Novo ‘Conselhão’ tem representante do Inesc, centrais sindicais e ator Wagner Moura

Publicado em O Globo.

O governo deve fechar nesta quinta-feira a lista dos 90 integrantes do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o Conselhão, que terá a primeira reunião desde 2014 no próximo dia 28 de janeiro. Entre os nomes confirmados está o do ator Wagner Moura, em alta devido ao sucesso da série “Narcos”, um dos 25 integrantes da sociedade civil e que participará por ser embaixador da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e milita contra o trabalho escravo. O escritor Fernando Morais também deverá integrar o conselho.

Além da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, participarão 45 empresários, 20 representantes dos trabalhadores e 25 integrantes da sociedade civil. Entre os empresários, já estão confirmados Jorge Gerdau, que será reconduzido ao posto, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, o presidente da Embraer, Frederico Curado, Roberto Setúbal, presidente do Itaú Unibanco e a empresária Luiza Trajano, da Magazine Luiza.

As centrais sindicais estarão representadas em peso no Conselhão. Entre os nomes confirmados estão o do presidente da CUT, Vagner Freitas, Miguel Torres, da Força Sindical, Alberto Ercílio Broch, da Contag, e Creuza Oliveira, da Federação Nacional das TrabalhadorasDomésticas.

As reuniões do conselho funcionam por pauta. O assunto que abrirá o primeiro encontro do Conselhão será a discussão das estratégias para a retomada do crescimento com controle da inflação, considerado um grande “dilema” por interlocutores do governo.

Da sociedade civil, também estão confirmados os nomes do neurologista Miguel Ângelo Nicolelis, da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, e de José Antonio Moroni, membro do colegiado de gestão do Inesc. Entre os representantes dos trabalhadores, também vão compor o conselho Antônio Neto, do CSB, e Ricardo Patah, presidente da UGT.

Sociedade civil debate Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU no Fórum Social

Começou hoje, em Porto Alegre, a programação das atividades autogestionadas do Fórum Social Temático 2016, evento que marca os 15 anos do Fórum Social Mundial e antecede a edição deste ano do Fórum, marcada para agosto em Montreal, no Canadá.

Uma das mesas de debate realizadas foi sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), conjunto de políticas multisetoriais que pretendem enfrentar os desafios que ainda temos pela frente, como a pobreza e os atuais modelos de desenvolvimento. O Inesc participou desta mesa com Iara Pietricovski.

Para Iara, o maior desafio é constituir uma sociedade planetária capaz de enfrentar os desafios de construção de um novo modelo. “Estamos falando em crise e eu pergunto: que crise? Para quem ela se realiza? Estamos vivendo um processo de aprofundamento do sistema capitalista em forma de comprometimento da natureza. Ela passou a ser mercadoria. A Conferência de Clima é expressão disso. Os ODS também”, defende.

Iara tem ressalvas, no entanto, à proposta das Nações Unidas. “Não estamos sendo capazes de construir as novas utopias necessárias. Os ODS devem ser vistos como uma agenda de participação, pois é importante, mas não pode ser a nossa agenda.”

O Inesc participa de outros debates no Fórum Social, veja quais.

Leia mais sobre o debate realizado na mesa “Agenda Pós 2015 – Governança, Implementação e Monitoramento”, promovida pela Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong), na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em parceria com o Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030.

O Fórum Social Temático 2016 é um evento que marca os quinze anos do Fórum Social Mundial (FSM) e antecede sua próxima edição, que acontecerá em Montreal, no Canadá, entre 9 e 14 de agosto deste ano.

Leia também:

Carta pede atenção da ONU para violações de direitos humanos por grupos empresariais no Brasil

Arrancada de candidato socialista nos EUA revela caminho para a esquerda

Publicado por Outras Palavras.

Por Cauê Seignemartin Ameni

Diminui a cada dia, nos EUA, a distância que separava a candidata oligárquica do Partido Democrata à Casa Branca, Hillary Clinton, do outsider à sua esquerda, o senador Bernie Sanders. O próprio New York Times reconhece: em um mês, Hillary viu sua vantagem de 20 pontos percentuais, entre os membros do partido aptos a votar nas eleições primárias, derreter para 7 pontos. Outras sondagens já mostram uma virada na primárias de dois estados importantes. Em Iowa, onde começa a disputa (em 1º/2) e New Hampshire (9/2), Sanders está à frente com 5 pontos de vantagem. Sua liderança concentra-se entre os candidatos mais jovens, onde tem o dobro de preferência. Quais as razões? A esquerda brasileira teria algo a aprender com elas?

A primeira grande barreira que Sanders parece saber enfrentar é a do preconceito. Para frear o ascensão do candidato, seus adversários apostam no desgaste da palavra que o senador emprega para definir a si mesmo: “socialista”. Contudo, Sanders não se presta ao papel de espantalho, analisa Robert Reich, professor de Políticas Públicas da Universidade de Berkeley e ex-ministro do Trabalho (no governo de Bill Clinto…). Segundo ele, as pessoas começaram a entender que o senador não é o socialista retratado nas caricaturas da Fox News, mas alguém semelhante a Franklin Roosevelt, que tirou os EUA da Grande Depressão, na década de 1930.

“Há um século, Roosevelt quebrou a Standard Oil porque ela representava um perigo à economia dos EUA. Hoje, os bancos de Wall Street representam um perigo ainda maior, diz Reich. Refere-se a uma proposta de Sanders, pretende restabelecer a lei rooseveltiana Glass-Steagall, revogada em 1999 pelo lobby de Wall Street. A lei tem dois objetivos: 1) combater a cartelização bancária; e 2) impedir a especulação desenfreada com ativos financeiros. Joseph Stiglitz, Nobel de Econômica, e Nouriel Roubini, o economista que previu a crise de 2008, concordam com a reforma em Wall Street proposta pelo senador. “O plano mais modesto de Hillay Clinton é inadequado” conclui Reich.

O colapso financeiro de 2008, causado por Wall Street, parece não ter promovido apenas instabilidade econômica. Também abriu as portas para o que o sociólogo Immanuel Wallerstein chama de “o colapso do centro”, em muitas “democracias” ocidentais. As pesquisas norte-americanas revelam um cenário eleitoral semelhante ao registrado nas urnas espanholas, portuguesas e gregas, onde parte da esquerda conseguiu se reinventar e transformar a revolta dos 99% em novas esperanças.

Como na Europa, há dois grandes desafios. O primeiro é formular propostas mais ousadas e atraentes que os pré-candidatos da nova direita. Nos EUA, são hoje mais carismáticos e nacionalistas, gente como o bilionário Donald Trump e pelo religioso Ted Cruz. O segundo é superar velha esquerda, insossa porém poderosa, representada por Hillary Clinton.

Aparentemente, Sanders progride. Não decola aprenas nas pesquisas eleitorais, mas também nos sinais de um engajamento social massivo. O sendaor atingiu, há dias, nova marca história de doações individuais: 2 milhões de apoiadores. Bateu o recorde ao dobrar o inédito desempenho de Obama em 2008. Nos últimos três meses, angariou US$ 33 milhões para sua campanha, apenas US$ 4 milhões a menos que Hillary — que aceitou doações de Wall Street e de lobistas das grandes redes de prisões privadas. Na soma total Sanders continua em desvantagem: obteve U$ 73 milhões, enquanto Clinton angariou US$ 112 milhões.

Do lado do Partido Republicano, a maior dificuldade dos pré-candidatos tem sido propor saídas para estancar o aumento da pobreza, segundo aponta Eduardo Porter no New York Times. Entre os países da OCDE, os EUA figuram entre as piores colocações quando o assunto é desigualdade de renda e pobreza. Estão atrás até mesmo dos estigmatizados “PIGS” da Europa (Portugal, Itália, Grécia e Espanha), e à frente apenas do México. Porter mostra como o plano de mais austeridade do histriônico bilionário Donald Trump e Ted Cruz, ligado ao movimento de ultradireitista Tea Party e ex-assessor de George W. Bush, só aprofundariam ainda mais a crise no país. E, para azar dos dois, aliados do 1% da elite financeira, 63% dos norte-americanos acham a questão da desigualdade muito importante, mostra pesquisa recente do Gallup

Por isso, mesmo tendo uma cobertura midiática 23 vezes menor que Trump, o socialista Bernie Sanders tem um potencial de vitória crescente, com uma vantagem de 13% nas eleições gerais sobre a principal liderança republicana; e uma rejeição nacional menor que Clinton (59% dos americanos a consideram “desonesta e nada confiável”). Isso explica porque Sanders foi capaz de reunir multidões – mais de 100 mil pessoas, na soma de seus últimos comícios — além de uma onda de seguidores nas redes sociais. Tornou-se, de longe, a maior atração na campanha eleitoral. Enquanto os ventos sopram à direita nos países afetados recentemente pela crise, como na América Latina, parecem empurrar à esquerda nos países que hoje lutam contra a recessão imposta após a crise.

A quem serve o Banco Central?

Nos próximos dias, os diretores do Banco Central do Brasil se reunirão para decidir sobre a taxa de juros SELIC. Diante da fragilidade da economia brasileira, essa reunião é particularmente importante e deixará claro a quem o BC serve: à população brasileira ou ao mercado financeiro.

Como a própria instituição reconhece em suas publicações, nos últimos meses houve contração da demanda agregada e aumento no desemprego no Brasil. Uma nova rodada de aumento de taxa de juros significa que o Banco Central almeja abertamente uma contração maior da demanda, mais desemprego e mais redução do salário real médio.

O patamar elevado das taxas de juros em 2014 contribuiu para a desaceleração da economia, mas o novo ciclo de elevação de juros iniciado em outubro desse ano jogou o Brasil, em 2015, em uma recessão que ainda não deu mostras de reversão. Ao mesmo tempo, a taxa de inflação aumentou por causa de eventos únicos como a desvalorização cambial e o reajuste abrupto de preços administrados, cujo impacto não vai se repetir, muito menos sobre o núcleo da inflação brasileira.

Não há qualquer pressão de demanda excessiva que exija contenção com elevações da taxa de juros. Pelo contrário, experimentamos a maior recessão desde a Grande Depressão de 1929, podendo tornar-se a mais profunda da história republicana. O aumento acelerado do desemprego inviabiliza qualquer recuperação do salário real médio, que cai há vários meses. Sob qual pretexto o BC pretende reduzir ainda mais o nível de emprego e salários, assim como os lucros de empresas especializadas na produção de bens e serviços?

Os beneficiários exclusivos do aumento de juros são os bancos e investidores financeiros, curiosamente o único grupo cujas expectativas de inflação o Banco Central se preocupa em consultar. Como não há qualquer excesso de demanda que o aumento dos juros possa conter, a determinação dos juros SELIC deixa de servir para controlar a inflação e se transforma em um instrumento para preservar juros reais elevados para os portadores de títulos financeiros.

Isso nada contribui para reduzir a inflação, mas é um poderoso mecanismo de transferência de renda da parcela mais pobre e mais produtiva para a parcela mais rica e menos produtiva da população.

A economia brasileira e as finanças públicas não suportam mais financiar a bolsa-rentista que o Banco Central insiste em oferecer. Em 2015, os juros nominais devidos pelo setor público devem alcançar cerca de R$ 500 bilhões (meio trilhão de reais!), tendo registrado pouco mais de R$ 300 bilhões em 2014. Como exemplo desta situação vemos um corte brutal nas áreas sociais no orçamento da União.

O que pretende o Banco Central: produzir a maior recessão da história brasileira e uma trajetória explosiva da dívida pública, gerando mais desvalorização cambial e mais pressão inflacionária? A quem isso pode interessar?

É inadiável repensar o mandato do Banco Central e a porta giratória entre sua diretoria e o mercado financeiro.

Diante disso, o Fórum 21 e a Frente Brasil Popular vem a público denunciar a gravidade da situação econômica brasileira e a irresponsabilidade da política monetária do Banco Central do Brasil, reivindicando a redução urgente da taxa de juros SELIC.

Inesc vai a Porto Alegre participar do Fórum Social Temático 2016

A semana está movimentada em Porto Alegre (RS), com a realização do Fórum Social Temático 2016, evento preparatório ao Fórum Social Mundial que ocorrerá entre os dias 9 e 14 de agosto em Montreal, Canadá. De amanhã (terça-feira, 19/1) até sexta-feira (23/1), uma série de atividades reunirão ativistas, acadêmicos, pesquisadores, analistas e representantes de redes e organizações da sociedade civil para fazer um balanço das lutas anticapitalistas dos últimos anos e discutir os desafios das classes sociais populares.

A programação do Fórum Social Temático 2016 inclui atividades paralelas como o Fórum Social da Educação Popular (começou ontem 17/1 e termina amanhã, 19/1) e Atividades Autogestionadas, que vão até sábado (23/1). Veja programação completa.

O Inesc participará de diversas atividades no Fórum Social Temático 2016. José Antonio Moroni, do Colegiado de Gestão do Inesc, participou ontem (17/1) de mesa de debate sobre univeridade de educação popular e amanhã (19/1) estará em outra, para discutir o saber popular na produção de conhecimento – ambas atividades do Fórum Social Mundial da Educação Popular.

Na próxima quinta-feira (21/1), as assessoras políticas do Inesc Alessandra Cardoso e Grazielle David participarão de oficinas que discutirão temas como reforma tributária e a tributação do setor extrativista no Brasil no evento “Justiça Fiscal para um Mundo Melhor”, que será realizado no Sindicato dos Petroleiros de Porto Alegre. Grazielle participa de duas mesas: “Reforma Tributária com Justiça Fiscal”, na quinta-feira (21/1), a partir das 8h30; e “Transnacionais, Paguem o Justo”, na sexta-feira (22/1), também a partir das 8h30. Já Alessandra Cardoso discute “Tributação no Setor Extrativo” na quinta-feira (21/1), a partir das 8h30.

Outra assessora política do Inesc a participar do Fórum Social Temático 2016 é Cleo Manhas, que estará em mesa da atividade “Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis e o monitoramento da gestão pública: qual a relação da incidência no ciclo orçamentário e no plano de metas com o Direito à Cidade?” no dia 22/1, a partir das 11h30, na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre. Também integrarão a mesa do evento representantes da Rede Nossa São Paulo e do Movimento Nossa BH.

Cleo Manhas apresentará durante o evento o Orçamento Temático da Mobilidade Urbana do DF, lançado pelo Inesc em setembro de 2015.

Orçamento Temático da Mobilidade Urbana

O Orçamento Temático da Mobilidade Urbana é uma iniciativa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) em parceria com o Movimento Nossa Brasília, e seu objetivo é monitorar o orçamento do Governo do Distrito Federal relativo às políticas públicas de mobilidade urbana no DF, visando à promoção de maior transparência e a efetiva implementação do direito à mobilidade e do direito à cidade, com sustentabilidade ambiental e equidade.

Acesso o Orçamento Temático da Mobilidade Urbana.

Nossa Brasília apresenta Orçamento Temático de Mobilidade no Fórum Social Temático 2016

Qual a relação da incidência no ciclo orçamentário e no plano de metas com o direito à cidade? Integrantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis vão responder a essa pergunta compartilhando suas experiências durante evento na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre. A atividade, marcada para sexta-feira (22/1), faz parte da programação das atividades autogestionadas do Fórum Social Temático 2016, que começa amanhã (terça-feira, 19 de janeiro) e vai até o próximo sábado (23/1).

O Fórum Social Temático 2016 é uma atividade preparatória do Fórum Social Mundial 2016 que ocorrerá entre os dias 9 e 14 de agosto em Montreal, no Canadá.

Cleo Manhas, do Movimento Nossa Brasília e assessora política do Inesc, apresentará o Orçamento Temático da Mobilidade Urbana, lançado em setembro de 2015 para monitorar o orçamento do governo do Distrito Federal relativo às políticas públicas de mobilidade urbana no DF.

Também participarão representantes da Rede Nossa São Paulo, que contribuiu para a aprovação, em 2008, do projeto de emenda à Lei Orgânica que obriga prefeitos a divulgar plano de governo detalhado até 90 depois de assumirem seus cargos, e prestar contas à população a cada seis meses. A Lei do Plano de Metas já foi aprovada em 41 cidades brasileiras.

Já o Movimento Nossa Belo Horizonte conseguiu com que a Câmara Municipal de Belo Horizonte realizasse audiências públicas para discutir o Plano Plurianual Governamental com a sociedade civil, além de realizar oficinas de capacitação para que a participação social fosse mais efetiva.

Confira a programação completa e mais detalhes sobre esse evento na página do Movimento Nossa Brasília.

Nossa Brasília apresenta Orçamento Temático de Mobilidade no Fórum Social Temático 2016

Qual a relação da incidência no ciclo orçamentário e no plano de metas com o direito à cidade? Integrantes da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis vão responder a essa pergunta compartilhando suas experiências durante evento na Câmara dos Vereadores de Porto Alegre. A atividade, marcada para sexta-feira (22/1), faz parte da programação das atividades autogestionadas do Fórum Social Temático 2016, que começa amanhã (terça-feira, 19 de janeiro) e vai até o próximo sábado (23/1).

O Fórum Social Temático 2016 é uma atividade preparatória do Fórum Social Mundial 2016 que ocorrerá entre os dias 9 e 14 de agosto em Montreal, no Canadá.

Cleo Manhas, do Movimento Nossa Brasília e assessora política do Inesc, apresentará o Orçamento Temático da Mobilidade Urbana, lançado em setembro de 2015 para monitorar o orçamento do governo do Distrito Federal relativo às políticas públicas de mobilidade urbana no DF.

Também participarão representantes da Rede Nossa São Paulo, que contribuiu para a aprovação, em 2008, do projeto de emenda à Lei Orgânica que obriga prefeitos a divulgar plano de governo detalhado até 90 depois de assumirem seus cargos, e prestar contas à população a cada seis meses. A Lei do Plano de Metas já foi aprovada em 41 cidades brasileiras.

Já o Movimento Nossa Belo Horizonte conseguiu com que a Câmara Municipal de Belo Horizonte realizasse audiências públicas para discutir o Plano Plurianual Governamental com a sociedade civil, além de realizar oficinas de capacitação para que a participação social fosse mais efetiva.

Confira a programação completa e mais detalhes sobre esse evento na página do Movimento Nossa Brasília.

Em entrevista, sociólogo português Boaventura de Sousa Santos diz que democratizar vai além do sistema político

Em entrevista concecida ao jornal Público, de Portugal, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos afirma que existe hoje no mundo uma “forte pulsão anti-democrática” e que democratizar vai muito além do Estado e dos sistemas políticos. Segundo ele, é preciso “fazer pressão sobre os partidos políticos, os movimentos sociais, os governos e a administração pública e da justiça” para garantir o máximo de liberdade e condições de igualdade.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Qual o papel dos cidadãos e dos seus movimentos na procura de uma boa governança?

A boa governança, no sentido utópico, está nos antípodas da concepção dominante de boa governança, a qual, no meu entender, tem um carácter distópico (aquilo que uma sociedade não deve desejar). Na tradição do pensamento liberal, governança era sinónimo de governo e este, enquanto gestão do bem comum, estava centrado no Estado. Obviamente, reconheciam-se muitas outras fontes e formas de governo parcial ou sectorial na sociedade, da família ao mercado, da sociedade civil à esfera pública. A partir dos anos noventa do século passado, com a emergência e consolidação do pensamento neoliberal, passou a entender-se que a gestão do bem comum não competia apenas ao Estado mas ao conjunto da sociedade, a qual devia organizar-se para esse efeito. Governança emergiu então como um conceito mais abrangente que o de governo. O conceito de boa governança sintetiza a ideologia do neoliberalismo: uma hostilidade geral à presença do Estado na regulação social e a sua substituição por mecanismos não estatais, nomeadamente o mercado; e a preferência pela regulação social nacional e internacional por via de mecanismos não coercitivos, voluntariamente assumidos (códigos de conduta, boas práticas, soft law). Esta ideia  surgiu em parte para que os países doadores e as agências financeiras internacionais (Banco Mundial e FMI) pudessem ser mais normativos e impor aos países necessitados de ajuda internacional  as chamadas condicionalidades, as políticas de ajustamento estrutural, de que Portugal, sob a troika, foi uma das mais recentes vítimas.

Como acontece em geral com os conceitos que circulam nas relações internacionais, a boa governança é uma ideia ambígua. Está repleta de normativas com as quais não podemos deixar de estar de acordo: transparência, prestação de contas, democracia, primado do direito e sistema de justiça independente e eficiente, liberdade de informação e de expressão. O problema reside em que estas normativas são concebidas como parte de um modelo político muito mais amplo que é imposto independente do que as populações dos países visados decidam por via democrática. Essas medidas incluem a privatização de serviços públicos essenciais (educação, saúde, segurança social, transporte público, água), a redução da despesa pública, sobretudo no domínio das políticas sociais, o financiamento de Estado por via de empréstimos e não de impostos progressivos. Trata-se da imposição do modelo de democracia liberal, contra o modelo de social-democracia que dominou na Europa desde 1945. E tudo isto é imposto por instituições, como o Banco Mundial e o FMI, em cujos estatutos se estabelece que são organizações apolíticas.

A verdadeira utopia do nosso tempo consiste em pensar e pôr em prática outras formas de governação da vida pública e privada que não se centrem na contraposição entre Estado e sociedade e antes na contraposição entre interesses, nos conflitos que eles geram e no modo de os resolver. E para salientar que a concepção que proponho não tem nada a ver com a que domina hoje em dia, falarei de boa governação em vez de boa governança. Respondo ao responder às perguntas seguintes.

A boa governança que concretize uma nova utopia deverá manter como eixo a democracia? Isto quando, a nível mundial, se vive um confronto entre autocracia e democracia, e a Europa se confronta com apelos securitários.

A boa governação é a ideia de governo público e privado radicalmente democrático. Democracia é todo o processo social, político e cultural por via do qual relações desiguais de poder são gradualmente substituídas por relações de autoridade partilhada. Democratizar é assim uma tarefa que está muito para além do Estado e do sistema político. Distingo cinco campos em que a democratização deverá ter lugar: o campo doméstico (relações entre homem e mulher, entre parceiros, entre filhos e pais), o campo da comunidade (relações de vizinhança, de solidariedade, da acção social e cultural), o campo da produção (relações no trabalho produtivo e na organização das empresas), o campo da  cidadania (relações no espaço público e no sistema político, dos partidos aos movimentos sociais, da administração pública às universidades, escolas, centros de investigação) e o campo mundial (relações entre países e entre estes e as organizações internacionais). Democratizar é um processo sem fim. À medida que esse processo avançar, os três grandes modos de dominação (relações desiguais de poder) contemporâneos — capitalismo, colonialismo e patriarcado — irão desaparecendo. Qualquer deles teve historicamente um princípio e é natural que tenha um fim. Democratizar inclui assim as ideias de desmercantilizar a vida e as relações sociais (uma economia de mercado é desejável, mas uma sociedade de mercado — em que tudo se compra e tudo se vende — é moralmente repugnante), descolonizar as relações sociais (lutar contra o racismo, a limpeza étnica, a islamofobia e a xenofobia) e despatriarcalizar (pondo termo ao sexismo e à homofobia).

Perante este vasto horizonte utópico há que ter em conta três ideias. A primeira é que a democracia não pode ser restringida a um modelo único, seja ele liberal ou não. Cada campo social tem seus modos próprios de democratizar (votação, consenso, rotação, etc.) e mesmo em cada um pode haver variação. Para além disso, as diferentes culturas obrigam a contextualizar interculturalmente a ideia de democracia. Para acomodar as culturas indígenas no país, a Constituição da Bolívia de 2009 consagra três tipos de democracia: representativa, participativa e comunitária. A segunda ideia é que actualmente, mesmo no campo em que se investiu mais na democratização (o campo da cidadania), vivemos um tempo com forte pulsão anti-democrática. Vivemos hoje em um sistema de democracia de baixa intensidade em que as classes populares estão cada vez mais à mercê da filantropia e em que o cidadão comum (e não apenas os imigrantes ou os cidadãos com outra cor de pele) é vigiado e tratado como se fosse “naturalmente” suspeito. Vivemos em sociedades politicamente democráticas mas socialmente fascistas. Não é só a deriva securitária (em si mesma grave, se conduzir à normalização do Estado de emergência ou de excepção); é tambem a erosão dos bens e serviços públicos e o facto de a democracia representativa estar a ser sequestrada pelo poder do dinheiro e pela corrupção endémica. Para a fortalecer é urgente transformar o sistema político de modo a que a democracia representativa seja complementada a todos os níveis pela democracia participativa. A terceira ideia é que a democracia enquanto horizonte utópico é uma tarefa urgente aqui e agora. As utopias modernas (a começar pela de Thomas More) nunca foram democráticas e foram sempre imaginadas para um não-tempo e não-espaço. A utopia que advogo é realista e concreta. Traduz-se em iniciativas concretas que visam diminuir aqui e agora a desigualdade de poder nas mais diversas relações sociais. Não se envergonha de dar pequenos passos desde que eles sejam conquistados vencendo a resistência de autoritarismos instalados. O seu horizonte é uma lente especial que tanto permite ver e querer ao longe como ver e actuar ao perto.

Qual o papel nessa nova utopia do binómio Liberdade-Igualdade?

Pelo menos a partir de Kant é possível distinguir entre liberdade negativa e liberdade positiva, uma distinção a que Isaiah Berlin dedicou importante trabalho. A liberdade negativa é a liberdade para agir sem obstáculos ou constrangimentos; a liberdade positiva é a capacidade de cada um agir de modo a ter controlo sobre a sua vida e atingir os seus objectivos. Ao contrário do pensamento liberal, não vejo nenhuma incompatibilidade entre os dois conceitos de liberdade. Vejo, pelo contrário, complementaridade. Mas para que esta seja possivel é necessário contemplar duas relações complementares entre liberdade e igualdade. A liberdade negativa pressupõe a igualdade formal, a igualdade de todos perante a lei, para o que são fundamentais os direitos cívicos e políticos. A liberdade positiva pressupõe a existência de condições que a permitam exercer, e para isso é necessária uma certa medida de igualdade material  (ausência de grande desigualdade social e de discriminação social e cultural). Nos últimos cinquenta anos essa medida foi garantida pelos direitos económicos, sociais e culturais (direito laboral; saúde, educação e segurança social públicas; reconhecimento da diversidade cultural). O reconhecimento e a concretização destes direitos só é possivel através de uma forte intervenção de Estado, o Estado social de direito.

E a luta pelos Direitos Humanos?

Os direitos humanos (DH) têm duas faces: a face distópica e a face utópica. A face distópica é dominante, é a que emerge do discurso dominante das agências internacionais sobre DH. De facto, a esmagadora maioria da população do mundo não é sujeito de direitos humanos; é objecto do discurso de DH das agências internacionais e das ONG que lhes estão próximas. É uma narrativa que se contenta em mencionar as consequências das violações dos DH sem nunca questionar as causas. A face utópica dos DH é a que emerge das lutas sociais pela dignidade, pelo direito à saúde, à educação e à segurança social, pelo direito ao trabalho com direitos, pelo direito das mulheres ao seu corpo, pelo direito à terra e à água, pelos direitos colectivos dos povos indígenas e camponeses da África, da Ásia e das Américas ameaçados de expulsão das suas terras e da contaminação das suas águas por parte empresas mineiras, de agricultura industrial e de exploração de madeira. Muitos deste DH não são reconhecidos pela face distópica dos DH. Em sua face utópica, os DH têm duas características. Por um lado,  não se limitam às relações entre humanos; incluem também as relações entre os humanos e a natureza. O art. 71 da Constituição do Equador de 2008 consagra os direitos da natureza. É a utopia em forma constitucional. Por outro lado, os DH não se imaginam sem os correspondentes deveres humanos e, nessa medida, assumem um carácter intercultural, uma vez que a cultura ocidental moderna é a única que dá total prevalência aos direitos humanos sobre os deveres humanos. Este desequilíbrio de DH acaba de ser tragicamente demonstrado na Cimeira do Clima que se realizou recentemente em Paris.

Qual o papel da justiça nessa boa governança?

O papel fundamental da justiça é assumir plenamente a sua quota de responsabilidade na concretização da liberdade tanto negativa como positiva e das condições de igualdade que elas pressupõem. Para isso não basta ser gratuita, livre, independente; é necessário que os magistrados sejam treinados em faculdades de direito a criar no futuro onde a técnica jurídica seja uma arma democrática e não, como agora, uma arma burocrática, onde a liberdade e a igualdade, os direitos e os deveres sejam o núcleo central do plano de estudos.

Qual é a sua utopia?

A minha utopia bem concreta é que os leitores do Público comecem a discutir estas ideias e todas as outras que sejam suscitadas por elas e que, a partir dessa discussão, se organizem em Círculos Políticos do Viver Bem a que Todas e Todos Temos Direito para, a partir deles, fazer pressão sobre os partidos políticos, os movimentos sociais, os governos e a administração pública e da justiça para que garantam o máximo possível de liberdade negativa e positiva e as condiçoes de igualdade que pressupõem.

Quem paga mais impostos no Brasil, o cidadão comum ou uma grande mineradora?

A pergunta do título desta publicação poderia ter uma resposta simples e direta. O problema é que ninguém sabe ao certo quanto as grandes mineradoras em atuação no Brasil realmente pagam em tributos. É tanta isenção, desconto e outras estripulias tributárias que o real valor do que elas pagam para explorar as abundantes riquezas minerais brasileiras se torna um grande mistério.

Ao longo do ano passado, o Inesc publicou três notas técnicas que jogam alguma luz nesse cipoal tributário envolvendo algumas das maiores empresas do mundo, como a Vale e a BHP Billiton – responsáveis pela Samarco, empresa que teve barragens rompidas em Bento Rodrigues, distrito de Mariana (MG), causando uma das maiores tragédias socioambientais do país. Os estudos revelam, entre outras coisas, que a região amazônica é hoje um paraíso extrativista e tributários para grandes multinacionais da mineração, que a atividade dessas empresas no Brasil fragiliza a política pública de saúde, e que o regime tributário aplicado para as atividades de mineração no Brasil é uma das mais injustas do mundo.

Assista ao Quiz Show e descubra como estamos sendo pilhado há anos, com graves prejuízos ao país:

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Incentivos Fiscais na Amazônia: o que está em jogo?

Consulta pública define prioridades de Plano de Ação para tornar governo mais transparente

Está em construção o 3º Plano de Ação da Parceria para Governo Aberto (OGP) no Brasil, com consulta pública aberta até o dia 11 de fevereiro para definir os temas prioritários do documento que indica o que deve ser feito para tornar o governo mais transparente, participativo e responsivo à sociedade. A conclusão do plano, que terá duração de dois anos, está prevista para julho de 2016.

A metodologia do Plano de Ação da Parceria para Governo Aberto prevê a instituição de cinco temas que devem ser debatidos em oficinas especializadas, compostas por representantes do governo e da sociedade civil. Dessas oficinas saem os compromissos concretos do país para se tornar mais transparente.

Saiba como participar.

OGP lança programa piloto para governos subnacionais

A Parceria para Governo Aberto (OGP) está lançando um novo programa piloto para envolver de forma proativa governos subnacionais na iniciativa. O objetivo é buscar a participação de governos subnacionais com comprometimento político, assim como parceiros da sociedade civil engajados no tema para avançar nas reformas de governo aberto.

Veja os objetivos principais do programa.

Momentos finais de uma negociação que durou 21 anos – ainda assim sem solução

Quase finda a última semana de negociação da COP 21, em Paris. Do ponto de vista da negociação oficial, a novidade foi o aumento da oferta de dobrar o financiamento para adaptação por parte dos norte-americanos, anunciada pelo Secretário de Estado dos EUA, John Kerry, expressando um desejo de ver um acordo em Paris. Uma das questões nestas negociações é manter os Estados Unidos no barco junto com todos os outros países. Esse jogo acaba que fazendo com que eles definam as regras e os limites do jogo. E assim será, uma vez que, no final da semana, aparecem oferecendo mais dinheiro e demonstrando uma aparente flexibilidade, acabando por dar o tom e os termos do acordo. É claro que o papel da Europa também conta, em especial os chamados países guarda-chuvas, do qual os próprios norte-americanos fazem parte, além da Nova Zelândia, Austrália e Noruega, entre outros.

O novo rascunho apresentado ontem (quarta-feira, dia 9 de dezembro) no meio da tarde, foi reduzido para 29 páginas, e ainda contém muitos temas não resolvidos em torno de perdas e danos, diferenciação, finanças e, evidentemente, a ambição desta negociação realizada na COP 21. É importante dizer que o Brasil vem tendo um papel proeminente nas negociações, sendo responsável por um dos grupos de trabalho que lidam com esses temas contenciosos. Temas que nos eram caros, como os relativos aos direitos humanos, estão mais no preâmbulo, sem força – e a inclusão de gênero, no artigo 2, foi cortado desta última versão.

A falsa polêmica – se o texto acabará colocando a meta ‘abaixo de 1,5º C’ ou ‘abaixo de 2º C’ – continua na negociação. A questão da temperatura é muito séria e será definida, na verdade, por uma ruptura rápida com esse modelo de desenvolvimento hegemônico. Pelo que parece, ninguém da parte dos governos, e muito menos das corporações ativas na COP 21, estão dispostos a romper. Então, falar se será um aumento de somente 1,5ºC ou menos de 2ºC parece ridículo para qualquer ser humano comum.

A continuidade das negociações a partir de hoje se dará em um formato de mesa redonda com todos os ministros juntos, como foi feito em Durban, em 2011 – a chamada Indaba -, além da presença de outros poucos negociadores. Segundo a imprensa, o clima das negociações é de insatisfação, mas não de rejeição ao acordo.

Do outro lado da cidade de Paris, no Centquatre (104) um fantástico centro cultural dentro de um bairro de migrantes, foi realizada a Assembleia dos Movimentos Sociais, na chamada Zona de Ação Climática (ZAC). Com uma grande presença da Via Campesina, que fez atos bem sucedidos de desobediência civil em frente à empresa Danone, colocando em seus muros uma faixa vermelha, as falas e histórias nos contavam das lutas nos territórios contra a invasão de suas terras, as situações de impacto ambiental produzido por ações de governo ou de empresas e grandes corporações. A palavra de ordem continua sendo para manter a luta em pé pelos direitos, pela dignidade de vida, por um ambiente saudável e pela soberania alimentar. Foi um momento bonito em mágico para todos que ali estavam.

No lado da sociedade civil, segue a conversa sobre como se dará a continuidade do movimento. Muitos encontros vem sendo realizados por redes, organizações da sociedade civil e movimentos sociais, no sentido de dar continuidade às lutas nos próximos anos. Grupos ligados a comércio e clima, sobre a captura corporativa e soberania alimentar vão construindo sua agenda e buscando convergência. Se isso vai se transformar em um movimento global ainda é uma incógnita.

Por fim, os planos de ações públicas para o dia 12 de dezembro seguem firme, com ações que ocorrerão em diferentes momentos e em diferentes partes da capital francesa. No entanto, a intenção de realizar um momento comum, para todos juntos apresentarem a última palavra, parece estar inviabilizada. Não há consenso sobre isso e também não há palavra de ordem comum para uma última palavra. O melhor é seguir marchando junto, até que esse ponto de encontro possa se realizar, ou simplesmente cada um seguir seu caminho? A questão está no ar.

Não se iluda: Cunha e seu grupo são a maior ameaça à democracia

Por que o país está sendo mantido em suspenso por parlamentares que atuam em causa própria, pouco se preocupando com os verdadeiros destinos do país? Tudo que importa para esses seres amorais é defender seus interesses pessoais e daqueles que financiam suas campanhas. O impedimento da Presidenta Dilma é um pretexto para tomar o poder e perpetuar o assalto aos cofres públicos que quotidianamente praticam. São eles que deveriam ser impedidos, pois contra eles há provas concretas de corrupção, tráfico de influência, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e outras tantas acusações.

Se houvesse genuína preocupação com as chamadas ‘pedaladas’ ou com o que alegam ser irresponsabilidade fiscal por parte do Executivo, por que recorrer a manobras obscuras e à votação secreta, a ponto de o Supremo Tribunal Federal suspender tudo até apreciar a matéria?

O que interessa exclusivamente a esses políticos é salvar a pele, e para isso estão dispostos a sacrificar a democracia brasileira. Vejamos alguns exemplos emblemáticos: Eduardo Cunha, do PMDB do Rio de Janeiro, é presidente da Câmara dos Deputados e, nesta condição, o terceiro na linha de sucessão à Presidência da República. Tem ficha criminal corrida e milhões na Suíça, e provavelmente em outros paraísos fiscais. Suas falcatruas vêm de longa data, começando no governo Collor, quando presidia a Telerj, companhia telefônica do Rio de Janeiro. Na época, Cunha chegou a ser acusado de participar dos esquemas de corrupção de PC Farias, tesoureiro da campanha eleitoral de Collor e tido como mentor do esquema que derrubou o ex-presidente. Depois, Cunha se envolveu em outros escândalos com a Companhia Estadual de Habitação (Cehab) e Furnas. O deputado também seria investigado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por participar de uma negociação que prejudicou um fundo de pensão de funcionários públicos. Hoje é acusado pela Operação Lava Jato. Um personagem com esse perfil pode ter algum interesse público? É claro que suas estratégias e ações são exclusivamente voltadas para aumentar continuamente seu patrimônio pessoal e seu poder.

Outro com perfil semelhante, ainda que menos brilhante, é o deputado Leonardo Quintão, atual líder do PMDB na Câmara. Foi eleito por Minas Gerais, graças aos fartos recursos das grandes empresas de mineração. Com o apoio de Cunha, virou relator do novo Código da Mineração, projeto que está em discussão na Câmara dos Deputados atualmente. E, pasmem, o documento oficial do projeto de lei proposto para esse novo Código, que define as regras da mineração no país, foi criado e alterado em computadores do escritório de advocacia que tem como clientes mineradoras como Vale e BHP, duas das maiores empresas do setor no mundo. É, essas mesmas que são responsáveis pelo maior crime socioambiental do Brasil, a tragédia de Mariana!

E o Conselho de Ética que é integrado por parlamentares acusados de todo tipo de crimes? A situação é tão vergonhosa que depois de inúmeras manobras até hoje não se consegue dar andamento ao processo de investigação do Deputado Eduardo Cunha.

São personagens como esses que manobram, ameaçam, chantageiam e operam privatizando o Congresso Nacional, sem pudor e sem temor de minar a democracia brasileira e de macular a imagem do Brasil no cenário internacional. Essas atitudes irresponsáveis está nos levando  a tempos sombrios. O que acontecerá se o impedimento seguir seu curso, levando consigo o vice-presidente Temer, pois ele é ‘cúmplice’ das acusações feitas à presidenta Dilma? Serão convocadas novas eleições? No meio dessas tantas tensões, que beiram a irracionalidade e deixam o país partido ao meio?

Precisamos ir para as ruas denunciar os verdadeiros culpados e clamar por respeito ao Estado de Direito. Temos que proteger o que conquistamos nos últimos 30 anos e impedir que bandidos e fascistas mandem neste país.

Fora Cunha! Não Vai Ter Golpe!


O risco do não retorno nas negociações sobre Clima em Paris

A Conferência das Partes – COP 21, em Paris, diferentemente das anteriores, tem a pretensão de marcar um ponto de inflexão e os caminhos para uma “nova era”. As definições de objetivos passarão por novas ondas negociadoras, mas neste novo momento, tem a missão de implementar os acordos firmados.

Chegamos lá? Teremos um bom acordo? Não. Estamos bem longe de uma consciência planetária de auto-preservação, ou de compromisso com a natureza e a qualidade da vida. Os interesses do capital continuam falando mais alto. Em nome das soberanias nacionais, ações mais radicais de redução de emissões e de respeito às diferenciações históricas, e responsabilidades diferenciadas entre os países, estão fazendo todo o acordo ficar mais difícil.

Segundo sul coreano Hoesung Lee, novo presidente do Painel Intergovernamental de Especialistas em Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês), em entrevista no último sábado, não sabemos quais são os limites, e nem o que ocorreria se fracassarmos em tomar as medidas necessárias para reduzir as emissões. O que é certo é que os riscos principais das mudanças climáticas se relacionam com o que ocorrer em um sistema planetário descontrolado. Diz ainda que a ciência está dizendo que não podemos chegar um ponto de não retorno, e que os impactos não serão lineares. Isso significa que temos que ‘cortar na carne’ as emissões, e mudar significativamente nosso modo de produzir e consumir.

Entretanto, o que temos até agora é um acordo fraco, onde uma parte poderá ter força vinculante, mas a parte mais significativa dos meios de implementação, no que se refere ao financiamento e às propostas nacionais para redução de emissões, parece que continuarão voluntárias. A postergação dessas decisões poderá nos levar ao arriscado ponto de não retorno citado pelo presidente do IPCC.

Esta semana, as negociações estarão nas mãos dos ministros de 195 países, que receberam na semana anterior um rascunho com 48 páginas, ainda cheio de colchetes (que significam termos e propostas que não tiveram consenso).  Diferenciação, financiamento e caráter vinculante do Acordo seguem sendo um grande desafio nas mãos dos representantes dos países.

Foram definidos quatro grupos de trabalho. O primeiro é o grupo de apoio: meios de implementação (financiamento, tecnologia, construção de capacidades), tendo como facilitadores Emmanuel Issozé Ngondet, ministro das Relações Exteriores do Gabão, e Jochen Flasbarth, secretário de Meio Ambiente da Alemanha. O segundo grupo: diferenciação, especialmente em relação à mitigação, financiamento e transparência, tendo como facilitadores a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Izabella Teixeira, e o ministro das Relações Exteriores de Cingapura, Vivian Balakrishnan. Os outros dois grupos serão sobre a ambição, incluindo os objetivos de longo termo e as revisões periódicas, e ações de aceleração do pré-2020, workstream 2 respectivamente. Os facilitadores desses dois últimos grupos ainda não foram anunciados.

O último fim de semana foi dedicado aos encontros e debates ‘Alternativas’ e ‘Fórum Climático’, que deverão seguir ao longo desta semana até o dia 12 de dezembro, quando a sociedade civil espera poder fazer algum tipo de ação cidadã e pacífica nas ruas de Paris – algo que ainda depende de um acordo com o governo francês.

Vamos ver o que os últimos cinco dias de Conferência do Clima nos darão como perspectivas para nosso breve e incerto futuro.

Orçamento temático – orientações para implementação

Este guia contém as Orientações para a Implementação do Orçamento Temático, ferramenta do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) de monitoramento do orçamento público, que considera aspectos específicos na abordagem, como a perspectiva dos sujeitos de direitos, os direitos humanos e a interseção de políticas públicas.

Acesse o documento:

– em página simples.

– em página dupla.

Política Socioambiental do BNDES: Presente e Futuro

O Inesc lançou nesta terça-feira (10/11) em Brasília (DF) o livro Política Socioambiental do BNDES: Presente e Futuro, em parceria com outras seis organizações da sociedade civil – International Rivers, Ibase, Instituto Socioambiental (ISA), Conectas, Ecoa e DAR – Peru -, que se propõe a oferecer subsídios para ampliar e aprofundar o debate público sobre o papel do banco no desenvolvimento que incorpore todas as dimensões sociais, ambientais e econômicas.

Acesse o PDF aqui.

Acesse o EPUB (ebook) aqui.

Sistema agroalimentar que produz sociedades doentes precisa acabar

Começou hoje, em Brasília, a 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Este evento, que se estende até o dia 06 de novembro, reúne mais de 2 mil participantes, oriundos de todas as partes do Brasil. São cerca de 1.600 delegados aos quais se somam em torno de 400 convidados. Os delegados, da sociedade civil e do governo, foram eleitos em conferências municipais, territoriais e estaduais que foram realizadas previamente, entre os meses de julho e outubro deste ano.

É importante destacar o reconhecimento da diversidade da população brasileira que o Consea promove. Com efeito, por meio do sistema de quotas, no mínimo 30% dos delegados e delegadas da sociedade civil são representantes de povos indígenas, quilombolas, povos e comunidades tradicionais, povos tradicionais de matriz africana, povos de terreiro e negros. Essa diversidade, racial e étnica, bem como de gênero – a presença das mulheres é expressiva, senão majoritária – confere grande legitimidade as propostas que serão aprovadas ao longo dos quatro dias do encontro.

O lema da Conferência, “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”, sintetiza a maturidade das discussões que vêm ocorrendo desde a primeira Conferência realizada há mais de 20 anos, também em Brasília, em 1994. De lá para cá avançamos – e o Inesc faz parte desta história, pois estava presente naquela ocasião – na compreensão do que signifique a promoção da segurança alimentar e nutricional. Saímos de uma visão hegemônica do final dos anos de 1980 centrada na produção para uma compreensão mais holística, que incorporou as dimensões alimentar nutricional. Hoje entendemos que a soberania e a segurança alimentar, articuladas em torno do direito humano à alimentação adequada, resultam no consumo de alimentos saudáveis, variados, in natura ou minimamente processados, provenientes de sistemas de produção socioambientalmente sustentáveis porque agroecológicos e respeitadores das culturas e tradições alimentares dos diversos povos que habitam o Brasil e o mundo.

O que estamos dizendo com isso, é que não aceitamos mais um sistema alimentar que promove doenças que levam a morte como desnutrição, obesidade, diabetes, hipertensão, contaminações por veneno (1) e determinados tipos de cânceres, entre outras. Essas doenças decorrem de modelos agrícolas baseados em monocultura de larga escala, com uso intensivo de agrotóxicos, sementes transgênicas e antibióticos. Decorrem ainda de processos de transformação e comercialização de produtos, chamados de ultraprocessados (2), que pouco ou nada têm a ver com alimentos: são mercadorias com alta concentração de sais, açúcar e gorduras e substâncias químicas como conservantes, estabilizantes, flavorizantes e corantes que fazem mal a saúde das pessoas.

E mais: esse sistema perverso está na mão de algumas poucas transnacionais que controlam toda a cadeia global, da produção ao consumo. Seu poder econômico é tamanho que influencia governos, tanto Estados nacionais como o Sistema ONU, impedindo seu controle e regulação (3). Convence a maioria que só ele é capaz de produzir alimentos em quantidade suficiente para o planeta. O que é uma grande mentira, pois até hoje não somente não conseguimos eliminar a fome no mundo – 800 milhões de pessoas são desnutridas segundo a FAO – como agora o planeta convive com mais de dois bilhões de pessoas com sobrepeso e obesidade. Como se não bastasse, nossos recursos naturais estão se esgotando e a temperatura aumentando para níveis alarmantes. Esse sistema agroalimentar que produz sociedades doentes precisa acabar.

Daí que durante quatro dias iremos discutir coletivamente ideias e propostas que possam apresentar alternativas e subsidiar o governo federal para a elaboração do II Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Propostas que promovam vida, que respeitem e realizem o direito humano a alimentação adequada, que possibilitem a transição para um modelo de produção agropecuária nos moldes agroecológicos inclusive nas cidades, que valorize nossa biodiversidade e nossas culturas alimentares e medicinais, que promova igualdade racial, étnica e de gênero e que resgate a criatividade dos nossos jovens. Muitos dirão que soa romântico e nós respondemos que é um apelo para a sobrevivência da nossa espécie!

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(1) O Brasil é campeão mundial no uso de agrotóxicos, cabendo a cada brasileiro o consumo médio de 5,2 litros de veneno agrícola por ano.

(2) Exemplos de ultraprocessados: pães, biscoitos, bolos, sorvetes, chocolates, barras de cereal, refrigerantes, pratos pré-preparados (aqueles congelados de supermercado), hambúrgueres, produtos enlatados, sopas prontas, requeijão, margarina, embutidos e muitos outros. Eles passam por tantos processos químicos que perdem as características básicas de um alimento.

(3) Segundo a Oxfam, no mundo, pessoas bebem mais de 4 mil xícaras de Nescafé a cada segundo e consomem produtos da Coca-Cola 1,7 bilhão de vezes por dia. Três empresas controlam 40% do mercado mundial de cacau e a Nestlé declarou, em 2010, receita maior do que o PIB da Guatemala ou do Iêmen. As “10 Grandes” – Associated British Foods (ABF), Coca-Cola, Danone, General Mills, Kellogg, Mars, Mondelez International (antes Kraft Foods), Nestlé, PepsiCo e Unilever – geram receitas de mais de US$1,1 bilhão por dia e empregam milhões de pessoas direta ou indiretamente no cultivo, processamento, distribuição e venda de seus produtos. Hoje, essas empresas são parte de uma indústria avaliada em US$ 7 trilhões, maior até do que o setor energético e representando cerca de 10% da economia global. Para maiores informações, ver aqui.

Leia também:

ONU deveria adotar como padrão o modelo inclusivo e participativo de seu Comitê de Segurança Alimentar

Las organizaciones y movilizaciones sociales – Informe sobre democracia y desarrollo en América Latina 2012-2013

La Asociación Latinoamericana de Organizaciones de Promoción al Desarrollo – ALOP presenta su Informe 2012-2013 sobre Democracia y Desarrollo en América Latina (IDD): Las organizaciones y movilizaciones sociales por la defensa de los recursos y bienes naturales. Un desafío para la democracia y el desarrollo en América Latina.

El IDD pretende contribuir a la producción de conocimientos, al análisis de la realidad y la formulación de propuestas, aportando así al fortalecimiento y articulación de actores colectivos comprometidos con la ampliación de la democracia y con la construcción de un desarrollo humano y sostenible1.

Con el tema que motiva este informe, ALOP busca contribuir a un mejor conocimiento y discusión pública sobre las demandas, acciones y propuestas de los movimientos y organizaciones sociales por la defensa de los recursos naturales en el marco de la democracia y el desarrollo en América Latina, identificando la agenda principal- común y las estrategias o mediaciones, en el contexto de la defensa de los derechos humanos en su perspectiva integral.

Ver en PDF.

ONU deveria adotar como padrão o modelo inclusivo e participativo de seu Comitê de Segurança Alimentar

Na semana de 12 de outubro foi realizada em Roma a 42ª reunião do Comitê de Segurança Alimentar das Nações Unidas – CSA/ONU. O Comitê existe desde os anos de 1970 mas, em 2009, em decorrência da severa crise mundial de alimentos que jogou para debaixo da linha de desnutrição milhões de pessoas no mundo, passou por um profundo processo de reforma. O Brasil teve papel de destaque nessa transformação e o Consea serviu de inspiração para o modelo inédito do Comitê da ONU.

A nova institucionalidade precisava ser mais efetiva e, para tal, era necessária que fosse inclusiva e participativa. O órgão máximo é o Pleno de governos – atualmente cerca de 130 países aderiram ao CSA – que se reúne uma vez por ano, em Roma, na semana em volta do Dia Mundial da Alimentação, 16 de outubro. O braço executivo do Pleno é o Bureau composto por 13 representantes governamentais que se apoia nas informações produzidas por dois órgãos: o Grupo Assessor integrado por agências das Nações Unidas, especialmente as chamadas três irmãs de Roma – FAO, PMA e FIDA que financiam grande parte das atividades do CSA –, instituições financeiras internacionais, órgãos de pesquisas, fundações filantrópicas, setor empresarial e organizações e movimentos sociais; e o Painel de Especialistas de Alto Nível (HLPE, na sua sigla em inglês). Até recentemente, Renato Maluf, Professor do CPDA/UFRRJ e ex-Presidente do Consea era membro do Comitê Executivo do Painel, o que revela os laços estreitos mantidos entre o Conselho brasileiro e o Comitê global desde sua reforma.

O mandato do CSA é o de: coordenar uma visão global da segurança alimentar e nutricional, promover convergência das ações em âmbitos nacional, regional e global, apoiar países e regiões, prestar contas e intercambiar boas práticas, desenvolver um marco estratégico que seja inclusivo e participativo.

Nesse contexto, foi criado como parte integrante do CSA o Mecanismo da Sociedade Civil (MSC/CSA), que tem poder de voz, que se faz representar no Grupo Assessor e que tem a palavra nas sessões plenárias. O Mecanismo é integrado por mais de 40 pessoas que representam organizações e movimentos das pessoas mais afetadas pela insegurança alimentar: camponeses, pescadores artesanais, trabalhadores da agricultura, consumidores, mulheres, jovens, pastorialistas, povos indígenas, pobres urbanos e sem terra, entre outros segmentos. Além desses grupos populacionais, chamados de constituencies, existe representação regional de modo que as vozes de todas as partes do planeta sejam ouvidas. Os integrantes do Comitê Coordenador do Mecanismo são eleitos pelas suas respectivas bases e regiões. Na nossa região, a institucionalidade interlocutora do Mecanismo é a Aliança pela Soberania Alimentar dos Povos da América Latina. O MSC é composto por distintos grupos de trabalho que se reúnem presencialmente e virtualmente ao longo do ano para elaborar seus conteúdos e construir suas estratégias de luta e incidência junto ao CSA.

Biraj Patnaik, da Campanha Contra a Fome da Índia

Além do MSC existe também órgão semelhante do Setor Privado que participa do Grupo Assessor e das Plenárias.

Desde a Reforma do CSA em 2009, vários temas foram abordados e merece destaque a elaboração participativa das Diretrizes Voluntárias para uma Gestão Responsável da Posse da Terra, Pescas e Florestas. Tais Diretrizes descrevem os princípios e práticas que os governos e outros atores podem implementar quanto à administração do direito sobre terras, pesca e florestas, de modo a servir melhor os interesses das populações e promover a segurança alimentar e nutricional e o desenvolvimento agrário. Outros assuntos vêm sendo abordados como princípios para investimentos responsáveis, segurança alimentar para proteção social, segurança alimentar e mudanças climáticas, perdas e desperdícios de alimentos, segurança alimentar em crises prolongadas, pesca e aquicultura, água e nutrição. Nesta 42ª Plenária foi eleita nova Presidente do CSA, Amira Gornass, do Sudão.

O Mecanismo da Sociedade Civil se reúne no final de semana anterior ao início das plenárias do Comitê para preparar suas intervenções bem como suas estratégias de incidência. Além dos integrantes do Mecanismo também participam desse evento organizações e movimentos interessados no tema. É o caso do Consea que vem atuando ativamente desde a reforma do Comitê. Este ano não foi diferente e, como em outras ocasiões, o Inesc representou o Conselho. Em 2015 participaram do Fórum da sociedade civil cerca de 250 organizações e movimentos sociais de todos os cantos do mundo.

Amira Gornass, do Sudão é a nova Presidente do CSA com mandato de dois anos.

Em geral há uma avaliação por parte das organizações e movimentos sociais de que o CSA é efetivamente um espaço inclusivo e participativo. Não se entende porque esse modelo legítimo e bem-sucedido não é implementado em outras negociações das Nações Unidas como clima, biodiversidade, sustentabilidade e, mais recentemente, a agenda Pós-2015 e o financiamento para o desenvolvimento, entre outras. No entanto, apesar desse reconhecimento, várias preocupações permeiam os debates. Entre elas pode-se mencionar o recuo em relação a agenda dos direitos humanos. A obrigação de os Estados respeitarem, protegerem e promoverem os direitos é substituída por uma linguagem mais neutra, como “empoderamento”, “parcerias”, “plataformas de múltiplas partes interessadas”, “acesso a mercados”, “necessidades das pessoas”. Esse esvaziamento da agenda de direitos é simultâneo, e não por acaso, ao progressivo crescimento do poder e da atuação do setor privado por meio de suas transnacionais, de redes empresariais e de fundações filantrópicas. A situação se agrava frente ao déficit orçamentário de CSA que, no momento, é da ordem de U$ 5 milhões. A Fundação Gates aportou recursos e com isso certamente acaba influenciando a agenda para o lado que lhe interessa, que é o da Revolução Verde e da “medicalização” da nutrição, entre outros temas. Esse poder cada vez maior das corporações e suas articulações (i.e, Scaling Up Nutrition, Climate Smart Agriculture, Agricultura Sensível à Nutrição) não somente dificulta a inserção na agenda do CSA de questões caras à sociedade como agroecologia, direitos das mulheres, direito à terra como despolitiza o debate sobre as reais causas da alimentação inadequada. Ademais, contribui para fortalecer a lógica de mercado e enfraquecer o papel do Estado.

O Mecanismo da Sociedade Civil do CSA é um espaço de resistência que precisa ser fortalecido por aqueles, governo e sociedade, que acreditam que um “outro mundo é possível”. E mais: esse modelo global de participação social institucionalizada deve ser levado para outros campos do multilateralismo, regionais e internacionais, porque vem mostrando que é inclusivo e legitimo. O Brasil tem papel importante a desempenhar nessa área. Ele esteve por detrás da reforma do Comité e continua sendo ator central nas negociações, na defesa dos direitos humanos. Além de aprofundar essa linha no CSA, tem obrigação de levar alhures esse mecanismo que permite por mais sociedade no Estado.

O interesse corporativo acima da vida das pessoas e dos bens comuns

qPublicado no site Carta Maior.

Na última intersseccional de Bonn, em setembro, os co-presidentes do Grupo de Trabalho Especial sobre a Plataforma de Durban para uma Ação Reforçada (ADP sigla em inglês) apresentaram uma proposta para tentar resolver o impasse nas negociações. Juntaram num primeiro grupo de questões os temas com grande potencial de acordo; num segundo grupo, umas tantas questões que ainda estão pendentes de decisão; e num terceiro grupo as questões que não entrarão no acordo porque exigirão mais negociação ao longo do tempo, e não serão sequer incluídas em nenhum outra parte do acordo, nem como anexo.

O que sobrou como temas passíveis de acordo é muito pouco. Cortes de emissões voluntárias e mecanismos de flexibilização se mantém dentro de uma visão de mercado de carbono e soluções calcadas em novas tecnologias. Muito aquém daquilo que se espera dos governos e empresas para a transição à um mundo sustentável.

Já esta em curso um documento não-oficial a ser apresentada na próxima intersseccional  que é o rascunho do possível texto de acordo de Paris. Além disso, já existe uma avaliação prévia das Contribuições Previstas e Determinadas Nacionalmente (INDCs sigla em inglês). Estas se referem às metas voluntárias de corte de emissão que os países farão até 2030.

O  Grupo Intergovernamental de Especialistas sobre Mudança Climática (IPCC sigla em inglês) mostrou claramente sua apreensão. O quarto informe de 2007 nos alerta que se não houver mudanças drásticas nas emissões produzidas pela humanidade estaremos passando por sérios riscos de grandes impactos ambientais e humanos decorrentes da mudança climática. Daí a recomendação de cortes de emissão para manter o aquecimento do planeta abaixo dos 2º centígrados até o ano 2020. Essa avaliação foi reiterada em 2015 no quinto Informe do IPCC.

Apesar dos clamores do mundo científico, existe pouca vontade política e/ou pouca capacidade política dos governos em efetivar um acordo mais ambicioso. Na verdade, tudo aquilo que foi originalmente acordado na Rio 92, no Rio de Janeiro, foi suavizado e substituído por metas meramente voluntárias. E essa situação está diretamente vinculada ao fato de que quem está, de fato, decidindo neste âmbito são as grandes empresas orientadas por seus interesses corporativos.

A participação das grandes empresas extrativistas, entre outras dos setores produtivos e financeiros, acabaram moldando todos os conteúdos às suas necessidade empresariais.

Desta forma, o documento, em vez de apresentar medidas mais radicais para eliminação da matriz energética baseada em combustíveis fósseis, por exemplo, apresenta uma linguagem amenizada.  Os governos estão sendo chamados a  eliminar ou reduzir os subsídios aos combustíveis fósseis, mas tudo muito fraco. Em recente fala pública, a presidente Dilma reafirmou o uso de hidrelétricas e combustíveis fósseis na matriz energética brasileira, que ao contrário do que se espera, aposta a realização de políticas públicas nas explorações do Pré-sal e nas grandes obras. 

Outro tema que deverá estar no menu do acordo se refere ao mecanismos de mercado, baseados na venda de carbono, como solução para redução de emissões de gases de efeito estufa. Esta visão acaba funcionando como um escape ao que tinha sido previamente acordado no Protocolo de Quioto. Os países ricos podem compensar suas emissões com estes mecanismos de mercado. O mecanismo de Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação de Florestas (REDD ) é parte deste tipo de soluções. O governo brasileiro recentemente também declarou que poderá embarcar na integralidade nesta proposta, pois ainda que fosse um dos proponentes ainda defende a não participação do mercado. Mas, essa defesa original parece em risco.

O Banco Mundial e empresas transnacionais aliados à Aliança Global para Agricultura Inteligente estão jogando toda as suas fichas neste acordo exatamente porque, da maneira em que esta sendo desenhado, cabe perfeitamente na sua visão estratégica de crescimento do setor do agronegócio em todo mundo, que é obviamente a expansão de seus negócios e lucros numa roupagem “sustentável”. Fica assim bastante evidente o interesse do agronegócio brasileiro com o acordo dentro deste novo marco de propostas.

O que está por detrás disso são as sementes transgênicas, os monopólios das empresas produtoras de agrotóxicos, e um sistema de plantação extensiva que, prejudica a terra, expulsa os povos de seus territórios (indígenas, camponeses da agroecologia, povos da floresta), envenena o meio ambiente e não produz emprego, entre outros fatores. 

É interessante notar que o cenário que se desenha no âmbito da COP21 também está  se dando em outros espaços da governança global. Os debates e decisões tomadas na Agenda para o Desenvolvimento Sustentável 2030 (ODSs) recém lançada pela ONU em Nova Iorque, e a fracassada Conferência sobre financiamento ao desenvolvimento, realizada em julho em Adis Abeba (Etiópia) estão interconectados. 

A captura corporativa destes espaços, formatando e desenhando as políticas conforme seus interesses, a dependência da ONU dos financiamentos privados ou de fundos específicos não públicos, acabam por delinear um outro tipo de governança e outras  prioridades. A idéia do interesse público, fundado na defesa dos bens comuns e no desenho de políticas públicas de efetivação dos direitos são contaminados por interesses meramente corporativos. O estados nacionais acabam abrindo mão de seu papel regular e mediador para ser um ator a mais numa nova configuração, longe de um aprofundamento democrático, aberto e participativo.

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