Buscando compreender a complexidade do nosso momento político

11/03/2016, às 10:51 | Tempo estimado de leitura: 7 min
Artigo de José Moroni, do Colegiado de Gestão do Inesc.

Talvez uma palavra que possa definir o atual cenário político brasileiro seja “complexidade”. Complexidade esta que tem origem em vários fatores, desde o esgotamento do modelo de se fazer política que levou o PT ao poder (modelo que sempre o PT criticou e foi estruturante na sua construção), até a negativa de setores partidários, empresariais e da sociedade em não aceitar uma regra básica da democracia que é o respeito ao resultado das eleições. Por Jose Antonio Moroni*.

No meio disso, podemos perceber as denúncias de corrupção e a seletividade nas investigações. Por exemplo, as delações premiadas, quando são relacionadas ao PT, se tornam verdade; e em relação ao PSDB nem são investigadas.

O presidente atual do PSDB foi citado em varias delações, mas isso não gerou nenhum processo de investigação. Por outro lado, a incapacidade do PT fazer uma auto critica só acelera este processo de degeneração da política. O PT deve uma autocritica para a sociedade dos seus métodos de governar.

Associado a isso, temos um parlamento paralisado, refém dos interesses do grupo do presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha e um poder judiciário sendo colocado em xeque por sua parcialidade nas investigações e desrespeito a preceitos constitucionais.

Se adicionar a este cenário a parcialidade dos meios de comunicação, a crise econômica e social, somos um país a ponto de explodir. O problema é que se explodir não se vislumbra nenhuma força política com capacidade e condições reais de estabelecer um processo de superação desta crise.

Este cenário é propicio a aventuras políticas, principalmente de direita. Mas é preciso reconhecer que também abre possibilidades, por exemplo, para a luta pela convocação de uma assembleia constituinte exclusiva e soberana, com possibilidade de construção de uma nova síntese política.

Violência institucionalizada e desconstrução da esquerda

O episódio da condução coercitiva do ex-presidente Lula pela Política Federal sem ter sido convocado previamente deve nos levar a um questionamento contra práticas cotidianas de violência institucionalizada. Esta é pratica cotidiana que as populações pobres e das periferias urbanas vivem. A polícia entrando nas suas casas sem mandado, levando para as delegacias sem intimação, etc.

Precisamos pensar em como os aparatos de segurança do Estado atuam. Isso posto, precisamos reconhecer que existe uma estratégia de desconstruir o Lula como liderança política e também o PT. E esta estratégia vai mais além: busca desconstruir todo um campo político de esquerda (mesmo que possamos considerar que vários grupos que estão neste campo não sejam mais de esquerda).

Esta estratégia fere o mais elementar principio da convivência que é o de respeitar o direito do outro de existir. Este processo é muito perigoso. Todas as ditaduras, como por exemplo, o fascismo, o nazismo e o stalinismo romperam com este principio e todos sabemos onde chegaram.

Atitude do Governo e novas sínteses políticas necessárias

Toda esta complexidade, reforçada pela violência da operação de sexta-feira passada envolvendo o ex-presidente Lula provocou uma união da esquerda que faz tempo que não se via. Não falo dos partidos, mas dos diferentes grupos ou mesmo indivíduos de esquerda sem vinculação partidária nenhuma.

Espero que esta união possa ter força para criar novas sínteses políticas e não algo conjuntural.

Porque assusta a incapacidade do governo Dilma de reagir a tudo isso. É um governo paralisado, atordoado, sem identidade política, sem interlocução com a sociedade. Isso só agrava a crise. Que políticas o governo esta implementando? Temos um vazio político enorme instalado. Um país não sobrevive tanto tempo com esta sensação.

O que esta em jogo é uma disputa pelos rumos da sociedade.

Somos uma sociedade dividida e ao mesmo tempo sem saber ao certo para onde ir. Avançamos e muito nos últimos anos, não estou falando só em relação aos governos e as políticas públicas. Mas como sociedade mesmo. Alguns segmentos não aceitam estes avanços. Estes segmentos estão muitas vezes pegando carona na justa indignação em relação à corrupção (que é a apropriação do que seria para todos/as por determinados grupos).

Ao mesmo tempo em que a paralisia do governo Dilma leva as pessoas a querer não esperar 2018 para se ter a troca via processo eleitoral.

Quando tudo isso se junta ao medo de determinados grupos de ficarem longe do poder por mais tempo, chegamos ao ponto onde estamos. Então precisamos entender bem estes processos, o que é disputa eleitoral e o que é disputa pelos rumos da sociedade.

Uma coisa é certa: independentemente do desfecho da crise as mulheres não vão voltar para as cozinhas, os/as negros/as não vão voltar para a senzala, os gays não vão voltar aos armários, os jovens das periferias urbanas não vão ficar confinados/as e vão sim para as universidades públicas, os/as campesinos/as vão continuar a produzir alimentos orgânicos e lutar contra o agronegócio, os/as trabalhadores/as não vão aceitar serem “peças das engrenagens do capital”.

Esta é uma disputa permanente que fazemos na sociedade e que tem repercussão nas disputas eleitorais e nas políticas públicas.

Categoria: Notícia
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