Foi realizada hoje (9/11) em Belém (PA) um dos encontros preparatórios para o Fórum Social Pan-Amazônico (FSPA), que será realizado no ano que vem em Tarapoto, no Peru, para articular movimentos sociais, povos indígenas e comunidades tradicionais dos nove países que integram a Amazônia (Brasil, Peru, Venezuela, Equador, Bolívia, Suriname, Guiana e Guiana Francesa) no fortalecimento da autonomia dos povos que vivem na região.
Nossa assessora política Alessandra Cardoso participou juntamente com representantes de comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas, que falaram sobre os impactos socioambientais nas populações locais, e articularam a construção coletiva e processual de um conjunto de proposições para o Fórum Social Pan-Amazônico. Outros pré-encontros serão realizados nas regiões do Baixo Amazonas, BR 163 e Transamazônica/Xingu.
O encontro em Belém desta quarta-feira contou com o apoio de diversas organizações, como a Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional (FASE) Amazônia e Fundo Dema.
O Fórum Social Pan-Amazônico tem como objetivo mobilizar o debate de propostas para enfrentar os grandes desafios da região, como a pressão de grupos econômicos que visam explorar os recursos naturais e construir grandes obras de infraestrutura que ameaçam os povos da floresta.
Conjuntura e propostas
Guilherme Carvalho, coordenador do Programa da FASE na Amazônia, avalia que há semelhanças entre os cenários políticos dos países da região, como Peru e Brasil, que, segundo ele, apresentam um governo conservador voltado para uma política macroeconômica baseada na privatização e em uma maior abertura do mercado.Por isso, uma das propostas do fórum é analisar a relação da Pan-Amazônia no contexto da expansão do capital e dos novos acordos políticos que se constroem.
Leia também: Novo vazamento de caulim no Pará revela mais uma vez a irresponsabilidade do setor mineral na Amazônia
A China seria um dos atores mais relevantes neste cenário, segundo Carvalho, pois vem interferindo economicamente nas negociações de projetos estratégicos da região. “Ainda não conseguimos mensurar o poder que a China tem adquirido nos últimos anos, a influência que ela tem nas políticas nacionais, seja nos acordos comerciais, seja pelos investimentos diretos. É hoje o primeiro ou segundo parceiro da grande maioria dos países da Pan-Amazônia”, analisa.
Camila Moreno, autora do livro Brasil Made in China (Fundação Rosa Luxemburgo, 2015), afirma que, entre 2009 e 2013, o intercâmbio comercial entre Brasil e China aumentou 125,7%, passando de US$ 36,9 bilhões para U$$ 83,3 bilhões em produtos como soja, minério de ferro e petróleo. Neste cenário, movimentos populares e comunidades tradicionais e indígenas têm denunciado violações de direitos ambientais e humanos e, por conta disso, lideranças têm sido ameaçadas por grandes empresas, afirma Carvalho. “Por isso, o Fórum se propõe a discutir formas inovadoras de articulação e construção de plataformas de lutas e mobilizações sociais na região, de modo a combater a criminalização dessas organizações”, explica.
Também está na pauta do Fórum o debate sobre as mudanças climáticas e os mecanismos de mercado propostos para a diminuição de seus efeitos, como os créditos de carbono. A chamada “financeirização da natureza“, defende Carvalho, “tem um impacto terrível sobre as terras dos povos indígenas, extrativistas e quilombolas”.
Vamos falar sobre questões socioambientais?