Seminário discute as principais ameaças aos direitos socioterritoriais na Amazônia

Os ventos mudaram significativamente no Brasil no último ano e isso não é uma boa notícia para a Amazônia. As muitas pressões contra direitos socioambientais em nome de um desenvolvimento inconsequente e predatório ganharam intensidade e os direitos de grupos e comunidades da região estão mais fragilizados do que nunca. Quais as consequências desse novo ciclo de investimentos em infraestrutura? Como impedir a flexibilização de marcos legais de proteção aos direitos socioambientais? Quais alternativas temos?

Com a palavra pesquisadores e representantes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil que se reúnem nos próximos dias 9 e 10 de fevereiro em Belém (PA) para discutir e articular reações a esses e outros tópicos no Seminário “Amazônia – territórios e significados em disputa”. O evento é fechado, não havendo inscrições possíveis.

Essa luta por direitos tem se feito em contraposição ao avanço de grandes projetos e investimentos – em hidrelétricas, mineração, infraestrutura, agronegócio – os quais têm um efeito devastador sobre a floresta e sobre os povos de nela vivem”, afirma Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc e uma das organizadoras do evento.

“Então, é muito importante ter eventos como esse que conseguem reunir um grupo tão diverso e representativo para trocar suas reflexões, construir coletivamente uma leitura sobre a realidade política, econômica, social e geopolítica do país e da Amazônia em específico. Esperamos que este esforço coletivo contribua para dar ainda mais ânimo e potencial para a luta por direitos na região.”

Para Alessandra, não é apenas a biodiversidade e a floresta da região que estão em jogo, mas também a riqueza e diversidade cultural dos muitos grupos, coletivos e comunidades que vivem na Amazônia.

“O evento reúne um grupo muito representativo de movimentos e organizações sociais amazônicas que têm atuado fortemente para defender seus direitos”, diz Alessandra.

Na mesa de abertura do seminário estão agendados os pesquisadores Carlos Walter Porto Gonçalves (UFF), Edna Castro (UFPA) e Alfredo Wagner (UFMA) para discutir Amazônia no século 21: geopolítica, democracia e grandes corporações.

Também haverá uma reflexão mais aprofundada sobre articulações e conflitos de interesses públicos e privados na viabilização de grandes obras na região, bem como as estratégias empresariais de fragmentação e cooptação das resistências.

 

 

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União alimenta déficit na Previdência ao não cobrar sonegadores e conceder isenções fiscais

O maior inimigo da Previdência pública hoje no Brasil é o próprio governo, que aperta o cerco sobre o sistema de Seguridade Social previsto pela Constituição estimulando o medo e a fuga de novos contribuintes previdenciários. “O recado é: quem não buscar os fundos de previdência complementar pode cair na pobreza”, alerta a economista Denise Gentil, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que em entrevista à revista Carta Capital revela a agenda oculta do governo Temer para privatizar o sistema previdenciário brasileiro, usando a ‘reforma’ como disfarce.

Para Denise, o que se busca é alterar de maneira significativa o caráter da Seguridade Social no Brasil, conforme previsto hoje na Constituição. “A reforma também tem outro objetivo: achatar os gastos públicos. Ao fazer isso com a Previdência e com a Assistência Social, ela também vai liberar mais recursos para pagar juros. E os grandes proprietários de títulos públicos no Brasil são os mesmos dos fundos de previdência, que são os fundos dos bancos.”

A professora Denise considera ainda um equívoco pensar que reforma da Previdência poderá contribuir para o combate da crise fiscal no país. Se fosse o caso, o governo deveria aumentar as receitas da Seguridade Social e não comprimi-las – eliminando isenções fiscais a empresas que não dão contrapartida ou cobrando a dívida milionária de diversos sonegadores que estão na Dívida Ativa da União (DAU).

Em artigo publicado no ano passado, nossa assessora política Grazielle David lembrade outro fator que promove a sangria de recursos do sistema de Seguridade Social: a DRU, ou Desvinculação de Receitas da União, que permite retirar 20% (e há quem queira aumentar para 30%) das contribuições sociais e econômicas que compõem o Orçamento da Seguridade Social (OSS). Com isso, bilhões que deveriam financiar a Previdência, a Saúde e a Assistência Social acabam sendo usados em outras finalidades, como por exemplo pagar juros da dívida pública. Leia aqui a íntegra do artigo de Grazielle David.

Confira um trecho da entrevista da economista Denise Gentil:

CC: Então o déficit é uma falácia?

DG: Sim. Em primeiro lugar, porque o déficit foi provocado pelo pagamento de juros, o maior gasto do orçamento do governo. Enquanto o déficit anunciado da Previdência pelo governo é de 149,7 bilhões de reais, o governo entrega ao setor privado algo em torno de 501 bilhões ao ano, ou seja, 8% do PIB. A conta não fecha, principalmente, pelo gasto com a dívida pública.

O ajuste fiscal que pretende cortar os gastos da Previdência não vai resolver o problema das contas do governo porque, para isso, é preciso corrigir a política monetária. A verdadeira reforma teria que ser na política monetária e cambial do Brasil, porque é responsável pelo crescimento da dívida pública. A população precisa saber disso.

Leia aqui a íntegra da entrevista concedida pela economista Denise Gentil à revista Carta Capital

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Lista com 40 ameaças do Congresso aos direitos humanos será enviada à ONU

Uma lista com 40 ameaças aos direitos humanos em discussão ou já aprovadas no Congresso Nacional será enviada à ONU como adendo do presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara dos Deputados, Padre João (PT-MG), e da presidenta da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos Humanos, Erika Kokay (PT-DF).

Segundo informações da reportagem do Brasil de Fato, a lista foi elaborada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara em parceria com o Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ), e teve apoio de pesquisas realizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Conectas Direitos Humanos e do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

Parte dos projetos que atingem os direitos humanos no país foi aprovada ao longo de 2016 – no final de 2015 nós do Inesc fizemos uma lista de propostas que estavam ganhando força no Congresso. Batizamos essas propostas de ‘pautas-bomba’ da bancada BBB – Boi, Bala e Bíblia.

Nessa nova lista com 40 ataques aos direitos humanos no Brasil, temos ameaças como o fim dos direitos trabalhistas, retrocessos na reforma agrária, maior liberação de agrotóxicos, fim do licenciamento ambiental, fim das demarcações indígenas, redução da idade penal e revogação do Estatuto do Desarmamento, entre muitos outros.

Veja a lista completa na reportagem do Brasil de Fato.

E é por essas e outras que precisamos urgentemente de uma reforma do sistema político, para que o Congresso seja representativo de toda a sociedade e não apenas da bancada BBB (Boi, Bíblia e Bala).

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Dia da Visibilidade Trans é data para marcar luta por direitos e reafirmar: “Nós existimos!”

Para marcar o Dia da Visibilidade Trans deste ano (domingo, 29 de janeiro), uma banda de mulheres trans resolveu gravar cinco pequenos episódios em vídeo contando histórias de travestis, transexuais e transgêneros, todas baseadas em casos reais. O resultado é avassalador. A leitura das experiências, feita por Assucena Assucena e Raquel Virgínia, as líderes do grupo As Bahias e a Cozinha Mineira, tem a força de uma grande chacoalhada na inércia geral e irrestrita em relação ao preconceito, violência e invisibilidade social que as pessoas trans sofrem no Brasil.

A carga pedagógica e dramática dos vídeos nos coloca no banco dos réus. O que temos feito para garantir plenos direitos a transgêneros, transexuais e travestis no país? O que podemos fazer para acabar com os vergonhosos índices de violência que o Brasil apresenta ano após ano?

“A identidade a mim negada é gêmea do ódio”, diz Assucena em um dos vídeos, escancarando sem dó uma  triste estatística: o Brasil é hoje recordista mundial em assassinatos de pessoas trans.

Os dados da violência contra a comunidade trans no Brasil são essenciais para entendermos a seriedade do assunto, mas os vídeos da campanha “Nós Existimos” vão além. Eles falam sim da tragédia, das mortes, das tristezas, mas também dos anseios e sonhos de milhares de pessoas que fundamentalmente gritam: sim, mulheres e homens trans existem e têm muito o que dizer!

“O dia 29 de janeiro é fundamental para marcar a luta pelos direitos das pessoas trans – transgêneros, transexuais e travestis. O Brasil é um dos países que mais mata pessoas trans no mundo, crimes geralmente muito cruéis. Além dos crimes de homicídio, há outros crimes ligados à transfobia, como homens trans que são vítimas de ‘estupro corretivo'”, afirma Carmela Zigoni, assessora política do Inesc. “Além da violência física, pessoas trans são vítimas de violações de direito cotidianas, como a negação do nome social na maioria dos espaços sociais. E até mesmo a escola, que deveria ser um lugar de acolhimento e educação, muitas vezes perpetua a opressão, negando o direito dos adolescentes em expressar sua identidade de gênero.”

O Brasil é o país onde mais se mata travestis e transexuais no mundo. Segundo relatório da Transgender Europe, ONG voltada à defesa do direito das pessoas trans, o Brasil responde por 123 dos 295 casos de assassinatos de pessoas trans registrados em 2015 no mundo – o segundo colocado México contabilizou 52. A maior parte das mortes ocorre com pessoas ligadas à prostituição, função exercida por muitas pessoas trans por conta do descaso institucional, informa a revista Carta Capital.

No ano passado, o ativista trans Marcelo Caetano nos deu um depoimento, também em vídeo, sobre a questão do uso do nome social por pessoas trans. Para ele, o nome social é uma conquista importante, mas ainda uma gambiarra, um mecanismo precário de garantia de direitos. “Respeito e dignidade começam com o nosso nome, começam com quem a gente realmente é, o reconhecimento de quem a gente é.”

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Conheça o projeto Eu Te Desafio a Me Amar, com fotos e vídeos que estimulam o debate sobre os direitos da comunidade LGBTI.

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Oficina de comunicação do projeto Mulheres Jovens Negras discute racismo e tecnologia

Qual a relação entre a ancestralidade de jovens negras e a tecnologia atual? Como fazer esse diálogo entre passado e presente de forma a aperfeiçoar e instrumentalizar ideias e coletivos para o empoderamento dessas jovens? Essas e outras questões foram tema da 1ª Oficina de Comunicação do Projeto Mulheres Jovens Negras contra o Racismo e Sexismo (Hub das Pretas), realizada sábado passado em Brasília pelo Inesc em parceria com o Fórum de Juventude Negra DF. A oficina contou com a participação de 20 jovens negras e foi coordenada por Silvana Bahia, comunicadora social, mestre em Cultura e Territorialidades, colaboradora da plataforma Afroflix e coordenadora do Olabi Makerspace no Rio de Janeiro.

Entre uma e outra roda de conversa da oficina, Silvana discutiu sobre “Trajetória, Tecnologia e Inventividades Negras”, de forma com que as participantes dialogassem sobre suas vivências, as tecnologias e de que forma o racismo se dá dentro desses processos.

“A oficina teve que dialogar com a vivência de cada uma das jovens presentes, fazendo uma ponte entre a ancestralidade delas e a tecnologia atual”, afirma Layla Maryzandra, educadora social do Inesc e uma das organizadoras do evento. “As ferramentas de comunicação que temos hoje não surgiram do nada, elas têm uma ligação com o passado – e uma das ideias da oficina foi justamente fazer essa ponte entre passado e presente, lembrando a simbologia Sankofa.”

Discutiu-se também o contexto político do acesso às novas tecnologias e a desigualdade, a comunicação como ação afirmativa e a relação entre escolaridade/renda/acesso ao mundo digital.

O projeto Hub das Pretas reúne jovens mulheres negras de diversos coletivos, grupos culturais, religiosos e movimentos sociais do Distrito Federal e Entorno, e de outras três capitais (Criola, Fase e Ibase no Rio de Janeiro, Pólis, Oxfam Brasil e Ação Educativa em São Paulo e Fase em Recife), com o objetivo de fortalecê-los no ativismo digital contra o racismo e sexismo.

Aproveitando o assunto, vamos falar sobre gênero, raça e etnia?

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Empresas brasileiras sonegam um orçamento da Previdência por ano

A sonegação fiscal no Brasil chegou a incríveis R$ 500 bilhões em 2015, um valor 5 vezes maior que o orçamento da Saúde ou todo o orçamento da Previdência Social no país. Esse total é quase um terço do que as empresas brasileiras deveriam pagar de impostos, afirma recente relatório anual da ONU. “Em um momento que se fala que a Previdência precisa ser completamente reformada e os direitos negados, se todo o valor da sonegação fosse recuperado, toda a Previdência poderia ser paga”, diz Grazielle David, assessora política do Inesc, em entrevista ao Brasil de Fato.

Para Grazielle, a sonegação fiscal no Brasil é tão elevada por causa da leis flexíveis do país e pela ausência de investimentos no combate ao problema. Os impostos mais sonegados no país, afirma, são o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), o Imposto de Renda e as contribuições previdenciárias que, se arrecadados, poderiam ser destinados para fortalecer a Previdência Social.

A impunidade é um fato decisivo na sonegação fiscal no Brasil. Por isso Grazielle defende que sejam revogadas todas as leis que extinguem punição a quem comete crime tributário e paga o tributo em algum momento. “Enquanto for mais lucrativo sonegar e cometer um crime tributário, vai haver grande motivação para que isso aconteça”, afirma a assessora política do Inesc, lembrando que a sonegação entra no planejamento tributário das empresas, principalmente das grandes, que tem capacidade de pagar caro por advogados, economistas e contadores que conseguem, com um planejamento tributário mais agressivo, incluir a sonegação como uma estratégia.”Porque se eles deixam de pagar os tributos ao longo do ano, investem esse valor e rende muito. E após cinco anos, se a sonegação não for descoberta, prescreve.”

Um trecho da entrevista:

Brasil de Fato: Quais as principais origens da sonegação fiscal no Brasil?

Grazielle David: Existem alguns estudos nacionais e internacionais, além desse da ONU, que aprofundam um pouco essas questões da evasão e da sonegação fiscal. Um grande grupo que sempre pesquisa sonegação fiscal no Brasil é o Sinprofaz, o Sindicato dos Procuradores da Fazenda. Há uns 10 anos eles divulgam anualmente uma avaliação da sonegação no país. É interessante ver que esse número da ONU está bem próximo das análises que o Sinprofaz já fazia. O último estudo deles, em relação ao ano de 2016, diz que a sonegação fiscal fica em torno de 25% a 28% da arrecadação, o que fica na mesma linha da ONU. Além disso, quando se pensa, não por proporção da arrecadação, mas pela proporção do PIB, o estudo do Sinprofaz diz que a sonegação chega a 10% do PIB nacional. Nesse mesmo estudo foi identificado ainda que os tributos mais sonegados são o ICMS, o principal tributo estadual, o Imposto de Renda e as contribuições previdenciárias.

Outro grupo, que é internacional, o TX Justice Network, uma rede de justiça tributária, utiliza dados do Banco Mundial e observou que o Brasil era vice-campeão mundial na sonegação de impostos, com algo em torno de 13% do PIB. Um valor bem considerável.

Já o estudo do GFI, Global Financial Integrity, que trabalha com informações de fluxos financeiros, conseguiu captar quais os mecanismos utilizados para promover evasão fiscal. Eles observaram uma questão muito interessante: a priori, sempre se pensava que o dinheiro que saía de um país para um paraíso fiscal era fruto de corrupção ou dinheiro puramente ilícito. Porém, eles puderam observar que grande proporção – cerca de 80% dos fluxos financeiros – desse dinheiro tem relação com o setor privado e que o principal mecanismo utilizado é o sub-faturamento.

Isso significa que quando as empresas vão fazer as notas fiscais, ou seja, informar seu faturamento, elas informam com um valor inferior e, assim, conseguem pagar tributos menores, já que muitos deles são sobre o valor de faturamento. Um grande exemplo prático disso é a Vale, que está como uma das grande devedoras do país, inscrita na dívida ativa da União. O Inesc fez um estudo sobre a Vale e observou que a empresa vendia o ferro, que é seu principal minério exportador, a um preço abaixo do mercado internacional. Depois exportava para ela mesma, normalmente para um paraíso fiscal, e, a partir dali, revendia. Ganhando, dessa forma, duas vezes: primeiro, porque deixou de pagar os tributos sobre o faturamento e, depois, porque revende com o valor de mercado lucrando muito.

Leia aqui a íntegra da entrevista.

Vamos falar sobre justiça fiscal?

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Governo Temer trabalha para enterrar políticas de demarcação de terras indígenas

As organizações abaixo-assinadas vêm manifestar seu repúdio à Portaria n.º 80/2017, expedida pelo Ministro da Justiça, dado seu nítido caráter de fazer prevalecer decisões de natureza política sobre conclusões eminentemente técnicas que fundamentam o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação de terras indígenas, elaborado no âmbito da Fundação Nacional do Índio (Funai). A medida segue na linha do enfraquecimento do órgão indigenista federal, atualmente com o pior orçamento de sua história, e consiste numa forte concessão do governo Michel Temer a bancadas parlamentares anti-indígenas, em contraposição aos direitos ligados à vida dos povos indígenas do Brasil, notadamente o direito originário às suas terras tradicionais.

Repudiamos, ainda, a ausência de diálogo com o Conselho Nacional de Política Indigenista – CNPI (ligado ao próprio Ministério da Justiça), o descumprimento do direito à consulta livre, prévia e informada, bem como a orquestração de tentativas de impor graves retrocessos à legislação que rege o procedimento de demarcação de Terras Indígenas, mantida em vigor há mais de 20 anos, como a minuta de Decreto divulgada pela imprensa em dezembro de 2016 e a Portaria n.º 68/2017, recentemente revogada após manifestações contrárias do movimento indígena, de especialistas e do Ministério Público Federal.

Todas estas medidas têm o claro objetivo de retardar ou impedir a conclusão dos processos de demarcação, revelando o propósito do atual governo no sentido de enterrar políticas de demarcação de terras indígenas e outras pautas de regularização fundiária, o que só contribui para a ampliação e perpetuação dos conflitos existentes.

Diante desse cenário, as organizações signatárias exigem a imediata revogação da Portaria n.º 80/2017, bem como pugnam pela atuação do governo federal no sentido de fortalecer a Funai para o cumprimento de sua missão institucional e pela retomada urgente dos processos de demarcação de terras indígenas.

Assinam conjuntamente:

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

Centro de Trabalho Indigenista – CTI

Conselho Indigenista Missionário – CIMI

Greenpeace Brasil

Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC

Instituto Internacional de Educação do Brasil – IEB

Instituto Socioambiental – ISA

Operação Amazônia Nativa – OPAN

Plataforma DHesca/Relatoria de Direitos Humanos e Povos Indígenas

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Como países pobres financiam o desenvolvimento dos países ricos

Artigo originalmente publicado no jornal inglês The Guardian, traduzido e publicado posteriormente no site Outras Palavras.

Por Jason Hickel

Há tempos circula uma convincente história sobre a relação entre países ricos e pobres. Diz a história que as nações ricas da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) doam generosamente parte de sua riqueza para as nações mais pobres do Sul global, para ajudá-las a erradicar a pobreza e impulsioná-las na escada do desenvolvimento. Sim, durante o colonialismo as potências ocidentais podem ter enriquecido extraindo recursos naturais e trabalho escravo de suas colônias – mas isso tudo seria passado… Atualmente, elas doam mais de US$ 125 bilhões  (cerca de R$ 400 bilhões) por ano – uma sólida evidência de boa vontade.

Essa história é tão amplamente propagandeada pela indústria da assistência e pelos governos do mundo rico, que passamos a considerá-la como certa. Mas os fatos não são tão simples assim.

A organização Global Financial Integrity (GFI), que luta contra os fluxos financeiros ilegais e tem base nos EUA, e o Centre for Applied Research at the Norwegian School of Economics (Centro de Pesquisa Aplicada da Escola de Economia da Noruega) publicaram recentemente alguns dados fascinantes. Apuraram todos os recursos financeiros que são transferidos, a cada ano, entre os países ricos e os países pobres: não só ajuda, investimentos estrangeiros e fluxos comerciais (como fizeram os estudos anteriores), mas também transferências não-financeiras tais como cancelamento da dívida, transferências unilaterais tais como remessas de dinheiro por trabalhadores, e fuga de capitais clandestinos (falo mais sobre isso posteriormente). Que eu saiba, é a avaliação mais abrangente jamais realizada sobre transferências de recursos.

O que eles descobriram é que o fluxo de dinheiro que vai dos países ricos para os países pobres torna-se pálido, quando comparado ao fluxo que corre na direção contrária.

Baixe aqui a íntegra do relatório do GFI e da Escola de Economia da Noruega.

Em 2012, último ano em que os dados foram registrados, os países em desenvolvimento receberam um total de US$ 1,3 trilhões (R$ 4,19 trilhões), incluindo todo tipo de ajuda, investimentos e remessas do exterior. Naquele mesmo ano, contudo, cerca de US$ 3,3 trilhões (R$ 10,64 trilhões) vazaram para fora destes mesmos países. Em outras palavras, os países em desenvolvimento mandaram para o resto do mundo US$ 2 trilhões a mais do que receberam. Se olharmos todos os anos, desde 1980, esse escoamento chega ao impressionante total de US$ 16,3 trilhões (R$ 52,54 trilhões). É o quanto foi drenado do Sul global nas últimas décadas. Para dar uma noção dessa escala, US$ 16,3 trilhões é aproximadamente o PIB dos Estados Unidos.

Isso significa que a narrativa convencional do desenvolvimento tem seu lado sombrio. A ajuda está, efetivamente, correndo ao contrário. Países ricos não estão desenvolvendo países pobres; países pobres é que estão desenvolvendo os ricos.

Em que consistem esses grandes fluxos? Parte são pagamentos da dívida. Os países em desenvolvimento desembolsaram mais de US$ 4,2 trilhões (R$ 13,54 trilhões) só em pagamento de juros desde 1980 – em transferência de dinheiro direta aos grandes bancos em Nova York e Londres, numa escala que torna nanica a ajuda que eles receberam durante o mesmo período. Outra grande contribuição vem das rendas que estrangeiros têm com seus investimentos nos países em desenvolvimento e são repatriadas. Pense em todo o lucro que a British Petroleum extraiu das reservas de petróleo da Nigéria, por exemplo, ou que a Anglo-American retira das minas de ouro da África do Sul.

Mas, de longe, a maior parte do fluxo de dinheiro tem a ver com a fuga de capitais clandestinos – e geralmente ilícitos. O GFI calcula que países em desenvolvimento perderam, desde 1980, um total de US$ 13,4 trilhões (R$ 43,19 trilhões) com a evasão clandestina de capitais.

A maioria desses fluxos clandestinos acontece por meio do sistema internacional de comércio. Basicamente, corporações – tanto  estrangeiras quanto domésticas – informam preços falsos em suas faturas comerciais, de modo a enviar dinheiro de países em desenvolvimento para paraísos fiscais e jurisdições sigilosas, uma prática conhecida como “trade misinvoicing” (faturamento adulterado). O objetivo geralmente é a evasão fiscal, mas às vezes essa prática serve também para lavar dinheiro ou contornar o controle de capitais. Em 2012, os países em desenvolvimento perderam US$ 700 bilhões em razão do “trade misinvoicing”, que naquele ano superou em cinco vezes o recebimento de ajuda.

Empresas multinacionais também roubam dinheiro de países em desenvolvimento através da “same-invoice faking” (falsificação da mesma fatura), trocando lucros ilegalmente entre suas próprias subsidiárias, por meio da falsificação de preços das faturas comerciais nos dois lados. Por exemplo, uma subsidiária na Nigéria pode esquivar-se dos impostos locais transferindo dinheiro para uma subsidiária nas Ilhas Virgens Britânicas, onde a taxa de impostos é efetivamente zero e onde os fundos não podem ser rastreados.

O GFI não inclui o “same-invoice faking” em seus números totais por ele ser muito difícil de detectar, mas estima que seu valor chegue a outros US$ 700 bilhões (R$ 2,25 trilhões) anuais. E esses números cobrem apenas furto no comércio de bens. Se forem acrescidos ao mix os furtos por comércio de serviços, a evasão total de recursos líquidos sobe para US$ 3 trilhões (R$ 9,67 trilhões) anuais.

Isso é 24 vezes mais que o orçamento de ajuda. Em outras palavras, para cada US$ 1 de ajuda que recebem, os países em desenvolvimento perdem US$ 24 em saídas líquidas. Essa vazão os despoja de uma importante fonte de renda e finanças para o desenvolvimento. O relatório do GFI revela que as crescentes saídas levaram as taxas de crescimento econômico a declinar nos países em desenvolvimento, e as responsabiliza diretamente pela queda dos níveis de vida.

Quem deve ser responsabilizado por esse desastre? Considerando-se que a fuga de capitais ilegais significa tamanha parte do problema, esse é um bom ponto de partida. As empresas que mentem em suas faturas comerciais são claramente responsáveis; mas, por que razão é tão fácil para eles ficar impunes? No passado, as autoridades alfandegárias podiam deter transações que pareciam duvidosas, tornando quase impossível fraudar. Mas a OMC reclamou que isso tornava o comércio ineficiente, e desde 1994 os fiscais alfandegários receberam ordens de tomar os preços das faturas por seu valor de face, exceto em circunstâncias muito suspeitas, tornando difícil impedir as saídas ilícitas.

Saiba mais: Como grandes empresas e milionários conseguem esconder tanto dinheiro? A gente explica

A fuga ilegal de capitais não seria possível sem os paraísos fiscais. E, quando se trata de paraísos fiscais, não é difícil identificar os culpados: há mais de 60 pelo mundo, a grande maioria controlada por meia dúzia de países ocidentais. Há paraísos fiscais europeus como Luxemburgo e Bélgica, e paraísos fiscais norte-americanos como Delaware e Manhattan. Mas, de longe, a maior rede de paraísos fiscais está centralizada em torno da cidade de Londres, que controla jurisdições sigilosas por todas as Dependências e Territórios Ultramarinhos da Coroa Britânica.

Em outras palavras, alguns dos países que gostam tanto de gabar-se de suas contribuições para ajuda exterior são os mesmos que possibilitam o furto em massa dos países em desenvolvimento.

A narrativa da ajuda começa a parecer um pouco ingênua quando levamos em conta esse fluxo reverso. Torna-se claro que ela apenas maquia a má distribuição de recursos pelo mundo. Leva a ver aqueles que se apropriam como “doadores”, recobrindo-os com uma espécie de superioridade moral. Impede aqueles que se importam com a pobreza global de entender o real funcionamento do sistema.

Os países pobres não precisam de caridade. Eles precisam de justiça. E justiça não é difícil de entregar. Poderíamos anular as dívidas excessivas dos países pobres, liberando-os para investir seu dinheiro em desenvolvimento ao invés de pagar juros de velhos empréstimos. Poderíamos fechar as jurisdições sigilosas e punir bancos e contadores que facilitem a evasão ilícita;. Poderíamos impor um tributo global sobre a renda das corporações para eliminar o incentivo ao deslocamento secreto do seu dinheiro em redor do mundo. Sabemos como resolver o problema. Mas fazê-lo iria contra os interesses de bancos e corporações poderosas, que extraem significativos benefícios materiais do sistema existente. A pergunta é: temos coragem?

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Medidas de Temer acentuam concentração de riqueza

Por Joana Rozowykwiat, publicado originalmente no Portal Vermelho.

Na esteira de um relatório apresentado no Fórum Econômico de Davos sobre o alarmante crescimento da concentração de riqueza no mundo, a Oxfam divulgou, na última segunda (17), os números relacionados ao Brasil.

Segundo a ONG britânica de assistência social e combate à pobreza, a soma da riqueza de apenas seis bilionários do país chega a US$ 78 bilhões e equivale à riqueza de metade da população brasileira mais pobre – mais de 100 milhões de brasileiros.

Os números do Brasil não destoam do quadro global, no qual oito milionários têm a mesma riqueza que as 3,6 bilhões de pessoas mais pobres do mundo. As causas do crescimento de tamanha disparidade entre topo e base da pirâmide social também são parecidas aqui e no restante do planeta. O crescimento só tem beneficiado àqueles que mais têm e, quando vêm as crises, os mais pobres é que dão sua cota de sacrifício.

Vale ressaltar que, na lista dos mais ricos, tanto entre os seis bilionários brasileiros quanto no ranking dos oito mais abastados do mundo, todos são homens e brancos, fazendo saltar aos olhos o viés de desigualdade de gênero e raça na concentração de renda.

Quem paga o pato do ajuste?

De acordo com Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil, a desigualdade é resultado da atuação de governos e empresas. Em abaixo-assinado publicado em seu site, a ONG destaca que medidas anunciadas pela gestão Michel Temer não contribuem para enfrentar a concentração de riqueza – ao contrário, aprofundam o problema.

“O governo Temer conduz um ajuste fiscal que prioriza medidas que congelam os investimentos em educação e saúde, que cortam benefícios sociais e que mudam o sistema das aposentadorias. Em todas essas propostas, quem paga a conta não são os super-ricos nem as grandes corporações. Somos nós. E isso não é justo”, diz a petição.

Segundo o texto, o governo precisa atuar para garantir direitos e oferecer chances justas a todos. “A saída para a crise deve começar pela diminuição dos privilégios dos super-ricos, e não com cortes no orçamento de serviços e políticas essenciais para a maior parte da população. Nós precisamos que o governo e a economia trabalhem para os 99%, e não apenas para o 1% do topo”, completa.

Arrocho no salário do trabalhador

O relatório apresentado pela Oxfam em Davos cita que, no Brasil, os salários reais dos 10% mais pobres da população aumentaram mais que os pagos aos 10% mais ricos entre 2001 e 2012, graças à adoção de políticas progressistas de reajustes do salário mínimo.

É justamente esta política que está em risco no governo do presidente Michel Temer. No final do ano passado, o peemedebista assinou decreto no qual fixou em R$ 937,00 o valor do salário mínimo, um reajuste 6,48%, que foi inferior à inflação. O governo rompeu, assim, o ciclo de ganhos reais do salário mínimo iniciado pelo governo Lula.

A especialista em Orçamento Público e assessora do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) Grazielle David destaca que, entre as causas do aumento da desigualdade no mundo, estão a redução e o congelamento da renda dos trabalhadores. “Mudanças na estrutura do mercado de trabalho e a consequente perda de poder de barganha dos trabalhadores em negociações coletivas pioram ainda mais a situação”, escreve a Oxfam.

É algo que está posto na agenda do atual governo, que atenta contra os direitos trabalhistas. “A gente vive agora uma proposta de reforma trabalhista, com uma proposta de fazer com que os acordos se sobreponham ao que está na legislação e aí até mesmo os salários podem ser acordados. Se globalmente já se percebe que a redução de salários é um mecanismo de concentração de renda e riqueza, a gente, no Brasil, vai legalizar isso, com a reforma trabalhista”, alerta a pesquisadora.

Leia: Patrimônio de 0,5% dos brasileiros equivale a quase 45% do PIB – e com baixa tributação

Segundo ela, há sério risco de retrocesso, devido a diversas medidas anunciadas que têm impacto sobre a renda das famílias. Grazielle cita, por exemplo, o corte no programa Bolsa Família, importante mecanismo de redução da desigualdade e responsável por retirar o país do Mapa da Fome. Em todo o país, foram cancelados 469 mil benefícios; outros 654 mil, bloqueados.

“A gente corre risco de retroceder. Em 2016 já ocorreu corte no Bolsa Família e, em 2017, a expectativa é de um corte ainda mais significativo. O resultado possivelmente é piora de alguns indicadores que mostravam que a gente estava reduzindo a vulnerabilidade desses grupos”, diz.

Transferência de renda para os mais ricos

De acordo com ela, várias das medidas que estão sendo tomadas pela atual gestão apontam para uma piora na desigualdade de riqueza e renda. Um exemplo é a Emenda Constitucional que limita o crescimento dos gastos primários à variação da inflação do ano anterior, com o objetivo de fazer superávit primário, ou seja, economizar recursos para o pagamento de juros da dívida. Segundo diversos especialistas, áreas como saúde e educação deverão perder recursos.

“Se a gente pega a Emenda Constitucional 95, ela também é um mecanismo de concentração de riqueza, porque ela diminui os gastos primários – que são os que promovem um mínimo de garantia de direitos, de serviços públicos – e canaliza esse dinheiro para o pagamento de juros da dívida. Quem são os detentores de títulos da dívida? São os mais ricos”, afirma.

Segundo ela, trata-se, portanto, de um mecanismo importante de transferência de riqueza dos mais pobres para os mais ricos. “Porque, se vai pegar o dinheiro do fundo público, está pegando o dinheiro de quem pagou imposto. E quem paga, proporcionalmente, mais imposto no país são os mais pobres e a classe média. E, se é para pagar juros de dívida, então estou pegando dinheiro dos mais pobres e dando para os mais ricos. Ou seja, só essa emenda já é concentradora de renda”, defende.

A reforma da Previdência vai no mesmo caminho, à medida que torna mais duras as regras para a aposentadoria, ampliando o tempo de contribuição e a idade mínima para a aposentadoria e reduzindo os valores dos benefícios.

“Você está falando para todos os trabalhadores, os trabalhadores rurais, das regiões Norte, Nordeste do país, que só podem se aposentar com 65 anos. Muitos deles, no máximo, vão viver até os 65 anos. Então muitos nunca vão ter direito à Previdência. Muitos estarão contribuindo com uma promessa que nunca vão ver cumprida”, critica.

Segundo a assessora do Inesc, a reforma é mais um mecanismo de concentração. “Ao deixar de pagar a Previdência ao trabalhador para garantir superávit primário para pagamento de juros da dívida, estou mandando esse dinheiro para quem? Todo o suor de um trabalhador que nunca vai chegar para ele em forma de Previdência está indo para grandes acionistas e detentores de títulos da dívida do país”.

Injustiça tributária

Outro problema, este antigo, que o país se recusa a enfrentar, é a injustiça tributária de um sistema que faz com que os mais pobres paguem, proporcionalmente, mais impostos, poupando, muitas vezes, ricos e super-ricos.

A própria Oxfam destaca em seu relatório que a forma como os sistemas tributários são organizados também influenciam na concentração de renda e riqueza. De acordo com o documento, três quartos da extrema pobreza poderiam ser efetivamente eliminados imediatamente usando recursos já disponíveis, aumentando a tributação e reduzindo gastos militares e outros gastos regressivos.

A ONG chama a atenção para o fato de que os ricos e super-ricos têm conseguido fazer valer seus interesses, e as alíquotas fiscais aplicadas à riqueza e às rendas mais altas continuam a cair em todo o mundo rico. “Nos países em desenvolvimento, a tributação aplicada aos ricos é ainda mais baixa: pesquisas realizadas pela Oxfam revelam que a alíquota máxima média é de 30% sobre a renda e que, na maioria dos casos, ela nunca é efetivamente aplicada”, diz o informe.

No Brasil, grande parte da estrutura tributária do país está baseada em impostos indiretos, ou seja, que incidem sobre o consumo de bens e serviços e não sobre a renda e a propriedade. Isso significa que, proporcionalmente, os mais pobres pagam mais impostos, já que possuem renda inferior, mas pagam o mesmo preço que os ricos por produtos e serviços. Além do mais, toda a sua renda é utilizada no consumo, enquanto uma parte importante da renda dos mais ricos acaba convertendo-se em riqueza e patrimônio, cuja tributação é menor.

ONU: ganho social se conquista com investimento público e combate à sonegação

Para que ganhos sociais possam ocorrer até 2030, conforme prevê os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda 2030, a ONU é taxativa: os países latino-americanos terão que encontrar formas de combater com firmeza a sonegação fiscal do setor privado. Só assim conseguirão investir a contento para acabar com a pobreza, promover o bem-estar e prosperidade das pessoas e proteger o meio ambiente, indica o informe anual da ONU divulgado esta semana, segundo reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.

Segundo a ONU, a evasão fiscal de empresas brasileiras chega a 27% do total que elas deveriam pagar em impostos. Anualmente, isso dá algo em torno de R$ 500 bilhões! E o governo brasileiro acha que vai melhorar a vida da população cortando gastos públicos em educação e saúde, reformando a Previdência e as regras trabalhistas de forma draconiana. Os direitos do brasileiros cabem muito bem no orçamento, o que atrapalha é a sonegação, os privilégios e a desigualdade fiscal.

A América Latina como um todo, afirma a ONU, deixa de arrecadar cerca de US$ 350 bilhões com a sonegação fiscal de grandes empresas e corporações. Em alguns países da região, a receita com impostos não chega a 20% do PIB – o que é muito baixo. ainda representa menos de 20% do PIB.

“Países da América Latina em média coletam apenas 50% da receita que seus sistemas tributários deveriam teoricamente gerar”, afirma a ONU em seu relatório. “A evasão dos impostos sobre empresas também varia entre 27% no Brasil para mais de 50% na Costa Rica ou Equador.”

Vamos falar sobre justiça fiscal?

No Brasil, estão apostando justamente no caminho contrário. Aprovou-se um teto constitucional aos gastos públicos por incríveis 20 anos (algo inédito no mundo!), limitando o poder do governo de investir em áreas fundamentais para que ganhos sociais sejam obtidos no período – que coincide justamente com o da Agenda 2030.

Se houvesse justiça fiscal no Brasil, se o país combatesse a sonegação como deveria e fosse mais responsável na concessão de isenções fiscais, não estaríamos discutindo propostas anacrônicas e absurdas como esse teto de gastos públicos – que na verdade foi aprovado não para enfrentar uma crise, mas para mudar a lógica de Estado da Constituição Federal.

O que querem é mudar o modelo de sociedade escolhido pelo povo brasileiro, que tem como princípio a solidariedade, com um Estado indutor e promotor de direitos, que tem o dever de garantir a Seguridade Social (Previdência Social, Assistência Social, Saúde), a cultura, a educação, o transporte, a segurança, o lazer, a moradia, o trabalho, a alimentação, que tem o dever de avançar e não retroceder os direitos”, afirma Grazielle David, assessora política do Inesc.

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Patrimônio de 0,5% dos brasileiros equivale a quase 45% do PIB – e com baixa tributação

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O novo salto global da desigualdade

Publicado por Outras Palavras.

Por Oxfam | Imagem: Sara Distin

Estamos criando condições para recuperar o país e voltar a crescer, diz o presidente Michel Temer – e repetem os jornais – a cada medida adotada para reduzir o investimento social, eliminar direitos previdenciários, “simplificar” as exigências das leis trabalhistas e, supostamente, “equilibrar” as contas públicas. Exatamente como Temer agem, desde a crise de 2008, quase todos os governantes do mundo. “Austeridade”, “ajustes fiscais”, “apertar os cintos” tornaram-se conceitos dominantes no jargão politico e econômico da última década. Qual foi o resultado?

Um relatório que acaba de ser divulgado pela organização internacional Oxfam – voltada ao estudo e denúncia da desigualdade – revela. Tais políticas permitiram que apenas oito homens possum a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de pessoas que compõem a metade mais pobre da humanidade. O documento Uma economia humana para os 99% mostra que a diferença entre ricos e pobres aumenta a cada edição do estudo, numa velocidade muito maior do que a prevista. Os 50% mais pobres da população mundial detêm menos de 0,25% da riqueza global líquida. Nesse grupo, cerca de 3 bilhões de pessoas vivem abaixo da “linha ética de pobreza” definida pela riqueza que permitiria que as pessoas tivessem uma expectativa de vida normal de pouco mais de 70 anos.

“O relatório detalha como os grandes negócios e os indivíduos que mais detêm a riqueza mundial estão se alimentando da crise econômica, pagando menos impostos, reduzindo salários e usando seu poder para influenciar a política em seus países”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam no Brasil.

Os números da desigualdade foram extraídos do documento Credit Suisse Wealth Report 2016. (Veja link abaixo.) Segundo a organização, 1 em cada 10 pessoas no mundo sobrevive com menos de US $ 2 por dia. No outro extremo, a ONG prevê que o mundo produzirá seu primeiro trilhardário em apenas 25 anos. Sozinho, esse indivíduo deterá uma fortuna tão alta que, se ele quisesse gastá-la, seria necessário consumir US$ 1 milhão todos os dias, por 2.738 anos, para acabar com tamanha quantia em dinheiro. O discurso da Oxfam em Davos também mostrará que 7 de cada 10 pessoas vivem em países cuja taxa de desigualdade aumentou nos últimos 30 anos. “Entre 1988 e 2011, os rendimentos dos 10% mais pobres aumentaram em média apenas 65 dólares (US$ 3 por ano), enquanto os rendimentos dos 10% mais ricos cresceram uma média de 11.800 dólares – ou 182 vezes mais”, aponta o documento.

“A desigualdade está mantendo milhões de pessoas na pobreza, fragmentando nossas sociedades e minando nossas democracias. É ultrajante que tão poucas pessoas detenham tanto enquanto tantas outras sofrem com a falta de acesso a serviços básicos, como saúde e educação”, reforça Katia Maia.

O relatório destaca ainda a situação das mulheres que, muitas vezes empregadas em cargos com menores salários, assumem uma quantidade desproporcional de tarefas em relação à remuneração recebida. O próprio relatório do Fórum Econômico Mundial (2016) sobre as disparidades de gênero estima que serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens. Segundo o texto, as mulheres ganham de 31 a 75% menos do que os homens no mundo.

A sonegação de impostos, o uso de paraísos fiscais e a influência política dos super-ricos para assegurar benefícios aos setores onde mantêm seus investimentos são outros destaques do documento da Oxfam.

A Oxfam é uma confederação internacional de 20 organizações que trabalham em mais de 90 países, incluindo o Brasil, com o intuito de construir um futuro livre das desigualdades e da injustiça causada pela pobreza. Uma das características centrais de seu estudo é a postura não-contemplativa. A organização está empenhada em buscar alternativas que permitam construir “uma economia para os 99%”. Eis, a seguir, algumas de suas propostas para tanto.

Uma Economia Humana para os 99%

Outras conclusões do Relatório da Oxfam (Davos, 2017)

* Desde 2015, o 1% mais rico detinha mais riqueza que o resto do planeta.

* Atualmente, oito homens detêm a mesma riqueza que a metade mais pobre do mundo.

* Ao longo dos próximos 20 anos, 500 pessoas passarão mais de US$ 2,1 trilhões para seus herdeiros – uma soma mais alta que o PIB da Índia, um país que tem 1,2 bilhão de habitantes.

* A renda dos 10% mais pobres aumentou em menos de US$ 65 entre 1988 e 2011, enquanto a dos 10% mais ricos aumentou 11.800 dólares – 182 vezes mais.

* Um diretor executivo de qualquer empresa do índice FTSE-100 ganha o mesmo em um ano que 10.000 pessoas que trabalham em fábricas de vestuário em Bangladesh.

* Nos Estados Unidos, uma pesquisa recente realizada pelo economista Thomas Pickety revela que, nos últimos 30 anos, a renda dos 50% mais pobres permaneceu inalterada, enquanto a do 1% mais rico aumentou 300%.

* No Vietnã, o homem mais rico do país ganha mais em um dia do que a pessoa mais pobre ganha em dez anos.

* Uma em cada nove pessoas no mundo ainda dorme com fome.

* O Banco Mundial deixou claro que, sem redobrar seus esforços para combater a desigualdade, as lideranças mundiais não alcançarão seu objetivo de erradicar a pobreza extrema até 2030.

* Os lucros das 10 maiores empresas do mundo somam uma receita superior à dos 180 países mais pobres juntos.

* O diretor executivo da maior empresa de informática da Índia ganha 416 vezes mais que um funcionário médio da mesma empresa.

* Na década de 1980, produtores de cacau ficavam com 18% do valor de uma barra de chocolate – atualmente, ficam com apenas 6%.

* A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 21 milhões de pessoas são trabalhadores forçados que geram cerca de US$ 150 bilhões em lucros para empresas anualmente.

* As maiores empresas de vestuário do mundo têm ligação com fábricas de fiação de algodão na Índia que usam trabalho forçado de meninas rotineiramente.

* Embora as fortunas de alguns bilionários possam ser atribuídas ao seu trabalho duro e talento, a análise da Oxfam para esse grupo indica que um terço do patrimônio dos bilionários do mundo tem origem em riqueza herdada, enquanto 43% podem ser atribuídos ao favorecimento ou nepotismo.

* Mulheres e jovens são particularmente mais vulneráveis ao trabalho precário: as atividades profissionais de dois em cada três jovens trabalhadores na maioria dos países de baixa renda consistem em trabalho vulnerável por conta própria ou trabalho familiar não remunerado.

* Nos países da OCDE, cerca de metade de todos os trabalhadores temporários tem menos de 30 anos de idade e quase 40% dos jovens trabalhadores estão envolvidos em atividades profissionais fora do padrão, como em trabalho por empreitada ou temporário ou empregos involuntários em tempo parcial.

* A edição de 2016 do relatório anual do Fórum Econômico Mundial sobre as disparidades de gênero revela que a participação econômica de mulheres ficou ainda mais baixa no ano passado e estima que serão necessários 170 anos para que as mulheres recebam salários equivalentes aos dos homens.

Sugestões da Oxfam para uma economia mais humana

1. Governos que trabalhem para os 99% da população mundial.

2. Incentivo à cooperação entre os países

3. Modelos de empresas com melhor distribuição de benefícios

4. Tributação justa à extrema riqueza

5. Igualdade de gênero na economia humana

6. Tecnologia a serviço dos 99%

7. Fomento às energias renováveis

8. Valorização e mensuração do progresso humano

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Estudo da Oxfam aponta concentração absurda de riqueza nas mãos de poucos bilionários pelo mundo

Reportagem publicada nesta segunda-feira (16/1) pelo jornal Folha de S. Paulo revela que os oito homens mais ricos do planeta concentram o mesmo patrimônio de 3,6 bilhões de pessoas – a metade mais pobre do mundo. A informação consta do relatório Uma economia humana para os 99%, divulgado pela Oxfam nesta segunda no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

Segundo o relatório da Oxfam, estamos produzindo riqueza como nunca, mas ela está se concentrando nas mãos de um pequeno grupo de milionários – o tal 1% da população. A renda desse grupo aumentou 182 vezes mais do que a dos 10% mais pobres entre 1988 e 2011, revela o estudo.

“Os números mostram uma distorção do mercado provocada por essa concentração de riqueza, que aumenta a pobreza e piora o desempenho geral da economia”, diz Katia Maia, diretora-executiva da Oxfam Brasil.

Uma forma importante de se inverter essa concentração abusiva de renda seria por meio de uma reforma tributária, promovendo a redistribuição de parte dessa riqueza para as pessoas mais pobres, afirma Katia Maia, citando estudo do Inesc sobre desigualdade e injustiça tributária, que revela como a isenção fiscal de lucros e dividendos também ajuda a concentrar renda – em 2013, essa isenção chegou a R$ 79 bilhões.

Outra maneira de se combater a concentração de renda seria acabar com a sonegação fiscal – no Brasil são sonegados quase R$ 500 bilhões anualmente.

Leia aqui a reportagem completa da Folha de S. Paulo.

Clique aqui para acessar o estudo do Inesc Desigualdade e Injustiça Tributária, de Evilásio Salvador.

Que tal falarmos um pouco sobre Justiça Fiscal?

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O peso das patentes no preço dos medicamentos

No período de 2008 a 2015, os gastos reais do Ministério da Saúde aumentaram em 36,6%; já os destinados a medicamentos elevaram-se em 74%, mais do que o dobro, passando de R$ 8,5 bilhões para R$ 14,8 bilhões para o mesmo período. Os valores alocados em medicamentos aumentaram, inclusive em 2015, quando o Orçamento da Saúde decresceu em termos reais.

Em 2015, apenas três ações eram responsáveis por 76,8% de todo o gasto com medicamentos: CEAF (Componente Especializado de Assistência Farmacêutica), Imunobiológicos e Farmácia Popular. Foram também eles que apresentaram maior taxa de crescimento entre 2008 e 2015. Em 2008, o quadro era diferente: CEAF, CBAF (Componente Básico de Assistência Farmacêutica) e DST/Aids representavam boa parte do gasto. Essa mudança demonstra uma alteração nas prioridades do governo para a política de medicamentos ao reduzir os gastos com os medicamentos distribuídos gratuitamente na atenção básica e ampliar os subsídios às farmácias privadas participantes do Programa Farmácia Popular. Também chama a atenção e requer mais investigações a redução da despesa com os medicamentos para DST/Aids, uma vez que o Brasil vive um aumento importante dos casos: a população vivendo com a doença no país passou de 700 mil em 2010 para 830 mil em 2015, com 15 mil mortes por ano.

O que mais chama atenção no Orçamento Temático de Medicamentos – fruto de recente publicação lançada pelo Inesc – é a evolução da despesa com demandas judiciais em âmbito federal ou custeadas pelo Ministério da Saúde, que no período de 2008 a 2015 apresentou crescimento real de 1006% daquelas atendidas por compra direta e depósito, saindo de R$ 103,8 milhões em 2008 para R$ 1,1 bilhão em 2015. Em proporção do Orçamento de Medicamentos,  o percentual de gastos com judicialização que era de pouco mais de 1% em 2008 chegou a quase 8% em 2015.

Como o crescimento real do Orçamento de Medicamentos para o mesmo período foi da ordem de 74% no período de 2008 a 2015, e o da judicialização dos medicamentos foi de 1006%, é possível inferir que, mesmo que essa despesa esteja sendo prevista pelo Ministério da Saúde, necessariamente os demais componentes da Assistência Farmacêutica estão sofrendo um impacto orçamentário, ficando abaixo da real necessidade populacional, especialmente quando é considerado que a população brasileira cresce e o preço dos medicamentos aumenta.

Clique aqui para acessar o estudo completo do Inesc sobre a judicialização dos medicamentos no Brasil (arquivo PDF para baixar).

Um dos sérios agravantes dessa alta de preços é o sistema de patentes. Baseadas em uma retórica de estímulo ao investimento em pesquisa e desenvolvimento, as patentes são consideradas por muitos como sinônimo de inovação. Porém, esta retórica esconde uma realidade muito diferente: o monopólio que elas criam permite às corporações farmacêuticas cobrar preços injustificáveis baseando-se em práticas abusivas.

O sistema brasileiro de patentes tomou a forma que tem hoje com a promulgação da lei de patentes no 9279 de 1996. Essa lei introduziu no ordenamento brasileiro a possibilidade de concessão de patentes para produtos e processos na área farmacêutica, que não existia na norma anterior. Ela alinhou a lei brasileira ao desenho do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados ao Comércio (chamado em inglês de “TRIPS”), administrado pela OMC (Organização Mundial de Comércio).

À época, a instalação de um sistema de proteção de propriedade intelectual na área farmacêutica via monopólio patentário era justificada pelo suposto incentivo aos investimentos em pesquisa e desenvolvimento pelas companhias privadas. No entanto, com mais de 20 anos da lei e do acordo TRIPS, os resultados estão muito aquém do esperado e as evidências apontam que aquela crença no sistema de patentes foi equivocada.

Passamos hoje por uma era de escassez na inovação na área farmacêutica. Nos Estados Unidos, que tem um dos maiores escritórios de registro de patentes do mundo e também um dos maiores mercados farmacêuticos, entre 85% e 90% de todos os novos medicamentos registrados apresentaram pouco ou nenhum benefício clínico para os pacientes, sem inovação de fato.

No Brasil, o setor privado está voltado muito para a produção, uma vez que é a etapa mais barata e que garante maior lucratividade, ignorando as necessidades de inovação em medicamentos para as doenças que afligem o povo brasileiro. O pouco de pesquisa e inovação existente está vinculado em grande parte aos institutos públicos de pesquisa e universidades públicas. Nesse cenário, é importante considerar o risco de redução do orçamento para a Função Ciência & Tecnologia frente a aprovação da EC 95, lei do teto dos gastos primários, considerando que o mesmo apresenta tendência de queda desde 2014 (Gráfico 1).

Gráfico 1: Orçamento Função Ciência & Tecnologia*

*valores corrigidos pelo IPCA a preço de Dezembro/2016.

Fonte: SIOP

Retomando, a ideia de que o sistema de patentes é o meio para incentivar investimentos em pesquisa e desenvolvimento na área farmacêutica tem fundações muito frágeis. Depender das patentes significa dar às grandes companhias farmacêuticas – especialmente as transnacionais –as condições para aumentar preços abusivamente, muito acima de seus investimentos em pesquisa e do próprio custo de produção, já que poderão operar em um ambiente sem concorrência alguma por parte dos medicamentos genéricos.

Agravando esse cenário, o governo Temer presenteou a indústria farmacêutica com a Medida Provisória 754/2016, com a qual permite ajustes nos preços de medicamentos a qualquer tempo pelo Conselho de Ministros da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos. Até 20/12/16, só era possível reajustar o preço dos medicamentos uma vez ao ano, considerando a variação inflacionária.

O sistema de patentes nacional representa também um foco de controvérsias de poder na negociação para a compra de medicamentos: um exemplo recente é o do sofosbuvir, novo medicamento para o tratamento da hepatite C que ingressou no mercado a um preço de US$ 1 mil por pílula. Em razão do montante abusivo, muitos países pressionaram a companhia detentora da patente para que reduzisse o preço. Ela o fez, mas o Brasil segue pagando muito mais pelo medicamento do que o seu custo real de produção, e mais ainda do que o preço dos genéricos desse medicamento produzidos na Índia, por exemplo. Demonstrando a injustiça desse sistema patentário, a empresa responsável por esse medicamento recuperou os investimentos alegados em seu desenvolvimento apenas no primeiro ano de vendas nos Estados Unidos.

Se pagamos muito por medicamentos, tanto no quanto é gasto pelo Estado quanto pelas famílias diretamente, certamente as patentes são um componente muito relevante do problema. Elas se beneficiam da estrutura jurídica – falha e repleta de brechas– que permite preços altos e o direcionamento da pesquisa aos interesses exclusivistas das corporações farmacêuticas. A alternativa a esse modelo? Reduzir as brechas para concessão e extensão das patentes de medicamentos, por meio da aprovação de projetos de lei que já tramitam no Congresso Nacional, com o objetivo de fazer o direito à saúde e aos medicamentos ser preponderante.

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Ações na Justiça para a compra de medicamentos crescem mais de 1.000%

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Nos últimos oito anos, os gastos do Ministério da Saúde com a judicialização da compra de medicamentos saltaram de R$ 103,8 milhões para R$ 1,11 bilhão em 2015, um aumento de 1.060%. Esse valor representa quase 8% das despesas do SUS com remédios, que, em 2015, foram da ordem de R$ 14,8 bilhões, o que correspondeu a 13,9% do orçamento do Ministério da Saúde, informa a reportagem do Correio Braziliense, com base em dados do relatório “Direitos a Medicamentos: Avaliação das Despesas com Medicamentos no Âmbito Federal do Sistema Único de Saúde entre 2008 e 2015”, publicado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) no final do ano passado.

O levantamento do Inesc revela as despesas determinadas pela Justiça para compra de medicamentos não disponíveis pelo SUS ou ainda sem registro no Brasil, e como isso impacta o orçamento da Saúde no país.

Clique aqui para ler a íntegra da reportagem do Correio Braziliense.

Clique aqui para acessar o estudo completo do Inesc sobre a judicialização dos medicamentos no Brasil (arquivo PDF para baixar).

A reportagem do jornal de Brasília lembra que o aumento dessa demanda judicial por medicamentos fez com que o STF colocasse em pauta um julgamento com repercussão geral para estabelecer parâmetros em relação à essa questão, que interessa a todos os governos estaduais. A sessão do tribunal sobre o assunto foi suspensa em setembro do ano passado depois que o ministro Teori Zavascki fez pedido de vistas – não há data para a retomada do julgamento.

“Cabe destacar que Supremo Tribunal Federal (STF) fixou em maio deste ano novos parâmetros para a judicialização da saúde, na decisão referente à Ação Direita de Inconstitucionalidade nº 5501“, lembra Grazielle. Com essa decisão do STF, não é mais possível o fornecimento judicial de medicamentos e tecnologias em saúde que estejam destituídos da comprovada segurança, nem medicamentos sem prévia análise dos órgãos sanitários de controle, como vinha ocorrendo.

“Espera-se que esse julgamento do STF contribua para estabelecer maior controle do fenômeno da judicialização em saúde no Brasil, com o objetivo de garantir o direito à saúde de forma equânime e eficiente”, afirma Grazielle David.

Um trecho do estudo:

“Como os gastos com a judicialização de medicamentos não constam nem nos planos anuais de saúde nem nas Leis Orçamentárias Anuais (LOA), seu pagamento deve ser efetuado retirando-se recursos dos componentes existentes. Por intermédio dos Relatórios Anuais de Gestão (RAG), foi observado que geralmente isso ocorre por meio da Ação 4705 (Ceaf – Componente Especializado da Assistência Farmacêutica) do Plano Plurianual (PPA). Isso se reflete no aumento exponencial dos gastos com o componente Ceaf, uma vez que, se fosse excluída a judicialização, não haveria necessidade de ampliar tanto o orçamento desse componente, por não existir uma variação tão grande do número de pacientes portadores das doenças que esse componente atende, como é o caso de doenças raras, artrite reumatoide e alguns casos de hepatites.

Em anos recentes, já prevendo as demandas judiciais, o Ministério da Saúde alega ter ‘hiperinsuflado’ a dotação orçamentária para o Ceaf (Componente Especializado da Assistência Farmacêutica). Porém, quando avaliamos as Leis Orçamentárias Anuais (LOA), a dotação inicial desse componente saiu de R$ 4.540.509.000 em 2008, chegando a R$ 6.040.371.000 em 2015, o que representa um aumento de 71%, porcentagem muito inferior à do crescimento das demandas judiciais (1.006%). Além disso, nem mesmo a soma do crescimento das despesas de todos os componentes consegue acompanhar o crescimento dos gastos com demanda judicial.”

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“A premissa do sistema tributário é cobrar impostos dos trabalhadores”, diz autor de estudo sobre tributação e desigualdade

O grande problema do sistema tributário brasileiro não é apenas sua tributação forte de maneira indireta, mas principalmente o fato de não tributar renda e patrimônio de maneira adequada. “E mesmo quando tem a tributação sobre a renda, esta é, basicamente, restrita e limitada ao trabalhador assalariado e aos servidores públicos”, afirma Evilásio Salvador, autor do estudo Perfil da Desigualdade e da Injustiça Tributária, em entrevista para o IHU Online.

Para baixar o estudo completo, clique aqui.

O estudo foi produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) com apoio da Oxfam Brasil, Christian Aid e Pão Para o Mundo.

Para Evilásio, além da tributação indireta sobre o consumo e a produção de bens e serviços, a tributação direta via Imposto de Renda também pode ser considerada “mais um elemento de concentração de riqueza na sociedade”.

Para o pesquisador, uma proposta de reforma tributária no Brasil deveria ser pautada pela retomada dos princípios de equidade, de progressividade e da capacidade contributiva no caminho da justiça fiscal e social, priorizando a redistribuição de renda. As tributações de renda e do patrimônio nunca ocuparam lugar de destaque na agenda nacional e nos projetos de reforma tributária após a Constituição de 1988.

Um trecho da entrevista:

IHU On-Line – Qual é o perfil da desigualdade e da injustiça tributária no país?

Evilásio Salvador – O sistema tributário comete um conjunto de desigualdades e injustiças, e a premissa desse sistema tributário, desde o governo FHC, é de cobrar imposto e tributo dos mais pobres e dos trabalhadores assalariados. Essa injustiça é cometida de duas formas: uma é porque os tributos são fortemente concentrados na tributação sobre consumo, então, quando os mais pobres vão consumir em relação a sua renda, o peso da carga tributária torna-se injusto; segundo, existem outros elementos para discutir sobre outras formas de desigualdade na sociedade brasileira. Se olharmos isso do ponto de vista de gênero e de raça, veremos que a situação é mais agravante, porque as mulheres e as populações negras se encontram na faixa mais baixa de renda. Isso indica que o fisco tributa muito mais, em relação aos demais contribuintes, as populações femininas e negras.

Evilásio Salvador – O sistema tributário comete um conjunto de desigualdades e injustiças, e a premissa desse sistema tributário, desde o governo FHC, é de cobrar imposto e tributo dos mais pobres e dos trabalhadores assalariados. Essa injustiça é cometida de duas formas: uma é porque os tributos são fortemente concentrados na tributação sobre consumo, então, quando os mais pobres vão consumir em relação a sua renda, o peso da carga tributária torna-se injusto; segundo, existem outros elementos para discutir sobre outras formas de desigualdade na sociedade brasileira. Se olharmos isso do ponto de vista de gênero e de raça, veremos que a situação é mais agravante, porque as mulheres e as populações negras se encontram na faixa mais baixa de renda. Isso indica que o fisco tributa muito mais, em relação aos demais contribuintes, as populações femininas e negras.

De outro lado, a tributação sobre patrimônio é irrisória, ou seja, chega a ser motivo de piada em comparativos internacionais. Os patrimônios tributados equivalem a menos de 4% da arrecadação total de tributos – estamos falando de tributação de carros, IPVA, que incide sobre o patrimônio da classe trabalhadora, porque jatinhos e helicópteros não são tributados. A tributação sobre heranças também é baixíssima em comparação com a tributação internacional, e o imposto sobre grandes fortunas está mofando na Constituição Brasileira desde 1988, sem regulamentação. Por fim, o sistema tributário tem elementos de injustiça quando não contribui para atenuar as desigualdades regionais.

Leia aqui a íntegra da entrevista.

https://www.youtube.com/watch?v=4SA3MlxccPw&t=7s

 

Retrospectiva 2016: ano de muitos desafios. Que venha 2017!

Mais um ano chega ao fim, e todo mundo entra naquele modo reflexão (sobre o que foi feito) e planejamento (para ações futuras). Há com certeza muito sobre o que pensar, porque 2016 não foi nada fácil – alguém discorda? – e 2017 promete mais fortes emoções. Seja como for, estaremos prontos para encarar os desafios  com a mesma disposição, criatividade e esperança de sempre! Combatemos o bom combate em 2016 e não será diferente nesse novo ano que se inicia.

Fizemos um levantamento de nossas principais lutas e conquistas em 2016 e compartilhamos com você. Muitos desses desafios terão sequência no ano que vem e contamos com sua parceria! Que venha 2017!

Começamos 2016 com uma provocação: quem paga mais impostos no Brasil atualmente, uma grande mineradora ou o cidadão comum? A resposta foi dada no vídeo Quiz Show: a Mineração no Brasil que produzimos para discutir as estripulias tributárias que favorecem desmesuradamente as grandes mineradoras que atuam no país. Saiba mais aqui sobre a intrincada questão tributária do setor de mineração brasileiro.

Outro assunto com destaque no mês foi a mobilidade urbana, mais especificamente o nosso Orçamento Temático de Mobilidade Urbana. O Inesc levou a metodologia ao Fórum Social Mundial 2016 juntamente com o Movimento Nossa Brasília para fazer o cada vez mais necessário debate sobre o direito à cidade, tema que vem ganhando espaço nos grandes centros urbanos.

Para saber o que mais fizemos em janeiro, clique aqui.

Grandes expectativas estavam formadas quando começou o ano legislativo de 2016 em fevereiro, boa parte delas negativas. Isso porque no ano anterior o Congresso mais conservador em 40 anos aprovou uma série de pautas retrógradas, como anistia da Receita para multas de instituições religiosas, retirada da exclusividade do Executivo na demarcação de terras indígenas e revogação do Estatuto do Desarmamento. O que esperar de 2016 então? Nossos assessores políticos fizeram então uma análise elencando o que estava por vir e como deveria ser a atuação das bancadas da bala, da bola, da bíblia, do boi, dos meios de comunicação, do sistema financeiro na discussão de temas importantes como Estatuto da Família, Lei Antiterrorismo, Terceirização, Redução da Idade Penal, o destino do então deputado federal e presidente da Câmada dos Deputados, Eduardo Cunha, e o impeachment da presidenta Dilma.

Em Brasília, alunos de escolas públicas do Distrito Federal que participam do projeto Onda, uma iniciativa do Inesc, lançaram nova edição da revista Descol@dos sobre direitos humanos e orçamento público. A revista é inteiramente produzida durante as atividades do projeto Onda e contribui para envolver os adolescentes no debate sobre direitos e cidadania. A revista é usada também por professores da rede pública de ensino, que recebem diversos exemplares para promover o debate em sala de aula.

Confira aqui a quinta edição da revista Descol@dos produzida pelos adolescentes do projeto Onda.

No final do mês, lançamos também uma série de 10 vídeos de animação sobre os temas de atuação do Inesc, da Justiça Fiscal e Reforma Política à Segurança Alimentar e agenda socioambiental. Os vídeos são curtos (em torno de 2 minutos) e explicam de maneira didática e simples assuntos complexos e importantes para a sociedade brasileira.

Os vídeos estão sob licença Creative Commons e podem ser usados livremente em palestras, seminários, encontro de estudantes, rodas de conversa e todo e qualquer encontro que abordar os temas propostos. Quanto mais falarmos sobre eles, menos complicados parecerão!

Você pode assistir aos vídeos nesta playlist que fizemos no Youtube. E saber mais sobre nossos temas de atuação aqui.

Tudo que fizemos em fevereiro você encontra aqui.

O debate no Brasil sobre a reforma da Previdência Social vem de longe, mas ganhou fôlego redobrado este ano. Com o destino da presidenta Dilma Rousseff selado pela aceitação do pedido de impeachment em dezembro de 2015, os defensores da tese de que a Previdência é deficitária e vai quebrar a qualquer momento decidiram aproveitar o momento político para aprovar a reforma.

A sociedade civil organizada, especialistas, auditores e alguns parlamentares retrucaram com análises que desmontaram o discurso sobre os problemas da Previdência brasileira – não são os direitos dos trabalhadores que causam problemas, e sim as regalias dadas a empresas e manobras fiscais usadas pelo governo, como a Desvinculação de Receitas da União (DRU).

Uma dessas análises foi produzida por nossos assessores políticos, o artigo “Reforma da Previdência: urgência pra que(m)?”, contestando a pressa em se fazer mudanças sem amplo acordo social, apresentando três razões para tal: a falta de respeito ao cálculo contábil previsto na Constituição Federal que faz com que a Previdência tenha um ‘déficit’ artificial; reforma da Previdência não podem fazer retroceder direitos; e as reformas que o país precisa com mais urgência são a tributária e a que trata das receitas em potencial.

Leia aqui a íntegra do artigo.

E o que mais fizemos em março?

Abril foi o mês do Direito à Cidade! O Inesc e o Movimento Nossa Brasília se juntaram ao Movimento Dulcina Vive e Grito das Periferias para ocupar o Centro Cultural Dulcina de Moraes no Conic (Setor de Diversões Sul) e promover o Inspira Brasília – Semana pelo Direito à Cidade. O evento teve shows, apresentações de teatro, hip hop, oficinas de mobiliário urbano e skate, exposições, feiras, cinema, grafite e palestras sobre temas como sustentabilidade, democracia, direitos, igualdade, raça, gênero, mobilidade, agricultura urbana e gestão solidária de resíduos sólidos. Veja aqui como foi.

Outro evento de grande importância ocorrido em abril foi o escândalo ‘Panama Papers’, com o vazamento de 11 milhões de documentos que revelaram a falcatrua de milhares de transações financeiras milionárias por meio de paraísos fiscais. O escândalo reforçou a necessidade de se aprimorar a legislação tributária internacional, conforme organizações da sociedade civil como o Inesc pedem a anos por meio de campanhas como a Campanha global por Justiça Fiscal “Que as transnacionais paguem o justo”.

O que mais produzimos em abril você pode ver aqui.

Adolescentes e jovens da periferia do Distrito Federal participaram de audiência pública sobre infância e juventude promovida na Câmara Legislativa do DF por iniciativa do Inesc por meio dos projetos Adolescentes Protagonistas e Observatório da Criança e do Adolescente (OCA). Durante a audiência, os jovens apresentaram a parlamentares, gestores públicos, organizações sociais e representantes da sociedade civil suas preocupações e reivindicações, com base em levantamentos feitos por eles próprios nas comunidades onde vivem.

Entre os principais problemas identificados, e que afetam diretamente os meninos e as meninas que vivem ali, estão os relacionados à sexualidade (gravidez, DSTs e acesso a métodos contraceptivos), à dependência química e à violência.

Na esteira da revelação dos Papéis do Panamá, com as grandes falcatruas que empresas e milionários fazem para pagar menos impostos usando paraísos fiscais, produzimos um curto vídeo de animação para explicar como esse pessoal consegue esconder tanto dinheiro. O vídeo foi produzido pelo Inesc e organizações parceiras para a campanha global por justiça fiscal Que as Transnacionais Paguem o Justo.

 

Produzimos ainda uma das primeiras análises sobre as primeiras 24 horas do governo Temer, que havia recém tomado o poder com o afastamento então temporário da presidenta Dilma Rousseff após decisão da Câmara dos Deputados. E o que vimos foram sinais inequívocos de compromisso com o desmonte de instituições de garantia de direitos e de combate à corrupção.

Também analisamos algumas das primeiras medidas do governo Temer, em especial a MP 727, que materializou o projeto político-econômico por trás do golpe.

Enquanto o golpe avançava sobre nossos direitos na Praça dos Três Poderes em Brasília, conseguimos uma bonita e importante vitória pelo direito à cidade na Estrutural: a instalação de um bicicentro em um posto policial abandonado na entrada da comunidade. O Bicicentro da Estrutural foi uma iniciativa do Movimento Nossa Brasília e logo se transformou em um ponto de referência e espaço para promover o uso da bicicleta. Veja aqui fotos de antes e depois da transformação.

Veja aqui outras atividades do Inesc em maio.

Como combater a cultura do estupro e a violência de gênero no Brasil? Promovendo a educação de gênero nas escolas desde a educação infantil. A sugestão foi feita pela jovem Maria Castanho, de 17 anos, integrante do projeto Onda – Adolescentes Protagonistas, que participou de uma audiência pública no Senado Federal instalada para debater o crime e a cultura de estupro, e outras formas de violência de gênero no país. Veja como foi a participação dela na audiência.

Educação também foi tema de um artigo que publicamos sobre os efeitos negativos do congelamento de gastos públicos proposto pelo governo Temer na então PEC 241 (depois PEC 55, aprovada no Senado e já promulgada) para a educação no Brasil. A medida é considerada ‘perversa’ especialmente nas áreas de educação e saúde e coloca em xeque as metas aprovadas do Plano Nacional de Educação, porque haverá menos recursos para cumpri-las. Leia aqui a íntegra do artigo.

Na Cidade Estrutural, o projeto Pró-Catador formou cinco turmas de catadoras e catadores de material reciclável, dando capacitação tanto em formação cidadã como técnica e em articulação política, de acordo com o previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Saiba mais aqui sobre nossas atividades realizadas em junho.

Em protesto contra o assassinato de uma criança de 11 anos, moradores e representantes de movimentos e coletivos da Cidade Estrutural participaram de um ato na comunidade em defesa de crianças e adolescentes, exigindo prioridade absoluta das políticas públicas para esse público. O Inesc estava presente, juntamente com o Coletivo da Cidade e o Observatório da Criança e do Adolescente (OCA). Veja aqui fotos do ato.

O Coletivo da Cidade e o OCA também promoveram uma roda de conversa sobre suas atividades na Cidade Estrutural (DF) durante o Fórum Internacional de Educação Popular realizado em Recife (PE).

O Inesc participou do debate sobre a ‘escola sem partido’ e necessidade de se democratizar cada vez mais o espaço escolar, participando de seminários e produzindo artigos como o Nada Mais Ideológico do que Uma Escola Sem Partido. Nele explicamos porque a real essência da tal ‘escola sem partido’, que defende a retirada do pensamento crítico, da problematização e da democratização da escola.

Mais atividades e produções do Inesc em julho você pode ver aqui.

Catadores de material reciclável, sociedade civil e gestores participaram da terceira reunião do Fórum Lixo & Cidadania, promovido pelo Movimento Nossa Brasília com apoio do Inesc, para discutir o futuro de suas atividades com o fechamento do lixão da Cidade Estrutural, o maior das Américas.

O Orçamento Temático do Inesc recebeu prêmio da Iniciativa Global para Transparência Fiscal (GIFT, na sigla em inglês) como uma das melhores práticas em transparência fiscal do ano. Os Orçamentos Temáticos são uma ferramenta que monitora aspectos específicos do orçamento público, baseada na metodologia Orçamento e Direitos do Inesc, que pode ser usada em diferentes níveis. Os dados obtidos contribuem para propor reformas no orçamento e facilitam a mobilização dos cidadãos para o monitoramento e incidência política.

E um levantamento que fizemos sobre os maiores devedores da União entre empresários, empresas públicas e privadas, e governos estaduais e municipais da Amazônia teve grande repercussão por revelar as perigosas relações desses devedores com crimes socioambientais, sonegação fiscal e trabalho escravo. Confira aqui os dados completos do levantamento, com tabelas, infográficos e relação das empresas e empresários devedores.

Quer saber tudo que fizemos em agosto? Clique aqui então!

Fizemos um novo levantamento este mês, desta vez sobre as eleições municipais de 2016, para investigar a diversidade de gênero e raça no pleito. A primeira etapa do levantamento constatou que as mulheres negras não têm vez na política brasileira. A análise do perfil das candidatas foi feito com base nos dados do TSE e revelou que há menos de 15% de mulheres negras concorrendo ao cargo de vereadora e menos de 1% ao cargo de prefeita.

Em Brasília, uma exposição fotográfica revelou o cotidiano dos catadores de material reciclável no maior lixão das Américas, com fotos feitas por eles próprios. A exposição teve apoio do Inesc e do projeto Pró-Catador.

Saiba mais aqui sobre as atividades do Inesc em setembro.

Segunda parte do levantamento que fizemos sobre as eleições municipais de 2016, desta vez focado nos resultados do pleito, que revelou o retrato da política brasileira: branca, masculina e proprietária. Do total de mais de 460 mil candidaturas em todo o país, apenas 14,2% (156 mil) dos candidatos eram mulheres – e desse número, apenas 0,3% (638) se elegeram para o cargo de prefeitas e 107 para o cargo de vereadoras nas capitais. No total das cidades brasileiras, foram eleitas 7.818 mulheres vereadoras, o que representa 4,66% do total. Confira aqui o resultado completo desse levantamento.

Se o levantamento feito nas eleições municipais de 2016 revelou as distorções do nosso sistema político e eleitoral, o Mapa das Desigualdades de Brasília, iniciado neste mês, tem como objetivo mostrar a diferença entre o Plano Piloto da capital federal e as muitas comunidades da periferia. O projeto é do Movimento Nossa Brasília, em parceria com a Oxfam Brasil e o Inesc, e contou com apoio de movimentos, coletivos e organizações das comunidades, numa construção colaborativa e compartilhada.

Outra análise que fizemos este mês foi em relação aos caminhos seguidos pelo BRICS. Publicado às vésperas de sua 8ª Cúpula, realizada em Goa, na Índia, o artigo discute a falta de transparência desse grupo de países na estruturação e implementação do Novo Banco de Desenvolvimento.

O que mais fizemos em outubro? Veja aqui.

A terceira e última parte do levantamento que fizemos sobre as eleições municipais de 2016 revelou que 32 prefeitos eleitos detêm mais de 10% do PIB das cidades pelas quais se elegeram. Outros 782 prefeitos eleitos (15,2% do total) declararam patrimônio maior que 1% do PIB do município pelo qual se elegeram. Isso revela que o Brasil tem uma desigualdade estruturante, com as elites se reproduzindo no poder. A pesquisa também mostrou que o número de mulheres eleitas foi muito inferior ao dos homens – apenas 11% para prefeituras. Considerando todos os 68.755 prefeitos e vereadores eleitos, as mulheres representam 13,4% (9.226).

Em novembro também participamos do lançamento do Fórum pela Igualdade Racial (Fopir), iniciativa coletiva de diversas organizações para combater a desigualdade racial e romper com a estrutura do racismo no Brasil. O objetivo da coalizão de organizações antirracistas é desenvolver estratégias e ações de mobilização, diagnóstico, comunicação e incidência política para fortalecer o enfrentamento do racismo e a defesa das políticas de promoção da igualdade racial e de gênero.

Outro levantamento importante que fizemos foi sobre o orçamento da Fundação Nacional do Índio (Funai). Nele constatamos que o órgão gastou apenas R$ 25 por indígena de seu orçamento para ações novas (demarcação e fiscalização de terras, gestão territorial e promoção de direitos sociais, culturais e de cidadania. Veja a íntegra do estudo aqui.

O Inesc participou ainda da organização do I Encontro Brasileiro de Governo Aberto, realizado em São Paulo com a participação de representantes de movimentos sociais, da academia, gestores públicos e cidadãos interessados pelo tema. O encontro serviu para os participantes debaterem propostas, estudos e ações.

A necessária reforma política foi abordada em artigo do Inesc publicado na revista Galileu, deixando claro que não existe reforma do sistema político sem a democratização da comunicação e do sistema de Justiça. “Reforma do sistema político é pensar como democratizar as relações de poder em todas as esferas e espaçøs, e isso só a soberania popular é capaz de fazer”, diz o artigo, que você pode ler aqui.

Saiba mais aqui sobre nossas ações em novembro.

 

Apresentamos três importantes estudos neste mês – um sobre direito à cidade, outro sobre judicialização de medicamentos do SUS e um terceiro sobre desigualdade e injustiça tributária.

O primeiro a ser lançado foi o Mapa das Desigualdades de Brasília, com dados levantados das regiões administrativas de Samambaia, São Sebastião e Cidade Estrutural, medindo e comparando setores como saúde, educação, segurança e mobilidade urbana com o Plano Piloto. O lançamento reuniu representantes de movimentos e coletivos das regiões abordadas, bem como moradores. O Mapa foi produzido pelo Inesc em parceria com o Movimento Nossa Brasília e a Oxfam Brasil. Confira aqui a íntegra do estudo.

O segundo estudo lançado este mês foi o “Direitos a Medicamentos: Avaliação das Despesas com Medicamentos no Âmbito Federal do Sistema Único de Saúde entre 2008 e 2015”, que revelou um incrível aumento nas despesas do Ministério da Saúde com processos judiciais que obrigam o SUS a fornecer quaisquer medicamentos demandados – mesmo que ainda não regulamentados no Brasil. O crescimento foi da ordem de mais de 1000% entre 2008 e 2015, passando de R$ 103 milhões para R$ 1,1 bilhão. Isso tem impactos para outros setores do Ministério da Saúde, como o fornecimento de medicamentos da atenção básica e para o tratamento de pacientes com DST/Aids cujos orçamentos tiveram variação limitada no período. Leia aqui a íntegra do estudo.

O terceiro relatório publicado e divulgado este mês pelo Inesc foi o Perfil da Desigualdade e da Injustiça Tributária no Brasil, do pesquisador Evilásio Salvador, que analisa a relação entre o nosso injusto sistema tributário com a desigualdade, concentração de renda e de patrimônio no Brasil, com base em análise do perfil dos declarantes do Imposto de Renda no Brasil entre 2007 a 2013.

Os dados da Receita Federal são fartos para revelar uma casta de privilegiados no país, com elevados rendimentos e riquezas que não são tributados adequadamente e, muitas vezes, sequer sofrem qualquer incidência de Imposto de Renda, conforme explica o autor.

O estudo foi apoiado pelo Inesc, pela Oxfam Brasil, pela Christian Aid e pela Pão Para o Mundo. Você pode acessar o estudo completo aqui.

No artigo As OSCs e os movimentos sociais frente aos ODS: uma reflexão necessária, o Inesc e a Abong refletem sobre a necessidade de superar o paradigma do crescimento e desenvolvimento infinitos. A alternativa é o descrescimento das ativida

Patrimônio de 0,5% dos brasileiros equivale a quase 45% do PIB – e com baixa tributação

O Brasil tem um dos mais injustos sistemas tributários do mundo e uma das mais altas desigualdades socioeconômicas entre todos os países, onde os mais ricos pagam proporcionalmente menos impostos do que os mais pobres, criando uma das maiores concentrações de renda e patrimônio do planeta. Essa relação direta entre tributação injusta e desigualdade e concentração de renda e patrimônio é investigada pelo pesquisador Evilásio Salvador no estudo Perfil da Desigualdade e da Injustiça Tributária, produzido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) com apoio da Oxfam Brasil, Christian Aid e Pão Para o Mundo.

Foram considerados os quesitos de sexo, rendimentos em salário mínimo e Unidades da Federação. O texto busca identificar o efeito concentrador de renda e riqueza, a partir das informações sobre os rendimentos e de bens e direitos informados à Receita Federal pelos declarantes de IR no período de 2008 a 2014, referentes às informações dos anos-calendário de 2007 a 2013.

Os dados da Receita Federal analisados para o estudo revelam, por exemplo, que do total de R$ 5,8 trilhões de patrimônio informados ao Fisco em 2013 (não se considera aqui a sonegação), 41,56% pertenciam a apenas 726.725 pessoas, com rendimentos acima de 40 salários mínimos. Isto é, 0,36% da população brasileira detém um patrimônio equivalente a 45,54% do PIB do Brasil e com baixíssima tributação. Considera-se, ainda, que essa concentração de renda e patrimônio está praticamente em cinco estados da federação: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraná, agravando ainda mais as desigualdades regionais do país.

O estudo aponta ainda que os contribuintes com rendas acima de 40 salários mínimos representam apenas 2,74% dos declarantes de IR, mas se apropriaram de 30,37% do montante dos rendimentos informados à Receita Federal em 2013. Além disso, dos R$ 623,17 bilhões de rendimentos isentos de Imposto de Renda em 2013, R$ 287,29 bilhões eram de lucros e dividendos recebidos pelos acionistas – se submetidos à alíquota máxima da atual tabela progressiva do Imposto de Renda (27,5%), esses recursos gerariam uma arrecadação tributária extra de R$ 79 bilhões ao Brasil.

As informações tornadas públicas pela Receita Federal, a partir da disponibilização da base de dados “Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas”, contribuem para uma maior transparência sobre a questão tributária no país, que a tempo ocupa lugar na agenda pública das propostas de reformas. Os dados ampliaram um novo olhar sobre a desigualdade social no Brasil e reforçam ainda mais a injustiça tributária no país, pois mesmo o Imposto de Renda, que deveria ser o fiador de um sistema tributário mais justo, acaba contribuindo para maior concentração de renda e riqueza em nosso país.

Baixe aqui o estudo completo (arquivo PDF).

Os dados da Receita Federal são fartos para revelar uma casta de privilegiados no país, com elevados rendimentos e riquezas que não são tributados adequadamente e, muitas vezes, sequer sofrem qualquer incidência de Imposto de Renda.

Os dados divulgados pela Receita Federal confirmam a injustiça no sistema tributário brasileiro, conforme o Inesc havia alertado. Um dos mais graves é o fato de que a tributação sobre a renda no Brasil não alcança todos os rendimentos tributáveis de pessoas físicas. A legislação atual não submete à tabela progressiva do IR os rendimentos de capital e de outras rendas da economia, que são tributados com alíquotas inferiores à do Imposto de Renda incidente sobre a renda do trabalho. Em destaque, a não existência do Imposto de Renda Retido na Fonte sobre os lucros e dividendos, além do instituto legal (mas excêntrico) dos “juros sobre capital pró- prio”, o que permite uma redução da base tributária do IR e da CSLL. Esses rendi- mentos são tributados a 15% de forma exclusiva, não necessitando o beneficiário de fazer qualquer ajuste na Declaração Anual do IR.

Essas modificações beneficiam e privilegiam os mais ricos no Brasil, pois os 71.440 declarantes hiper-ricos, que tinham renda acima de 160 SM, em 2013, praticamente não possuíam rendimentos tributáveis, pois 65,80% de sua renda tinha origem em rendimentos isentos e não tributáveis.

Outro agravante é a perda da progressividade do IR, pois – a partir da faixa de rendimentos de 40 a 80 salários mínimos – o imposto começa a perder a sua progressi- vidade. De forma que os contribuintes com rendimentos acima de 40 salários mínimos passam a pagar proporcionalmente menos IR do que os contribuintes das faixas salariais inferiores.

Com isso, as propostas para a reforma tributária que o Inesc já apresentou na agenda pública brasileira estão na ordem do dia. Neste sentido, é necessário revogar algumas das alterações realizadas na legislação tributária infraconstitucional após 1996, que sepultaram a isonomia tributária no Brasil, com o favorecimento da renda do capital em detrimento da renda do trabalho. Dentre essas mudanças destacam-se: 1) o fim da possibilidade de remunerar com juros o capital próprio das empresas, reduzindo-lhes o Imposto de Renda e a CSLL; e 2) o fim da isenção de IR à distribuição dos lucros e dividendos na remessa de lucros e dividendos ao exterior e nas aplicações financeiras de investidores estrangeiros no Brasil.

Outra medida fundamental seria a implementação do Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF), previsto na Constituição e não regulamentado até hoje. É uma oportunidade para a prática da justiça tributária, por aplicar corretamente o princípio constitucional da capacidade contributiva, “onerando o patrimônio dos mais ricos no país”, conforme afirma Evilásio no estudo, que advoga ainda a introdução da progressividade no Imposto sobre a Transmissão Causa Mortis e Doação de quaisquer Bens ou Direitos (IT-CDM). Outras medidas apontadas como importantes são a tributação maior para bens supérfluos e menor para produtos essenciais para a população.


Uma proposta de reforma tributária no Brasil deveria ser pautada pela retomada dos princípios de equidade, de progressividade e da capacidade contributiva no caminho da justiça fiscal e social, priorizando a redistribuição de renda. As tributações de renda e do patrimônio nunca ocuparam lugar de destaque na agenda nacional e nos projetos de reforma tributária após a Constituição de 1988. Assim, é mais do que oportuna a recuperação dos princípios constitucionais basilares da justiça fiscal (equidade, capacidade contributiva e progressividade).

A tributação é um dos melhores instrumentos de erradicação da pobreza e da redução das desigualdades sociais, que constituem objetivos essenciais da República esculpidos na Constituição Federal de 1988.

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) vem apontando que o sistema tributário brasileiro tem operado no sentido da maior concentração de renda no país. O estudo As implicações do sistema tributário brasileiro nas desigualdades de renda, produzido pelo Inesc em 2014, demonstrou as implicações negativas do sistema tributário brasileiro sobre as desigualdades no país, destacadamente no agravamento das distâncias entre pobres e ricos, mulheres e homens, negros e brancos. A metodologia adotada naquele estudo valeu-se dos micro- dados da PNAD/2011, pois inexistiam dados oficiais que permitissem dimensionar de forma direta o impacto da regressividade dos tributos nas desigualdades de gênero e raça.

Uma das questões inerentes à questão tributária no Brasil é a irrisória tributação do patrimônio: somente 1,40% do PIB, o que equivale a 4,18% da arrecadação tributária realizada em 2011. Nos principais países capitalistas, os tributos sobre o patrimônio representam mais de 10% da arrecadação tributária, como, por exemplo, no Canadá (10%), no Japão (10,3%), na Coreia (11,8%), na Grã-Bretanha (11,9%) e nos EUA (12,15%).

A questão da tributação sobre o patrimônio vem sendo fortemente pautada pelo debate internacional, com a publicação da obra de Thomas Piketty, traduzida em português como “O Capital no Século XXI”.8 Piketty, a partir da análise de dados tributários, demonstra – com vasta evidência empírica – um aumento espetacular da desigualdade de renda das principais economias mundiais. O autor faz um apelo, especialmente, por impostos sobre a riqueza, se possível em es- cala mundial, a fim de restringir o crescente poder da riqueza hereditária.

Leia também:

Quem tem mais renda e patrimônio no Brasil paga menos imposto – e reclama mais

Regras fiscais internacionais continuam nas mãos do clube dos ricos

Perfil da Desigualdade e da Injustiça Tributária

Nota Técnica realizada com base nas informações disponibilizadas pela Secretaria de Receita Federal na base de dados “Grandes Números das Declarações do Imposto de Renda das Pessoas Físicas”. Os dados estão disponíveis para os anos-calendário de 2007 a 2013, que permitem o acesso às declarações realizadas no período de 2008 a 2014. Essas informações foram disponibilizadas em planilhas de dados, o que é um facilitador para a análise dos dados.

O estudo é uma realização do Inesc com apoio da Oxfam Brasil e apoio institucional da Christian Aid e Pão Para o Mundo.

Clique aqui para baixar o estudo completo (arquivo PDF).

Lei modelo de agricultura familiar é aprovada no Parlamento Latino-Americano e Caribenho

Uma nova lei modelo de agricultura familiar, com recomendações e diretrizes para que os países da América Latina e Caribe fortaleçam o setor para garantir segurança alimentar das pessoas, foi aprovada pelo Parlamento Latino-Americano e Caribenho (Parlatino), informou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

O texto da nova lei afirma que a agricultura familiar é chave para “obter a erradicação da fome por sua capacidade de prover alimentos saudáveis e nutritivos para toda a população”.

Segundo a FAO, a nova lei modelo estabelece princípios básicos, definições e obrigações que os Estados nacionais podem utilizar como base para criar ou aperfeiçoar suas leis, políticas e estratégias de agricultura familiar. A lei será enviada pelo Parlatino aos legisladores dos 23 países-membros desse organismo regional, entre eles o Brasil.

O texto aprovado pelo Parlatino destaca que o desenvolvimento da agricultura familiar inclui o uso de conhecimentos, tecnologia e boas práticas que respeitem a cultura, as tradições e os hábitos das comunidades, e contribuam para seu crescimento e desenvolvimento. A nova lei coloca ênfase especial na atenção específica que deve ser dada às pessoas em estado de vulnerabilidade, como mulheres e jovens.

Mais sobre a aprovação dessa nova lei no site da ONU Brasil.

Leia também: FAO lança consulta pública do relatório sobre sistemas alimentares e nutrição

Vamos falar sobre segurança e soberania alimentar e nutricional?

Governo Temer articula o fim do processo de demarcação de terras indígenas

Do site da APIB.

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), as organizações indígenas regionais que a compõem e suas distintas associações de base denunciam e repudiam veementemente para a opinião pública nacional e internacional a macabra decisão do governo ilegítimo de Michel Temer de colocar fim à demarcação das terras indígenas, portanto à existência dos povos indígenas, por meio da edição de um Decreto que estabelece novos procedimentos para o ato de demarcação, em substituição do atual Decreto 1.775/96.

Após inconsistentes, retóricas e absurdas justificativas que desvirtuam e anulam de forma escandalosa o espirito do texto constitucional (Artigos 231 e 232), das leis infraconstitucionais e tratados internacionais assinados pelo Brasil – Convenção 169 da OIT e Declaração da ONU sobre os direitos dos povos indígenas – a Minuta de Decreto, vazada por meios impressos de grande circulação, propõe-se claramente a procrastinar ad infinitum, senão enterrar de vez, o direito territorial indígena e a demarcação das terras indígenas, assegurando a prevalência de artimanhas que empurrarão os povos indígenas à remoção, reassentamento ou expulsão, disfarçadas de legalidade, de seus territórios. Tudo com o objetivo de atender vergonhosamente os interesses da bancada ruralista, do agronegócio, a implantação de empreendimentos de infraestrutura e o esbulho e usurpação dos bens naturais preservados milenarmente pelos povos indígenas, numa total negação de seu direito ao usufruto exclusivo previsto na Carta Magna.

A Minuta, reúne para isso, num só instrumento, todas as atrocidades contra o direito territorial dos povos indígenas contidas na PEC 215, nas condicionantes estabelecidas pelo STF estritamente para a Terra Indígena Raposa Serra do Sol e ressuscitadas pela Portaria 303 da AGU, bem como na equivocada tese do marco temporal adotada pela segunda turma da Suprema Corte a respeito deste direito originário fundamental.

A elaboração de um novo Decreto para a Demarcação das terras indígenas soma-se à já denunciada proposta de Decreto de reestruturação da Funai, que reduzindo orçamento e quadro de servidores, no contexto da PEC 55, e o desmonte das instituições e políticas públicas, vem de encontro com os propósitos da bancada ruralista que, por meio de uma CPI, busca desqualificar e fragilizar o papel do órgão indigenista, desmoralizar os povos indígenas e seus aliados, e impedir também a continuação das demarcações.

A APIB entende que contrariamente aos propósitos alegados de que com este Decreto de novos procedimentos para a demarcação estarão sendo superados os conflitos que envolvem povos indígenas e invasores de seus territórios, o  governo Temer está nada mais do que decretando o agravamento dos conflitos, da violência, da discriminação, do racismo e da criminalização contra os povos indígenas, secularmente  privados de seus direitos mais sagrados à vida, à dignidade, a uma identidade cultural e ao espaço físico e imaterial onde, mesmo com as adversidades, têm resistido secularmente enquanto povos diferenciados.

Pelo visto, em nada adiantam para esse governo as instâncias e mecanismos internacionais de observação e verificação dos direitos humanos, em especial dos direitos dos povos indígenas: a relatoria especial para povos indígenas e o Conselho de Direitos Humanos da ONU, entre outros, que tem alertado para a grave tendência em curso de etnocídio dos povos originários do Brasil.

A APIB e todos os povos e comunidades, organizações e associações que a compõem reafirmam que continuam em pé de luta, e resistirão, até as últimas consequências, contra quaisquer retrocessos em seus direitos que venham a ser propostos ou adotados pelos distintos poderes do Estado Brasileiro.

Pelo direito de viver!

Brasília – DF, 13 de dezembro de 2016.

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil – APIB

Mobilização Nacional Indígena

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