Ontem, 02 de outubro de 2022, aconteceu o primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil. Pouco depois das nove da noite tínhamos o veredito: haveria segundo turno entre Lula e Bolsonaro. Fomos pegos de surpresa pela quantidade expressiva de votos que o candidato-presidente recebeu, 43%, mais do que anunciavam todas as pesquisas de opinião publicadas nos últimos tempos. Passado o susto, e analisando com mais calma os resultados, avaliamos que é bem possível Lula ganhar em 30 de outubro próximo.
No começo da apuração e até a abertura de pouco mais de 50% das urnas, Bolsonaro estava liderando o pleito. Quando Lula assumiu o primeiro lugar, a diferença era pequena e, finalmente, Lula alcançou 48% dos votos contra 5 pontos percentuais a menos para Bolsonaro. Além disso, ministros que haviam sido responsáveis por uma gestão desastrosa no governo federal elegiam-se como parlamentares: o general Pazuello, o pior ministro da Saúde que este país já teve, que foi um desastre na gestão da pandemia, foi o deputado federal mais votado no estado do Rio de Janeiro; Ricardo Salles, o ministro de Meio Ambiente que incendiou a Amazônia e flexibilizou as normas ambientais, encontra-se entre os deputados federais mais votados do estado de São Paulo, teve muito mais votos que Marina Silva, que também foi ministra do Meio Ambiente e que é uma ambientalista mundialmente conhecida; Damares Alves, ministra da Família e dos Direitos Humanos, uma pastora antidireitos e antifeminista, levou a vaga para o Senado do Distrito Federal. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, passa a ocupar a vaga de Senador no Rio Grande do Sul e, o ministro de Infraestrutura, Tarcisio de Freitas, responsável pelas privatizações do governo Bolsonaro, está a poucos votos de ser o governador do Estado de São Paulo.
Percebeu-se que o bolsonarismo possui raízes muito mais profundas do que imaginávamos. Ficamos atônitos com o fato de a população eleger aqueles e aquelas que são responsáveis por suas péssimas condições de vida: 63 milhões de pessoas pobres, 33 milhões de pessoas passando fome, 35 milhões de subempregados e desempregados, 40 milhões de trabalhadores informais e quase 700 mil pessoas mortas por Covid-19, entre tantas outras mazelas.
A brutal desigualdade que caracteriza o país pode explicar parte desse resultado – no Brasil o 1% mais rico se apropria de metade da renda nacional – associada à grande parte da população que vive na absoluta incerteza, não sabe se vai ter trabalho, comida ou casa no dia seguinte. Vive com medo da polícia, das milícias do campo e da cidade e do tráfico: todo ano, morrem mais de 40 mil pessoas assassinadas. Esse temor e a falta de confiança nas instituições – os governos, o sistema de justiça, os políticos e o movimento sindical, entre outras – que pouco ou nada trazem de bom na sua percepção, contribuem para que as pessoas se refugiem em espaços onde se sentem seguras, a família e as religiões cristãs. E, essas dimensões são muito bem exploradas pela extrema direita.
Outra possível explicação é que esse estado de permanente insegurança acaba acirrando o individualismo e o salve-se quem puder, minando os valores de solidariedade, fraternidade e igualdade, bases de estados de bem-estar social. Esse mal estar, tão bem traduzido por Zigmunt Bauman no seu conceito de modernidade líquida, não só aflige brasileiros como muitos outros povos. Em parte explicaria o crescimento da extrema direita nos Estados Unidos, Inglaterra, França, Hungria, Polônia, Suécia e agora na Itália com a eleição de Giorgia Meloni, uma fascista declarada.
Soma-se a isso a existência de uma elite acostumada a saquear e que nunca se importou com a miséria. Ao contrário, precisa dela para enriquecer ainda mais. Para tal, explora mão de obra pagando salários aviltantes, desmata nossos biomas, invade terras indígenas e terras públicas, captura as instituições públicas para que trabalhem ao seu favor. O projeto defendido por Lula ameaça esses privilégios.
A extrema direita construiu discursos e meios para veiculá-los, sem qualquer vergonha e pudor, porque inventam, mentem e distorcem os fatos, que dialogam com as incertezas de grande parte da população e que tranquilizam os abastados.
Mas, existem boas notícias. Lula tem atualmente mais de 5 milhões de votos de vantagem em relação à Bolsonaro, falta muito pouco para chegar na metade mais um dos votos válidos. Lula ganhou entre os empobrecidos e no Nordeste do Brasil e o PT elegeu no primeiro turno três governadores, podem aumentar essa base no segundo turno. Os parlamentares da federação partidária Brasil da Esperança que apoiam Lula aumentaram sua presença no Congresso Nacional. Ademais, Lula possui uma energia fora do comum e uma capacidade de mobilizar e dialogar como poucos. Como ele mesmo disse, nunca foi fácil e quando ganhou foi sempre no segundo turno.
Agora é hora de explicar o que será feito concretamente para melhorar as condições de vida das pessoas e dialogar para aumentar os votos contando com nosso apoio. Isso Lula sabe fazer e, assim, a esperança voltará ao Brasil em 30 de outubro, no segundo turno das eleições.