A Economia Verde tem sido amplamente disseminada e defendida como solução para questões ambientais que impactam negativamente a vida no planeta. O enfrentamento se daria prioritariamente pela utilização em larga escala de novas tecnologias e mecanismos de mercado – que diminuiriam ou anulariam efeitos causados pelo atual modelo de desenvolvimento econômico mundial.
Mas as soluções apresentadas são eficientes? É possível frear as mudanças climáticas e salvar a natureza precificando seus componentes? Podemos diminuir o impacto ambiental mantendo os níveis atuais de consumo? Potencializar mercados baseados em uma métrica de carbono tem um efeito real? Qual é o impacto gerado na compra de uma passagem de avião que inclui uma taxa extra de neutralização da “pegada de carbono?
Estas e outras questões são discutidas em duas publicações que serão lançadas no Rio de Janeiro no dia 25 de outubro pela Fundação Heinrich Böll Brasil. São elas “Crítica à economia verde” (Barbara Unmüßig, Lili Fuhr e Thomas Fatheuer) e “A Métrica do Carbono: Abstrações Globais e Epistemicídio Ecológico ” (Camila Moreno, Lili Fuhr e Daniel Speich Chassé).
Eles chamam a atenção para a complexidade da atual crise mundial e defendem que o caminho é – sim – utilizar novas tecnologias, mas também fortalecer mecanismos democráticos de participação e políticas de erradicação da pobreza e diminuição de desigualdades.
Em “Crítica à Economia Verde”, os autores elencam pontos que, segundo eles, jogam luz nas promessas que os defensores deste conceito fazem e que não podem ser cumpridas.
“É preciso repensar a economia da forma como a vemos hoje: a lógica vigente é ver a natureza como mais um produto a ser mensurado, medido, valorado. Este modelo, sem qualquer questionamento dos atuais níveis de produção e consumo global, não leva a humanidade a lugar algum”, ressalta Maureen Santos, coordenadora do Programa de Justiça Socioambiental da Fundação e editora das versões brasileiras dos livros.
A mensuração de ativos da natureza parece chegar ao seu ápice com as chamadas “emissões de carbono” – que seriam contabilizadas em toneladas de CO2 emitidos na atmosfera. Os valores, aparentemente objetivos e confiáveis, serviriam de parâmetro para “medir” o quanto cada país emite de carbono na atmosfera e o que deveria ser feito para que esta emissão fosse “compensada”.
A convenção climática caminha para sua 22a Conferência em Marrakesh (COP 22) e vem para referendar, via o recém ratificado Acordo de Paris, a centralidade do combate às mudanças climáticas na redução de emissões de CO2 e suas compensações, sem questionar o modelo de desenvolvimento baseado na exploração dos combustíveis fósseis e no consumo desenfreado.
O problema então seria quase que exclusivamente o excesso de emissões de CO2 na atmosfera? “Seriam as mudanças climáticas mais importantes e urgentes do que a perda de biodiversidade, a degradação das terras agricultáveis ou o esgotamento da água doce? Podem estes fenômenos ser considerados de forma isolada?”, questionam os autores.
O livro argumenta que a forma como descrevemos e enquadramos um problema, muitas vezes predetermina os tipos de soluções e respostas a serem dadas e que o modelo carbonocêntrico ao mesmo tempo que cria, destrói conhecimento, além de formular uma nova abstração global.
Alógica de mercado impera já algum tempo nas Conferências da ONU, mas espera-se que o mau funcionamento no enfrentamento das mudanças climáticas dos mecanismos que compõem a economia verde e a geração de impactos negativos que eles criam nos territórios e para as populações que nele vivem também sejam tema das negociações.
SERVIÇO:
Lançamento das publicações “Crítica à Economia Verde” e “A Métrica do Carbono: Abstrações Globais e Epistemicídio Ecológico”
Quando: 25 de outubro de 2016
Onde: IAB – Beco do Pinheiro, 10 – Flamengo, Rio de Janeiro.
As duas publicações serão distribuídas gratuitamente. Exemplares impressos podem ser solicitados pelo e-mail info@br.boell.org e o download da versão digital pode ser feito no link http://br.boell.org/pt-br/publicacoes
Sobre os autores:
Barbara Unmüßig – É cientista política e diretora plena da Fundação Heinrich Böll desde 2002. É também, desde 2009, membro substituto do conselho consultivo do Instituto Alemão de Direitos Humanos.
Camila Moreno – É pesquisadora na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ) e acompanha as negociações de clima junto às Nações Unidas desde 2008.
Daniel Speich Chassé – É professor de história na Universidade de Lucerne (Suíça). Estuda a evolução dos sistemas de conhecimento no mundo moderno a partir de 1800. Seu foco é a governança do meio ambiente e da economia.
Lili Fuhr – É geógrafa e coordenadora de política ambiental internacional da Fundação Heinrich Böll desde 2008, com concentração em política internacional climática e de recursos naturais.
Thomas Fatheuer – É sociólogo, viveu no Brasil entre 1992 e 2010, onde foi diretor do escritório da Fundação Heinrich Böll no Rio de Janeiro. Antes, trabalhou em projetos de proteção das florestas na região amazônica para o DED (Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social) e a GTZ (Agencia Alemã de Cooperação Técnica).
Sobre a Fundação Heinrich Böll
A Fundação Heinrich Böll é uma organização alemã sem fins lucrativos ligada ao Partido Verde, cujo nome é uma homenagem ao escritor alemão e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Dentre os princípios da Fundação estão a defesa da ecologia, da sustentabilidade, da democracia, dos direitos humanos e da justiça social.
Com sede em Berlim, a Fundação atua no debate de ideias e no apoio a atividades em 60 países, através de 30 escritórios. O escritório brasileiro, cuja sede fica no Rio de Janeiro, foi inaugurado em 2000.