A 29ª Conferência das Partes (COP 29) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC) acontecerá em Baku, capital do Azerbaijão. Com o crescente reconhecimento em relação à urgência de ações climáticas eficazes, esta conferência tem o desafio de ser um marco na trajetória global para enfrentar as mudanças climáticas. Este texto explora o que esperar da COP 29, destacando os principais temas, desafios e as expectativas para este evento crucial.
Contexto Global e a importância da COP 29
Desde o Acordo de Paris, firmado na COP 21 em 2015, a comunidade internacional tem trabalhado para limitar o aquecimento global abaixo de 2°C. No entanto, o progresso tem sido desigual, e as metas nacionais estabelecidas (as Contribuições Nacionalmente Determinadas, ou NDCs) muitas vezes não são ambiciosas o suficiente para atingir essas metas. Essa foi a conclusão do Balanço Global, ou Global Stocktake, que revelou, em 2023, a trágica expectativa de não cumprimento dos objetivos anunciados conjuntamente pelos países até o final desta década.
Assim, a COP 29 ocorrerá em um momento em que a ciência climática aponta para uma janela de oportunidade cada vez menor para evitar os piores impactos das mudanças climáticas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) já alertou que, sem ações imediatas e drásticas, o mundo enfrentará consequências devastadoras, como o aumento do nível do mar, eventos climáticos extremos mais frequentes e intensos, além da perda de biodiversidade em escala global. Por isso, é preciso sair desse encontro com as condições de possibilidade para uma efetiva implementação das NDCs acordada entre os países. Isso significa, entre outras coisas, maior e melhor oferta de recursos financeiros do Norte para o sul global, além de transferência de tecnologia e desenvolvimento de capacidades.
Principais temas a serem abordados
Revisão das NDCs e Ambição Climática
Um dos principais focos da COP 29 será a revisão das NDCs. Espera-se que os países apresentem planos mais ambiciosos para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa. A pressão sobre as grandes economias, especialmente as maiores emissoras como China, Estados Unidos e União Europeia, será significativa. Além disso, haverá discussões sobre mecanismos de transparência e responsabilização para garantir que os compromissos sejam cumpridos.
Financiamento Climático
O financiamento climático continuará sendo um tema central, assim como o observado na Pré-Conferência do Clima de Bonn, que, anualmente, serve de ponto de partida para as negociações oficiais do regime climático e prepara as COPs. Em 2024, espera-se um foco renovado na mobilização de recursos financeiros para ajudar os países em desenvolvimento a mitigar e se adaptarem às mudanças climáticas. A meta de mobilizar US$ 100 bilhões anuais, estabelecida em Copenhague em 2009, ainda não foi plenamente alcançada, e a necessidade de aumentar esse valor será uma questão chave. As discussões também poderão abordar a captação dos mecanismos financeiros para lidar com perdas e danos e adaptação.
Adaptação
Enquanto as discussões sobre mitigação são essenciais, a adaptação às mudanças climáticas também será um tema crítico. Espera-se que a COP 29 coloque mais ênfase na construção de resiliência, especialmente para comunidades vulneráveis e países menos desenvolvidos. Isso inclui o fortalecimento dos sistemas de alerta precoce, a implementação de infraestruturas resistentes ao clima e a promoção de práticas agrícolas sustentáveis.
Perdas e Danos
O conceito de perdas e danos, que se refere aos impactos das mudanças climáticas que não podem ser evitados ou mitigados, ganhará destaque. Na COP 27, houve avanços na criação de um fundo para perdas e danos. Na COP 28, o governo dos Emirados Árabes Unidos, então na presidência da Conferência, liderou o esforço para aportar recursos a esse fundo. Até maio de 2024, o fundo havia arrecadado apenas US$ 660 milhões, um montante muito aquém das necessidades crescentes dos países mais vulneráveis. Na COP 29, espera-se que os detalhes sobre sua operacionalização sejam discutidos e que haja um compromisso mais claro dos países desenvolvidos em fornecer apoio financeiro e técnico aos países afetados.
Inovação e Transferência de Tecnologia
A inovação tecnológica e a transferência de tecnologia serão essenciais para alcançar as metas climáticas globais. A COP 29 deverá enfatizar a necessidade de acelerar a inovação em tecnologias limpas e promover a colaboração internacional para garantir que países em desenvolvimento tenham acesso a essas tecnologias. Isso inclui o desenvolvimento de energias renováveis, soluções de armazenamento de energia, captura e sequestro de carbono, entre outros. Muitos desses temas são polêmicos mesmo entre os cientistas. Em 2019, o Center for Environmental Law lançou uma publicação que explora os efeitos negativos de tecnologias como a captura direta de ar, a geoengenharia e a biologia sintética como ferramentas de combate às mudanças do clima.
O legado da COP 29
O sucesso da COP 29 será medido não apenas pelos acordos formais alcançados, mas também pela capacidade de catalisar uma ação climática global mais robusta e eficaz. Se a COP 29 conseguir impulsionar uma revisão significativa das NDCs, aumentar o financiamento climático e avançar nas discussões sobre perdas e danos, poderá ser lembrada como um ponto de virada na luta contra as mudanças climáticas.
Rumo à COP 30
O sucesso da COP 30, que acontecerá em 2025, na cidade de Belém, Brasil, dependerá dos bons resultados da COP 29. A partir desse ano, novas NDCs estão vigentes, mas os desafios para operacionalização ainda são enormes. Além disso, se as negociações de Baku falharem em produzir resultados concretos, a credibilidade do processo multilateral pode ser questionada, e o mundo poderá enfrentar um futuro de incerteza climática incalculável.