R$ 7,3 bilhões em 2016, ou seja, ladeira abaixo. Não há bolsas de iniciação científica, mestrado ou doutorado, a crise é gigante para um país que vinha percorrendo um caminho virtuoso no que diz respeito a inclusão no ensino superior.

E por falar em ensino superior, etapa de ensino cujo responsável é o governo federal, de 2016 para 2021, o orçamento aprovado já caiu R$ 8 bilhões – o que significa menos vagas nas universidades e institutos públicos, menos pesquisa, menos inclusão.

Volta às aulas sem recursos?

Mesmo com todos esses cortes para a educação, a Câmara dos Deputados achou prudente aprovar o Projeto de Lei 5595/2020, que obriga a volta às aulas presenciais, que segue para apreciação do Senado. Uma enorme contradição, visto que a ação orçamentária da educação com um dos maiores cortes orçamentários na LOA 2021, de acordo com a nota informativa da Consultoria de Orçamento do Congresso Nacional, foi “Apoio à Infraestrutura da Educação Básica, que tem como descrição, “Apoio técnico, material e financeiro para construção, ampliação, reforma e adequação de espaços escolares e para aquisição de mobiliário e equipamentos para todas as etapas e modalidades da educação básica. Apoio à infraestrutura e ao uso pedagógico das tecnologias de informação e comunicação para todas as etapas e modalidades da educação básica com o objetivo de melhorar o processo de ensino-aprendizagem”, de acordo com o Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento (SIOP). Ou seja, os recursos necessários para garantir escolas seguras, ou mais equipamentos para educação remota.

Portanto, temos de nos mobilizar para impedir que o projeto seja aprovado. Chega de política genocida, precisamos de mais recursos orçamentários, vacinas e distanciamento social que garantam a educação de crianças, adolescentes e jovens, e a vida de todas as pessoas.

Orçamento 2021: entre erros, chantagens e falta de recursos para enfrentar a pandemia

Após quatro meses de atraso, finalmente temos um orçamento aprovado para 2021. A disputa pelos recursos públicos tomou contornos dramáticos, porém, mais uma vez, as regras fiscais ficaram acima das necessidades da população. Estamos em finais de abril de 2021 com dois orçamentos concomitantes, ambos muito aquém do necessário para enfrentar as consequências das crises sanitária, econômica e social que afetam profundamente o Brasil.

De um lado, a  Lei Orçamentária Anual (LOA 2021) que, além de ameaçar um apagão geral da máquina pública por insuficiência de recursos, apresenta cortes expressivos nas políticas sociais. De outro, um orçamento paralelo de enfrentamento da pandemia, estimado em R$ 100 bilhões, mais de seis vezes menor do que o aprovado no ano passado, apesar do crescimento contínuo da mortalidade decorrente do Sars-CoV-2, da fome, da pobreza e do desemprego.

Mas como chegamos até aqui? O Inesc preparou uma linha do tempo das principais decisões orçamentárias dos últimos meses.

Preâmbulo: é importante entender que o orçamento brasileiro é amarrado por regras fiscais que o impedem de realizar progressivamente direitos ou de responder a crises, como a provocada pelo novo coronavírus. Trata-se, principalmente, do Teto de Gastos, que congelou as despesas federais por 20 anos, até 2026, e da Lei de Resultado Primário, que estima anualmente quanto deve ser a relação receita-despesa, levando a cortes bimestrais quando as receitas estão abaixo do estimado. Em suma, não é possível aumentar gastos e, além disso, as despesas podem ser cortadas se há queda de receita – como quando uma crise econômica diminui a arrecadação.

O Estado de Calamidade Pública neutraliza as regras fiscais

Março a maio de 2020: foi declarado Estado de Calamidade Nacional como resposta à pandemia da Covid-19 e criado um Orçamento de Guerra. Estes instrumentos autorizam o Executivo a não cumprir a Lei de Resultado Primário, nem o Teto de Gastos e, consequentemente, a criar despesas para além do estimado na Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2020. No total, foram autorizados R$ R$ 604,7 bilhões para um conjunto de medidas, como transferências a estados e municípios e apoio à saúde. Ao longo do ano, R$ 524,0 bilhões foram de fato gastos (ver Tabela 1). A principal ação a receber recursos foi a do Auxílio Emergencial, aprovada dia 30 de março pelo Congresso Nacional, fruto da mobilização da oposição e da sociedade civil. Para mais informações, veja o relatório do Inesc com o Balanço do Orçamento Geral da União de 2020 aqui.

Regras fiscais acima de tudo: o governo federal decreta o fim da pandemia

Abril de 2020: foi enviada a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2021 pelo Executivo ao Congresso Nacional. A LDO é a base para a LOA e deve ter, como seu nome diz, as diretrizes para a elaboração da lei orçamentária. Ela apontou que o governo não incluiria no orçamento o combate à pandemia como previsto pelo Inesc nesta análise.

Agosto de 2020: o Executivo encaminhou ao Legislativo a proposta de LOA para 2021 com erros, pois algumas despesas obrigatórias estavam subestimadas. O documento, seguindo o proposto pela LDO, mantém as regras fiscais e, para assegurar seu cumprimento, não destina recursos para a pandemia e apresenta expressivos cortes em gastos sociais. O Teto de Gastos passaria a ser a “âncora fiscal” do orçamento. O Inesc analisou a proposta aqui.

Atraso na aprovação do orçamento na compra de vacinas

Apesar da importância de discutir o orçamento para 2021, e de legalmente o Congresso Nacional ser obrigado a votar a LDO até 17 de julho e a LOA até 31 de dezembro de cada ano, isto não ocorreu:

Dezembro de 2020: o Congresso Nacional aprovou a LDO. Apesar de ela não conter qualquer espaço no orçamento para o combate à pandemia, ela impedia o congelamento de recursos para a compra de vacinas contra o novo coronavírus. Mas este dispositivo foi vetado pelo Executivo quando da sanção da LDO, que ocorreu em janeiro de 2021.

Dezembro de 2020: apesar do agravamento da crise sanitária, o governo não postergou o Estado de Calamidade ou o Orçamento de Guerra para 2021, impedindo que se continuasse com o afrouxamento de regras fiscais. Tal situação gerou automaticamente um problema, pois seria necessário criar novas formas de disponibilizar recursos extra orçamentários para enfrentar a crise. Por outro lado, foram autorizados, por meio de medidas provisórias, R$ 22,29 bilhões para a aquisição de vacinas, que começaram a serem gastos somente em 2021. Ou seja, em 2020, o governo não gastou recursos para a compra de imunizantes e ainda recusou um acordo proposto pela Pfizer que garantiria 70 milhões de vacinas ainda em dezembro.

Janeiro e fevereiro de 2021: em um cenário de aumento diário da mortalidade decorrente da Covid-19, o governo federal seguiu sem orçamento para a pandemia, priorizando pautas como a autonomia do Banco Central e a Reforma Administrativa. Contudo, houve autorização de R$ 2,8 bilhões à saúde por meio de Medida Provisória. Outras medidas se sucederam ao longo de março e abril de 2021, totalizando R$ 10,88 bilhões, como pode ser observado na Tabela 2.

Os puxadinhos e as chantagens

12 de março de 2021: é aprovada a Emenda Constitucional 109, conhecida como PEC Emergencial, que condicionou a aprovação de uma nova versão do Auxílio Emergencial à proibição de promoção funcional ou progressão de carreira de qualquer servidor ou empregado público. Ainda assim, os gastos com Auxílio Emergencial foram muito inferiores ao do ano anterior, caindo de R$ 322,00 bilhões para R$ 44,86 bilhões. Com a aprovação, o governo criou um crédito extraordinário para custear o Auxílio, cuja primeira parcela foi paga apenas em abril, com valores de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375 – muito mais restritos que os de 2020, a despeito do agravamento da crise econômica, alta do preço dos alimentos e aumento do desemprego.

25 de março de 2021: após a aprovação da PEC Emergencial, a LOA finalmente entrou em discussão no Congresso e foi votada em 25 de março. O texto aprovado, porém, foi muito criticado por subestimar despesas obrigatórias e aumentar os recursos para emendas parlamentares. Desde 2020, estas emendas são em sua maioria de execução obrigatória – isto é, não podem ser cortadas pelo Executivo. Desta forma, o texto não poderia ser sancionado como estava, pois poderia causar uma paralisação da máquina pública, além de descumprir a meta de déficit primário estimada pela LDO e o Teto de Gastos, devido à subestimação das despesas obrigatórias.

Apesar desse aumento significativo de valores para emendas parlamentares, recursos para o enfrentamento à pandemia praticamente não foram adicionados pelos congressistas ao texto da LOA. Foi estimado apenas R$ 1,18 bilhão para apoio a ações de saúde, além de levar a outros cortes em gastos com a garantia de direitos, como analisou o Inesc.

Abril de 2021: crescem as tensões entre o governo federal e os parlamentares, pois ninguém queria assumir a responsabilidade pelo orçamento apresentado pelo Executivo e aprovado pelo Congresso Nacional. Para resolver o imbróglio, foi aprovado o Projeto de Lei do Congresso Nacional n° 2, que alterou a LDO para desobrigar o Estado a cumprir a Lei de Resultado Primário no que se refere aos recursos de combate à pandemia – o que poderia ter sido feito desde janeiro de 2021 com a prorrogação do Estado de Calamidade. Além disso, o PLN 02/2021 autorizou créditos extraordinários para medidas de enfrentamento à pandemia, como o Pronampe e o Benefício de Manutenção de Emprego e Renda. O governo promete R$ 5 bilhões para a primeira política e 10 bilhões para a segunda.

22 de abril de 2021: o Executivo sancionou a LOA 2021 com vetos – acordados com o Legislativo – para diminuir principalmente os valores destinados às emendas parlamentares. Entre os recursos vetados estão R$ 200 milhões que seriam utilizados para o desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 no Brasil, além de cortes na saúde (veto de R$ 2,2 bilhões) e na educação (veto de R$ 1,1 bilhão e bloqueio de R$ 2,7 bilhões). O Censo corre risco de não ser realizado com os vetos de Bolsonaro. Ainda é possível que o Congresso Nacional reveja estes vetos.

Conclusões: temos um orçamento que não reflete a realidade e os recursos aprovados irão resultar na violação de direitos. As verbas para o enfrentamento da pandemia, além de insuficientes, seguem fora da LOA 2021, comprometendo sua transparência e monitoramento. Lamentável observar que nem o Executivo nem o Legislativo colocam como prioridade o enfrentamento à crise sanitária. O primeiro é obcecado pela manutenção das regras fiscais, ignora o sofrimento do povo e chantageia o Congresso. O segundo, para além da prioridade na responsabilidade fiscal, é preocupado com as eleições do ano que vem e está interessado nas emendas que poderão garantir votos.

Confira os nomes selecionados para o Prêmio Escola dos Sonhos

Entre os dias 19 de março e 09 de abril de 2021, o Inesc recebeu produções culturais e artísticas com o tema “Escola dos Sonhos – Educação de qualidade na perspectiva de adolescentes e jovens periféricos”, em dias categorias: a) Comunidade em geral; b) Escolas do Paranoá e do Itapoã.

Compreendendo que a arte e cultura são eixos fundamentais na construção dessa escola, o Inesc selecionou os seis trabalhos que expressaram melhor a temática citada. Desse total, quatro trabalhos são de jovens das comunidades em geral e dois trabalhos são de estudantes ou profissionais da educação pública da regional do Paranoá e Itapoã, no Distrito Federal (localidades onde o Projeto Onda atua).

A comissão julgadora avaliou que todos os trabalhos foram de qualidade, revelando reflexões importantes para a construção de uma escola pública de qualidade que seja acolhedora, democrática, respeite as diferenças e os diferente modos de expressão.

Ata do prêmio Escola dos Sonhos:

  1. Foram inscritos 27 trabalhos em duas categorias: a) Comunidade em geral; b) Escolas do Paranoá e do Itapoã.
  2. O Inesc, por meio do projeto Onda, organizou uma comissão julgadora com 6 avaliadores/as sendo de diferentes áreas de formação, todos atuantes na área de direitos humanos, educação, cultura.
  3. Nenhum educador ou educadora do projeto Onda fez parte da comissão julgadora.
  4. Os trabalhos foram distribuídos para cada membro da comissão julgadora que atribuiu notas de acordo com os critérios constantes no regulamento.
  5. Foram desclassificadas duas inscrições: um trabalho não realizado inscrito em forma de projeto a se realizar – não cabia no regulamento; um trabalho por seu autor não estar dentro da faixa etária estipulada pelo regulamento.

Ganhadoras e ganhadores do prêmio em ordem por pontuação na categoria comunidade em geral:

  1. Beatriz Porfírio (321 pontos)
  2. Nicolle dos Santos (317 pontos)
  3. Victor Hugo Lopes (309 pontos)
  4. Eduarda Nogueira (304 pontos)

Ganhadores do concurso na categoria escola:

  1. Eduarda Patrícia de França (323 pontos)
  2. Fabíola Resende (313 pontos)

Escola dos Sonhos

O prêmio faz parte da campanha Escola dos Sonhos, construída por adolescentes e jovens do projeto Onda, movidos pela provocação sobre qual seria a escola dos sonhos. Precedida por oficinas e lives, a iniciativa também contou com outras atividades, como rodas de conversa com organizações estudantis e poder público sobre o modelo de educação atual e seus obstáculos, além do prêmio.

Descaso com pandemia e direitos humanos marca orçamento federal de 2021

Artigo originalmente publicado no Congresso em Foco

 

Estamos passando pelo pior momento da pandemia no Brasil e não temos um orçamento para enfrentá-la. O Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021 foi enviado pelo Executivo em agosto de 2020 e, após alterações feitas pelo Legislativo, foi aprovado no final de março, com três meses de atraso. Agora, o texto aguarda a sanção presidencial. Mas o que foi proposto é impraticável, pois subestimou os gastos obrigatórios para dar lugar a emendas parlamentares. Aprová-lo, portanto, significa possivelmente um crime de responsabilidade, o que está impedindo sua sanção pelo presidente da República.

Enquanto esperamos a resolução do imbróglio, milhares de pessoas estão diariamente perdendo suas vidas devido à covid-19 e milhões estão com fome. Em 2020, graças à pressão da sociedade, tivemos recursos volumosos para o enfrentamento da pandemia, ainda que com morosidade em sua execução e inexplicáveis saldos de recursos não utilizados em relação aos  valores autorizados – é o que apontamos no relatório “Um país sufocado – Balanço do Orçamento Geral da União 2020”, no qual também concluímos que várias políticas sociais e ambientais  tiveram, apesar da pandemia, seus recursos cortados.

Mas o que podemos dizer da Lei Orçamentária de 2021 aprovada pelo Congresso Nacional? Avaliamos neste artigo o orçamento previsto para o enfrentamento da pandemia e para as áreas de atuação do Inesc. Ainda que estes não sejam dados definitivos, pois o Executivo precisa sancionar a LOA e provavelmente vetará partes dela, já é possível fazer uma primeira estimativa da proposta para os gastos orçamentários de 2021.

Gastos para o enfrentamento da covid-19

Ano passado foram gastos R$ 524,0 bilhões para o enfrentamento da pandemia, para ações como auxílio emergencial, fortalecimento do sistema de saúde e apoio às empresas e aos estados e municípios. Esses gastos, porém, só foram possíveis devido à decretação de um estado de calamidade e à autorização de créditos extraordinários pelo Executivo, que criaram as condições fiscais necessárias para realizar gastos além do determinado na LOA aprovada no final de 2019.

O esperado seria, dado que estamos no segundo ano da pandemia, que o orçamento de 2021 refletisse o esforço orçamentário necessário para o enfrentamento da crise, que possui tanto um caráter econômico quanto sanitário e social. Entretanto, não foi isso que ocorreu: devido às regras fiscais vigentes, principalmente o teto de gastos, não foi possível adicionar ao texto da LOA recursos para o enfrentamento da pandemia e, novamente, vamos ficar nas mãos do Executivo e sua prerrogativa de criação de créditos extraordinários. O governo Bolsonaro já informou que não vai declarar o estado de calamidade e que o auxílio emergencial, única medida proposta para enfrentar a crise em 2021, será em valores muito inferiores aos R$ 600 de 2020: ele será pago em quatro parcelas, com valores de R$ 150, R$ 250 ou R$ 375, dependendo da família e limitado a um benefício por família.

Em resumo, não há recursos no orçamento de 2021 para o enfrentamento da pandemia. O único valor que aparece no texto da LOA aprovada pelo Congresso Nacional para combater a crise é de R$ 1,18 bilhão de recursos destinados à saúde. Para comparação, o valor gasto com o mesmo fim em 2020 foi de R$ 42 bilhões. Não há menção a outros programas de combate à crise, como o apoio a trabalhadores que perderem seus empregos ou tiveram suas jornadas de trabalho reduzidas.

Mesmo na saúde a situação não é muito positiva. Para além dos recursos específicos para a pandemia, em 2021 a área como um todo perdeu quase metade dos recursos autorizados no ano anterior, R$ 196,9 bilhões, e ficou um uma dotação inicial de R$ 136 bilhões. É como se a pandemia não tivesse se agravado neste ano, e não houvesse nenhum impacto de longo prazo.

Educação

O orçamento federal aprovado para 2021 está repleto de questões que precisarão ser resolvidas, ou inviabilizarão várias políticas públicas fundamentais. A Educação terá R$ 55 bilhões condicionados à aprovação do Congresso Nacional, porque afetam uma das regras fiscais, a regra de ouro, então, a responsabilidade ficará a cargo do Legislativo.

Para a função educação, que engloba todos os gastos para esta área no Executivo, foram autorizados R$ 113,8 bilhões para 2021. Quando comparamos com o aprovado em 2020, que foi R$ 116,6 bilhões, são R$ 3 bilhões a menos para uma área que vem perdendo recursos desde 2015 – em 2020, esta perda foi de ordem de R$ 7 bilhões.

Não é ocioso lembrar que, em 2016, ano de crise e de referência para a emenda do teto de gastos, o autorizado foi R$ 135,5 bilhões. Boa parte dos cortes está no ensino superior, inviabilizando atividades importantes em várias universidades federais. Para 2021 estão previstos R$ 33,7 bilhões, ou R$ 3 bilhões a menos que em 2020. A título de comparação, também com 2016, o autorizado para esta etapa de ensino foi de R$ 41,4 bilhões.

Direito à cidade

As três funções analisadas no orçamento de direito à cidade, urbanismo, habitação e saneamento tiveram altas em seus orçamentos. Ainda não temos como saber o porquê, mas como há várias ações com locais já predeterminados, podemos inferir que sejam fruto de emendas parlamentares. A maior alta se deu nos recursos para urbanismo, com aporte de mais R$ 3 bilhões em comparação com 2020,  onde há várias políticas para as cidades, dentre elas o transporte público urbano, que apesar de estar em profunda crise em várias cidades, teve recursos extras vetados pelo presidente e o que está previsto para esta ação é menor que em 2020. E a maior parte vai para infraestrutura e não para apoiar os sistemas de transporte público urbano.

Apesar do aumento dos recursos em urbanismo, para a subfunção transporte público urbano, os recursos que eram da ordem de R$ 545 milhões, em 2021 são R$ 494 milhões. Se já eram insuficientes, agora ainda mais, visto que o projeto de apoio aos sistemas de transporte vetado pelo presidente no final de 2020 previa um aporte de R$ 4 bilhões apenas para o custeio do sistema. E o que está previsto, que é 10% do que foi vetado, apenas uma pequena parte é para apoio ao serviço prestado. Estamos vendo diariamente a precariedade da oferta de transporte coletivo, cujos veículos viraram pesadelo para os trabalhadores e trabalhadoras que precisam circular e que não têm segurança alguma de que não se contaminarão, pois trafegam sempre com lotação máxima e sem fiscalização por parte do poder público.

Meio ambiente

O PLOA 2021 evidenciou, mais uma vez, a irresponsabilidade na condução da política ambiental. Para o ICMBio, cuja principal missão é fazer a gestão das Unidades de Conservação, o corte de R$ 119 milhões reduziu pela metade a capacidade de gasto do órgão. No Ibama, o governo propôs cortar em 2021 R$ 118 milhões para o órgão e as duas ações orçamentárias referentes ao combate ao desmatamento ilegal também sofreram pesados cortes na proposta do governo, perdendo R$ 49 milhões se comparado a 2019.

A despeito da campanha Floresta Sem Cortes e do trabalho do relator setorial do PLOA para o meio ambiente (deputado Nilto Tatto, PT-SP), no Congresso Nacional foram aumentados em apenas R$ 14,6 milhões estes valores, muito pouco perto do tamanho do corte que o Executivo propôs. O orçamento aprovado para o meio ambiente em 2021 torna, assim, inviável a própria existência do ICMBio e compromete severamente a fiscalização ambiental do Ibama.

Ao mesmo tempo, a ação do ministro do meio ambiente, Ricardo Salles, junto ao relator e em articulação com parlamentares, multiplicou quase 18 vezes (de R$ 12,6 milhões em 2020 para R$ 244,74 milhões em 2021) os recursos para uma ação orçamentária do Ministério do Meio Ambiente denominada “Implementação de programas, planos e ações para melhoria da qualidade ambiental urbana – Aquisição de Máquinas, Equipamentos e Materiais Permanentes”. Com estes recursos, o governo pretende multiplicar pelo país, com concentração em São Paulo, usinas de geração de energia a partir de resíduos sólidos urbanos.

Crianças e adolescentes

O orçamento para crianças e adolescentes seguirá em 2021 priorizando o programa Criança Feliz, de acompanhamento de crianças de 0 a seis anos com o objetivo de promover desenvolvimento na primeira infância, que consumirá 98% de todos os recursos para a assistência à criança e o adolescente no ano. O programa, que ainda precisa ser avaliado em relação aos seus resultados, deverá ter um aumento de seus recursos em 7,1% em 2021 comparados ao valor autorizado em 2020.

Enquanto isso, em 2020 os recursos para a educação infantil foram quase três vezes menores quando comparados com 2019, e vários programas da área como o enfrentamento do trabalho infantil ou a educação de jovens e adultos (EJA) tiveram seus orçamentos drasticamente reduzidos. Para 2021, o orçamento aprovado pelo Congresso Nacional prevê a reestruturação do orçamento para a educação infantil, com aumento de 66,1% nos seus recursos – ainda que, quando comparamos com o executado em 2019, o valor é 30,8% inferior, o que sinaliza que os recursos para esta política continuam em processo de queda. A EJA segue sem recursos autorizados suficientes para seu funcionamento adequado – como mostramos em nosso relatório, ele se mantém na sobrevida nos últimos anos, apenas com pagamentos relacionados a anos anteriores.

Igualdade racial e quilombolas

Na ação Promoção e Defesa de Direitos para Todos, de execução do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), estão previstos R$ 2,5 milhões espalhados principalmente em quatro políticas: ações de promoção da igualdade racial e promoção dos direitos de matriz africana (R$1,4 milhões); igualdade racial no estado de Sergipe (R$ 800 mil); povos e comunidades tradicionais – nacional (R$ 100 mil), e povos e comunidades tradicionais no Rio Grande do Norte (R$ 200 mil).

Em relação aos quilombolas, alguns programas e ações tiveram seus recursos aumentados pelo Congresso Nacional. Para saneamento básico em comunidades quilombolas, estão previstos R$ 160,4 milhões –  no PLOA 2021 proposto pelo Executivo a previsão era de R$ 80 milhões. Para a distribuição de alimentos a grupos populacionais tradicionais e específicos, de R$ 18,6 milhões saltou para R$ 100,3 milhões com as emendas parlamentares. Esta política executou R$ 12,5 milhões em 2020.

A Fundação Palmares, porém, segue em um cenário desesperador de redução de recursos. Para ela foram destinados apenas R$ 1,4 milhão, na proposta do Executivo estavam previstos R$2,7 milhões.

Mulheres

Os recursos para garantir direitos humanos no orçamento do governo Bolsonaro foram, em sua maior parte, aglutinados em um só programa orçamentário Programa 5034: Proteção da Vida, Fortalecimento da Família e Diretos Humanos, executado pelo MMFDH, que abriga políticas para diversos públicos: mulheres, população negra, idosos, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, indígenas e quilombolas. A LOA 2021 prevê R$ 336,2 milhões para este programa, R$204 milhões a mais que os R$132,3 milhões previstos no PLOA 2021. Em 2020, este programa teve R$ 416,1 milhões na LOA 2020, e após os créditos extraordinários decorrentes da pandemia chegou a R$ 599,7 milhões autorizados (dados corrigidos pela inflação, acesso em abril de 2021). Ou seja, o recurso para 2021 é 19,2% inferior ao inicialmente aprovado para 2020, e 43,9% menor que o recurso total autorizado ano passado.

É possível encontrar alguns recursos específicos para políticas para mulheres, que aumentaram devido às emendas adicionadas pelo Congresso Nacional. As ações de enfrentamento a violência contra a mulher receberam R$ 2,5 milhões e as Casas da Mulher Brasileira, que oferecem serviços de assistência às mulheres, tiveram R$ 28,9 milhões de recursos garantidos, um aumento de R$ 1 milhão se comparado com o valor apresentado pelo Executivo no PLOA.

Indígenas

Para a área indígena, não houve mudanças do texto enviado pelo Executivo para o aprovado pelo Parlamento. As projeções para a Funai parecem otimistas: para 2021 o órgão contará com cerca de R$ 11,5 milhões a mais do que no PLOA 2020. No entanto, boa parte desses recursos está sujeita à aprovação legislativa: dos R$ 648,5 milhões atribuídos para a Funai em 2021, R$ 338,5 milhões estão sujeitos à aprovação do Congresso. Além disso, o acréscimo orçamentário previsto para o ano que vem está longe de ser suficiente para recuperar a esgarçada estrutura do órgão. O valor, por exemplo, está muito distante dos R$ 870 milhões atribuídos à Fundação em 2013.

No que tange à Saúde Indígena, a LOA 2021 atribuiu R$ 67,9 milhões a mais para a principal ação orçamentária da área, totalizando R$ 1,4 bilhão, algo muito positivo dado o elevado número de mortes indígenas devido ao novo coronavírus em 2020. É possível que tal aumento seja resultado das mobilizações dos movimentos sociais junto ao STF por ações mais efetivas no enfrentamento ao novo coronavírus nos territórios indígenas. De qualquer forma, é necessário monitorar os gastos para que os recursos cheguem à ponta, pois houve lentidão orçamentária ano passado: em 2020 chegamos em setembro com apenas 62% de execução orçamentária.

* Livi Gerbase, Nathalie Beghin, Carmela Zigoni, Alessandra Cardoso, Cleo Manhas, Thallita de Oliveira, Leila Saraiva e Luiza Pinheiro, integrantes da equipe do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).

Manifesto contra o projeto de lei fura-fila da vacina

o Inesc se soma às mais de 200 organizações da sociedade civil contrárias ao projeto de lei fura-fila da Vacina. Por por uma vacinação para todas e todos, por meio do Sistema Único de Saúde! Leia o manifesto:

 

Abaixo o projeto de lei fura-fila da vacina: por uma vacinação para todas e todos pelo Sistema Único de Saúde

 

A sociedade brasileira recebeu com grande perplexidade a proposta defendida pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, apresentada na última semana, que permite um esquema de “fura-fila” e abertura para corrupção na vacinação contra o coronavírus. O PL 948/2021 pretende ampliar a já questionável permissão para que empresas comprem vacinas, sem nem atender aos requisitos legais mínimos de destinação de vacinas para o Sistema Único de Saúde (SUS), e que tenham incentivos fiscais para realizar essa compra.

Na prática, esta proposta implica que empresários poderão ser vacinados antes do cumprimento do calendário de vacinação dos grupos populacionais que apresentam maior risco de infecção e que são, portanto, prioritários; que não estarão obrigados a doar as vacinas compradas para o Sistema Único de Saúde; e que nós, sociedade como um todo, pagaremos por esse privilégio, uma vez que Arthur Lira e o empresariado pretendem fazer com que a compra seja descontada de seus impostos devidos.

A Lei 14.125/2021 já permitiu que o setor privado “apoiasse” o processo de vacinação, liberando a compra por empresas desde que arcassem com os custos e houvesse a doação da metade das vacinas compradas para o SUS. A lei também condicionava que essas doses adquiridas pelas empresas só poderiam ser utilizadas após a vacinação dos grupos prioritários, conforme estabelecido no Plano Nacional de Imunização (PNI), considerando que há ainda um déficit na disponibilidade de vacinas. O que propõe Arthur Lira, provocado por um grupo da elite empresarial, é a derrubada dessas condicionantes.

A iniciativa de privatização das vacinas tem sido severamente criticada por seus aspectos éticos, de transparência e de (ir)responsabilidade, tendo em vista que o processo amplia os riscos de corrupção e desvios, e por seu principal e maior problema, que é a destinação de vacinas para pessoas que não fazem parte dos grupos prioritários estipulados pelo PNI, sendo entendida como uma vantagem, ou melhor, como uma estratégia de “fura-fila” em meio ao caos e o desespero de muitas(os).

A aprovação do texto também aumentaria sobremaneira o risco de fraude e corrupção no processo de imunização, já que a população estará mais propensa a acreditar em campanhas “informais” de vacinação – que usam vacinas roubadas ou  falsas, como episódio recente em Minas Gerais. Mensagens falsas sobre a aplicação fraudulenta de vacinas já se multiplicam nas redes sociais. Tirar a centralidade do SUS da campanha de imunização dificulta o controle de procedência e pode dar força para esse tipo de prática.

Após completarmos um ano vivendo em um cenário de isolamento social devido a pandemia pela Covid-19, os números se tornam cada vez mais alarmantes, atingindo mais de 331.000 óbitos no Brasil. Os impactos da pandemia no país intensificaram as desigualdades raciais, socioeconômicas e territoriais. Grupos marcados, historicamente, pelo racismo, desigualdades e violações de direitos se viram ainda mais vulnerabilizados frente ao desgoverno que não enfrentou com medidas devidas e adequadas o ataque do coronavírus, aprofundando a crise de acesso ao direito à saúde, proteção social e políticas públicas. Os grupos mais vulnerabilizados são os que detêm hoje maior índice de mortalidade por Covid-19, como a população negra, quilombola e na extrema pobreza, com ênfase nas mulheres negras, chefes de família e que integram serviços considerados essenciais.

Há de ressaltar que o PNI ainda é deficitário em relação à determinação dos grupos prioritários, considerando que tem deixado fora dos grupos pessoas que têm de fato mais de contágio e complicações mortais pelo vírus, como pessoas em situação de rua, quilombolas, trabalhadores de serviços essenciais e pessoas em situação de privação de liberdade.

A chegada da vacina ao Brasil foi marcada pela demora do governo federal em realizar as negociações e compras suficientes à população. O país foi um dos últimos do mundo a adquirir a vacina – em contradição ao histórico brasileiro de ter sido um dia referência em vacinação. A vacina também reforçou as desigualdades, em especial, a racial: hoje no Brasil ainda não atingimos nem 10% da população vacinada com a primeira dose e há o dobro de brancos vacinados do que de negros (apesar de negros serem 56% da população o país). Destaca-se ainda que há uma mortalidade maior por coronavírus da população negra em relação à população branca.

Por esse contexto, nós, sociedade civil brasileira, somos absolutamente contrários à aprovação do projeto de lei 948/2021 (proposto pelo deputado Hildo Rocha) e seu substitutivo (proposto pela deputada Celina Leitão) que está em votação na Câmara dos Deputados. A pandemia é um desafio global e público e precisa ser combatida no âmbito de um sistema de saúde que consiga promover seguridade e proteção social, garantindo que o acesso à saúde seja cumprido na prática de forma equitativa, universal e redistributiva. Toda a população tem direito de ser vacinada e isso só será possível por meio do SUS. O acesso às redes de saúde no Brasil ainda é um privilégio de poucos, e a compra de vacinas pelo setor privado ampliará (ainda mais) as desigualdades que assolam o Brasil, além de ser uma estratégia ineficiente para o combate ao vírus e demonstrar para o mundo o egoísmo e a forma predatória, violenta e negligente com que o nosso país vem sendo (des)governado em meio a uma crise de saúde pública global.

A ampliação do acesso público à vacina significa universalização e expansão dos serviços de saúde, responsabilidade, transparência e planejamento coerente. A luta pela imunização deve ser pensada para salvar vidas e não como uma troca de vantagens particulares, como já estamos presenciando no âmbito empresarial.

A ação contra essa tentativa de Lira e dos empresários é urgente. Com este movimento de furar a fila, querem te passar para trás. O mesmo Congresso Nacional que quer que você viva com R$5 por dia escolhe quem deve viver via o controle de acesso às vacinas. É essencial o arquivamento desse projeto de lei pelo Congresso Nacional.

Reforçamos a importância de que todo o processo de vacinação provenha do SUS, com a vacinação de grupos prioritários e, em seguida, de toda a população, de forma lógica, organizada, responsável e justa.

Assim, as entidades abaixo subscritas rechaçam veementemente a proposta contida no PL 948/2021 e em textos similares. Ajude-nos a pressionar o Congresso! Exigimos vacinas para todas e todos e o atendimento prévio dos grupos prioritários com maior risco de mortalidade. Contra a corrupção na vacinação! Contra o fura-fila das vacinas!

Assinam esta iniciativa:

 

  1. ABED
  2. ABGLT
  3. ABL- Articulação Brasileira de Lésbicas
  4. ABONG – Associação Brasileira de ONGs
  5. Ação Educativa
  6. ACAT – Ação dos Cristãos pela Abolição da Tortura
  7. AFRIKAMBO
  8. Afro-Gabinete de Articulação Institucional e Jurídica (AGANJU)
  9. AGENDA NACIONAL PELO DESENCARCERAMENTO
  10. Agente De pastoral da saúde
  11. Agentes de Pastoral de Negros do Brasil APNs
  12. Alagbara Articulaçao de Mulheres Negras e Quilombolas no Tocantins
  13. Aliança Pró-Saude da População Negra de São Paulo/SP
  14. ALUG- Associação de Cidadãos da Galeria
  15. Anistia Internacional Brasil
  16. Anpsinep
  17. Articulação de Mulheres Brasileiras AMB
  18. Articulação dos Povos Indigenas do Brasil – APIB
  19. Articulação Negra de Pernambuco
  20. Articulação para o Monitoramento dos Direitos Humanos no Brasil
  21. Assetans
  22. ASSIBGE – SN (Núcleo Minas)
  23. Associação Brasileira de Médicas e Médicos pela Democracia
  24. Associação Cultural Beneficente Ilê Mulher
  25. Associação de Moradores e Moradoras do Povo. olho D’água do município d Anajatuba
  26. Associação de Mulheres Negras Aqualtune
  27. Associação dos Docentes da Universidade de Brasília
  28. Associação dos trabalhadores aposentados pensionistas idosos de Viamão
  29. Associacao Moradores Condominio Lagoa Santa
  30. Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas (ANEPCP)
  31. ASSOCIAÇÃO RECREATIVA E CULTURAL AFRO NAÇÃO DAS ALMAS DE ANGOLA JOSÉ PILINTRA DA LAPA
  32. Associacao.dos moradores da quadra 8
  33. Biblioteca Comunitária de Sete de Abril
  34. Brcidades
  35. Casa da Mulher Trabalhadora – CAMTRA
  36. Católicas pelo Direito de Decidir
  37. CDDH Dom Tomás Balduíno de MARAPÉ ES
  38. CEABI-TUCURUÍ
  39. Cebes Centro Brasileiro de Estudos de Saúde
  40. Cedeca casa renascer
  41. Central Sindical e Popular CSP-Conlutas
  42. Central Única dos Trabalhadores – CUT Brasil
  43. Centro Dandara de Promotoras Legais Populares
  44. Centro de Educação e Assessoramento Popular – CEAP
  45. Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT
  46. Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará – CEDENPA
  47. Centro de Referência da Cultura Negra
  48. Centro de Referência Negra Lélia Gonzales
  49. Centro Dom Helder Camara de Estudos e Açao Social
  50. Centro Gaspar Garcia de Direitos Humanos
  51. Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro Brasileiro
  52. CESE- Coordenadoria Ecumênica de Serviço
  53. CFEMEA
  54. CFNTX – Centro de Formação da Negra e do Negro da Transamazônica e Xingu
  55. CMDS
  56. Coalizão Direitos Valem Mais
  57. Coalizão Negra por Direitos
  58. CoeqtoCoordenacao Estadual de Quilombolas do TO
  59. Colegiado Nacional Dos Gestores Municipais De Assistência Social – CONGEMAS
  60. Coletina Mahin – Organização de Mulheres Negras
  61. Coletivo Alumiá: gênero e cidadania – Mauá – SP
  62. Coletivo Amazônico LesBiTrans
  63. Coletivo de Esquerda Força Ativa
  64. Coletivo de Terapeutas Ocupacionais Berenice Rosa Francisco
  65. Coletivo Feminista Classista Maria vai com as Outras
  66. Coletivo Negras Ptistas SC
  67. Coletivo Raízes do Baobá Negras e Negros Jaú/SP
  68. Comissão de Direitos Humanos Câmara Municipal de Fortaleza
  69. Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo  – CDHPF
  70. Comissão Política do PCdoB de Santa Inês/MA
  71. Comitê de estudos da mortalidade materna
  72. Comitê de Monitoramento e Resistência Covid19 Viamão
  73. Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos das Mulheres (CLADEM Brasil)
  74. COMUNEMA – Coletivo de Mulheres Negras ‘Maria-Maria’
  75. Comur
  76. CONAM – Confederação Nacional das Associações de Moradores
  77. CONEM
  78. Conselho distrital de saúde Norte de BH
  79. Conselho Federal de Serviço Social – CFESS
  80. Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil
  81. Conselho Pastoral dos Pescadores- CPP
  82. Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos –CONAQ
  83. CRIA
  84. CRIOLA
  85. Distrito Drag
  86. Educafro
  87. EIG Evangélicas pela Igualdade de Gênero
  88. Engenheiros Sem Fronteiras – Brasil
  89. Escola Livre de Redução de Danos
  90. FAOR – Fórum da Amazônia Oriental
  91. Federação das entidades comunitárias de Natal RN
  92. Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional
  93. Fenapsi Federação Nacional dos Psicólogos
  94. FICuSB – Federação e Instituto Cultural de São Benedito
  95. FOPIR – Fórum Permanente de Igualdade Racial
  96. Fórum Nacional dos Usuários do SUAS
  97. Fórum Permanente das Entidades do Movimento Negro MS
  98. Frente Nacional contra a Privatização da Saude
  99. Frente Popular pela Vida: em defesa do Serviço Público e de Solidariedade no Contexto do COVID 19.
  100. FTSUAS
  101. Geledes-Instituto da Mulher Negra
  102. Gestos_ Soropositividade, Comunicação e Gênero
  103. Grito dos Excluídos Continental
  104. Grupo de Pesquisa Costeiros  – UFBA
  105. Grupo desenvolvido familiar-gdfam
  106. Grupo GUARÁ
  107. IBD – Instituto Brasileira da Diversidade
  108. Idec- Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
  109. IDISA Instituto de Direito Sanitário Aplicado
  110. Ilê Omolu Oxum – Rio de Janeiro
  111. IMUNE
  112. IMUNE MT – Instituto de Mulheres Negras MT
  113. INESC – Instituto de estudos socioeconômicos
  114. Iniciativa individual
  115. Iniciativa negra por uma nova politica sobre drogas
  116. Iniciativa Sankofa
  117. Instituto Aromeiazero
  118. Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase)
  119. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec
  120. Instituto Co-Labore de Desenvolvimento e Participação Social
  121. Instituto de Referência Negra Peregum
  122. Instituto EcoVida
  123. Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social
  124. Instituto IDhES
  125. Instituto Marielle Franco
  126. Instituto Negro é Lindo
  127. Instituto Prios de Políticas Públicas e Direitos Humanos
  128. Instituto Raça e Igualdade
  129. Instituto Soma Brasil
  130. Instituto URBEM
  131. Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
  132. IPEAFRO – Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros
  133. IPI de Vila aparecida
  134. IROHIN – Centro de Documentação, Comunicação e Memória Afro Brasileira
  135. ISER Assessoria
  136. Justiça Global
  137. KOINONIA
  138. Mandato da Vereadora Erika Hilton (SP)
  139. Marcha das Mulheres Negras de São Paulo
  140. MNU – Acre
  141. MNU – Movimento Negro Unificado
  142. MNU – Movimento Negro Unificado SP
  143. MNU – Rondônia
  144. MNU Goiás
  145. MoCAN – Movimento Contra as Agressões à Natureza
  146. Mov de mulheres camponesas
  147. Movimento Afro Vegano
  148. Movimento de Mulheres do campo e da Cidade
  149. Movimento de mulheres do campo e da Cidade
  150. Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara
  151. Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara
  152. Movimento dos Atingidos por Barragens
  153. Movimento dos Conselhos Populares – MCP
  154. Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST
  155. Movimento Moleque
  156. Movimento Nacional de Direitos Humanos – MNDH Brasil
  157. Movimento Social de Mulheres Evangélicas do Brasil (MOSMEB)
  158. MPA
  159. Nova Central Sindical de Trabalhadores
  160. Núcleo da UNEGRO de Santa Inês MA e Sub-Regional do FEDERMA de Santa Inês MA
  161. Núcleo de coordenação do Fórum Municipal dos Conselhos da Cidade de Porto Alegre
  162. Núcleo de Mulheres de Roraima
  163. Núcleo de Saúde do PT/BH
  164. Núcleo Ecossocialista de Batatais-SP
  165. Nupeges
  166. Observatório do Marajó
  167. Observatorio Judaico dos Direitos Humanos do Brasil “Henry Sobel”
  168. OdascoemDefesaDoSUS
  169. Oxfam Brasil
  170. Paróquia São Francisco
  171. Pastoral Familiar da Diocese de Roraima
  172. Pastoral social política e ambiental
  173. Plataforma Dhesca Brasil
  174. Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma do Sistema Político
  175. Plenaria Municipal de saude
  176. Projeção – Consultoria, Formação e Políticas Públicas
  177. Projeto Doce Som do Coração
  178. PUD Psicanalistas Unidos pela Democracia
  179. Quilombelas – Núcleo de Mulheres Negras de São José dos Campos
  180. Rede Afro LGBT
  181. Rede de Alimentação de Economia Solidária da Bahia
  182. Rede de Cooperação Negra e LGBTQI’Pretas e Coloridas’
  183. Rede de mulheres negras de Alagoas
  184. Rede de Mulheres Negras de Pernambuco
  185. Rede de Mulheres Negras do Nordeste
  186. Rede de Proteção e Resistência ao genocídio
  187. Rede Emancipa Belém e Ananindeua de Educação Popular
  188. Rede Jubileu Sul Brasil
  189. Rede Mangue Mar/ RN
  190. Rede MNRJ
  191. REDE NACIONAL DA PROMOÇÃO E CONTROLE SOCIAL DA SAUDE, CULTURA E DIREITOS DE LESBICAS E BISSEXUAIS NEGRAS – REDE SAPATA
  192. Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas
  193. Rede Ubuntu de Educação Popular
  194. REDEH
  195. Renafro/Saúde
  196. Secretaria Municipal de Assistência Social de Telêmaco Borba
  197. Sindae
  198. Sindicato dos psicólogos no Estado de São Paulo SINPSI-SP
  199. SINDIFES
  200. Sindisprevrs
  201. Sintufrj
  202. SMAS (Secretaria Municipal de Assistência Social)
  203. Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
  204. SOCIEDADE PARAENSE DO DIREITOS HUMANOS
  205. Terra de Direitos
  206. Trabalho com Promoção da Saúde SMSA/SUS-BH
  207. Trust Revolution
  208. UNEAFRO Brasil
  209. União das Associações Remanescentes de Quilombos – UNIQUITUBA
  210. União de NEGRAS e Negros pela Igualdade (Unegro)
  211. União Nacional de Lesbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais – UNALGBT
  212. Zarabatana INFO – Ciberativistas Negras Amazônidas
  213. Grupo de Trabalho de Saúde da População Negra da Sociedade Brasileira de Medicina de Familia e Comunidade
  214. Coletivo NEGREX
  215. Coletivo Negro Fiocruz

 

Um país sufocado – Balanço do Orçamento Geral da União 2020

Relatório do Inesc “Um país sufocado – balanço do Orçamento Geral da União 2020” mostra que governo federal deixou de gastar R$ 80,7 bilhões do orçamento destinado a conter os efeitos da pandemia em 2020, apesar da gravidade da crise sanitária e social instalada no país desde a chegada do novo coronavírus.

O documento analisa os gastos federais de 2020, tanto com despesas extraordinárias para enfrentar as consequências da pandemia da Covid-19 quanto com políticas públicas das áreas de Saúde, Educação, Meio Ambiente e Direito à Cidade. O estudo também avalia a gestão dos recursos destinados a políticas que atendem grupos intensamente afetados pela crise, como mulheres, indígenas, quilombolas, crianças e adolescentes.

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Um país sufocado – Balanço do Orçamento Geral da União 2020

Baixa execução financeira e lentidão do governo asfixiaram políticas sociais em 2020, diz estudo

O governo federal deixou de gastar R$ 80,7 bilhões do orçamento destinado a conter os efeitos da pandemia em 2020, apesar da gravidade da crise sanitária e social instalada no país desde a chegada do novo coronavírus. Isso equivale a 15% do total dos recursos gastos neste fim e, para efeitos de comparação, daria para financiar dois programas Bolsa Família por um ano. O levantamento feito pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) faz parte do estudo “Um país sufocado – Balanço do Orçamento Geral da União 2020”.

Lançado nesta quarta-feira (7/4), o documento analisa os gastos federais de 2020, tanto com despesas extraordinárias para enfrentar as consequências da pandemia da Covid-19 quanto com políticas públicas das áreas de Saúde, Educação, Meio Ambiente e Direito à Cidade. O estudo também analisa a gestão dos recursos destinados a políticas que atendem grupos intensamente afetados pela crise, como mulheres, indígenas, quilombolas, crianças e adolescentes.

O Instituto conclui que a não execução da totalidade dos R$ 604,7 bilhões destinados a combater a pandemia contribuiu para que o país fechasse o ano com 200 mil mortos pelo vírus e com taxa de desemprego recorde, atingindo 13,4 milhões de pessoas. “Na situação de emergência e calamidade que o Brasil se encontrava em 2020, o governo tinha a obrigação de gastar o máximo de recursos disponíveis para proteger a população. Mas o que vimos foi sabotagem, ineficiência e morosidade no financiamento de políticas públicas essenciais para sobreviver à crise”, constatou Livi Gerbase, assessora política do Inesc.

Sobraram R$ 29 bi do Auxílio Emergencial

Mais da metade do orçamento exclusivo para o enfrentamento à pandemia (53,2%) foi destinado ao Auxílio Emergencial em 2020, programa que forneceu cinco parcelas de R$ 600 a 66,2 milhões de brasileiros. A despeito do agravamento da crise, o benefício foi cortado pela metade e, posteriormente, suspenso – deixando um saldo R$ 28,9 bilhões nos cofres públicos.

Estimativa da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que da suspensão do benefício, em agosto de 2020, até janeiro de 2021, 18 milhões de pessoas passaram a viver em situação de extrema pobreza. “A suspensão do programa é injustificável diante do tamanho da crise que se abateu sobre o Brasil em 2020. O valor que sobrou poderia ter minimizado a redução no auxílio emergencial, realizada no final de 2020, evitando o expressivo aumento da fome e das desigualdades sociais”, estimou Livi Gerbase.

Lentidão nos gastos com Saúde

Após quatro meses da declaração de emergência nacional por parte do governo, o Inesc apontou que apenas 40,1% do valor planejado no orçamento do governo federal para combater a pandemia da Covid-19 tinham sido executados. Na avaliação do Instituto, a pressão da sociedade fez com que a execução aumentasse no final do ano, mas não foi suficiente para evitar o colapso na Saúde. “A deliberada ineficiência ministerial associada à total ausência de coordenação do SUS por parte do nível central resultaram no aprofundamento da crise sanitária e no expressivo aumento de número de mortes”, concluiu a especialista em orçamento público do Inesc.

Os gastos com Saúde totalizaram R$ 42,7 bilhões, além dos R$ 10 bilhões distribuídos no âmbito do Programa Federativo de Enfrentamento ao Coronavírus. O atraso na liberação de recursos foi notado em julho de 2020 por relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), que apontou que o Ministério da Saúde havia gasto apenas 29% da verba prevista para combater o novo coronavírus desde março.

A lentidão na compra de vacinas contra o vírus Sars-CoV-2 também foi flagrante em 2020. Apenas em dezembro, pressionado pela população, o governo emitiu medida provisória reservando R$ 20 bilhões para aquisição dos imunizantes em 2021.

Além da Covid-19

Enquanto as atenções estavam voltadas para os créditos extraordinários destinados ao combate à Covid-19, o estudo do Inesc mostrou que o orçamento de políticas públicas essenciais seguiu a tendência de corte dos últimos anos, acurralado pelas regras fiscais vigentes, sobretudo, a de Teto de Gastos.

Os gastos com a função Saúde, por exemplo, caíram 6% em 2020, em comparação com 2019, se forem retirados os recursos extras destinados ao enfrentamento da Covid-19. Foram R$ 7 bilhões a menos para um setor que sofre uma histórica insuficiência de recursos. Outro exemplo foi a área de Educação que, além de não ter recebido nenhum recurso adicional em decorrência da pandemia, também teve R$ 7 bilhões a menos de execução financeira do que em 2019 – mesmo diante de um cenário que exigia medidas efetivas e inovadoras para garantir condições de ensino em meio à pandemia.

Entre as medidas propostas pelo Inesc diante da recessão que promete se agravar em 2021, estão:

  • Decretar o Estado de Calamidade Pública e voltar a implementar um Orçamento de Guerra para facilitar e agilizar os gastos para o enfrentamento da pandemia.
  • Retomar o Auxílio Emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia.
  • Estabelecer, para 2021, um piso emergencial para a saúde de R$ 168,7 bilhões.
  • Revogar a Emenda Constitucional 95 de 2016 (Teto de Gastos)

Mais exemplos de programas sociais que sofreram cortes de verbas ou baixa execução de recursos:

Meio Ambiente

Os gastos com o Ministério do Meio Ambiente em 2020 foram de apenas R$ 195 milhões, isto para um orçamento de patamares baixos nos últimos anos, da ordem de R$ 300 milhões. As despesas discricionárias do ICMBio em 2020, de R$ 303 milhões, representaram menos da metade do que o executado em 2019. O esvaziamento orçamentário está relacionado com o projeto de incorporação do órgão ao Ibama, o que seria uma grande perda para as políticas de fiscalização ambiental brasileiras.

Incentivo à pesquisa

Apesar das evidências da importância da ciência para conter e tratar a pandemia, o governo federal cortou expressivos recursos da área de pesquisa. Os gastos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em 2020 foram 24% menores em relação ao ano anterior, passando de R$ 4,6 bilhões para R$ 3,5 bilhões.

Indígenas

A execução financeira da Funai em 2020 se manteve em patamares semelhantes aos de 2019, de R$ 655 milhões. Esse valor é pequeno se comparado com anos anteriores e, especialmente, considerando a emergência sanitária vivenciada em 2020 devido à Covid-19.

Mulheres

As políticas voltadas para as mulheres em 2020 foram marcadas pela baixa execução e pelo desfinanciamento. Nem a suspensão das regras fiscais, nem a flexibilização das regras para contratos e licitações, medidas adotadas por causa da pandemia da Covid-19, foram capazes de melhorar o desempenho do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) na área, que chegou ao final do ano deixando de gastar 70% do recurso autorizado para 2020. Foram autorizados R$ 120,4 milhões e efetivamente gastos R$ 35,4 milhões.

Direito à cidade

Poucos recursos novos foram aportados para a função Urbanismo (que abarca urbanização de assentamentos precários, projetos de mobilidade urbana, entre outras áreas). Em 2020, dos cerca de R$ 6 bilhões gastos, somente R$ 1,3 bilhões correspondem a aportes novos para aquele ano, o que equivale a pouco mais de 20% do total. O restante diz respeito a pagamento de despesas comprometidas em anos anteriores.

Crianças, adolescentes e jovens

Os gastos com políticas voltadas para crianças, adolescentes e jovens despencaram ou desapareceram em 2020. As despesas destinadas à assistência de crianças e adolescentes, de R$ 443 milhões, foram 9,4% menores em relação à 2019. Os valores despendidos em educação infantil foram quase três vezes menores em 2020 (R$ 145 milhões) em comparação com 2019 (R$ 410 milhões). Em 2020, o governo federal não gastou nem R$ 300 mil reais para combater o trabalho infantil, que acomete 1,8 milhões de crianças de todo o país. Os recursos para Educação de Jovens e Adultos (EJA) estão em extinção: em 2020 nada foi gasto de recursos novos, somente despesas acumuladas de anos anteriores.

Igualdade Racial

No governo Bolsonaro foram extintos programas e ações voltados para combater a desigualdade racial, um dos fenômenos centrais dos processos de exclusão no Brasil. Em 2019, o Programa 2034: Promoção da Igualdade Racial e Superação do Racismo ainda teve recursos autorizados, no valor de R$ 10,3 milhões – dos quais foram executados R$ 7,1 milhões. A partir de 2020, uma vez extinto do Plano Plurianual (PPA), passou a executar somente restos a pagar de anos anteriores, no valor de R$ 2,4 milhões

Sobre o Inesc

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) é uma organização não governamental, sem fins lucrativos e apartidária. Nos últimos 41 anos, o Inesc tem utilizado a análise dos orçamentos públicos como ferramenta estratégica para influenciar as políticas públicas, com a missão final de aprofundar a democracia, o fortalecimento da cidadania e realização dos direitos humanos no Brasil. O Inesc foi uma das cinco organizações da sociedade civil que lançou a campanha A Renda Básica que Queremos, iniciativa que pressionou pela aprovação do Auxílio Emergencial durante a pandemia.

Expansão elétrica e energética: avanços, riscos e limitações das trajetórias propostas

Tomando como base o Plano Decenal de Expansão de Energia, o PDE 2030, e o Plano Nacional de Energia, o PNE 2050 são abordados os avanços, riscos e limitações das trajetórias propostas para a expansão elétrica e energética. 

O texto destaca a falta de articulação do governo para implementar planos de longo prazo para o aperfeiçoamento da matriz nacional, bem como os esforços no âmbito de legislativo para atacar as regras de licenciamento ambiental vigentes, o que é fundamental para garantir a proteção dos direitos territoriais em áreas de exploração de fontes renováveis, não fósseis. 

A publicação aborda, ainda, a compensação da retração do uso do petróleo na matriz energética pelo gás natural e da cana-de-açúcar pelas energias eólica e solar, biodiesel de soja e lixívia. Um ponto muito sensível é a introdução da soja como matéria-prima para a fabricação de biocombustíveis, que acende um alerta do ponto de vista socioambiental e climático.

Infraestruturas logísticas, agronegócio e clima

O texto relaciona a instalação de um complexo logístico multimodal no distrito de Miritituba, no Pará, aos processos recentes de desmatamento, queimadas e grilagem de terras, em uma das regiões menos antropizadas da Amazônia brasileira. 

Degradação ambiental e dos modos de vida dos povos originários e comunidades tradicionais e camponesas são consequências deste modelo de exploração econômica. Efeito que contribui para a consolidação do Pará como  a unidade subnacional com maior nível de emissões de gases de efeito estufa derivadas das mudanças no uso da terra e da destinação de áreas para a agropecuária no país. 

Programa Piloto para Pagamento por Resultados de REDD+: beneficiando quem preserva a floresta?

O texto alerta para a reformulação feita pelo governo Bolsonaro do programa piloto enviado pelo Brasil ao fundo verde para o clima. Nessa reformulação, os propósitos, o  escopo e os beneficiários do Programa foram alterados, promovendo um giro na natureza do programa de política pública para incentivo de mercado. O resultado é o redirecionamento, para a comercialização em âmbito nacional, de créditos de carbono não certificados internacionalmente.

Três artigos para entender a política socioambiental e climática brasileira

Três artigos publicados pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) trazem análises sobre aspectos relevantes da política socioambiental e climática no Brasil. O monitoramento ocorreu entre 2019 e 2020 e deu origem a série: “Monitorando a NDC* brasileira sob o governo Bolsonaro”.  

Acesse cada um dos artigos abaixo.

*Compromissos nacionalmente definidos pelo país

Programa Piloto para Pagamento por Resultados de REDD+: beneficiando quem preserva a floresta?

Por Alessandra Cardoso

O primeiro artigo analisa o “Programa Piloto para Pagamento por Resultados de REDD+”, experiência pioneira de captação de recursos da cooperação internacional no âmbito dos programas de compensação pela redução de emissões por desmatamento e degradação florestal, o chamado REDD+. 

O texto alerta para a reformulação feita pelo governo Bolsonaro do programa piloto enviado pelo Brasil ao fundo verde para o clima. Nessa reformulação, os propósitos, o  escopo e os beneficiários do Programa foram alterados, promovendo um giro na natureza do programa de política pública para incentivo de mercado. O resultado é o redirecionamento, para a comercialização em âmbito nacional, de créditos de carbono não certificados internacionalmente.

Infraestruturas logísticas, agronegócio e clima

Por Tatiana Oliveira

O segundo artigo analisa a retomada do projeto de ocupação e desenvolvimento da Amazônia brasileira, tendo o agronegócio e a infraestrutura logística como dois de seus pilares. O texto relaciona a instalação de um complexo logístico multimodal no distrito de Miritituba, no Pará, aos processos recentes de desmatamento, queimadas e grilagem de terras, em uma das regiões menos antropizadas da Amazônia brasileira. 

Degradação ambiental e dos modos de vida dos povos originários e comunidades tradicionais e camponesas são consequências deste modelo de exploração econômica. Efeito que contribui para a consolidação do Pará como  a unidade subnacional com maior nível de emissões de gases de efeito estufa derivadas das mudanças no uso da terra e da destinação de áreas para a agropecuária no país. 

Expansão elétrica e energética: avanços, riscos e limitações das trajetórias propostas

Por Pedro Bara Neto

A terceira publicação traz uma análise cruzada entre os planos de adaptação energética e o cumprimento das metas climáticas voluntariamente adotadas pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris (2015). Tomando como base o Plano Decenal de Expansão de Energia, o PDE 2030, e o Plano Nacional de Energia, o PNE 2050 são abordados os avanços, riscos e limitações das trajetórias propostas para a expansão elétrica e energética. 

O texto destaca a falta de articulação do governo para implementar planos de longo prazo para o aperfeiçoamento da matriz nacional, bem como os esforços no âmbito de legislativo para atacar as regras de licenciamento ambiental vigentes, o que é fundamental para garantir a proteção dos direitos territoriais em áreas de exploração de fontes renováveis, não fósseis. 

A publicação aborda, ainda, a compensação da retração do uso do petróleo na matriz energética pelo gás natural e da cana-de-açúcar pelas energias eólica e solar, biodiesel de soja e lixívia. Um ponto muito sensível é a introdução da soja como matéria-prima para a fabricação de biocombustíveis, que acende um alerta do ponto de vista socioambiental e climático.

Logística no Médio Tapajós: o caso de Itaituba-Miritituba

Neste guia ilustrado lançamos o olhar sobre a instalação de um conjunto de equipamentos logísticos no distrito de Miritituba e que vem chamando a atenção nacional e internacional por ter se tornado uma importante plataforma para exportação dos grãos produzidos no interior do país. A pequena localidade, com 15 mil habitantes, convive com o tráfego diário de 1500 carretas durante a alta safra da soja e abriga cinco portos.

Buscamos  entender quem são os atores e os interesses que, ao chegarem nessa região, transformaram completamente os modos de vida da população local, forçando a rápida adaptação de uma agrovila a dinâmicas impostas por empreendimentos logísticos que movimentam um grande volume de mercadorias.

Destacamos a presença das ABCDs no território, empresas seculares, cuja atividade econômica se concentra na circulação de mercadorias que alimentam as redes globais de produção. Embora essas empresas não se dediquem à produção, elas controlam todas as etapas do processo produtivo: financiam, compram, distribuem as mercadorias.

Análise da cláusula ambiental nos acordos de livre comércio entre Mercosul e UE e Mercosul e EFTA

A publicação analisa o impacto dos Acordos de Associação Birregional entre o Mercosul e a União Europeia e o Mercosul e a Associação Europeia de Livre Comércio, os quais visam à promoção da liberalização das trocas comerciais entre os blocos em diferentes setores econômicos. O documento sugere a interrupção da ratificação dos Acordos já que, além dos potenciais impactos socioambientais e climáticos negativos que apresentam,  eles vêm sendo discutidos à portas-fechadas, sem a participação da sociedade civil e de outros observadores internacionais. Além da questão democrática, o texto ressalta o caráter neocolonial dos acordos com base no estímulo ao aprofundamento da divisão internacional do comércio, bem como de suas consequências para o desenvolvimento econômico e os direitos humanos.

O recrudescimento da pandemia e a polêmica volta às aulas

Vários estados brasileiros começaram a se preparar para o retorno ou já estão em aulas presenciais em 2021, visto que as redes públicas nos estados e municípios, em maioria, estão com aulas presenciais suspensas desde março de 2020. No entanto, as curvas de contágio e morte que vinham caindo, voltaram a subir, em alguns lugares de forma assustadora. Quase todos os estados estão com hospitais lotados e com filas de espera. E isso ocorreu após relaxamento nos cuidados preventivos para evitar contágio na retomada de aulas presenciais.

Amazonas e Pará retomaram aulas em agosto e setembro de 2020 e, conforme anunciado, foi no mesmo Amazonas que o contágio e a letalidade aumentaram, se espalhando em seguida por todo o Brasil. Na Bahia há uma disputa entre judiciário, que quer voltar as aulas até março, e o executivo, que ainda tenta adiar o retorno. Em Maceió, escolas da rede privada retomaram aulas presenciais em janeiro, mas já em fevereiro tiveram de fechar várias por casos suspeitos de contaminação.  Piauí aprovou o retorno em setembro, mas em janeiro aprovou sistema híbrido.

Na região Centro-Oeste, as redes pública e privada de Goiás retomaram de forma híbrida em janeiro. O estado, em fevereiro, estava com leitos 100% ocupados e tendo de fazer isolamento social mais rígido em várias regiões. No Distrito Federal as escolas privadas retomaram presencialmente em setembro de 2020, com adesão de no máximo 30% dos estudantes. As públicas ainda estão em sistema remoto apesar da forte pressão, com resistência por parte de professores principalmente.

Em São Paulo, o retorno seria no início de março e foi adiado para 1 de abril devido as altas de contágio e letalidade. No entanto, muitas atividades estão funcionando, mesmo que com toque de recolher, e certamente em duas semanas a questão não se resolverá. Todos os estados do sul estão com capacidade máxima e filas de espera por leitos para tratamento da Covid-19.

O que são de fato atividades essenciais em meio a uma pandemia?

Estamos em um dos momentos mais críticos da pandemia, com filas de espera em todas as redes públicas de saúde de estados e municípios. No entanto, as medidas de isolamento não estão sendo eficazes, pois são confusas e parciais, deixando muita gente em circulação, não ajudando a abaixar as curvas de contágio e letalidade. Então, os setores obrigados a parar ficam revoltados, pois nem todas as áreas se submetem ao lockdown e, portanto, não resolve, apenas satura os que precisam parar.

“Atividades essenciais” é um termo que ficou esvaziado, já que varia de local para local. Em Brasília, por exemplo, academias para prática de esporte podem ficar abertas, escolas privadas estão funcionando, escolas públicas apenas em modo remoto. Daí tantos questionamentos, pois há uma confusão de prioridades, movida por interesses econômicos e pressão de empresários contra o que preconiza a saúde pública.

Surgem, então, muitas narrativas conflitantes. Por exemplo, sobre professores da rede pública não quererem trabalhar, como se não o fizessem no ensino remoto. Fazem até com mais dificuldades, pois para muitas (os) a utilização de plataformas de ensino está fora da prática cotidiana ou do que fizeram ao longo da vida em sala de aula.

Retorno às aulas presenciais significa 25% da população brasileira em circulação

Há vários casos de profissionais da educação e mesmo estudantes que foram contaminados pelo novo Coronavírus após retorno das atividades presenciais. Até mesmo casos de óbito em decorrência do contágio. Para se ter uma ideia do que significa o retorno total às aulas presenciais em todos os níveis e em todos os municípios, de acordo com o Censo Escolar da Educação Básica MEC/Inep, 2020, o Brasil tem apenas na educação básica (da infantil ao ensino médio normal e técnico) 45 milhões de estudantes. Sem contar o ensino superior que acrescenta mais 8,6 milhões, totalizando 53,6 milhões de pessoas. Somando as professoras e professores nesta conta temos mais 2,6 milhões. Então, se todos os sistemas de ensino no país funcionarem de forma presencial, serão cerca de 56 milhões de pessoas circulando, ou 25% da população.

Ensino Híbrido e possibilidade de inovação

Sabe-se, ainda, que as propostas de retorno híbrido especialmente para as escolas públicas, que não têm infraestrutura para receber todos os estudantes, não resolverá as enormes lacunas sedimentadas durante esse um ano em que convivemos com a pandemia. As professoras e os professores que terão que dar conta do ensino presencial e remoto são os mesmos. O revezamento para acesso ao presencial faz com que estudantes frequentem a escola em espaços muito grandes de tempo e o restante por ensino remoto. O modelo não ajudará a reduzir desigualdades existentes dentro das próprias escolas públicas, com assimetrias de acesso; e principalmente entre redes pública e privada.

Estamos fazendo o primeiro aniversário da convivência com o novo coronavírus sem, no entanto, pensar e propor novas formas de ensino/aprendizagem. Mesmo diante dessa enorme adversidade, as caixinhas continuam as mesmas, o máximo que fizeram, tanto rede pública quanto privada, foi transpor para plataformas virtuais o modelo de educação bancária criticada por Paulo Freire desde a década de 1970.

Estamos presos em modelos retrógrados, com dificuldades de repensar as salas de aula, conectados com Bases Nacionais Comuns Curriculares que se prendem ao conteudismo, a despeito da criatividade. E que neste momento ainda convivem com propostas fundamentalistas, criacionistas, ligadas à escola sem partido.

Paulo Freire tem sido atacado por todos os lados, mesmo sendo o intelectual brasileiro mais citado e respeitados em universidades mundo afora. Talvez porque em seus escritos e a partir de sua experiência é possível vermos luz no fim do túnel da ignorância. Por que não nos inspirarmos na educação popular para propor novas formas de interação mesmo que à distância? Menos opressão de conteúdos descontextualizados e mais história de gente? Maior conexão com o que estamos vivendo aqui e agora, estimulando pesquisa e criatividade por parte dos estudantes? Autonomia é a grande saída para esse imbróglio de desigualdades que estamos vivenciando. Há vida inteligente mesmo que de forma remota, basta abrirmos nossas mentes para o novo, não tão novo assim, diria Freire.

Inesc lança campanha “Escola dos sonhos”

Qual seria sua escola dos sonhos? Movidos por essa provocação, adolescentes e jovens do projeto Onda construíram uma campanha lançada hoje (15/3), no Dia da Escola, pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Precedida por oficinas e lives, a iniciativa também contará com outras atividades, como rodas de conversa com organizações estudantis e poder público sobre o modelo de educação atual e seus obstáculos.

“A campanha Escola dos Sonhos é uma importante provocação para pensarmos coletivamente na escola, é uma conclamação para que se escute as vozes dos/as estudantes que querem participar da construção da escola como espaço de livre debate, espaço de cuidado e de alegria, onde o respeito às diversidades seja mais do que retórica, mas experiência de vida”, explicou Márcia Acioli, assessora política do Inesc. “No contexto da pandemia, a escola deve ser melhor ainda, já que o apelo para o trabalho infantil é grande”, ressaltou.

As oficinas de vídeo, de cards e de campanha aconteceram semanalmente e em parceria com as escolas Centro Educacional 01 (Paranoá) e Centro de Ensino Fundamental Zilda Arns (Itapoã). Nessas atividades, remotas e virtuais, as/os adolescentes e jovens aprenderam técnicas de gravação e edição; utilizar aplicativos de arte digital; e desenvolver e analisar uma pesquisa, entre outros conteúdos.

“Com o contexto da pandemia, surgem desafios para repensarmos as nossas práticas pedagógicas, tendo o distanciamento físico enquanto prioridade essencial. Verificamos a disponibilidade das/os adolescentes e jovens para participarem das atividades em modo remoto e pensamos em estratégias para contornar o problemas com internet e ausência de celulares”, explica Eulla Brennequer dos Santos Alves, educadora do projeto.

A educadora lembra que a iniciativa é formada por alunas e alunos do ensino regular, técnico e superior, possibilitando a criação de uma extensa lista de temas para a construção de uma nova escola. “Com o objetivo de mostrar para o poder público e para gestões escolares a voz das diversas adolescências e juventudes, a campanha traz possibilidades comunicativas para expor a realidade que se encontram as escolas públicas do Distrito Federal”, conclui.

A escola dos sonhos

A campanha foi construída a partir de uma série de atividades, entre elas, a aplicação de um questionário para as/os adolescentes e jovens. O resultado dessa pesquisa indicou alguns pontos essenciais para a construção da escola dos sonhos, como uma boa estrutura; comida gostosa e saudável; metodologias eficientes; intervalo mais agradável; aulas mais práticas e um ambiente sem violência.

O questionário também levantou questões sobre problemas recorrentes. Vários entrevistados e entrevistadas responderam que já sofreram ou sofrem algum tipo de violência no seu ambiente escolar ou até mesmo antes de chegar na unidade educativa. “Os professores puxam o saco dos melhores alunos e fazem diferenciação entre cor, raça e intelectos”,  respondeu um participante, deixando evidente a urgência do debate sobre o tema.

Prêmio Escola dos Sonhos

Entre os dias 19 de março e 09 de abril de 2021, o Inesc recebe produções culturais e artísticas que tenham como tema: “Escola dos Sonhos – Educação de qualidade na perspectiva de adolescentes e jovens periféricos”.

Compreendendo que a arte e cultura são eixos fundamentais na construção dessa escola, o Inesc selecionará os seis trabalhos que expressarem melhor a temática citada. Desse total, quatro trabalhos devem ser de jovens das comunidades em geral e dois trabalhos devem ser de estudantes ou profissionais da educação pública da regional do Paranoá e Itapoã, no Distrito Federal (localidades onde o Projeto Onda atua).

Cada premiação tem valor de R$ 2.100,00.

Confira o edital do prêmio “Escola dos Sonhos: Desenhando e Cantando uma Educação de Qualidade” aqui.

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Direitos humanos nas escolas

Por meio de ações educativas e culturais, o projeto Onda – Adolescentes em Movimento Pelos Direitos introduz os temas direitos humanos e orçamento público nas escolas públicas do Distrito Federal. Em mais de 10 anos de existência, o projeto acumula reconhecimento nacional e internacional. Em 2018, o Onda venceu o Prêmio Itaú-Unicef, que identifica projetos que trabalham pela garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens em todo Brasil.

Inesc conclui Curso de Formação para Conselheiras e Conselheiros de Saúde em Inovação e Acesso a Medicamentos

Após quase três meses de atividades, chegou ao fim o curso de Formação para Conselheiros de Saúde em Inovação e Acesso a Medicamentos. Organizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com o Conselho Nacional de Saúde (CNS) e o Centro de Educação e Assessoramento Popular (CEAP), o curso teve como objetivo geral sensibilizar conselheiros e conselheiras de saúde sobre a importância do tema Inovação e Acesso a Medicamentos, a partir do contexto da Covid-19.

De acordo com Luiza Pinheiro, assessora política do Inesc, a atividade foi muito bem sucedida. “Foi um sucesso! Tivemos quase 700 inscritos, cinco vezes mais que o número de vagas, demonstrando que há demanda para formações sobre o tema. Conseguimos confirmar as 130 vagas, atendendo aos critérios de composição da turma, com representantes de todos os estados, sendo que a maioria da turma era composta por mulheres (55%) e negras(os) (59%)”, conta Luiza.

A assessora aponta o desafio em promover as atividades em formato virtual com expressiva presença dos conselheiros “A participação se manteve firme durante os três meses. Houve bastante interação nos grupos de Whatsapp de cada turma, e com os palestrantes convidados nos seminários. As oficinas permitiram que os participantes conversassem mais a fundo sobre o tema. O retorno que recebemos foi muito positivo”, detalha.

O êxito da Formação para Conselheiros de Saúde também fica nítido na avaliação de Nara Peruzzo, educadora popular do CEAP. Para Nara, o curso contribui duplamente para a formação de conselheiros e conselheiras de Saúde, cumprindo com os objetivos e os desafios postos no contexto atual de fazer formação em ambiente virtual de forma participativa.

“Além de proporcionar a discussão e reflexão do tema de Acesso e Inovação Tecnológica em Medicamentos para a ação dos conselheiros e conselheiras, ele permitiu a vivência de atividades em ambiente virtual, possibilitando inclusive a aprendizagem desse ambiente e de algumas ferramentas.  Foi maravilhoso e de muitas partilhas. Não foi um curso à distância, mas foi um curso presente em ambiente virtual”, comemora.

A educadora ainda chama atenção para a relevância do recorte da temática trabalhada no curso: a Covid-19. “É a agenda do momento. Em um contexto de inúmeras fake news e de desinformações, o curso proporcionou reflexões e debates qualificados sobre o direito humano à saúde e o acesso ao medicamento, a importância da pesquisa, do financiamento público e do controle social”, completa.

Experiência marcante

Direito a saúde e ao acesso a medicamentos

A composição da turma da Formação para Conselheiros de Saúde contou com etapas de inscrição e análise das respostas, e respeitou a paridade de gênero e raça. Foram 679 inscritos de todos os estados do país e 130 participantes confirmados. Desse número, 55% foram mulheres e 45% homens; 59% negros; 33% brancos; 4% amarelos e 4% indígenas.

Diógenes Inácio dos Santos Filho foi um dos participantes. O agente de endemias em Fortaleza (CE) diz que fazer o curso em um momento em que as informações verdadeiras são tão escassas, sobretudo devido às posturas negacionistas em relação à ciência, foi muito importante.

Ele destaca que, a partir de agora, poderá contribuir nos debates com conhecimento de base sobre o processo de Inovação Tecnológica de Medicamentos no Sistema Único de Saúde (SUS), comprovando a força do curso. “Mesmo com o formato remoto, a formação possibilitou compartilhar experiências. O método utilizado nas oficinas foi excelente e a equipe conseguiu mostrar que existem meios para continuarmos atuantes no Controle Social”, comenta.

O impacto do curso na técnica de enfermagem Solene Paixão Sousa Santos Silva foi tamanho que ela já recomendou para os colegas de trabalho. “Aprendi como são elaboradas as medicações e detalhes da relação farmacêuticas-medicação-população. Muito do que chegou até mim, compartilhei com outros conselheiros”, afirma Solene, que também é presidente do Conselho de Saúde do município de Siriri, em Sergipe.

O Auxílio Emergencial faz diferença na vida das mulheres

As mulheres negras são as mais afetadas pelas consequências da pandemia da Covid-19 no Brasil. Contudo, o Auxilio Emergencial – conquistado após pressão da sociedade civil – foi um importante mecanismo de diminuição da pobreza e das desigualdades de gênero e raça. Sua interrupção voltou a penalizar as mulheres, em especial as negras, daí a urgência de retomar o programa, considerando a gravidade do momento.

A crise tem rosto de mulher

Raquel tem 28 anos. Tem quatro filhos, é parda e mora na periferia da capital federal. Com a pandemia, teve que lagar o emprego para cuidar das crianças, pois não tinha mais com quem deixá-las – uma vez que a escola e a creche fecharam em razão do necessário distanciamento social. Por ser mãe solteira foi beneficiada com o Auxílio Emergencial no valor de R$ 1.200, o que corresponde a dois benefícios. “Foi o que nos salvou”, disse-me ela, “com esses recursos, pude dar de comer para meus filhos e, também, comprar remédios, pois um deles tem bronquite, e comprar créditos para o celular para que o menino possa assistir as aulas”.

Agora Raquel vive com o Bolsa Família, com pouco mais de quatrocentos reais mensais. Se não fosse o apoio da rede de solidariedade que a circunda, não daria conta de fechar o mês, pois continua sem trabalhar porque os equipamentos públicos de educação permanecem fechados em decorrência da nova onda da Covid-19, que vem resultando em mais de mil mortes por dia.

A situação da Raquel é a expressão de milhões de mulheres no Brasil. A crise econômica, que se agravou com a crise sanitária em 2020, tem rosto de mulher.

Com efeito, as mulheres vinham perdendo mais com o baixo crescimento econômico em tempos recentes, pois apresentavam uma taxa de desocupação, em 2019, 4 pontos percentuais acima da masculina, algo em torno de 14%. Em relação à informalidade, homens e mulheres eram penalizados de forma similar, segundo dados da Pnad Contínua, mas por um longo período as mulheres foram maioria nas relações de trabalho precarizadas. Também permaneceu o diferencial de renda por gênero: o rendimento das mulheres foi em média 77% do masculino em 2019[1].

Com a pandemia, a desigualdade de gênero se agravou. Em primeiro lugar, porque as mulheres são maioria no setor de serviços, especialmente na saúde, educação, limpeza e comércio essencial, estando assim na linha de frente e mais suscetíveis ao vírus. Também são maioria nos serviços não essenciais como cabeleireiras, podólogas e manicures, sofrendo mais com o desemprego ou falta de clientes.

Em segundo lugar, porque a paralisação de aulas presenciais provocou um substantivo aumento na demanda de trabalho doméstico voltado aos cuidados (limpeza da casa, preparo das refeições, cuidados dos filhos e idosos, acompanhamento da educação “virtual” das crianças, entre outros), que foi em grande parte absorvido pelas mulheres.

E mais: o Brasil apresenta a maior mortalidade por Covid-19 entre gestantes e puérperas do mundo, com 77% dos casos mundiais de mortes neste grupo, o que demonstra as fragilidades do nosso sistema de saúde nessa área.

Como se não bastasse, as dificuldades econômicas provocam aumento da violência doméstica, com possível aumento da subnotificação. As vítimas estão em casa sob controle dos abusadores, enquanto os sistemas públicos de apoio às vítimas – que já vinham sofrendo cortes orçamentários em função das medidas de austeridade – são prejudicados pela crise.

As desigualdades raciais se acirram

A situação é ainda mais grave para as mulheres negras. Com efeito, entre 2014 e 2019, a taxa de informalidade das negras e brancas elevou-se de maneira geral, mas o patamar foi bem distinto segundo a raça/cor: para as negras, em 2019, a taxa foi de quase 45%, enquanto para as brancas foi de 32%. Também, em 2019, observaram-se significativas diferenças de taxa de subutilização da força de trabalho por raça/cor: para mulheres brancas este índice ficou em 22%, para mulheres negras ele foi de 34%. Em outras palavras, as negras entraram na pandemia em pior situação.

No que se refere à mortalidade entre gestantes e puérperas, a taxa entre brancas foi de quatro pontos percentuais abaixo da taxa do grupo que engloba todas as outras raças, essencialmente mulheres negras.

A importância do Auxílio Emergencial

O Auxílio Emergencial foi um poderoso mecanismo de alívio da fome em meio à crise econômica que se seguiu à crise sanitária provocada pelo alastramento do Sars-Cov-2. Dados produzidos pelo Ibre/FGV, a partir da Pnad-Covid, revelam que o benefício contribuiu para que a extrema pobreza no Brasil chegasse ao seu nível mais baixo da história recente, 2,3%, o que inclui as mulheres. Como a maior parte dos recursos do Auxílio se destinou a compras de alimentos, o impacto desse programa na fome foi inegável.

Os benefícios do Auxílio Emergencial não param por aí. O programa foi fundamental para diminuir as desigualdades de gênero e raça. Com efeito, estudo publicado pelo Made/USP mostra que no caso de domicílios chefiados por mulheres negras, o Auxilio Emergencial mais do que compensou a perda da renda do trabalho em decorrência da Covid-19. E mais: antes da pandemia, a renda per capita dos domicílios chefiados por homens brancos era 2,5 vezes superior à renda per capita dos lares chefiados por mulheres negras. Com o Auxílio Emergencial, essa razão caiu para 2.

 

[1] A esse respeito, ver “Austeridade, pandemia e gênero” de Ana Luíza Matos de Oliveira, Luana Passos, Ana Paula Guidolin, Arthur Welle e Luiza Nassif Pires. In “Economia Pós-Pandemia – Desmontando os mitos da austeridade fiscal e construindo um novo paradigma econômico”, coordenado por Pedro Rossi, Esther Dwek e Ana Luíza Matos de Oliveria, disponível na página: https://pedrorossi.org/wp-content/uploads/2020/11/Economia-Po%CC%81s-Pandemia-compactado.pdf

“Agenda 10 DF” propõe ações para reduzir as desigualdades no Distrito Federal

Desde 2016, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e o Movimento Nossa Brasília, com apoio da Oxfam Brasil, produzem o Mapa das Desigualdades do Distrito Federal com indicadores que medem o nível de desigualdades entre diferentes regiões administrativas do DF. Neste ano, motivados pelas consequências da pandemia causada pelo novo coronavírus, as organizações elaboraram a “Agenda 10 DF: 10 recomendações do Movimento Nossa Brasília para o Governo do Distrito Federal” que, a partir do dia 3 de março, estará disponível no site do Inesc.

“A Agenda é um desdobramento do Mapa das Desigualdades, uma aposta de que a pesquisa que fazemos se transforme também em ferramenta de incidência política. Se é verdade que a desigualdade é perene e constituinte do Distrito Federal, a pandemia a tornou ainda mais evidente”, explicam Cleo Manhas e Leila Saraiva Pantoja, assessoras políticas do Inesc e responsáveis pela publicação.

A Agenda 10 DF analisa as questões de Resíduos sólidos, Tratamento de esgoto, Água, Mobilidade urbana, Educação, Trabalho e renda, Saúde pública, Orçamento público, Cultura e Equidade social.

“Reconhecemos que as desigualdades do DF são enormes e estruturantes do nosso território e sabemos que há muito mais a ser feito do que o que propomos na Agenda. No entanto, apostamos que é preciso começar de algum lugar e apresentamos as nossas sugestões. São 10 passos possíveis de serem realizados em 2021. Basta vontade política”, comentam.

Saúde

O documento compara o orçamento autorizado em 2020 com o aprovado em 2021, já que não está disponível no Portal de transparência o que foi aprovado para a Secretaria de Saúde em 2020. Desta forma, foi constatado que há menos R$ 1,267 bilhão este ano – o que agravará a já séria crise da saúde no DF. “Levando em conta o contexto da pandemia, a medida 10, de garantia de mais recursos para saúde, parece-nos ser a primeira a ser tomada”, exigem as organizações.

Outras ações recomendadas são, entre outras, a manutenção do auxílio emergencial do GDF até o final de 2021, e o investimento do valor garantido por lei no Fundo de Apoio a Cultura, acrescido dos superávits de 2017, 2018 e 2019.

Audiência pública

No próximo dia 11/3, a Agenda 10 DF será apresentada aos deputados da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), com transmissão ao vivo, às 15h30.

“A Agenda é, ao mesmo tempo, uma ferramenta de pressão política e um instrumento de denúncia das desigualdades que constituem o DF. Essa desigualdade não é aleatória, mas fruto de uma concepção de cidade e do espaço urbano excludente, segregadora e de décadas de opções políticas que pouco fizeram para transformar esse quadro.”, concluem as assessoras.

Conheça as 10 medidas

Para o detalhamento de cada uma das recomendações, acesse o ebook.

Movimento Nossa Brasília

O Movimento Nossa Brasília luta em defesa do Direito à Cidade e dos Direitos Humanos. Desde sua criação, tem o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) como parceiro institucional e suas principais áreas de atuação são Mobilidade Urbana, Agroecologia e Agricultura Urbana, Gênero e Sexualidade Cultura e Resíduos Sólidos.

 

 

 

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