Um dos principais parceiros estratégicos comerciais do Brasil da atualidade é a China, que consome nossos recursos naturais – principalmente minério de ferro e petróleo – vorazmente e investe pesado para criar a infraestrutura necessária por aqui para escoar esses produtos até lá.
A relação dos países, ainda que tenha gerado um saldo positivo para o Brasil na balança comercial com a China, tem sido muito criticada por causar sérios impactos socioambientais em diversas regiões brasileiras, afetando milhões de pessoas, e também por gerar desequilíbrio na economia brasileira, principalmente para a indústria nacional.
Essas e outras questões são discutidas por Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc, em artigo publicado no blog do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI) da Carta Capital.
Leia a íntegra do artigo “Brasil-China: complementaridade ou dependência?”. Alguns trechos:
Entre os efeitos ainda pouco compreendidos para o Brasil deste intenso fluxo comercial baseado em recursos naturais estão a sobrevalorização do real e a perda de competitividade de vários segmentos da produção manufatureira, retroalimentada pelo aumento das importações de manufaturados chineses – de 4% em 2001 para 21% em 2015, segundo a CNI. Esses efeitos explicam, em parte, a atual e profunda crise econômica brasileira.
Tão perverso quanto foram os impactos sociais e ambientais produzidos por essa corrida por minérios e terras patrocinada pela demanda chinesa, o desastre do Rio Doce, com o rompimento de uma barragem da Samarco-Vale-BHP em Mariana (MG) é uma síntese perfeita do que significa essa corrida pela extração de volumes sempre recordes de minérios, a custos cada vez mais menores.
Em vez de termos uma maior reflexão sobre a natureza desse ‘tronco’ e quais efeitos e consequências das relações construídas entre Brasil e China, estamos vendo essa parceria ser acriticamente e irresponsavelmente adubada pelo atual governo para que produza longos galhos, atendendo aos interesses chineses: a infraestrutura necessária para garantir fluxos contínuos e cativos de recursos naturais para a China e de bens manufaturados da China ao Brasil e região.
Além da oferta de extenso “cardápio” de investimentos em infraestrutura – incluindo concessões, outorgas e privatização – o governo brasileiro deu perigosos passos no campo da regulação. A aprovação da Medida Provisória Nº 727 alçou os investimentos em infraestrutura à condição de prioridade nacional, garantindo-lhes celeridade na liberação das licenças necessárias.