Conheça o site Investimentos e Direitos na Amazônia

Desde 2015, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) reúne informações e análises sobre a Amazônia brasileira no site “Investimentos e Direitos na Amazônia”.

As reportagens e demais conteúdos são de livre reprodução, desde que citada a fonte, e pretendem estimular a reflexão e a ação sobre os caminhos e descaminhos para um desenvolvimento da Amazônia, alicerçado na proteção da sua biodiversidade e na garantia dos direitos para sua população.

O site é alimentado pelo Inesc, parceiros e colaboradores com conteúdos que abrangem três grandes eixos temáticos. São eles:

Investimentos – o site conta com um banco de dados e análises sobre o investimento em grandes hidrelétricas na Amazônia.

Financiamentos – dados e análises sobre os financiamentos e incentivos fiscais concedidos a projetos que têm grandes impactos socioambientais.

Políticas públicas – Monitoramento de políticas e orçamento público da Amazônia para garantir os direitos de quem nela vive.

Acesse amazonia.inesc.org.br e saiba mais sobre o debate acerca do lugar da Amazônia no desenvolvimento brasileiro.

Jovens do projeto Onda produzem campanha antirracista

A partir de pesquisas feitas em sua escola e comunidade, adolescentes do Projeto Onda criaram e produziram a campanha antirracista “Por que não amar”. Referenciada em uma personagem fictícia chamada Luzia, a campanha conta com broches, adesivos, cartazes, um calendário e um vídeo de celebração da cultura negra.

O projeto Onda – Adolescentes em Movimento, é uma iniciativa do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), que foi agraciado com a primeira colocação do Prêmio Itaú-Unicef. O projeto desenvolve atividades de formação cidadã em escolas públicas do Distrito Federal.

Entre os objetivos da campanha “Por que não amar?” estão se reconhecer e autoafirmar, valorizar a beleza natural e celebrar a negritude, enfrentar o racismo na escola e na comunidade e sensibilizar as pessoas para gerar a vontade de mudar. “Para mim, a campanha que estamos produzindo é importante para levar autoestima para as pessoas que cresceram ouvindo que suas características físicas eram feias e inferiores”, diz Paulo Ricardo, um dos estudantes integrantes do Onda.

Os jovens refletiram sobre o poder da linguagem e o uso de palavras racistas no cotidiano, principalmente as que são voltadas para o cabelo crespo. Tiveram oficinas sobre gênero, formatos, linguagens de comunicação, assim como escolheram os públicos prioritários da campanha. “Eu me identifiquei com a conversa sobre cabelo porque eu sempre tive vergonha do meu. Desde pequeno quis ter o cabelo igual ao de outros meninos, porém não podia, porque parecia que ele não aceitava outros tipos de corte. Por isso eu me senti obrigado a manter o cabelo bem curto”, nos conta Victor Queiroz, um dos participantes do Onda. “Com a campanha eu percebi que o cabelo crespo é lindo, mas que o racismo nos impede de reconhecer, e é uma coisa que eu quero que todas as meninas saibam”, completa Márcia Mesquita, adolescente que também integra o projeto.

A partir de conversas, análises de músicas, poemas, documentários e dinâmicas, os encontros para a produção da campanha foram permeados por muito diálogo, estudo, reflexão e uso de ferramentas criativas. Para Diego Mendonça, um dos educomunicadores que estão participando do projeto, a campanha busca uma perspectiva de transformação da vivência cotidiana do racismo que faz parte da realidade dos adolescentes. “Minha expectativa é que eles saiam do processo transformados para que possam transformar a realidade concreta deles”.

Márcia Acioli, assessora do Inesc responsável pela execução do projeto Onda, comemora a consciência da identidade racial dos adolescentes que estão aprendendo a identificar as manifestações de racismo no cotidiano. “É bonito vê-los/las alegres e orgulhosos/as de ser quem são, fortes e determinados/as a lutar por uma escola sem violência e sem racismo”, afirmou.

Inesc lança nova versão da Metodologia Orçamento & Direitos

Você sabe como funciona o ciclo orçamentário federal? Sabe quais são as receitas e para onde vão as despesas do seu município? Você participa das decisões acerca da gestão dos recursos públicos? Um orçamento pode garantir e promover os direitos humanos. Ou violá-los.

Com o objetivo de difundir um método de análise, monitoramento e disputa do orçamento púbico – pela lente dos direitos humanos – o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) desenvolveu a Metodologia Orçamento & Direitos, instrumento utilizado em processos de formação oferecidos pelo Instituto, que são referenciados em educação popular.

Neste ano, o Inesc lançou a segunda versão da Metodologia, que agora conta com uma cartilha para multiplicadores/as, em harmonia com a estratégia que o Inesc já vem adotando de priorizar a formação política.

José Moroni, do colegiado de gestão do Inesc, explica o porquê dessa estratégia: “Não queremos que apenas alguns profissionais ‘dominem’ a Metodologia, pois ela é central na nossa ação política”. Moroni também falou sobre o processo de construção e de atualização da Metodologia. Confira na entrevista abaixo:

Como foi o processo de construção da Metodologia?

R: Todo o processo foi coletivo, de troca de saberes e experiências.  Não representa  apenas um acúmulo institucional, mas  também o acúmulo das relações do Inesc com  diversas organizações e movimentos.

É da natureza da Metodologia Orçamento & Direitos a sua constante atualização, pois é um instrumento do debate político. Esta é a segunda versão. Internamente, a  atualização da metodologia levou cerca de oito meses, porque todo processo coletivo é um espaço de mediações, debates, pactuações, etc.

O que ela traz de novo em relação à versão anterior?

R: Tem várias questões. Uma delas é a profundidade das formulações. No intervalo da primeira para a segunda versão, a realidade mudou, o Inesc mudou, entraram novos/as profissionais com olhares  diferentes. Isso enriqueceu muito o debate e a sistematização. Organizamos melhor os pilares da metodologia, fizemos a opção pela educação popular, formulamos melhor a relação entre políticas públicas e direitos  humanos.

Mas uma grande novidade é que ela  foi pensada para a formação política. Como um instrumento da formação e não apenas como um documento que mostra como o Inesc analisa o orçamento.  Este processo metodologia-formação tem relação com a nova estratégia do Inesc de priorizar a formação política. Não queremos que apenas alguns profissionais “dominem” a metodologia, pois ela é central na nossa ação política.

Como essa Metodologia pode ser útil como instrumento de defesa dos direitos humanos no próximo período?

R: A metodologia tem duplo uso: o primeiro é sistematizar como o Inesc analisa as políticas publicas, quais referências políticas e teóricas utilizamos. O outro é ser um instrumento das formações políticas que o Inesc participa com diferentes sujeitos. A  adaptação que fizemos dos referenciais políticos teóricos para a educação popular vai nesta  direção. Como não queremos ter monopólio da metodologia, elaboramos também a cartilha para multiplicadores/as da metodologia.   Portanto, a metodologia é fruto das opções políticas do Inesc. É uma metodologia situada politicamente e que reflete, em certo sentido, aquilo que acreditamos, portanto faz parte das nossas utopias.

Baixe a Metodologia Orçamento & Direitos (2018):

Livro Metodologia Orçamento & Direitos

Traz o referencial teórico e político da metodologia desenvolvida pelo Inesc para analisar o orçamento público pela lente dos direitos humanos.

Cartilha Orçamento & Direitos

É a sistematização da Metodologia do Inesc traduzida em uma linguagem de educação popular. É o principal material que o Inesc usa nas formações.

Cartilha para Multiplicadores e Multiplicadoras

Material auxiliar na formação de multiplicadores e multiplicadoras da Metodologia Orçamento & Direitos.

Uma nova marca, a mesma luta por direitos

Em 2019, o Inesc completa 40 anos. Ao longo desse tempo, lutamos todos os dias pela igualdade e um mundo mais justo para todas e todos. Acreditamos que, para isso acontecer, precisamos melhorar os processos democráticos, fortalecer cidadãs, cidadãos e movimentos populares e combater todas as formas de opressão, desigualdade e preconceito.

Para celebrar essa história, trazemos uma nova marca: mais alegre, leve e que inspira liberdade. Ela chega para modernizar a imagem do Inesc e se conectar ainda mais com um público jovem, capaz de mobilizar e atuar politicamente dentro das novas linguagens das redes e das ruas.

Nosso site também está de cara nova!  Moderna e intuitiva, a nova interface torna mais fácil a leitura e a pesquisa dos conteúdos que produzimos ao redor dos eixos temáticos: Orçamento & Direitos, Socioambiental e Amazônia, Crianças, adolescentes e jovens, Direito à Cidade, Agenda Internacional, Reforma Política e Democracia e Gênero, Raça e Etnia.

Esperamos que a nova marca e o novo site inspirem você também. Vamos juntos continuar lutando por mais direitos e menos desigualdade.

Assita ao vídeo sobre a nova marca do Inesc:

COP24: alerta vermelho foi dado!

Iara Pietricovsky
Colegiado de gestão do Inesc
Grupo Carta de Belém[1]

O chamamento do último relatório do grupo de cientistas ligados ao Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC na sigla em inglês) foi claro e dramático. Precisamos mudar já. Não há mais nenhuma gordurinha para queimar no que se refere ao tema climático e os passos dados até o momento estão longe de equacionar a urgência da redução de emissão de gases de efeito estufa.

Os cientistas alertam que será preciso um nível de transformação sem precedentes na área produtiva caso a humanidade queira, de fato, enfrentar a radicalidade dos impactos climáticos sobre suas vidas e sobre o Planeta.

No meio dessa realidade difícil e dessa convocação para que os países assumam a responsabilidade histórica de reverter o aquecimento global, nos deparamos com as posições retrógradas do governo eleito no Brasil, já mostrando um tortuoso rumo para essa prosa. Ao desistir de sediar a próxima Conferência do Clima, a COP 25, e pelos inúmeros depoimentos de negação do fenômeno de aquecimento climático, concluímos que navegaremos por tempos de obscurantismo e retrocesso.

O novo governo vem demonstrando que vai se alinhar, de forma subserviente, aos EUA e, mais do que isso, que concorda com o negacionismo de Trump sobre as questões climáticas e rejeita as instâncias multilaterais de negociação.

A indicação do embaixador Ernesto Araújo, para o Ministério das Relações Exteriores (MRE), no último dia 15 de novembro, pelo presidente eleito Jair Bolsonaro, produziu enorme impacto. O futuro ministro acredita que a mudança climática é uma “trama marxista” e que a ciência do clima é apenas um “dogma”. Existe a possibilidade de que, em futuro breve, o novo governo anuncie a saída das negociações de clima. A desistência de realização da COP25 no Brasil seria o primeiro passo nesse caminho.

Viveremos, portanto, uma quebra de um ciclo virtuoso da política externa que se impunha por sua credibilidade e protagonismo. Essa miopia trará consequências bastante nefastas de quebra de confiança e de perda de liderança do Brasil nos espaços internacionais. Essas decisões afetarão concretamente a vida das comunidades locais, ribeirinhas, da floresta, povos indígenas, populações pobres das periferias das cidades para além das fronteiras brasileiras.

Promoverá, ainda, prejuízos incalculáveis advindos da mudança climática, tais como a intensificação de processos migratórios descontrolados, com refugiados atravessando fronteiras; impacto sobre a soberania alimentar, produzindo uma escassez global de alimentos, entre outras situações assustadoras. Sem falar do que já vem ocorrendo na floresta amazônica, com o processo acelerado de desmatamento.

Apesar de todos esses obstáculos, continuaremos nossa defesa de uma visão calcada no conhecimento cientifico e dos que, conscientes e de boa fé, se mantiverem na luta por um mudo que reafirme a democracia, a diversidade, o marco dos direitos humanos e a mudança de nosso modelo produtivo para enfrentar as consequências de uma destruição que se avizinha.

Esta semana começa a Conferência das Partes sobre Mudança Climática (COP24), em Katowice, Polônia. O objetivo primeiro desta nova rodada será a conclusão do livro de regras do Acordo de Paris, o chamado “Plano de Trabalho do Acordo de Paris” (PAWP na sigla em inglês). São as diretrizes que deverão guiar a implementação das “Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDC na sua sigla em inglês), nas áreas de mitigação, adaptação, transferência tecnológica, transparência e financiamento. Temas ainda passíveis de muita polêmica e debate.

As diferenças entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre os princípios de equidade e de “responsabilidades comuns, porém diferenciadas” (CBDR na sigla em inglês) da Convenção são responsáveis por grande parte das tensões. Os EUA e seus aliados querem reduzir o escopo ou mesmo ignorá-los enquanto os países em desenvolvimento querem que as responsabilidades históricas sejam reconhecidas.

O Grupo Carta de Belém (GCB) vem alertando que o debate de clima está, cada vez mais, se transformando num balcão de negócios entre o setor privado e Estados nacionais, onde se valoriza mais e mais as parcerias público-privados (PPP) como meio para implementação e financiamento das NDCs.

O GCB também expressa sua preocupação com os debates sobre o uso da terra. É uma questão importante e com dinâmicas de enorme impacto sobre clima, em especial, o tema da agricultura.

Defende, também, que questão das florestas devam se manter fora dos mecanismos de offset, ou seja, não podem ser mercantilizadas. Registra sua preocupação com a proposta apresentada pelo governo polonês, chamada “Forest Coal Farms” por conter exatamente esta lógica de mercado.

Como parte das negociações, o GCB reconhece a importância da implementação de mecanismos de transição justas para os trabalhadores e trabalhadoras em todos os países, preocupação essa liderada pelos sindicatos.

Além disso, apoia e vem acompanhando com atenção, a aprovação do plano de trabalho da “Plataforma de Comunidades Locais e Povos indígenas”, que foi aprovada no Acordo de Paris, durante a COP21. Essa Plataforma tem como objetivo principal fortalecer o conhecimento, as tecnologias, as práticas e os esforços das comunidades locais e indígenas para o enfrentamento da questão climática. Esse tema é uma das novidades mais criativas e de valor agregado desde o começo da COP de Mudança Climática. Reconhecem que povos indígenas e comunidades locais são detentores de saberes que podem ajudar o equacionamento do aquecimento global.

Por fim, ressalta-se o tema do financiamento, que nunca saiu da mesa de negociação e está longe de ser equacionado, ainda que as decisões para o enfrentamento da questão climática não dependam do financiamento para sua efetivação, e sim de vontade política da comunidade internacional, dos governos e dos donos do capital.


[1] O Grupo Carta de Belém (GCB) é constituído por organizações e movimentos socioambientais, trabalhadores e trabalhadoras da agricultura familiar e camponesa, agroextrativistas, quilombolas, organizações de mulheres, organizações populares urbanas, pescadores, estudantes, povos e comunidades tradicionais e povos originários que compartilham a luta contra o desmatamento e por justiça ambiental na Amazônia e no Brasil.

Exposição retrata realidade de jovens em privação de liberdade

No mês em que se celebra 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) promove a exposição fotográfica “Para além das algemas”, a partir do dia 5/12, em parceria com o Metrô de Brasília.

Na Estação Galeria do Metrô-DF, adolescentes expõem um pouco de suas sensibilidades, afetos e angústias com imagens do cotidiano de quem está cumprindo medida socioeducativa em privação de liberdade nas unidades de internação do Recanto das Emas (UNIRE), São Sebastião (UISS) e Santa Maria (UISM). As fotos ficam expostas até 5/1.

Os jovens fazem parte do projeto Onda – Adolescentes em Movimento, do Inesc, que foi agraciado com a primeira colocação do Prêmio Itaú-Unicef. O projeto desenvolve atividades de formação cidadã para estes adolescentes. Cerca de 120 socioeducandos/as já foram beneficiados.

Para Márcia Acioli, assessora do Inesc envolvida na execução do projeto, “apostar na sensibilidade e na visão crítica da sociedade é contribuir para a construção de novas relações e para despertar consciências sobre seus papéis nas mudanças sociais necessárias para reduzir a violência e as desigualdades”.

O trabalho com os jovens foi realizado por uma equipe de educadores/as com experiência de trabalho com jovens das periferias do Distrito Federal: Markão Aborígene (rapper), Ravena do Carmo (poetisa) e Webert da Cruz (fotógrafo), Thallita de Oliveira (psicóloga) e Lucas Daniel Rodrigues (estudante de serviço social).

Além das fotografias, a exposição contará com o lançamento do livro de poesias também escrito pelos adolescentes do projeto e um sarau com jovens artistas.

Abertura da exposição “Para Além das Algemas”

Dia: 05 de dezembro (A exposição vai até 5/1)

Hora: 17 h

Local: Estação Galeria do Metrô – Setor Comercial Sul Q. 1 (Asa Sul)

Onda pela Paz é o vencedor do Prêmio Itaú-Unicef na categoria “Parceria em Ação”

Desenvolvido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com a escola da Unidade de Internação da Santa Maria (Uism), o Onda pela Paz é o vencedor da categoria “Parceria em Ação” da 13ª edição do Prêmio Itaú-Unicef.  A cerimônia de premiação ocorreu nesta terça-feira (27/11), no auditório do Parque Ibirapuera, em São Paulo.

O Onda é uma iniciativa que visa introduzir o tema dos direitos humanos e do orçamento público nas escolas públicas do Distrito Federal, por meio de ações educativas e culturais.

No caso do Onda pela Paz – uma das vertentes do Projeto Onda – a escola parceira atende cerca de 180 jovens, de 14 a 21 anos, em privação de liberdade e está localizada em Santa Maria, uma cidade periférica do Distrito Federal. Ali, são desenvolvidas atividades como cursos sobre mediação de conflitos; aulas de arte e dança; produção da revista “Descolados”, com artigos escritos pelos próprios adolescentes; oficinas de poesia; festivais de música e até programas de rádio produzidos dentro da Uism e enviados para transmissão em diversos países.

>>> Leia também: Reconhecido nacionalmente, Projeto Onda contribui para formação cidadã de adolescentes

Para Márcia Acioli, assessora do Inesc envolvida na execução do projeto, trabalhar dentro de uma unidade de internação é muito difícil, mas não impossível. “Nós trabalhamos com adolescentes negligenciados desde que nasceram e acreditamos que é possível, porque aprendemos com eles a sensibilidade, a inteligência e a solidariedade”, explicou. A assessora também agradeceu ao Prêmio Itaú-Unicef e a todas as pessoas que contribuem para que o trabalho possa acontecer dentro da Uism. “A gente tem certeza que o prêmio abre portas e consolida esses avanços, frutos do nosso trabalho transformador, e que muitas vezes parecem que vão sofrer retrocessos. Não mais retrocessos!”, afirmou.

O professor da Uism, Francisco Celso, dedicou o prêmio aos internos e internas, não só de Santa Maria, mas de todo o Brasil. “Eles são rotulados como garotos e garotas ‘problemas’ ou como ‘violentos’, mas na verdade eles é que são violentados desde a  primeira infância. Temos o desafio de tornar o ambiente escolar um ambiente acolhedor para esses jovens”, defendeu.

O prêmio será dividido em valores iguais entre o Inesc e a Uism. Na 12º edição da premiação, em 2017, o Onda tinha sido agraciado com a primeira colocação da etapa regional. O Projeto já ganhou outros quatro prêmios, incluindo um internacional.

Prêmio Itaú-Unicef

Dos mais de 3,5 mil inscritos nas duas categorias do prêmio, que identifica projetos que trabalham pela garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens em todo o país, o Onda conseguiu a primeira colocação na categoria “Parceria em Ação”, em que são reconhecidas parcerias entre organizações da sociedade civil (OSCs) e escolas públicas.

Os projetos foram avaliados por um grupo de aproximadamente 140 pessoas – representantes das instituições organizadoras e parceiras do Prêmio – das áreas da educação, assistência social, cultura e comunicação.

Reconhecido nacionalmente, Projeto Onda contribui para formação cidadã de adolescentes

Ações inclusivas e transformadoras, por meio do ensino, do diálogo e da cultura, levaram o Projeto Onda – Adolescentes em Movimento Pelos Direitos a acumular reconhecimento local e nacional, impactando diretamente na vida de centenas de adolescentes que passaram por ele em seus 10 anos de existência.

Desenvolvido pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em parceria com a escola da Unidade de Internação da Santa Maria (Uism), que atende cerca de 180 jovens de 14 a 21 anos em privação de liberdade, o Onda pela Paz é um dos 30 finalistas da 13ª edição do Prêmio Itaú-Unicef, promovido pela fundação Itaú Social e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

O projeto tem como objetivos contribuir para o desabrochar do talento individual e coletivo dos adolescentes e incentivá-los a se enxergar como sujeitos de direitos, com a capacidade de cobrar do poder público o cumprimento de suas responsabilidades.

Dos mais de 3,5 mil inscritos nas duas categorias do prêmio, que identifica projetos que trabalham pela garantia de direitos de crianças, adolescentes e jovens em todo o país, o Onda está entre os 10 finalistas da categoria “Parceria em Ação”, em que são reconhecidas parcerias entre organizações da sociedade civil (OSCs) e escolas públicas. Os projetos vencedores nacionais serão anunciados em 27 de novembro, em cerimônia no auditório do Ibirapuera, em São Paulo.

Os projetos foram avaliados por um grupo de aproximadamente 140 pessoas – representantes das instituições organizadoras e parceiras do Prêmio – das áreas da educação, assistência social, cultura e comunicação. O prêmio é dividido em valores iguais entre o Inesc e a escola.

Para Márcia Acioli, assessora política do Inesc e coordenadora do Projeto Onda, o melhor prêmio é mostrar que dá pra fazer e que ousar é preciso. “Se a gente se acomodar nos padrões construídos, não saímos do lugar. É importante mostrar que podemos fazer diferente, desde que tenhamos segurança de estar num caminho ético, construído coletivamente”, afirma.

Foto: Márcia Acioli

Um aspecto que merece destaque é a interação de adolescentes internos com os de outras escolas em atividades externas. “Nessas atividades há uma interação muito tranquila e um acolhimento importante que contribui para o retorno ao convívio comunitário”, observa Márcia.

Cursos sobre mediação de conflitos, aulas de arte e dança, produção da revista “Descolados”, com artigos escritos pelos próprios adolescentes, oficinas de poesia, festivais de música, gravação de um CD com composições dos alunos e programas de rádio produzidos dentro da Uism e enviados para transmissão em diversos países. Estas são algumas das ações do projeto, feito sempre em parceria com a escola, vinculada ao Centro Educacional 310 (CED) de Santa Maria e que oferece aos internos ensino fundamental (anos iniciais e finais) e ensino médio.

“Nossa parceria é orgânica e tudo sempre foi feito em conjunto”, reforça Márcia, que destaca a criação do Conselho dentro do projeto, em que os adolescentes podem decidir diretamente o rumo das ações, o que funciona e não funciona. “Eles decidem qual será o tema do ano, discutem o que faremos e como estão indo as coisas, o que gostam e não gostam. Esse exercício da responsabilidade é fundamental para eles, com participação efetiva na tomada de decisões”, lembra a coordenadora do projeto.

Inesc, escola e unidade de internação: somando forças

As ações ganharam ainda mais corpo com a chegada, há dois anos, de Antônio Raimundo dos Santos, diretor da Unidade de Internação de Santa Maria, que passou a apoiar integralmente o que foi proposto em conjunto, criando um ambiente de cooperação entre todos os agentes envolvidos no processo. Para Antônio, o projeto é muito importante porque valoriza a opinião dos internos. “O trabalho feito é muito sério e o Inesc aqui dentro tem fortalecido a participação dos meninos, o que eles colocam, suas ansiedades e necessidades. Pela importância do projeto para a unidade, dou todo o apoio que é necessário para que o Inesc possa desenvolver o trabalho da melhor maneira possível”, afirma.

Com esse suporte, hoje é possível fazer o impensável, conta Acioli. “O Antônio garante que 100% dos meninos participem do festival de música, por exemplo, interagindo em conjunto e com outros artistas da cidade. Isso é fantástico”, acredita. Para a educadora, a medida socioeducativa tem um papel decisivo para que adolescentes revejam seu ato infracional e enxerguem que eles são muito mais do que isso. “Esse é o papel da socioeducação, provocar essas possibilidades para que o talento que eles possuem desabroche. Não é por acaso que recebemos tantos prêmios nos últimos tempos, agora temos uma identidade coletiva”, conta.

O diretor concorda. Para Antônio, as ações fazem com que os internos sejam mais críticos e reflexivos, abrindo novas oportunidades. “O mais importante do projeto é fazer com que as meninas e os meninos tenham senso crítico de saber que tem um outro lado, que podem escolher outro tipo de vida. Isso é muito bacana. O Inesc, nesse sentido, mexe muito com a cabeça deles e isso é fundamental para fazer as escolhas certas”, destaca.

Esse é o caso de Cristina (nome fictício), 18 anos, que compõe letras de rap, escreve matérias e também grafita, entre outras atividades. “O projeto mudou o meu entendimento do mundo. Tive a oportunidade de me desenvolver mais, me abrir, com essas pessoas do meu lado apoiando. Eu vejo isso como mais uma porta que eu posso entrar por ela se quiser, vai muito do querer da pessoa”, relata a adolescente. Cristina conta que aprendeu muito sobre seus direitos e também a identificar comportamentos preconceituosos que tinha dentro de si, além de, hoje, conhecer melhor suas potencialidades. “Eu tinha uma cabeça muito limitada. Participar dessas atividades do INESC, dos debates na escola, das rodas de conversa e do próprio rap, me fez enxergar que nada daquele estereótipo que eu criava na minha cabeça era do jeito que eu pensava”, conta.

Esse é um dos principais orgulhos do professor de história Francisco Celso, que traz o rap como narrativa da realidade concreta dos internos e uma forma de se aproximar do que os alunos gostam e se identificam. “Percebi que eles não se identificam com o que é contado nos livros didáticos, mas se enxergam nas letras de rap. Por isso uso a música para debater os eixos transversais do currículo da educação básica do DF, como direitos humanos, sustentabilidade e diversidade”, explica.

A partir das letras de rap, com narrativas que espelham essas temáticas, o conteúdo é trabalhado em sala de aula e posteriormente vem o processo dos alunos expressarem o que aprenderam, da forma que se sentem mais à vontade, seja por desenho, poesia, redação ou letra de música, que conta também com o trabalho de musicalização. Isso tudo culmina no festival anual, que já está na terceira edição, em que os internos se apresentam cantando os próprios raps. A iniciativa também deu origem a um CD com essas composições, que já caminha para uma segunda edição com novas músicas.

Para Francisco, esse foi um processo de conquista, já que essas linguagens culturais são trabalhadas desde 2015. Depois da resistência inicial, a autonomia foi conquistada na prática, a partir do momento que os primeiros resultados começaram a aparecer. “As pessoas estão vendo que está sendo efetivo o trabalho, as atividades lúdicas e culturais, que os internos voltam mais tranquilos para o módulo, que diminui os conflitos. Isso acabou gerando um círculo virtuoso aqui dentro. A quebra de paradigma acontece positivamente quando mostramos que esse trabalho humanizado é mais eficaz”, relata o professor.

Para o educador, que tem longa vivência na periferia, o mais recompensador é escutar isso dos próprios alunos. “Uma interna chegou próximo da gente e falou que estava aqui há seis meses e era a primeira vez que se sentia livre. Isso é muito significativo, uma pessoa num ambiente de privação de liberdade e ainda assim se sentir livre. É sinal de que ela já se desprendeu da principal prisão, que é a mental, porque as prisões físicas são passageiras, as principais são as mentais e essa ela já conseguiu se libertar”, conta, satisfeito.

Adolescentes do Projeto Onda produzem campanha de combate ao racismo

Em 20 de novembro comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A data é dedicada à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. Pensando nisso e baseados em pesquisa feita em sua escola e comunidade, adolescentes do Projeto ONDA criaram e produziram uma campanha antirracista. A ação está prevista para ser lançada no dia 30 deste mês. Entre as peças da campanha estão um calendário, um vídeo para a celebração da cultura negra, broches e adesivos. Toda a campanha será  referenciada em uma personagem criada pelo grupo chamada Luzia.

Os objetivos  da campanha são: se reconhecer e autoafirmar, valorizar a beleza natural e celebrar a negritude, enfrentar o racismo na escola e na comunidade e sensibilizar as pessoas para gerar a vontade de mudar. “Para mim a campanha que estamos produzindo é importante para levar autoestima para as pessoas que cresceram ouvindo que suas características físicas eram feias e inferiores”, diz Paulo Ricardo, um dos estudantes integrantes do Onda.

Integrantes do projeto refletiram sobre o poder da linguagem e o uso de palavras racistas no cotidiano, principalmente as que são voltadas para o cabelo crespo. Tiveram oficinas sobre gênero, formatos, linguagens de comunicação, assim como escolheram os públicos prioritários da campanha. “Eu me identifiquei com a conversa sobre cabelo porque eu sempre tive vergonha do meu. Desde pequeno quis ter o cabelo igual ao de outros meninos, porém não podia porque parecia que ele não aceitava outros tipos de corte. Por isso eu me senti obrigado a manter o cabelo bem curto”, nos conta Victor Queiroz, um dos participantes do Onda. “Com a campanha eu percebi que o cabelo crespo é lindo mas que o racismo nos impede de reconhecer, e é uma coisa que eu quero que todas as meninas saibam”, completa Márcia Mesquita, adolescente que também integra o projeto.

A partir de conversas, análises de músicas, poemas, documentários e dinâmicas, os encontros para a produção da campanha têm sido permeados por muito diálogo, estudo, reflexão e uso de ferramentas criativas. Para Diego Mendonça, um dos educomunicadores que estão participando do projeto, a campanha busca uma perspectiva de transformação da vivência cotidiana do racismo que faz parte da realidade dos adolescentes. “Minha expectativa é que eles saiam do processo transformados para que possam transformar a realidade concreta deles”.

Atualmente o Onda está em três escolas, localizadas no Itapoã, no Paranoá e na Unidade de Internação de Santa Maria. Os grupos de cada escola decidem sobre o que vai ser trabalhado pelo projeto. Adolescentes do CEF 5 do Paranoá, após passarem por processos de formação, realizaram uma pesquisa na cidade para verificar qual a percepção da comunidade sobre a violência sofrida por crianças e adolescentes.

Com a sistematização da pesquisa, os e as estudantes constataram um elevado número de adolescentes vítimas da violência letal na região. E não foi difícil associar este quadro ao genocídio dos jovens negros do país, um dos temas trabalhados nas oficinas. A constatação por eles e elas de que a naturalização do racismo invisibiliza a violência que ele produz, além dos dados levantados na pesquisa, motivou a produção da campanha para a valorização da cultura, história e beleza negra.

“Eu vejo com muito orgulho os meninos e as meninas se apropriando da consciência da identidade racial e aprendendo a identificar as manifestações de racismo no cotidiano. Assim como foi importante reconhecer o quanto a escola ainda não contempla a nossa história e omite os/as intelectuais negros/as e referências culturais dos conteúdos das aulas. É bonito vê-los/las alegres e orgulhosos/as de serem quem são, fortes e determinados/as a lutar por uma escola sem violência e sem racismo”, afirma Márcia Acioli, assessora política do INESC (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e arte educadora do Projeto Onda.

Assista ao vídeo da campanha #SóAcreditoVendo

Todo ano, o Brasil perde cerca de R$ 250 bilhões com gastos tributários que o governo federal concede para empresas, instituições ou pessoas físicas. Mas quem, exatamente, recebe esses incentivos? Eles são de fato benéficos para o conjunto da sociedade? Buscando respostas para essas questões, o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) lançou a campanha #SóAcreditoVendo, que pede transparência no processo de concessão de incentivos fiscais.

Este vídeo de 1 minuto explica como funcionam os gastos tributários e como fazer parte da luta pela transparência fiscal. Assista!

 

De acordo com o manifesto da campanha, a falta de transparência e monitoramento dos gastos tributários acaba “gerando alterações de mercado e criando privilégios que aumentam a injustiça do sistema tributário brasileiro”. Da maneira como está organizado hoje, nosso sistema está concentrado em tributos regressivos e indiretos, justamente os que oneram mais os trabalhadores e os pobres.

botão manifesto

Mais informações em: www.soacreditovendo.org.br

 

Lançamento do Guia Juventudes nas Cidades

Na semana em que se comemora o Dia da Democracia (25), o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) promove o encontro Juventudes e Democracia: participação e luta por políticas públicas, no próximo sábado (27), em Brasília.

Na ocasião, será lançado o Guia Juventudes nas Cidades, um instrumento que busca dar visibilidade às políticas públicas para as juventudes em defesa do direito à cidade. O guia sintetiza as políticas vigentes e aponta as ausentes, reunindo também informações sobre diferentes iniciativas de coletivos jovens do DF.

A iniciativa é parte do projeto “Fortalecendo o Corre”, que reúne coletivos de jovens para enfrentar as desigualdades nas grandes cidades brasileiras. O projeto prevê oficinas de formação e assessorias visando à inclusão econômica dos jovens em tempos de crise, bem como formação política nos temas “desigualdade social” e “direito à cidade”.

O evento contará ainda com a realização do Sarau do Corre, com a participação de integrantes do projeto que levarão arte e cultura pela defesa da Democracia. O grupo Mantendo a Identidade, o rapper Markão Aborígine e a Cia de Teatro Bisquetes são atrações confirmadas.

O Inesc é a instituição referência do projeto Fortalecendo o Corre em Brasília, mas ele também acontece em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, onde é executado pelas ONGs Fase, Ibase, Ação Educativa, Criola, Instituto Pólis e Oxfam Brasil.

Programação do Encontro Juventudes e Democracia (27/10)

* Oficina 02 – Juventudes e Democracia: Participação e Luta por Políticas Publicas que Garantam os seus Direitos. Palestrantes: Grazielle David e Meimei Bastos.

Horário: 09h às 17h

Público-alvo: Jovens com até 30 anos, participantes do projeto.

*Lançamento do Guia Juventudes nas Cidades com Sarau do Corre

Horário: 17h às 19h

Público-alvo: Rede Corre e Convidados

Data: 27/10 (sábado)

Local: Centro Popular de Economia Criativa e Solidária (ao lado do conjunto nacional, sentido norte)

Informações: (61) 98616 4395

Classificação livre

Você conhece as propostas de mobilidade urbana dos candidatos ao GDF?

*Publicado originalmente no Metrópoles

Por Cleo Manhas

O segundo turno das eleições se avizinha e, com ele, o destino do Distrito Federal para os próximos quatro anos. Com relação à mobilidade urbana, o que as candidaturas – tanto a que concorre à reeleição como a que se coloca como uma “novidade” – estão sugerindo? As propostas vão em direção a uma cidade democrática e solidária ou à manutenção das desigualdades?

Infelizmente, vivemos no segundo território mais desigual do Brasil, de acordo com o Índice Gini, que mede a disparidade de renda entre a população. A despeito disso, há tempos Brasília tem se associado a modelos que fortalecem os velhos e tradicionais grupos políticos, aliados da tradição coronelista, cujo modo de governar aprofunda desigualdades, aumentando distâncias entre ricos e pobres. Se considerar o Entorno do DF, isso se acentua ainda mais.

Reduzir essa distância – que é de renda, mas também de território – entre ricos e pobres, passa necessariamente por políticas de mobilidade urbana. É preciso integrar os modais de transporte não apenas no território DF, mas incluindo municípios cercanos, visto que boa parte dessas cidades podem ser consideradas como dormitório.

A maioria da população das cidades-dormitório trabalha no DF, ou apenas no Plano Piloto, que almoça com 2 milhões de pessoas e janta com menos de 300 mil, demonstrando o movimento fortemente pendular desse lugar. Apenas para exemplificar: em Águas Lindas, cidade do Entorno, 59% da população economicamente ativa trabalha no DF, praticamente metade desse número no Plano Piloto.

Propostas
Portanto, esperamos que os candidatos considerem esses dados e que pensem políticas públicas de transporte que busquem a diminuição da desigualdade social no DF. Mas será que isso acontece? Vamos ao que dizem os dois candidatos.

Com relação à melhoria do transporte público, ambos dizem que ampliarão a frota e a renovarão. A candidatura de Ibaneis Rocha (MDB) afirma que fará revisão do Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal (PDTU), priorizando o transporte público coletivo, melhoria da qualidade do serviço do Metrô, com mais trens em circulação, por meio de modernização nos sistemas de energia, sinalização e controle.

O emedebista promete, ainda, transporte público conectado e aprimoramento dos sistemas de bilhetagem, entre os diversos modais de transporte, com facilitação da recarga dos cartões pelo usuário via internet e em totens localizados em áreas públicas de grande circulação de pessoas.

O candidato do PSB, Rodrigo Rollemberg, também propõe revisão do PDTU e acrescenta ações para a Região Integrada de Desenvolvimento Econômico (Ride), ou seja, o Entorno. Além disso, explicita a proposta de criação de rede, com transporte para curta distância integrado às redes troncais. E também cita melhorias no Metrô e no sistema de bilhetagem.

A candidatura do governador e postulante à reeleição é mais explícita sobre onde pretende investir para avanço e ampliação do transporte coletivo, além de citar várias ações para a mobilidade ativa. Sobre este último tema, a candidatura de Ibaneis apenas diz que ampliará a infraestrutura para ciclistas nas estações de metrô.

Pedestres e velocidade
Com relação à infraestrutura para pedestres, apenas a candidatura de Rollemberg apresenta proposta. O mesmo acontece em relação à redução de velocidades, quando o candidato promete criar as Zonas 30 (vias com velocidade máxima de 30 km/h). No entanto, como medida de redução da circulação de veículos, a candidatura de Ibaneis diz que irá construir bolsões de estacionamento junto a terminais e estações de metrô.

Diante dessas propostas, é possível concluir que ambas as candidaturas não conseguem escapar da armadilha rodoviarista, tendo em vista que Brasília é território com número excessivo de carros. E seguem com várias propostas de ampliação e construção de novas vias.

Rollemberg ao menos cita o investimento em uma frota com energia limpa, mas nenhuma das candidaturas se aprofunda nos problemas ambientais e de saúde provocados por um modelo equivocado de mobilidade.

O que resta à população do DF?
Seja quem for eleito, é necessário e urgente a organização da sociedade para a democratização dos espaços compartilhados das cidades, para investimento massivo em transporte de fato público, reconhecendo que essa política é direito social inscrito na Constituição Federal.

Também é urgente a redução drástica de investimento em transporte individual motorizado e ampliação de recursos para abertura dos portais da cidade com transporte acessível a todas as pessoas, com redução de tarifa e preparação do caminho para implementação do direito ao transporte com financiamento do Estado.

Por fim, o Distrito Federal precisa de melhoria e ampliação da infraestrutura para pedestres e pessoas com mobilidade reduzida, temporária ou permanente; respeito ao compartilhamento das vias com ciclistas; e redução das velocidades e criação de zonas livres de carros, até mesmo aumentando a tributação sobre esse modal, para investimento em modalidades coletivas.

Além, e não menos importante, da integração de políticas de uso e ocupação do solo com as políticas de mobilidade urbana, e a garantia de espaços de participação popular nas políticas públicas.

*Cleo Manhas é assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e integrante do Movimento Nossa Brasília

O subsídio que mata: os gastos tributários na indústria de refrigerantes

Por Maurício Angelo

Em junho, no meio do malabarismo orçamentário imposto pela greve dos caminhoneiros, Michel Temer diminuiu, por decreto, parte dos benefícios fiscais para empresas que produzem refrigerantes. A medida reduziu a capacidade do setor gerar créditos tributários. Com efeito, foi decretada a diminuição de 20% para 4% das alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) sobre a produção de xaropes usados na fabricação da bebida.

Quanto maior as alíquotas do IPI para os xaropes, melhor para os fabricantes de bebidas açucaradas, pois o valor é convertido em créditos tributários para as empresas, que podem abater a quantia de outros impostos ou ainda pedir ressarcimento, gerando perdas de arrecadação ao governo.

Contudo, as empresas usaram seu poder de lobby para derrubar o decreto no Senado no mês seguinte.

Coca-Cola e Ambev recebem a maior parte dos R$ 2 bilhões que são dados anualmente só de IPI a quem compra concentrados de refrigerantes, chás e sucos na Zona Franca de Manaus. Nos cálculos da Receita Federal, a isso se somam R$ 200 milhões de PIS-Cofins e R$ 1 bilhão de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). E, por fim, há abatimento de 75% no Imposto de Renda e isenção de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU).

O site O Joio e o Trigo calculou que o rombo na arrecadação pode chegar a R$ 7 bilhões ao ano, sem computar o IPTU. Enquanto isso, o faturamento total das empresas que produzem concentrados de refrigerantes chega a R$ 10,06 bilhões.

Existe um consenso entre os especialistas da saúde de que bebidas açucaradas são um dos principais responsáveis pela epidemia mundial de obesidade infantil, diabetes, que colaboram no surgimento de diversos tipos de câncer e aumentam a morte prematura por doenças cardíacas. Estudos mostram que, apenas diretamente, estas bebidas causam a morte de mais de 180 mil pessoas no mundo.

Ainda assim, a votação no Senado que derrubou o decreto de Temer e restituiu os benefícios tributários provou a força do lobby dos players multinacionais que produzem uma bebida comprovadamente perigosa, sobretudo para crianças. Os partidos de diferentes posições ideológicas liberaram suas bancadas para votar de acordo com o interesse de cada parlamentar.

O resultado: 29 votos indo contra um decreto que, sabe-se, Temer resolveu assinar a contragosto, com a faca no pescoço. Seja pelo medo de afetar o “suporte eleitoral” nos seus estados, seja por doações de campanha no passado, é certo que são muitos os caminhos confidenciais que fizeram com que R$ 740 milhões de arrecadação somente em 2018 virassem pó. O PDS 57/2018 seguiu para a Câmara dos Deputados.

Campanha #SóAcreditoVendo

Nós sabemos muito bem qual é a política de benefícios fiscais para a Amazônia e a Zona Franca de Manaus, que se arrastam por mais de 50 anos sem transparência e sem análise da efetividade.

É por cenários como esse que o INESC lançou a campanha #SóAcreditoVendo, que pede o fim do sigilo dos gastos tributários no Brasil. Apenas sabendo quem recebe o quê, com total transparência, é que a sociedade tem condições de cobrar da maneira adequada. Ana Paula Bortoletto, pesquisadora em alimentos no Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC), concorda. “Acho que garantir a informação e transparência desses dados faz com que tenhamos muito mais ferramentas de pressão, para entendermos quem são os atores nesse sistema tributário que impactam a saúde e quanto contribuem para provocar mais doenças”, alerta.

A campanha está colhendo assinaturas para um manifesto pelo fim do sigilo fiscal dos gastos tributários, que será entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) e ao Senado.

botão manifesto

Bortoletto vai além. Segundo ela, “lobby é pouco”. A capacidade que as empresas têm de garantir que os subsídios não sejam questionados no Congresso Nacional é enorme. “Nem no judiciário, com a Receita Federal tentando modificar esse esquema, as tentativas não foram bem-sucedidas. Há uma rede muito forte de influências que essas indústrias têm para manter esses privilégios”, lembra.

Vale lembrar que a Receita Federal abriu uma investigação para apurar se a Coca-Cola está superfaturando seus produtos para ampliar seu lucro na Zona Franca de Manaus, onde fica sua fábrica. A RF suspeita que a companhia estaria superfaturando o valor do xarope, o que gera um aumento artificial da compensação tributária que recebe do governo, justamente o alvo do decreto.

A articulação do setor privado para garantir vários benefícios fiscais em diferentes níveis é ampla e irrestrita. Em 2014, o Congresso aprovou a ampliação da Zona Franca de Manaus e todos os seus “incentivos fiscais” embutidos por mais 50 anos, até 2073. Essa foi, disparada, a maior prorrogação já feita para a Zona Franca, superando o recorde anterior, de 25 anos. Não é de surpreender, portanto, que também tramite no Congresso um projeto de lei que amplia até 2023 o prazo para que empresas com projetos aprovados nas superintendências do Desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene) tenham direito à redução de 75% do Imposto de Renda (IR) calculado com base no lucro da exploração do empreendimento. Todas estas décadas, diga-se, sem qualquer avaliação concreta sobre a efetividade dos benefícios fiscais concedidos.

Paula Johns, diretora geral da ACT Promoção da Saúde, lembra que outras tentativas até do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, também não foram adiante – e de forma muito rápida. “É muito significativo sobre o tamanho do lobby. Estamos falando do ministério mais forte da Esplanada. Os decretos anteriores que foram tentados, em três dias eles foram obrigados a voltar atrás. Esse ainda durou algum tempo”, lembra. Para ela, o forte financiamento de campanhas eleitorais pelas empresas faz com que a captura de políticos seja total.

Você paga R$ 35 por ano para a Coca-Cola e a Ambev

Os grandes fabricantes de refrigerantes recebem de R$ 0,15 a R$ 0,20 de subsídios para cada lata consumida. Nas garrafas de dois litros, o valor repassado a essas empresas fica entre R$ 0,45 e 0,50. Seja você um consumidor ou não desses produtos, cada brasileiro arca com R$ 35 ao ano em incentivos transferidos especialmente a Coca-Cola e Ambev.

Não surpreende, portanto, que os subsídios fiscais sejam considerados dentro dos relatórios financeiros de cada uma dessas empresas como favas contadas ano a ano. Como maior mercado da América Latina, o Brasil oferece um volume de lucros significativo.

Sozinha, a Coca ou envasadores ligados a ela geram cerca de 60% de todos os créditos de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) da Zona Franca de Manaus. Em 2016, o setor de bebidas gerou R$ 2 bilhões em créditos na região. Após pagar R$ 767 milhões em IPI, as empresas ficaram com R$ 1,2 bilhão para compensar tributos. Ou seja, o setor gera mais créditos do que o que precisa pagar efetivamente de imposto. Pelas regras tributárias em vigor, a cada R$ 100 vendidos em concentrado, os envasadores geram R$ 20 em créditos fiscais, que podem ser usados para abater Imposto de Renda e CSLL (Contribuição Social sobre Lucro Líquido).

“O fato é que isso já acontece há muitos anos, os bons resultados financeiros aqui ocorrem exatamente por esse ‘sistema fiscal especial’, conforme o termo que eles usam. E nós não temos nenhuma transparência sobre esses incentivos fiscais.”, afirma Paula Johns, da ACT Promoção da Saúde.

O fato de concorrentes menores, que nem de longe tem a força financeira, de marca e de pressão que a Coca-Cola e a Ambev têm, conseguirem sobreviver sem subsídios, também coloca à prova a necessidade desses gastos.

Na investigação conduzida pela Receita Federal, executivos da Coca-Cola têm de explicar por que a fabricante vende o quilo do xarope por cerca de R$ 200 se exporta o produto por aproximadamente R$ 20, situação já questionada por concorrentes. Como boa parte dos envasadores pertence à própria Coca-Cola, a suspeita é que ela estaria realizando uma manobra de superfaturamento para reduzir ao mínimo o pagamento de impostos e deslocando para o balanço de sua fábrica, na Zona Franca, o lucro do grupo. Isso teria permitido remessas mais significativas para a matriz, com o valor passando de R$ 1,5 bilhão, em 2016, para R$ 2,4 bilhões, em 2017, segundo a Folha de SP, sem, no entanto, o volume de vendas aumentar na mesma proporção.

Fake News docinhas e bem embaladas: as falácias da indústria

Como em outras indústrias igualmente perigosas, como a dos agrotóxicos, a de bebidas açucaradas se vale de um emaranhado de notícias falsas, estudos pseudocientíficos e “especialistas” comprados para servirem de porta-voz dos seus interesses.

Se a indústria de agrotóxicos alega, por exemplo, que os subsídios são “vitais” para manter a produtividade e o lucro do agronegócio e que, sem eles, até o custo da cesta básica pode ser afetado – algo jamais avaliado pelo DIEESE – a indústria de bebidas açucaradas apela para a suposta geração de empregos na Zona Franca de Manaus e para a suposta efetividade dos subsídios para “evitar o desmatamento na Amazônia”, além de “promover a agricultura familiar na região Norte do Brasil”. A mera presença das empresas na região faria com que os governos estaduais deixassem de buscar outras fontes de renda que, como se pressupõe, necessariamente causariam mais desmatamento. Embora estudos mostrem que é possível produzir no Brasil sem derrubar mais uma árvore sequer.

A alegada relação com a agricultura familiar é rechaçada por especialistas, como Bortoletto, assim como a geração de empregos. Trata-se, na realidade, de falácias bem embaladas sem qualquer base na realidade. Um trunfo numa época reinante de fake news. “É absurdo os argumentos que eles usam. São totalmente infundados”, afirma a diretora do IDEC.

Em junho, a Receita Federal desmentiu dados apresentados pela indústria de refrigerantes em audiência pública no Senado. O subsecretário de Fiscalização, Iágaro Jung Martins, contrapôs as informações sobre empregos criados, concentração de mercado e insegurança jurídica em meio ao debate sobre incentivos a esse setor. Martins recordou que o setor chega a dar prejuízo de arrecadação para o governo – em 2016, R$ 767 milhões negativos no IPI. A carga tributária total de uma empresa de refrigerantes que compra concentrados da Zona Franca fica em 4,77%. No total, o setor tem incentivos de R$ 3,9 bilhões anuais.

A Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas Não Alcoólicas – Abir – fala em 14 mil postos de trabalho, entre agricultores e funcionários no polo industrial de Manaus. Já a Receita registra apenas 798 empregos diretos, frente a um faturamento de R$ 8,7 bilhões. E contesta os dados sobre a grande quantidade de insumos, como açúcar e guaraná, comprados na região: R$ 215 milhões foram gastos no ano passado. Dividindo pelo número de produtores envolvidos, chega-se a R$ 1.300 por mês, caso se considere que todos os recursos são igualmente distribuídos. Três fabricantes instaladas na Zona Franca concentram 83% das vendas – Recofarma, Arosuco e Brasil Kirin (ex-Schincariol).

Para Iágaro Martins, não faz sentido afirmar que a mudança promovida pelo decreto coloca em risco todo o modelo da Zona Franca. Ele recordou que apenas a indústria de refrigerantes consegue cobrar créditos em cima de impostos que nunca foram pagos, numa operação contestada pelo órgão desde a década de 1990, como mostramos. “A preocupação com o precedente para os demais setores não tem como ocorrer. É logicamente impossível”.

“Essa quantidade de empregos não justifica o valor que custa para o Estado. São recursos que poderiam ser usados para diversos programas sociais e de desenvolvimento sustentável”, diz Johns. O estudo “Os incentivos fiscais da Zona Franca de Manaus”, feito em 2015 pela Fundação Getúlio Vargas para a Abir, mostra que o faturamento desse setor por funcionário é de R$ 9,265 milhões, muito acima da média de outros setores. As maiores empresas de concentrados respondem por menos de 1% da mão de obra empregada diretamente na Zona Franca, mas colhem 12-13% do faturamento.

Mais taxação, restrição da publicidade e melhoria nos rótulos

Em 2017, o Inca (Instituto Nacional de Câncer), órgão do Ministério da Saúde, lançou um documento em que defende o aumento na taxação de bebidas açucaradas ou com adoçantes, como sucos de caixinha e refrigerantes, a restrição da publicidade de alimentos e bebidas não saudáveis dirigidos a crianças, a restrição da oferta destes produtos nas escolas, além da melhoria dos rótulos, com alertas sobre o alto teor de açúcar, gorduras e sódio.

Foi a primeira vez que o órgão lançou um posicionamento técnico em que apoia essas iniciativas, também recomendadas pela Organização Mundial de Saúde, como forma de frear o avanço de alguns tipos de câncer e a obesidade, que já atinge 20% da população brasileira e o sobrepeso, que atinge mais da metade.

Nesse sentido, o Idec propôs à Anvisa uma atualização e aprimoramento do atual modelo de rotulagem nutricional no Brasil para ajudar os consumidores a fazerem escolhas alimentares mais saudáveis. A proposta sugere que se inclua um selo de advertência na parte da frente da embalagem de alimentos processados e ultraprocessados que indica quando há excesso de açúcar, sódio, gorduras totais e saturadas, além da presença de adoçante e gordura trans em qualquer quantidade. Estes produtos também não poderão apresentar informação que transmita a ideia de que o alimento é saudável, nem ter sua comunicação voltada ao público infantil. Para saber o que é excessivo, o Instituto sugere que a indústria siga o modelo de perfil de nutrientes da Organização Panamericana da Saúde, de 2016, baseado nas recomendações da Organização Mundial da Saúde.

Declarações recentes do presidente da Anvisa vão de encontro ao relatório da própria agência, favorável à proposta, o que sugere interferência dos fabricantes. A Aliança Pela Alimentação Adequada e Saudável manifestou preocupação com este retrocesso. “O lobby é forte, representantes da indústria foram até falar com o Temer sobre isso. Tentaram atrasar o processo, adiar o prazo de análise, publicam informações completamente equivocadas na imprensa. Mas apesar de tudo isso nós esperamos que o relatório seja respeitado e a Anvisa abra a consulta pública final para ter a regulamentação revisada”, afirma Ana Paula Bortoletto, pesquisadora do IDEC. As relações suspeitas de William Dib, de fato, são muitas.

Tanto o IDEC quanto a Aliança lutam também por uma lei federal que regule o marketing de alimentos não saudáveis, uma briga antiga, contra o PLC nº 34/2015 que reduz a exigência para a rotulagem de transgênicos, que deve ir à votação no plenário do Senado e por projetos que proíbam a venda e publicidade de alimentos ultraprocessados nas escolas. Atualmente, existem 30 dispositivos legais em 13 estados e no DF sobre o tema.

A nível federal, no entanto, não existe nenhuma regulamentação. Todas elas estão mapeadas em um guia para municípios sobre alimentação saudável nas escolas lançado pelo IDEC, que pode servir de inspiração para boas práticas dos gestores.

Para Bortoletto, tudo isso faz parte do conjunto de políticas que os especialistas entendem que vão facilitar as escolhas mais saudáveis. “A gente sabe que tem uma narrativa comum de que a culpa é das pessoas. Mas a verdade é que existe um grande peso da publicidade e uma influência enorme do ambiente que favorece escolhas não saudáveis. Restringir a publicidade, dar transparência de informação nos rótulos e corrigir as distorções tributárias são medidas efetivas e necessárias para mudar esse quadro”, diz.

O Ministério da Saúde anunciou em 01 de outubro um acordo com a indústria de alimentos processados para a redução do nível de açúcar em vários produtos sem, contudo, detalhar exatamente quais as regras que esperam que sejam cumpridas. Segundo o ministro Gilberto Occhi, a proposta inclui iogurtes, achocolatados, sucos em caixinha, refrigerantes, bolos e biscoitos, com níveis de redução específicos para cada um até 2021, quando uma nova rodada de negociação acontecerá.

>>> Saiba mais sobre a campanha #SóAcreditoVendo, que pede transparência dos gastos tributários

Brasileira preside novo Comitê Executivo do Forus

A Semana Estratégica do Forus, realizada em setembro, no Chile, trouxe grandes novidades. Além de um novo nome e identidade visual, a antiga Fórum Internacional de Plataformas de ONGs Nacionais (IFP/FIP), elegeu seu novo Comitê Executivo para a gestão 2018-2020. Iara Pietrcovisky foi eleita presidente representando a Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong).

O Forus é uma rede global inovadora que capacita a sociedade civil para uma mudança social efetiva. É uma organização que reúne 69 Plataformas de ONGs Nacionais (PON) e 7 Coalizões Regionais (CR) da África, América, Ásia, Europa e Pacifico, juntas representando mais de 22.000 organizações.

“A Semana Estratégica do Forus foi um momento único, pois demonstrou o forte e inabalável  compromisso dos membros de Forus com os direitos humanos e a democracia, um compromisso coletivo para continuar essas lutas, a nível internacional e regional, em nome de Forus, por um mundo melhor e mais justo”, afirmou Iara Pietricovisky.

O novo Comitê Executivo (2018-2020) também é composto por pelos vice-presidentes Saroeun Soeung (CCC, Camboja), Rilli Lappalainen (KEHYS, Finlândia) e Sam Worthington (InterAction, EUA); e pelo tesoureiro Jean-Marc Boivin (Coordination Sud, França).

Saiba mais sobre o papel do Forus e os desafios para o próximo período pelas palavras da presidente Iara Pietricovisky, que também é antropóloga, mestra em Ciência Política pela Universidade de Brasília (UnB) e atriz de teatro:

Qual o papel do Forus no Brasil e no mundo?

O Forus pretende ser uma articulação de representação das plataformas nacionais e regionais de ONGs que estão comprometidas com a democracia e com a efetivação do marco dos direitos humanos. Portanto, um campo bem específico e bem definido politicamente.

Quais as propostas para esse mandato?

Nossa prioridade será atuar nos debates da agenda 2030; desenvolver uma proposta de fortalecimento das ONGs por meio da existência de recursos específicos para este campo, no âmbito das agências multilaterais; fortalecer e defender as plataformas em suas atuações nas mais diversas regiões do Planeta; e fortalecer a luta em favor da diversidade e da igualdade.

Quais os desafios de liderar uma organização como essa?

Poderia comentar dois grandes desafios: o primeiro é o fato de existir uma tendência de estreitamento do espaço cívico em várias partes do mundo, o que tem implicação direta com o ambiente democrático e de liberdade de expressão necessário para a atuação das ONGS pertencentes ao Forus. O segundo, como decorrência do primeiro, é restrição de financiamento para este setor da sociedade que historicamente tem mostrado seu compromisso com a transparência e a justiça em seus vários âmbitos. Uma está conectada com a outra, por isso, o desafio do Forus é ser o porta-voz destas mais de 22 mil organizações espalhadas em mais de 69 países e com representações regionais em todos os hemisférios e regiões do Planeta.

Acesse o site da Forus e saiba mais: http://www.forus-international.org/pt

Sociedade civil divulga manifesto em defesa do meio ambiente

Um conjunto de redes e organizações da sociedade civil, entre elas o Inesc, divulgou, na última sexta-feira (19), um manifesto em defesa do meio ambiente. As instituições que assinam o documento consideram que a extinção ou enfraquecimento dos órgãos ambientais pode provocar a explosão das taxas de desmatamento e colocar “em risco quatro décadas de avanços na proteção do meio ambiente”. Lembram ainda que, conforme os cientistas, caso a derrubada da floresta ultrapasse 25% (hoje ela está em 19%), a Amazônia pode se transformar numa savana, o que colocaria em risco o regime de chuvas de grande parte do país.

As organizações reforçam que uma possível saída do Brasil do acordo de clima pode prejudicar o comércio e a imagem internacionais do país tendo em vista as crescentes exigências do mercado quanto à sustentabilidade.

O texto, intitulado “Desvalorizar o meio ambiente é um risco para todo brasileiro” ainda chama atenção para os riscos do enfraquecimento ou fim do licenciamento ambiental; da facilitação do uso de agrotóxicos; da abertura das áreas protegidas a atividades de alto impacto ambiental; e do “fim do ativismo” no país.

“Meio ambiente é coisa séria. Diz respeito à nossa qualidade de vida e ao mundo que deixaremos para nossos filhos, seja qual for a nossa forma de pensar, agir e lutar. A sua proteção constitui direito fundamental de toda a sociedade brasileira, configurando-se como pauta apartidária. O próximo Presidente da República tem o dever de reconhecer e se comprometer com a proteção das conquistas ambientais da sociedade. É preciso caminhar em direção à Constituição Cidadã; não se afastar dela”, alerta o manifesto.

Reportagem do site Investimentos e Direitos na Amazônia, iniciativa do Inesc,  alertou que caso o candidato de extrema-direita Jair Bolsonaro seja eleito no próximo domingo (28/10), o que a Amazônia brasileira e a área ambiental de maneira geral podem esperar é um cenário de aumento de 268% no desmatamento, saída do Acordo de Paris, mineração e grandes obras.

*Com informações do site do ISA

Cerca de 3 mil entidades repudiam Bolsonaro por fala sobre fim do ativismo no Brasil

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) se juntou a cerca de 3 mil organizações não-governamentais, coletivos e movimentos sociais nacionais e internacionais que repudiaram a afirmação do candidato Jair Bolsonaro de que, se eleito, vai “botar um ponto final em todos os ativismos no Brasil”. O pronunciamento foi feito pelo presidenciável no domingo (7/10) depois da divulgação dos resultados do primeiro turno.

Por meio de uma carta publicada na última segunda-feira (15), as entidades afirmam que a fala de Bolsonaro afronta a Constituição Federal, que garante os direitos de associação e assembleia. “Trata-se de uma ameaça inaceitável à nossa liberdade de atuação. Não será apenas a vida de milhões de cidadãos e cidadãs ativistas e o trabalho de 820 mil organizações que serão afetados. Será a própria democracia brasileira. E não há democracia sem defesa de direitos.”

O grupo também destaca a importância de “uma sociedade civil vibrante, atuante e livre para denunciar abusos, celebrar conquistas e avançar em direitos”, assim como para a conquista de direitos e de melhores condições de vida para a população, e pede “que o desprezo pelos movimentos sociais e pela sociedade civil seja considerado por todas e todos na hora de decidir seu voto”.

Clique aqui para ler a íntegra da nota.

“Organizações e movimentos são atores estratégicos na contribuição para a formulação de políticas públicas, na elaboração de leis importantes para o país”, afirma o documento ao citar leis conquistadas por meio de pressão de organizações ativistas, como as que criminalizam o racismo e a violência contra a mulher. E conclui: “calar a sociedade civil, como anuncia Jair Bolsonaro, é prática recorrente em regimes autoritários. Não podemos aceitar que passe a ser no Brasil.”

De acordo com dados do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas) mencionados na carta, em 2017 haviam 820 mil ONGs no Brasil. A lista de organizações, coletivos e movimentos que aderiram à manifestação inclui entidades de diversos segmentos como defesa do meio ambiente, direitos humanos e educação.

*Com informações do site da Conectas

Subsídios aos combustíveis fósseis: é preciso mais transparência

Segundo pesquisa feita pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), entre 2013 e 2017 os gastos tributários relacionados aos combustíveis fósseis alcançaram o patamar de R$ 309,36 bilhões. Isto significa que as empresas que operam no segmento de extração e refino, transporte de cargas e passageiros e geração de energia a diesel tiveram, e ainda tem, subsídios bilionários – foram R$ 58 bilhões somente em 2017. Para se ter uma ideia melhor do quanto o país deixou de arrecadar, esta quantia equivale a cerca de 16 vezes o orçamento do Meio Ambiente.

Visto assim em grandes números é difícil fazer uma análise, uma vez que o setor é muito complexo, composto por segmentos de beneficiários distintos. Para simplificar, é útil separar esses subsídios em dois grandes blocos: os voltados à produção, que mostram o quanto os governos abrem mão de arrecadação para reduzir custos para o setor; e os relacionados ao consumo que, em geral, são adotados pelos governos, seja para evitar fortes elevações nos preços dos combustíveis utilizados no transporte, seja para compensar custos mais elevados da geração de energia baseada em diesel e carvão. São questões muito distintas que exigem um tratamento também distinto.

Subsídios ao consumo: dos R$ 309,36 bilhões em gastos tributários, a maior parte é atribuída ao consumo: são R$ 225 bilhões ou 73% do total. Este valor é oriundo de duas grandes renúncias. Uma, a redução do PIS/COFINS para combustíveis que somou R$ 178,47 bilhões. Outra, a redução do CIDE combustíveis que somou R$ 46,53.

Especialistas divergem acerca da interpretação destas reduções como sendo ou não subsídios, porque a legislação que institui a cobrança deixa brechas para a aplicação de descontos. Mas, para além do debate teórico-jurídico, aplicar uma redução de alíquota em relação à alíquota vigente implica perda de receita. Esta, por sua vez, ou é compensada com outra receita, ou representa uma perda definitiva que vai impactar na redução do gasto com políticas públicas.

O melhor exemplo é a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, que findou com a negociação de um acordo para reduzir o preço do combustível em R$ 0,46 por litro. A redução foi alcançada por meio de duas medidas distintas de subsídios. Uma na forma de renúncia fiscal, por meio da zeragem da CIDE-combustíveis e corte do PIS/COFINS. Este subsídio, que corresponde a R$ 0,16 por litro, representará uma perda de arrecadação de R$ 4,01 bilhões em 2018, a qual deverá ser compensada com a redução de desonerações em outros setores. A outra, na forma de subvenção econômica, por meio de repasse de recursos do orçamento público para a Petrobras e importadoras privadas. As empresas receberão R$ 0,30 por litro de óleo diesel para praticar preços estabelecidos pelo governo. O impacto fiscal é estimado em R$ 9,5 bilhões em 2018.

Subsídios à produção: estes correspondem a R$ 84,34 bilhões ou 27% dos R$ 309,36 bilhões em gastos tributários. A maior parte, R$ 58,10 bilhões, é oriunda do chamado REPETRO. Trata-se de um Regime Aduaneiro Especial, exclusivo do setor e voltado à fase de Exploração & Produção (E&P), que suspende a cobrança de II, IPI, PIS/COFINS, AFRMM para operações de exportação e de importação de bens destinados às atividades de pesquisa e de lavra das jazidas de Petróleo e de Gás Natural.

Dito isto, podemos apontar algumas questões que merecem reflexão no cenário atual, de necessária mudança de rumos para o desenvolvimento do país.  A primeira é que no Brasil os gastos tributários cresceram muito ao longo dos últimos anos. Segundo previsão da Receita Federal, eles atingirão em 2019 o valor de R$ 306,3 bilhões – em 2008 estes gastos eram de R$ 170 bilhões. No cenário de crise em que vivemos, já está publicamente identificado entre os problemas que precisam ser enfrentados o excesso de desonerações que foram sendo concedidos na vã tentativa de impulsionar a economia, mas que acabaram não resolvendo o problema da falta de crescimento e gerando um outro: a falta de arrecadação e o déficit do orçamento público.

Pois bem, se olharmos para os subsídios aos combustíveis fósseis veremos que, dos R$ 309,36 bilhões concedidos entre 2013 e 2017, a maioria nem sequer é considerada nas estimativas apresentadas pela Receita Federal. Pegando o exemplo de 2017, dos 58 bilhões de gastos tributários, R$ 55 bilhões (quase tudo) não fazem parte das estimativas de gastos tributários da Receita Federal, medidos em um total de R$ 270 bilhões para o ano de 2017. Ou seja, se a Receita computasse também estes gastos tributários teríamos R$ 55 bilhões a mais oficialmente estimados.

Por que isto acontece? Basicamente porque o conceito de gasto tributário no Brasil é restritivo, não considerando como gastos tributário práticas assim definidas em outros países.  Por isto, o estudo do Inesc, seguindo a metodologia utilizada da OCDE que considera como subsídios todas as renúncias de impostos e contribuições em favor de produtores ou consumidores de combustíveis fósseis, chega a números mais expressivos e ignorados nos cálculos apresentadas pela Receita Federal.

De novo, o melhor exemplo da importância de se considerar tais valores como gastos tributários foi dado recentemente pela greve dos caminhoneiros. O dinheiro que se deixará de arrecadar com a zeragem da CIDE-Combustíveis e com a redução do PIS/COFINS, e que faziam parte das estimativas de receitas esperadas, precisaram ser compensadas de alguma forma, seja com uma taxação maior de algum setor ou segmento, seja por meio de subvenção. Isto é, há perda de recursos do orçamento público e este dinheiro fará falta em algum outro lugar. Simples assim!

Portanto, sem nem sequer entrar no debate econômico e ambiental da necessária revisão dos subsídios aos combustíveis fósseis, no Brasil e no mundo, é necessário falar sobre transparência.

A Receita Federal do Brasil precisa explicitar com clareza as metodologias utilizadas para mensuração dos gastos tributários e passar a considerar no seu cálculo a maioria dos subsídios aos combustíveis fósseis, hoje escondidos. Assim como é preciso que apresente quais são os mecanismos de acompanhamento e avaliação destes gastos, quais são as empresas beneficiadas e quanto cada uma deixa de pagar. É por esta transparência que a campanha recém-lançada pelo Inesc, intitulada #SóAcreditoVendo, pede.

Não é demais lembrar que no final de 2017 foi aprovada no Congresso Nacional a Lei N° 13.586 de 2017, que criou um novo regime de tributação para o setor de petróleo, consolidando isenções já instituídas e permitindo ampla redução da base de cálculo da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) e do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ). Este novo “perdão de arrecadação” representa um subsídio à produção dos combustíveis fósseis que contribui para a queda dos custos de produção e para ampliar a rentabilidade das petroleiras; não somente da Petrobras, mas de todas as empresas que operam ou podem vir a operar no país na Exploração e Produção (E&P) de petróleo. Embora as estimativas do tamanho destes subsídios ainda estejam envoltas em controvérsias e dependam de muitas variáveis, é possível afirmar que são muito elevados: já foram estimados em R$ 1 trilhão em 20 anos. O que se deixará de arrecadar terá impactos importantes para o financiamento de políticas públicas de saúde, educação entre outras.

Em síntese, existem muitos bilhões de subsídios/gastos tributários que deveriam vir à tona nas estimativas da Receita Federal e que todos nós deveríamos conhecer quem são os seus beneficiários e quanto cada um deixa de pagar. Assine no manifesto #SóAcreditoVendo e nos ajude a pedir mais transparência nos gastos tributários.

Perfil do poder nas Eleições 2018: importantes conquistas, poucas mudanças

  Carmela Zigoni, assessora política do Inesc
Nailah Veleci, consultora em Estatística

A eleição de novas candidaturas, de várias matizes ideológicas do espectro político, foi a tônica do 1º turno das Eleições 2018.  Mas ainda que a chamada “renovação política” tenha implicado mudanças na correlação de força dos partidos, a representatividade continuou muito aquém da realidade da sociedade brasileira. Um exemplo disso é que das 13 mulheres que disputavam o governo nos estados, nenhuma foi eleita no primeiro turno e apenas uma ainda concorre no segundo.

Contudo, é importante destacar que o assassinato político da vereadora Marielle Franco, do Rio de Janeiro, e as manifestações dos movimentos de mulheres e negros impactaram uma mudança no pleito. Estatisticamente discreta, é verdade, mas simbolicamente forte. Como apontamos em recente artigo, o número de mulheres que se autodeclararam pretas para todas as candidaturas aumentou 70% em relação a 2014. Do Rio de Janeiro veio uma vitória esperançosa: três ex-assessoras de Marielle foram eleitas deputadas estaduais.

O processo eleitoral ainda não terminou. É preciso que eleitoras e eleitores estejam atentos aos resultados do primeiro turno e em como a representatividade ainda é um desafio para nossa jovem democracia.

Retrato do Congresso Nacional

Se considerarmos o Parlamento como um todo (deputados federais e senadores), o Congresso Nacional terá 15% de mulheres nos próximos quatro anos, um aumento importante em relação a 2010 (9%) e 2014 (10%), mas muito aquém da cota de 30% de candidatas – e pior ainda considerando que metade da população brasileira é composta de mulheres. Em números absolutos, dos 567cargos, foram eleitas somente 84 mulheres frente a 483 homens.

Para o cargo de deputada federal, foram eleitas 77 mulheres, representando 15,01% do total, um aumento de 50,9% em relação a 2014, quando foram eleitas 51 mulheres.

No Senado, a proporção entre homens e mulheres eleitas diminuiu: em 2014 foram ocupadas 27 vagas de senadores, 5 delas por mulheres, representando 18,5%. Agora, com a renovação de 54 vagas, serão 7 mulheres (13%) e 47 homens (87%), ou seja, um aumento de 40% de senadoras eleitas, mas uma queda de 5% em relação a eleição geral para o Senado.

Entre as deputadas federais eleitas, serão 13 negras (4 pretas e 9 pardas), além de 1 senadora parda: juntas, elas representarão 2,5% de mulheres negras no Parlamento, um aumento muito pequeno em relação a 2014, quando 11 se declararam negras  – 10 na Câmara e 1 no Senado, ou seja, 2% do total de eleitos.

Considerando homens e mulheres, o Senado contará com 14 negros, representando 26% da casa (3 pretos – 5,6%; 11 pardos – 20,3%); e a Câmara com 126 deputados federais negros (24,7%, sendo 20 pretos, 4%; e 106 pardos, 20,7%). Em 2014, os negros representavam 20% do total do Parlamento.

Apenas uma indígena foi eleita deputada federal, pelo estado de Roraima. Joênia Wapichana (REDE) será a primeira mulher indígena do parlamento nacional brasileiro. Apesar dessa conquista, tivemos um retrocesso de representatividade nessas eleições, pois das 133 candidaturas indígenas para todos os cargos, apenas Wapichana obteve sucesso.

Os jovens (de 20 a 29 anos) representam 3,7% entre os eleitos para o Congresso Nacional. Neste segmento, os negros ficaram com baixíssima representação: 79% (15) dos jovens eleitos são brancos e 15,8% negros (3 pardos, nenhum preto).

Representação por partido

Os partidos que mais elegeram mulheres foram o PSL (11), PT (10) e PSDB (9); e os que mais elegeram negros foram PSL (16), PT (16), PR (12) e PRB (11). Os partidos que conquistaram vagas no Congresso, mas não elegeram nenhuma mulher, foram DC, PATRI, PMN e PSC. E os partidos que não elegeram nenhum negro, mesmo tendo cadeira no Congresso foram DC e NOVO.

Os estados que mais elegeram mulheres foram São Paulo (12), Rio de Janeiro (10) e Distrito Federal (6); e os que não elegeram nenhuma foram Amazonas e Sergipe.

Em resumo, nos próximos quatro anos teremos um parlamento de maioria masculina (85%), branca (74,7%) e na faixa etária de 45 a 59 anos (43,6%), seguindo o padrão das últimas duas eleições.

Executivo e Legislativo nos estados

Nenhuma mulher foi eleita ao cargo de governadora no primeiro turno. Para o segundo turno, temos uma mulher ainda na disputa, Fatima Bezerra, do PT do Rio Grande do Norte. Por outro lado, foram eleitas 5 vice-governadoras, representando 38,5%.

Dos governadores eleitos, 77% são brancos e 24% se declararam pardos (nenhum preto, indígena ou amarelo).

Nos cargos a vice-governador, 46% (6) dos eleitos são negros (7,7% pretos e 38,46% pardos), e destes, 5 são mulheres negras.

Para os cargos de deputado estadual/distrital, foram eleitos 163 mulheres (15,39%) e 305 negros (28,8%). O estado do Mato Grosso do Sul não elegeu nenhuma mulher.

Os partidos que mais elegeram mulheres nos estados foram PSOL (7), PSD (4) e MDB (3), e os que não elegeram nenhuma deputada estadual negra foram AVANTE, DC, NOVO, PATRI, PHS, PMB, PPL e PSC.

Nenhum indígena foi eleito para o cargo de deputado estadual/distrital. Em 2014 tivemos um indígena eleito nas Assembleias Estaduais, José Carlos Nunes (PT-ES).

Com relação à juventude, das 532 candidaturas de 20 a 29 anos para os cargos de deputado estadual e distrital, 54 foram eleitos. Destes, 19% mulheres e 22,2% negros (1 preto e 11 pardos). Os partidos que mais elegeram jovens para os cargos de deputado estadual/distrital foram PSL (6), PP (5), PRTB (4), PSD (4), SOLIDARIEDADE (4).

As mulheres negras reagem

Com campanhas inovadoras e progressistas, diversas mulheres negras se destacaram neste pleito. Em São Paulo, elegeu-se Erica Malunguinho, mulher negra e trans, para o cargo de deputada estadual; em Minas Gerais, a vereadora negra mais votada do último pleito, Áurea Carollina, elegeu-se para a Câmara Federal; no Rio de Janeiro, Monica Francisco, Dani Monteiro e Renata Souza, ex-assessoras de Marielle Franco, elegeram-se deputadas estaduais.

A única candidata preta eleita para Assembleia Legislativa de Pernambuco merece um destaque, porque na realidade trata-se de uma candidatura coletiva do PSOL, de nome Juntas, composta por cinco mulheres: Carol Vergolino, Joelma Carla, Jô Lima, Kátia Cunha e Robeyoncé Lima (primeira transexual do Norte e Nordeste do país a usar o nome social na carteira da Ordem dos Advogados do Brasil).[1]

Em um Brasil que flerta com o fascismo, estas vitórias devem ser celebradas. Um país que não consegue parar o genocídio da juventude negra e que mais mata LGBTI no mundo, onde nos defrontamos com políticos eleitos e candidatos ainda na disputa que falam abertamente em suprimir os direitos de minorias, a renovação que estas mulheres propõem à política são um respiro à nossa cidadania.

Lista de siglas dos partidos citados:

AVANTE – Avante

DC – Democracia Cristã

MDB – Movimento Democrático Brasileiro

NOVO – Partido Novo

PATRI – Patriota

PHS – Partido Humanista da Solidariedade

PMB – Partido da Mulher Brasileira

PMN – Partido da Mobilização Nacional

PR – Partido da República

PRB – Partido Republicano Brasileiro

PRTB – Partido Renovador Trabalhista Brasileiro

PSC – Partido Social Cristão

PSD – Partido Social Democrático

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

PSL – Partido Social Liberal

PSOL – Partido Socialismo e Liberdade

PT – Partido dos Trabalhadores

REDE – Rede Sustentabilidade

SOLIDARIEDADE – Solidariedade


[1] Fonte: G1 Pernambuco. ‘Juntas’, cinco mulheres estreiam mandato coletivo na Assembleia Legislativa de PE. Disponível em: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/eleicoes/2018/noticia/2018/10/08/juntas-cinco-mulheres-estreiam-mandato-coletivo-na-assembleia-legislativa-de-pe.ghtml

Reafirmamos o nosso compromisso com a democracia

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), organização da sociedade civil que há 39 anos atua na defesa dos direitos humanos, na promoção da cidadania e no fortalecimento da participação popular, vem a público reafirmar seu compromisso com a democracia – que já não é plenamente exercida e sofre graves ameaças em nosso país – e repudiar a violência física e simbólica com as quais se tem atacado os direitos humanos, civis, políticos, sociais, e, sobretudo, as pessoas que os defendem.

Tais violências incentivam e corroboram a intolerância, já tão grave no Brasil: país com mais mortes violentas de LGBT no mundo; 5º em número de feminicídios; que mais mata indígenas na América Latina; onde a taxa de homicídios de pessoas negras é o dobro das não negras; e onde há mais assassinatos de ativistas de direitos humanos e ambientalistas no mundo.

Neste momento decisivo para o país, nos posicionamos em favor de um Brasil que respeita as diferenças, defende as liberdades civis e políticas, bem como promova os direitos humanos e sociais, sem os quais é impossível o aprimoramento da nossa recente e frágil democracia.

Análise das propostas de política externa das candidaturas à Presidência

Por Adhemar S. Mineiro, economista e assessor da REBRIP

Na área das propostas de política externa, os programas são bastante assimétricos. Salta aos olhos o grau de detalhamento de programas como os de Ciro Gomes, Fernando Haddad, Geraldo Alckmin, Guilherme Boulos e Marina Silva, frente aos demais, normalmente uma enunciação de princípios apenas.

Detalhados ou declarações de princípios gerais, normalmente os programas mais conservadores colocam muita ênfase nos temas de economia, finanças e comércio, defendendo processos de abertura comercial, desmonte de barreiras ao comércio e facilitação de investimentos, e enfatizam as relações com os países desenvolvidos. Os programas que se colocam em um campo de visão mais progressista, via de regra, colocam ênfase em temas como direitos humanos, paz, defesa de acordos ambientais internacionais, e em mecanismos que permitam defender um espaço interno para o desenvolvimento econômico autônomo, dentro de estratégias que buscam construir alternativas, e aqui normalmente existe um destaque na questão da integração regional.

Assim, na área de comércio e integração às cadeias globais de valor, que é um dos pontos caros para os programas conservadores em geral, aparecem vários temas dependendo do candidato, que incluem a adesão plena à OCDE (Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico, tradicionalmente um clube dos países ricos que no período mais recente tem se aberto aos países em desenvolvimento, representando nesse caso a membresia plena mais uma adesão à uma visão capitalista hegemônica e uma consolidação das regras de abertura e garantias de investimento vigentes no eixo hoje central do capitalismo do Atlântico Norte – mais Japão), a assinatura de tratados multilaterais ou bilaterais de comércio (no caso do candidato Bolsonaro, aparece explícito o bilateralismo, aparentemente um eco abaixo da Linha do Equador das posições do governo estadunidense de Donald Trump), e uma diplomacia voltada à expansão de mercados. Esses posicionamentos estão, de modo geral, em linha com ao menos o discurso (e a tentativa de alguma movimentação internacional, bastante limitada por sua reconhecida pouca legitimidade) do Governo Temer, embora essa proximidade com o impopular governo atual dificilmente vá ser reconhecida por algum dos candidatos que adota esse programa.

Dentro dessa perspectiva, aparecem de diferentes maneiras a revisão dos processos e mecanismos de integração regional da chamada “era Lula”, acusada de ser um momento de uma política externa menos pragmática e mais ideologicamente alinhada (é curioso como alguns programas conservadores, como o de Alckmin, acabam recuperando determinados mecanismos desse período, como a APEX – Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos, entidade de direito privado, mas com predominante participação do Estado brasileiro, curiosamente criada no primeiro ano do Governo Lula, em 2003, ou a ideia do reforço ao IBAS – Fórum Índia, Brasil e África do Sul, ou dos BRICS – Fórum Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Um ponto importante aqui, e esse sim um debate relevante, que aparece aberto no programa do candidato Alckmin, é a questão do papel do Leste Asiático em geral e da China em particular. O centro do debate internacional no próximo período será essa importante discussão, que exigirá revisões e novos posicionamentos no cenário internacional, além da rediscussão do papel econômico e internacional do Brasil. Esse tema aparece nos programas dos candidatos mais progressistas, de forma pragmática ou de discussão (como acontece no programa de Ciro Gomes, por exemplo). Mas é interessante ver um candidato do campo conservador ser pragmático ao ponto de apresentar essa discussão como um tema importante do debate internacional, em um campo político onde os posicionamentos programáticos normalmente enfatizam uma espécie de alinhamento quase que incondicional com as posições ocidentais, em particular as articulações com os EUA.

Na área da política regional, que na maior parte dos casos inclui Mercosul, América do Sul, e América Latina (e Caribe), os programas do campo conservador trabalham mais os temas de comércio – Mercosul como área de livre comércio, e pouca importância dos mecanismos políticos e sociais do Mercosul, acordo comercial com a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) e outros mecanismos – relativizando os outros temas. Em alguns dos programas do campo conservador também aparece o tema de que o alinhamento regional deve respeitar a defesa da democracia e do combate às ditaduras, o que normalmente é o preâmbulo para um ataque ao governo da Venezuela e à evolução dos acontecimentos naquele país vizinho.

No caso da política regional, os programas progressistas quase sempre apresentam esse ponto dentro de uma estratégia que vai muito além da questão do comércio. Em geral, falam de diferentes maneiras, no tema econômico, da interconexão das redes de produção regional no sentido de gerar cadeias regionais de valor, mas o tema é muito mais complexo. Mecanismos como Mercosul, Unasul e CELAC são não apenas saudados, mas se fala do seu adensamento e maior organicidade, e de como funcionam como “musculatura” para um líder regional como o Brasil na construção de um mundo multipolar. Assim, a integração regional não é apenas a constituição de um mercado ampliado ou uma cadeia produtiva integrada na região, mas um elemento fundamental para reforçar a capacidade de intervenção externa do Brasil e de administrar paz e segurança na região sem precisar contar com potências hegemônicas de fora da região, o que significa ganhar bastante autonomia no processo de constituição de alternativas ao desenvolvimento regional.

Aliás, os temas e princípios de paz e segurança aparecem em diversos programas, em regra no campo progressista, mas não só (o programa do candidato Eymael também aponta a importância de uma ordem mundial baseada nestes princípios). Em geral, eles aparecem conectados com a discussão da aproximação/articulação Sul-Sul, regional latino-americana como já citado, mas também com os temas de Direitos Humanos e, em alguns casos, cooperação com países menos desenvolvidos.

Temas relativos ao meio ambiente e ao desenvolvimento sustentável (alguns citam explicitamente os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS) aparecem principalmente nos programas do campo progressista, mas também estão listados no programa do candidato Alckmin, e muito fortemente no programa de Marina Silva. O papel de protagonista do Brasil nesta discussão aparece como uma herança importante (embora alguns dos programas não o reconheçam) do período da diplomacia “ativa e altiva” dos dois governos de Lula. De todo modo, vários dos programas que colocam essa ênfase na diplomacia ambiental apontam o papel importante que o Brasil pode ter não apenas de levar adiante os compromissos internacionais firmados internacionalmente e, assim, “liderar pelo exemplo”, como também ser capaz de propor e articular a continuidade e o aprofundamento dos elementos que já estão hoje colocados no ambiente e no cenário internacional – o que parece muito otimista, neste momento, frente a mudanças importantes ocorridas em um cenário hoje caracterizado por uma diplomacia disruptiva da formação de espaços de consenso que permitiram e permitiriam avanças no âmbito multilateral, como é o caso do posicionamento estadunidense com o Governo Trump. De qualquer maneira, este ponto não está discutido (embora programas como o de Boulos e o de Ciro façam alguma referência ao tema).

Assim, os dois grandes temas que permitem uma clivagem mais clara entre campos progressista e conservador na área da política externa proposta pelos programas acabam dizendo respeito aos temas da política regional (ou de integração regional) na América do Sul em particular, e América Latina e Caribe em geral, e nos temas de desenvolvimento econômico, aí incluídos os temas financeiros, de comércio e de integração às cadeias globais de valor (no caso do programa de Boulos, se fala também no tema de propriedade intelectual).

Como explicado anteriormente, no caso da integração, existe no campo progressista uma aposta em aprofundar o tema, enquanto o campo mais conservador tenta circunscrever mais o assunto ao tema de comércio. Na área do comércio e das cadeias globais de valor, enquanto o campo progressista é muito atento e defensivo frente às possibilidades e, em especial, os riscos inerentes a uma integração subordinada às cadeias globais de valor lideradas pelas grandes corporações transnacionais à escala internacional, o campo conservador é extremamente entusiasta dessa possibilidade que, segundo essa visão, abre caminhos para o crescimento econômico.

Um último ponto que parece importante é que, em geral, os programas do campo progressista, por apostarem mais na estruturação e operação de um sistema internacional multipolar, vêm uma possibilidade de algum papel importante para a diplomacia brasileira nesse cenário, muitas vezes até apontando no sentido do protagonismo. O campo conservador, mesmo quando vê possibilidades de multipolaridade ou bipolaridade (em uma aposta de um papel relevante como contrapeso dos EUA por parte da China), releva a possibilidade de um protagonismo brasileiro, embora veja em vários dos casos uma possibilidade de ação ativa da diplomacia brasileira (mesmo que isso esteja longe de significar protagonismo).

Enfim, embora na área da política externa as coisas talvez sejam mais complicadas de enquadrar em análises simplistas, ainda assim, têm alguns elementos que permitem identificar ao menos um espectro de programas dentro de um campo mais progressista ou de outro mais conservador, que pode ajudar na definição de escolhas de um eleitor que busque fazer essa identificação.

A seguir será feita uma breve sistematização dos programas dos(as) candidatos(as), na ordem alfabética de seus nomes:

Álvaro Dias

Na área da política externa, a preocupação central da candidatura Álvaro Dias é com o tema de comércio exterior, onde propõe inclusive algumas metas quantitativas, como fechar dez novos acordos bilaterais e quatro acordos multilaterais até 2022, ou uma redução gradual de tarifas em 50% até o mesmo ano (último do mandato). Além da preocupação com o comércio, o outro tema diz respeito à segurança das fronteiras.

 

Benevenuto Dacciolo

A preocupação da candidatura Dacciolo na área da política externa expressa no programa de governo se restringe ao tema da segurança, com o combate ao tráfico de drogas e armas, em especial na área de fronteira. Mas longe de prever alguma articulação internacional, a única proposta é uma forte ampliação dos recursos e efetivos das forças de segurança internas (forças armadas, polícia federal, polícia rodoviária, etc.).

 

Ciro Gomes

O programa do candidato aponta um eixo importante na integração regional sul-americana, e em uma “estratégia compartilhada de desenvolvimento voltada para a qualificação da produção, para a reindustrialização no rumo da economia do conhecimento (inclusive na agregação de valor a atividades extrativas e agropecuárias) e para a democratização das oportunidades e capacitações”, trabalhando para formar cadeias produtivas no nível sul-americano, que envolva também não apenas o adensamento do comércio e de parcerias produtivas e tecnológicas, como em defesa e conhecimento/tecnologia, “com a circulação de estudantes, pesquisadores e ideias”. Apesar disso, aponta que o Mercosul deve se dispor a aprofundar o livre-comércio (mesmo que isso possa representar em momentos a flexibilização da união aduaneira). Em relação aos EUA, governo e empresas, fala em fortalecer as relações, em especial nas áreas de comércio bilateral, inovação produtiva, científica e tecnológica, comunicação, defesa, economia digital em geral (buscando capacitar nossas empresas e organizações públicas) – embora afirme que “parceiro, não pode ser protetorado”, ou seja, em várias áreas para constituir as parcerias o Brasil precisa ganhar autonomia. Em relação à China, propõe desenvolver e reconstituir a relação com a China, agora condicionada à “colaboração com nosso governo e nossas empresas na qualificação produtiva e tecnológica, inclusive de nossa agricultura, pecuária e mineração”, afirmando que tanto em relação à China quanto aos EUA o país deve se recusar a uma relação “neocolonial”. Em relação à China, aponta ainda o perigo que o processo de endividamento em relação àquele país possa comprometer nossa soberania. O programa é bem entusiástico em relação aos BRICS (assim como em relação ao IBAS) como espaço multilateral de poder, nesse caso bem alternativo em muitos pontos de vista. É entusiástico também em relação a futura presidência do BRICS, que caberá ao país em 2019, assim como a indicação do presidente brasileiro do Novo Banco de Desenvolvimento (Banco dos BRICS). Em relação a outros países em desenvolvimento, defende reconstruir nossa relação com a África “em bases generosas”, isto é, menos focado no interesse das empreiteiras brasileiras. Na área ambiental, propõe aproveitar o “papel desbravador que o Brasil pode desempenhar na elaboração de acordos internacionais a respeito de mudança de clima e desenvolvimento sustentável”. Na área de relações externas e defesa, propõe trabalhar contra a instalação de bases militares de potências externas no continente sul-americano (leia-se bases estadunidenses), assim como desenvolver um debate e uma agenda de reforma na área de segurança no mundo que “que constranja as grandes potências no uso unilateral da força armada”. Finalmente, na área comercial, propõe uma inserção internacional com especial destaque para a “indústria manufatureira de alta tecnologia e para serviços intensivos em conhecimento”, com foco no longo prazo. Assim, a prioridade dos acordos comerciais, bilaterais e/ou multilaterais, deve ser no acesso a novas tecnologias e mercados, ajudando nessa direção (inclusiva na agricultura). A política comercial deve ser tarefa de todo o governo, e não se confundir com a ação diplomática. Defende ainda a constituição de uma agenda de reforma da ordem mundial de comércio, e da ordem monetária global, neste caso, que crie condições “para ultrapassar o dólar como moeda-reserva do mundo”, proposta que potencialmente cria tensões com os EUA.

 

Fernando Haddad

Os princípios norteadores da política externa serão “o diálogo mundial pela construção da paz” e a cooperação em temas como saúde, educação, segurança alimentar e nutricional, em especial com os países latino-americanos e a África. O Brasil também voltará a ter presença importante no Sistema Internacional de Direitos Humanos. Essa perspectiva de proteção aos Direitos Humanos estará presenta na promoção do debate sobre a reforma da ONU (aí incluído o Conselho de Segurança), assim como outros instrumentos de proteção aos Direitos Humanos nos planos regional e internacional. Na área da integração regional, o Brasil defenderá a integração das cadeias produtivas regionais, alavancadas pelo desenvolvimento da infraestrutura e o fortalecimento de instrumentos financeiros como o FOCEM (Fundo de Convergência Estrutural do Mercosul) e o Banco do Sul, além de esforços para fortalecer mecanismos como Mercosul, Unasul e CELAC. No plano da relação com países em desenvolvimento no âmbito internacional, a orientação é o fortalecimento do Fórum IBAS (Índia, Brasil e África do Sul) e dos BRICS, e contribuir para um mundo mais multipolar no sentido de superar a hegemonia dos EUA. Além disso, são fundamentais parcerias com os países da África e com os países árabes. Na área ambiental se propõe um programa ousado, onde cabe ao Brasil liderar “pelo exemplo” (tornando as respostas brasileiras ao Acordo de Paris e à Agenda 2030 e seus 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) referências para outros países em desenvolvimento). O Brasil proporá ainda um Fundo de Adaptação para apoiar os países da América Latina e Caribe a enfrentar desastres climáticos, e atuará em outros sentidos, buscando por exemplo integrar mercados regionais para gerar demanda e escala para impulsionar mercados de bens e serviços sustentáveis. O Brasil buscará também atuar politicamente em escala internacional para que os países desenvolvidos cumpram compromissos de facilitar e viabilizar (via financiamento e capacitação) a transferência de tecnologias de baixo carbono aos países em desenvolvimento, observando os princípios da solidariedade internacional e das responsabilidades comuns, mas diferenciadas.

Geraldo Alckmin

Em uma afirmação de princípios, o programa do candidato propugna a defesa de valores como democracia e direitos humanos, em especial para as relações com a América do Sul. Além disso, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável também devem servir de referência nas relações exteriores. Com esses pontos como princípio, o programa defende que o meio ambiente e os ODSs são ativos importantes do Brasil, inclusive a tomar em consideração para a gestão da Amazônia, que terá especial atenção. Na área ambiental ainda, aponta o potencial “do uso das energias renováveis e o manejo dos recursos hídricos e oceânicos”, devendo o Brasil ser protagônico nessa área, incluindo o uso de tecnologias nacionais e a coordenação de ações com outros países e com organizações internacionais interessadas. O programa defende ainda um esforço combinado com os países vizinhos nos temas jurídico-policiais, baseados em tratados e convenções internacionais de organizações multilaterais como ONU, Interpol e OEA. Aliás, tal qual expresso no programa, o Brasil deveria adensar e dinamizar temáticas internacionais como “sustentabilidade, energia, tráfico de armas e de drogas, combate à corrupção, bem assim nos novos temas, como terrorismo, guerra cibernética, controle da internet, e nas questões de paz e segurança” nos fóruns multilaterais. Na área ambiental, defende ainda firmemente o cumprimento das metas do Acordo de Paris. No tema da integração regional, o programa propõe uma “atitude proativa” em relação ao tema, em especial quanto a questão da liberalização comercial, onde o objetivo é “com a liderança do Brasil”, avançar os acordos vigentes e na integração física. Idem para o Mercosul, onde propõe voltar aos seus objetivos iniciais (mais focados em comércio) e avanças “negociações com terceiros países”. Propõe ainda reavaliar a participação do Brasil em órgãos regionais (UNASUL, Conselho de Defesa, CELAC) “à luz dos interesses nacionais”, assim como uma atenção especial ao tema “Venezuela”, que vira assim um capítulo à parte. No nível geográfico, propõe reavaliar a política externa e as prioridades tomando em conta além dos interesses do país, as transformações do cenário internacional no novo século, definindo “os interesses estratégicos do Brasil com a Ásia, em especial com a China, com os EUA e outros países desenvolvidos” – mostrando que as tais transformações do cenário internacional se concentram no novo papel da China (em relação à Ásia como um todo propõe inclusive aumentar a rede de representação brasileira tomando em consideração a prioridade da Ásia). Mas também propõe ampliar e diversificar as relações com os países em desenvolvimento em geral. Apesar desse último ponto, o programa explicita o apoio a um ponto importante de definição de política externa do atual Governo Temer, a ideia do ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nesse sentido, caminha no mesmo sentido do conjunto de candidatos do campo liberal-conservador que propõe uma diplomacia para firmar acordos comerciais e expandir mercados, reforçando a inserção do país na economia internacional. Assim, nessa área de preocupação, propõe a ampliação da APEX (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos, entidade de direito privado, mas com predominante participação do Estado brasileiro, curiosamente criada no primeiro ano do Governo Lula, em 2003) e novas negociações comerciais para firmar e reforçar acordos bilaterais (na América do Sul e fora dela), regionais (via Mercosul) e multilaterais (OMC), integrando o país às cadeias globais de valor e buscando novos mercados para o aumento dos fluxos de comércio e investimentos. São citados como objetivos de acordos comerciais aos quais o Brasil deveria aderir a Parceria Transpacífico, e a necessidade de firmar os acordos comerciais já em negociação (Mercosul-União Europeia, Mercosul-Japão, Mercosul-Canadá, Mercosul-Coreia do Sul, Mercosul-EFTA e Mercosul-Cingapura), além de negociações entre o Mercosul e países africanos. No nível de articulações políticas, o programa defende o reforço (político e econômico) dos BRICS, do G-20, da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa) e no IBAS (articulação Índia-Brasil-África do Sul). Por fim, vale apontar a ideia da adoção observância/conformidade de regras internacionais nas áreas de transparência e funcionamento do setor público, assim como medidas anticorrupção adotadas a nível internacional, assim como políticas afirmativas em relação “relação aos setores mais vulneráveis de nossa sociedade” (mulheres, idosos, crianças, afrodescendentes, LGBTI, quilombolas, ciganos, povos indígenas e pessoas com deficiência).

 

Guilherme Boulos

O programa Boulos é bem extenso em matéria de política externa, e com vários pontos importantes. Um primeiro princípio importante do programa é a defesa do “princípio de soberania e da autonomia nas relações exteriores do país a partir da recuperação de uma ideia de Nação popular, diversa e democrática”. A partir daí se propõe uma política externa centrada na defesa dos direitos humanos (e aqui, a partir deste centro, uma articulação contra os “nacionalismos conservadores”, o militarismo e outras expressões de processos antidemocráticos) e no princípio de solidariedade entre os povos. É defendido ainda a democratização da política externa brasileira, com mecanismos de transparência e participação, como em outras políticas públicas. Defende reforçar o Conselho de Defesa da América do Sul, um movimento pela retirada das bases militares estadunidenses no continente e pela desmilitarização do Atlântico Sul. Aponta a necessidade de lutar pela democratização das instituições internacionais em geral, aí incluído o Sistema ONU. Nesta luta, o Brasil deve assumir um papel de liderança no âmbito multilateral sobre temas como direitos humanos e justiça social, meio ambiente e clima, habitação, regimes de comércio e investimento e outros. O Brasil deve capitanear a luta pela proteção aos refugiados e a garantia dos direitos humanos de migrantes, e deve ainda tentar ampliar os acordos internacionais sobre previdência. Advoga retomar o da integração regional, a partir do fortalecimento e reconfiguração de organismos multilaterais regionais como o Mercosul (no âmbito do Mercosul se propõe ainda o maior fortalecimento institucional e uma maior integração entre as sociedades dos países membros, além da primeira eleição direta para  Parlamento do Mercosul em 2020), a Unasul, e a CELAC, tornando suas esferas decisórias mais participativas e transparentes. Propõe ainda no âmbito regional a solidariedade ao povo da Venezuela e a retomada da mediação dos conflitos regionais em espaços multilaterais regionais. No âmbito das relações com outros países em desenvolvimento, o foco é retomar uma agenda Sul-Sul, com ampliação de parcerias na Ásia e África, para além das relações comerciais. Isso inclui uma priorização do IBAS e outros mecanismos multilaterais. Na área dos BRICS, a ideia é ter um papel ativo e propositivo, promovendo a inclusão de temas como políticas de gênero, participação e acesso à informação, além da ideia da inclusão de salvaguardas sociais e ambientais em projetos do Novo Banco de Desenvolvimento (“Banco dos BRICS”). Nas áreas de economia, finanças e comércio também se agrega uma agenda extensa, que inclui evitar articulações assimétricas (como a adesão aos acordos da OCDE) e criar “um programa estratégico de análise dos investimentos estrangeiros, mapeando a entrada dos investimentos externos e definindo setores de prioridade nacional, inclusive os que não podem ser destinados a venda ou exploração ampla pelo capital estrangeiro, como geração de energia, petróleo, terras agricultáveis, água e outros”. O programa defende a regionalização das cadeias produtivas e a promoção de cláusulas “sociais, trabalhistas e ambientais” no comércio internacional, assim como a revisão das normas de propriedade intelectual formuladas no TRIPS (acordos de propriedade intelectual no âmbito da OMC), “já que o sistema de patentes, como atualmente concebido, impõe custos sociais incalculáveis, além de limitar a inovação tecnológica”. Outro ponto importante diz respeito diz respeito ao estabelecimento de princípios de atuação (não predatória e violadora de direitos) para a atuação de empresas brasileiras no exterior.

 

Henrique Meirelles

Segundo o programa, a candidatura Meirelles defende uma ordem internacional baseada em democracia, direitos humanos e diálogo. Na área de meio ambiente, caminhará no sentido do Acordo de Paris, “elevando a participação de bioenergia sustentável” na matriz energética e “incentivando o reflorestamento e estimulando o investimento em energias renováveis”. Defende “um Mercosul que privilegie o livre mercado”, apontando que vê o Mercosul mais como uma área de livre comércio do que como uma união aduaneira, que é o mais parecido ao formato atual. E em seu programa tem muitos pontos que privilegiam os temas econômicos, como a defesa da conclusão da negociação entre Mercosul e União Europeia, e a busca de novos acordos, ou a adesão à OCDE. Essa visão de integração comercial e vinculação às chamadas cadeias globais de valor está ressaltada pela defesa de uma política externa “voltada à abertura de mercados para nossos produtos, à atração de investimentos para nossos setores produtivos e para nossa infraestrutura”.

 

Jair Bolsonaro

Na área da política externa, o programa de Bolsonaro propõe uma forte ênfase nos temas de comércio, e um reforço ao princípio de relacionamento com foco bilateral, e em acordos bilaterais. Em paralelo à constituição de novos acordos bilaterais, propõe a redução de alíquotas de importação e barreiras não-tarifárias. Ainda nesse quesito, propõe ampliar o comércio exterior com “países que possam agregar valor econômico e tecnológico ao Brasil”. Na área da integração regional, propõe uma visão fortemente ideológica e política, redirecionando as relações externas do país na região a “todos os irmãos latino-americanos que estejam livres de ditaduras”.

 

João Amoedo

A política externa do candidato é focada na maior integração internacional da economia brasileira. Assim, mesmo um ponto como a revalidação de diploma estrangeiro é visto na perspectiva de “atração de talentos” e facilitação para estrangeiros que queiram trabalhar no Brasil. No geral, defende uma ampliação dos acordos comerciais em todo mundo e a redução de tarifas (inclusive de forma unilateral) e de barreiras ao investimento externo. Na área do investimento externo, propõe ainda a internacionalização das empresas brasileiras (mas também o fim da política de “campeões nacionais”) e a remoção de barreiras ao investimento no exterior. E na área de cadeias produtivas, o fim de exigências como “conteúdo local” e “similar nacional” para compras de empresas públicas brasileiras.

 

João Goulart Filho

No caso do programa deste candidato, a criação de condições para o desenvolvimento nacional é criada pela adoção (“retomada”, porque o programa nesse caso faz referência à política do então presidente João Goulart, pai do candidato, no início dos anos 1960) da chamada “política externa independente”. Por esse conceito o programa entende uma política externa operando com “o respeito à autodeterminação dos povos e a utilização da política externa para fortalecer o desenvolvimento nacional e o dos demais países subdesenvolvidos”. Assim, a proposta de política externa prioriza as relações Sul-Sul, assim como o processo de integração regional latino-americana, o reforço às relações com o continente africano e a consolidação e institucionalização dos BRICS. A adoção dessas prioridades, segundo o programa opera no sentido de viabilizar uma condição de “autonomia frente às potências ocidentais, sobretudo os EUA”.

 

José Maria Eymael

Um ponto apresentado pelo programa do candidato é a ideia da “política externa como instrumento de desenvolvimento nacional, incluindo o Brasil nas rotas mundiais do sucesso socioeconômico”, articulando a expansão do papel internacional com o desenvolvimento nacional. Mas para além disso, como princípio, o programa reafirma a paz mundial como um “compromisso inarredável” do país, e a defesa de uma ordem internacional baseada nos princípios de “solidariedade, justiça e liberdade”. Além disso, para o tema da segurança pública propõe o estabelecimento de intercâmbio com outras administrações nacionais.

 

Marina Silva

O programa da candidata coloca a ênfase da política externa brasileira em quatro regiões do mundo, as Américas do Sul e do Norte, a União Europeia e o Leste Asiático. O objetivo é caminhar rumo ao “aumento da interdependência econômica, tecnológica, política e cultural” com as quatro regiões, ou seja, uma integração bem complexa pelo que aponta o programa (inclusive apontando uma aproximação bem particular nas áreas de Indústria 4.0 e inteligência artificial com sub-regiões dentro dessas quatro grandes regiões – nesses casos, o Vale do Silício, na Califórnia, nos EUA, e a Baviera, Alemanha, na Europa). O programa também fala em ampliar a parceria com a África, onde aponta a possibilidade das empresas brasileiras participarem do “processo de transformação produtiva e do desenvolvimento sustentável da África”. Do ponto de vista econômico, é explicitada no programa uma visão que aponta a abertura ao comércio e aos investimentos internacionais, a integração às cadeias produtivas globais, a assinatura de acordos bilaterais e multilaterais, o fim do protecionismo e de práticas distorcivas ao comércio tais como definidas pela OMC, como subsídios, como o sentido da modernização produtiva e aumento da eficiência dos produtores no Brasil. Nesse sentido, assinar o acordo Mercosul-União Europeia, adotar os mecanismos de facilitação de comércio já definidos em fóruns multilaterais como a OMC, de facilitação de investimento que vêm sendo definidos a nível internacional no último período, reduzir tarifas e buscar novos acordos internacionais, como um acordo com a Aliança do Pacífico (Chile, Peru, Colômbia e México) são apontados como alguns caminhos na proposta da candidata. Finalmente, um ponto importante no programa é a promoção do “alinhamento das políticas públicas, em especial as políticas econômicas, fiscal, industrial, energética, agrícola, pecuária, florestal, da gestão de resíduos e de infraestrutura, aos objetivos gerais do Acordo de Paris”, trabalhando com uma “estratégia de longo prazo de descarbonizarão da economia com emissão líquida zero de gases de efeito estufa até 2050”, reafirmando o comprometimento com o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente do programa, que para a candidata deve ser uma marca da política externa brasileira. Esses compromissos, assim como o compromisso com a paz e a cooperação internacional aparecem expressos como estratégia mais geral de política externa do programa apresentado.

 

Vera Lúcia Salgado

Apesar do internacionalismo revolucionário do discurso, é reduzida a referência a temas internacionais no programa da candidata. Ainda assim, a postura dura de enfrentamento com os banqueiros internacionais e as corporações transnacionais aparece primeiro sob a forma de impedimento de remessa de lucros e estatização das grandes multinacionais. Outro ponto importante é a suspensão do pagamento da dívida externa e o estabelecimento de uma auditoria em relação a esta dívida. Finalmente, aparece o tema da isonomia de tratamento para trabalhadores migrantes e brasileiros.

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