A sexta edição do Relatório Luz revelou que o Brasil alcançou os piores indicadores ambientais e socioeconômicos desde o início da série histórica, em 2017. O estudo analisa a partir de dados oficiais a implementação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) no país. O documento foi lançado na tarde desta quinta-feira (30), em audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF).
De acordo com o levantamento, 80,35% das 168 metas analisadas estão em retrocesso, ameaçadas ou estagnadas e 14,28% tiveram progresso insuficiente. Apenas uma, 0,59%, teve progresso satisfatório. Em comparação com o relatório anterior, as metas consideradas em retrocesso aumentaram de 92 para 110 e aquelas que tiveram progresso insuficiente passaram de 13 para 24.
Produzido pelo Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030 (GT Agenda 2030), que reúne 60 organizações da sociedade civil, entre elas o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), o Relatório Luz 2022 é a única publicação nacional que apresenta um panorama completo da implementação dos ODS no Brasil, cobrindo as áreas sociais, econômicas e ambientais. Nesta edição, pesquisadoras do Inesc contribuíram na elaboração dos capítulos sobre educação de qualidade (ODS 4), igualdade de gênero (ODS 5) e cidades e comunidades sustentáveis (ODS 11).
Fome avança
O relatório destaca o quanto a fome e a insegurança alimentar cresceram no Brasil, em especial no Norte e Nordeste. Se em 2020, mais de 19 milhões de pessoas sofriam com a fome, em 2021 o número saltou para 33,1 milhões de brasileiras e brasileiros. Mais de 125 milhões vivem em situação de insegurança alimentar.
Educação à deriva
O estudo mostrou que o sistema público de ensino foi afetado por cortes de verbas, com mais discriminação e violação de direitos, na contramão do Plano Nacional de Educação. Em 2020, pelo menos 6,4 milhões de estudantes (13,9% do total) não tiveram acesso às atividades escolares no Brasil.
Além disso, o orçamento educacional da União vem sofrendo cortes ano após ano. A verba destinada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por exemplo, foi a menos dos últimos 17 anos, R$ 11,9 milhões, e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) não recebeu verba nenhuma.
Mulheres mais impactadas
As mulheres ganham em média 20,5% menos que os homens para exercerem o mesmo trabalho e com mesmo nível de escolaridade. Em 2021 havia 1,106 milhão de mulheres a menos do que em 2019 no mercado de trabalho.
Desde 2019, o Painel ODS Brasil não disponibiliza dados de nenhuma das metas de Igualdade de Gênero, o ODS 5, e não há respostas no orçamento público para combater desigualdade e violência de gênero.