Solidariedade às mulheres Munduruku: Campanha de apoio à Wakoburun e alerta para violência provocada pelo garimpo na região - INESC

Solidariedade às mulheres Munduruku: Campanha de apoio à Wakoburun e alerta para violência provocada pelo garimpo na região

31/03/2021, às 14:42 (updated on 12/08/2025, às 11:02) | Tempo estimado de leitura: 4 min
Por Alessandra Cardoso, Leila Saraiva, Livi Gerbase, Tatiana Oliveira - Assessoras políticas do Inesc
Foto: EBC

No dia 25 de março, garimpeiros atacaram a sede da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborun, em Jacareacanga, sudoeste do Pará. O prédio foi depredado, assim como móveis, equipamentos, documentos e produtos indígenas ali presentes.

O ataque não foi um acontecimento isolado. Ele reflete mais um passo na ofensiva do garimpo ilegal sobre territórios indígenas. Nos últimos dez anos observamos uma escalada do garimpo na região, com a violência se intensificando aceleradamente  nos últimos dois anos.

Em resposta a mais este ataque, a Associação de Mulheres Munduruku e o Ministério Público Federal lançaram uma campanha de arrecadação de fundos  a fim de reparar o prédio e recuperar os bens perdidos. Outro objetivo da campanha é impulsionar a luta contra o avanço do garimpo  ilegal.

Para contribuir, deposite sua doação na conta bancária da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn:

 

 

Banco: Bradesco

Agência: 0759-5

Conta Poupança: 38295-7

CNPJ: 30.024387/0001-87

 

 

Se o apoio financeiro é fundamental, também o são os olhares atentos e a atuação política solidária com as comunidades locais, em luta constante contra as violências do garimpo. Na pandemia, o garimpo ilegal se tornou-se vetor de Covid-19 para povos indígenas. Há denúncias sobre a chegada de maquinário pesado, grupos armados e helicópteros suspeitos sobrevoando o território. Além disso, é notória a contaminação e cerceamento do acesso a bacias hidrográficas fundamentais para as comunidades. Repetimos: Tudo isso acontece em um cenário dramático, que culmina com a escalada da violência e das ameaças às lideranças indígenas.

Apesar da atuação do Ministério Público Federal, que vem denunciando essa situação de conflito e os seus agentes diretos ou indiretos, não há efetivo combate ao garimpo ilegal pelas autoridades locais e nacionais. Mais do que inação, a paralisia das autoridades se soma a um conjunto de indícios que a pontam para conexões espúrias entre os poderes estatais e o garimpo ilegal. É importante não nos esquecermos da ação de fiscalização do IBAMA na região do oeste do Pará, interrompida após visita de Ricardo Sales, o ministro da boiada, e da suspeita de transporte de garimpeiros ilegais em avião da FAB (ambos eventos atualmente em investigação).

A depredação da sede da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborum aconteceu em um momento de dificuldades para povos indígenas e para muitos brasileiros e brasileiras. A pandemia aprofundou um quadro grave de desigualdades sociais e a fome retornou como um fantasma que assombra o país. Os povos indígenas são especialmente afetados por essa necropolítica comandada desde Brasília. Por isso, mais do que nunca é preciso recuperar o sentido de comunidade e aliança com os povos indígenas do Brasil.

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Sem participação, não há clima: a COP 30 precisa ouvir as ruas

20/11/2025, às 9:02 (updated on 20/11/2025, às 13:25) | Tempo estimado de leitura: 7 min
É urgente transformar as conferências de clima em espaços participativos, com a presença maior dos mais impactados pela crise
Foto: Stela Herschmann / OC

A 30ª edição da Conferência das Partes (COP) da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima prometeu desde o começo que seria uma COP de ampla participação social. Porém, o que se observou logo nos primeiros dias é que talvez as Nações Unidas não estejam tão preparadas assim para garantir essa  participação de forma efetiva. 

A começar pela  alocação de cotas de credenciais para as organizações observadoras acessarem a Blue Zone, espaço oficial das negociações, que se mostrou um desafio de saída. Por outro lado, lobistas do petróleo conseguiram 1.602 credenciais, a maior presença proporcional deste grupo em relação ao número total de participantes já registrada (dados são da coalizão Kick Big Polluters Out). Apesar disso, os movimentos sociais, organizações, representantes de povos indígenas e de comunidades tradicionais vieram a Belém, com a esperança de fazer dessa a maior conferência de clima dos últimos anos. 

Contudo, em contraste com a prometida participação social, veio a adoção da operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) pelo governo Federal, com a militarização ostensiva do espaço da conferência e da cidade de Belém. 

Diante desse cenário, povos indígenas, povos e comunidades tradicionais, fizeram um protesto dentro da zona azul. Entraram na conferência do clima demandando que suas vozes sejam ouvidas e incluídas nos espaços de negociação. A resposta veio em forma de aumento da presença das tropas do exército na entrada da conferência, garantindo uma suposta segurança aos delegados. E uma maior restrição à entrada em espaços como a zona verde, que tecnicamente era uma zona com entrada livre. 

Ainda assim, as ruas e os diversos espaços comunitários foram tomados pelas vozes dos movimentos e dos diferentes povos que vieram a Belém. Com o objetivo de que as lutas não passassem despercebidas, e que as negociações não deixassem para trás pontos cruciais no debate pela justiça climática. 

Mobilização Global pelo Clima

Bruno Peres/Agência Brasil

A maior expressão desse momento foi a mobilização global pelo clima, que levou mais de 50 mil pessoas às ruas da capital da COP 30, demandando justiça climática, transição justa, combate ao racismo ambiental, demarcação de terras indígenas e o combate aos combustíveis fósseis. 

No início da segunda semana da COP, observou-se um aumento das forças de segurança na entrada do espaço de conferência e uma maior restrição na entrada, evidenciando a falta de “boa vontade” da ONU com processos de participação popular.

Isso ficou ainda mais explícito quando Simon Stiell, secretário executivo da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, enviou uma carta ao presidente Lula demandando que medidas fossem tomadas em relação à segurança e, pasmem, ao calor excessivo e às chuvas em Belém. 

É verdade que o calor excessivo e as chuvas torrenciais – exacerbados pelas mudanças climáticas – foram personagens ilustres da COP 30. Mas não é justamente sobre isso que trata a conferência? Estes fenômenos não escancaram a necessidade de financiamento para a adaptação climática?

É espantoso que a carta classifique como violentos os povos indígenas que fizeram protestos. Essa fala ignora as lutas e as vozes dos povos, e os anos de exclusão desses espaços, além de estigmatizar um povo que já sofre com o racismo. E coloca-os nesse imaginário popular de violência e que, portanto, devem ser reprimidos e controlados, com todo o aparato das forças de violência estatal.

Se tem debate climático, tem mobilização

A sociedade civil pretende entregar uma carta exigindo que Simon Stiell revogue sua declaração anterior, e reconheça que as manifestações são parte fundamental de qualquer processo democrático. As mobilizações são inerentes ao debate climático, sobretudo, porque afeta de forma desigual povos e comunidades tradicionais, mulheres e comunidades periféricas. 

Além disso, Relatores Especiais da ONU emitiram uma declaração criticando a UNFCCC e a Presidência brasileira pelo aumento da segurança armada na COP 30 após os protestos pacíficos da primeira semana, alertando para o fato de que o ambiente de intimidação compromete princípios básicos de participação democrática. 

Se um país democrático foi escolhido para sediar uma conferência, é natural e legítimo que protestos e mobilizações sociais ocorram, principalmente no Brasil, onde a sociedade tradicionalmente vai às ruas quando não está de acordo com uma situação. Olhar para essas manifestações com medo de seu resultado revela que o processo que estamos inseridos nas negociações não têm sido suficientemente participativo ou democrático, e, portanto, não tem sido capaz de  ouvir as demandas daqueles que historicamente protegem mais a natureza e tem alternativas de soluções para a crise climática. 

É urgente transformar as conferências de clima em espaços participativos, com a presença de cada vez mais povos indígenas e povos e comunidades tradicionais que têm o real lugar de fala, e detém o conhecimento das alternativas às questões climáticas. E que as vozes da rua não sejam impedidas de falar. 

 

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