Uma nova nota técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) revela um cenário alarmante: as Administrações Regionais do Distrito Federal com mais crianças, adolescentes e jovens são justamente as que menos recebem orçamento público per capita.
O caso mais crítico é o Sol Nascente/Pôr do Sol, terceira região com maior proporção de população jovem. Em 2025, a área recebeu apenas R$ 17,75 por habitante, o menor valor de todo o Distrito Federal. A falta de infraestrutura básica — como creches, ruas asfaltadas e áreas arborizadas — é uma consequência direta desse cenário. Itapoã e Estrutural, por exemplo, não possuem nenhuma creche pública em funcionamento.
>>> Baixe a Nota Técnica: À margem do orçamento: juventudes periféricas e a distribuição desigual de recursos no DF
Desigualdade orçamentária penaliza juventudes periféricas
A comparação entre as regiões evidencia uma disparidade estrutural. Alguns dados chamam a atenção:
- Recurso autorizado em 2025 para o Plano Piloto foi 7,5 vezes maior que o autorizado para o Sol Nascente/Pôr do Sol.
- Investimento por morador no Lago Sul é 13 vezes maior que na região periférica de Sol Nascente/Pôr do Sol e 3 vezes maior que a do Itapoã.
- A Administração Regional de Ceilândia tem R$ 15,6 milhões em orçamento, mas investimento por morador é de apenas R$ 54.
- Com menos de 40% das vias arborizadas, Estrutural registra uma das piores taxas de arborização do DF.
- Itapoã e Estrutural não têm nenhuma creche pública em funcionamento no DF.
- Com menos de R$ 30 por habitante, Administração Regional de Arapoanga enfrenta forte escassez de investimentos públicos no DF.
Obras prometidas não saíram do papel
Apesar de constarem no orçamento de 2025, nenhuma das obras essenciais previstas para Itapoã e Estrutural foi executada, incluindo o Centro de Educação da Primeira Infância (CEPI) no Itapoã, com R$ 445 mil autorizados; o CEPI na Estrutural, com R$ 99 mil autorizados, e a Escola de ensino médio na Estrutural, com R$ 2,9 milhões autorizados
Na prática, as duas regiões seguem sem creches públicas e com estrutura educacional insuficiente.
Já nas regiões centrais, os recursos estão voltados para a melhoria da infraestrutura existente. Na Asa Sul, por exemplo, há R$ 398 mil autorizados para a construção de uma quadra coberta no Centro de Ensino Médio (Cem) Setor Leste. No Cruzeiro, R$ 263 mil foram destinados para a construção de uma quadra de badminton no Centro de Ensino Médio Integrado (Cemi).
Para a assessora política do Inesc, Thallita Oliveira, os dados mostram que “o dinheiro dos tributos arrecadados pelo Governo do Distrito Federal não retorna prioritariamente para quem mais precisa”. A falta de investimentos, afirma, “resulta em violações de direitos e compromete o desenvolvimento das juventudes periféricas”.
Infraestrutura urbana: onde há menos orçamento, há piores condições de vida
A análise do Inesc cruzou dados orçamentários com informações da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (PDAD 2024). Os resultados mostram que regiões com menos recursos de manutenção têm os piores indicadores urbanos.
Entre as seis áreas analisadas — Itapoã, Estrutural, Ceilândia, Cruzeiro, Lago Sul e Plano Piloto — Itapoã e Estrutural registram os piores índices:
-
Apenas 41,6% dos moradores do Itapoã vivem em ruas arborizadas
-
Na Estrutural, o número cai para 37,7%
Enquanto isso, o Plano Piloto, única região com recursos autorizados para reforma de calçadas em 2025, reúne os melhores indicadores de infraestrutura.
“Os dados evidenciam como a desigualdade orçamentária impacta diretamente o acesso de crianças e jovens a ambientes urbanos mais seguros e adequados”, reforça Thallita Oliveira.
O Inesc defende a ampliação urgente de recursos para políticas públicas voltadas à juventude, com prioridade para regiões periféricas do DF — onde vivem milhares de jovens que enfrentam as maiores barreiras para acessar seus direitos.

