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PEC que inclui mobilidade urbana como direito social na Constituição avança no Congresso

A Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou semana passada a admissibilidade da Proposta de Emenda à Constituição 85/15, que inclui a acessibilidade e mobilidade urbanas na lista de direitos sociais previstos na Constituição. O mérito da PEC será agora analisado por uma comissão especial e depois seguirá para votação no plenário, em dois turnos. Para ser aprovada, precisa de 308 votos favoráveis.

O avanço da PEC no Congresso demonstra que a mobilidade urbana vem ganhando cada vez mais relevância, afirma Yuriê Baptista, assessor político do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), por ser importante para o cumprimento de outros direitos fundamentais.

“A mobilidade urbana e a acessibilidade são essenciais para que os demais direitos já garantidos na constituição sejam de fato garantidos. Se não é possível chegar e usufruir da escola e do hospital, e retornar para casa com conforto e segurança, não é possível que os direitos à educação e saúde sejam de fato efetivados.”

A cidade oferece diversas oportunidades que devem ser acessíveis a todas as pessoas independente de sua classe social, cor da pele, orientação sexual, capacidades físicas e do modo de transporte utilizado, afirma Yuriê. No entanto, mais do que incluir direitos na Constituição, é preciso saber como o Estado deve agir para efetivá-los. Nesse sentido, o Inesc está tocando o projeto Orçamento e Direito à Cidade em parceria com a Rede Social Brasileira por Cidades Justas Democráticas e Sustentáveis, para construir políticas públicas efetivas e transparentes de mobilidade urbana que garantam esse direito fundamental aos brasileiros.

Vamos falar sobre Direito à Cidade?

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‘Governo do Brasil tenta reduzir direitos indígenas’, diz comissária da ONU

Por Nádia Pontes, Deutsche Welle

A questão indígena no Brasil voltou às manchetes recentemente devido à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Fundação Nacional do Índio (Funai). No último dia 30 de maio, a CPI finalizou seus trabalhos e pediu o indiciamento de 67 pessoas, entre lideranças comunitárias, antropólogos e servidores.

A CPI foi instalada em 2016 para investigar supostos casos de fraudes e desvios ocorridos no processo de demarcação de terras conduzido pela Funai e o Incra. O relatório final aprovado em maio foi encaminhado a órgãos de investigação.

Lideranças indígenas protestaram em Brasília contra a CPI, que viram como um tentativa de intervenção na Funai. Em entrevista à DW Brasil, Victoria Tauli-Corpuz, Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Indígenas, afirma que o órgão está em risco, “enfraquecido de tal maneira que não há mais proteção” aos indígenas.

“Os recursos da Funai foram cortados, muitos escritórios fecharam e agora estão tentando achas vias legais para, basicamente, fechar a fundação”, afirma.

Ela destaca a importância de os indígenas mundo afora estabelecerem um diálogo com seus governos e fazê-los entender que as populações indígenas podem contribuir para o desenvolvimento nacional.

DW Brasil: Como a senhora avalia a situação dos indígenas no Brasil e da Fundação Nacional do Índio (Funai)?

Victoria Tauli-Corpuz: Acho que há uma tentativa do governo de reduzir a proteção dos direitos indígenas. O principal órgão que sempre trabalhou para proteger os direitos dessas populações está em risco agora, enfraquecido de uma tal maneira que não há mais proteção. Essa é a razão para que essa chamada “investigação” esteja acontecendo: é para justificar o enfraquecimento da Funai.

Quando estive no Brasil, eu vi que a Funai era muito considerada pelos indígenas porque era vista como órgão que podia garantir alguma proteção. Mas os recursos da Funai foram cortados, muitos escritórios fecharam e agora estão tentando achas vias legais para, basicamente, fechar a fundação.

O que está acontecendo no Brasil é uma tendência também em outras partes do mundo ou é particularmente preocupante?

Em todo o mundo, os movimentos indígenas se fortaleceram nos últimos anos, principalmente com a titulação de terras. Com isso, as coisas mudaram um pouco. Ou seja, as pessoas não podem mais simplesmente invadir os territórios, explorar minérios, derrubar as árvores para fazer monocultura. E muitos governos consideravam esse tipo de invasão de terras indígenas como desenvolvimento para o país.

Mas os sistemas que foram implantados para proteger os direitos indígenas estão sendo enfraquecidos por causa desse modelo de desenvolvimento. No meu país, as Filipinas, é a mesma coisa.

Como inverter essa tendência?

Os indígenas precisam confrontar essa situação e estabelecer um diálogo com seus governos e fazê-los entender que as populações indígenas podem contribuir para o desenvolvimento nacional. Naturalmente, é preciso também que as lideranças tenham conhecimento dos mecanismos existentes para estabelecer esses diálogos e para pressionar os governos a fazer a coisa certa. A Comissão de Direitos de Humanos da Organização dos Estados Americanos é um exemplo, assim como a Comissão das Nações Unidas.

Como a ONU contribui nesse sentido, de levar a discussão para público e promover o diálogo com os governos?

Eu preciso constantemente exercer o meu papel e comunicar os governos sobre as reclamações que recebo. E ainda: fazer com que as autoridades respondam. E manter a comunicação para que eu continue sendo recebida nos países para analisar de perto o que está acontecendo com os indígenas.

As recomendações que faço nos relatórios também são importante para as lideranças, para que se munam e pressionem o governo. É claro que depende muito se o governo em questão se importa com o assunto. Infelizmente, as autoridades ainda hesitam bastante em implementar as recomendações que damos.

Para que tudo isso funcione, é fundamental que as comunidades se fortaleçam. Vi muitas populações que foram vítimas de violações mas que, no andar do processo, ficaram mais fortes, adquiriram direitos sobre os territórios. É preciso que os governos lidem com isso de forma mais construtiva, e não de forma violenta. As alianças que as populações indígenas desenvolvem com outros movimentos, com universidades, por exemplo, também são muito importantes.

Como o governo brasileiro tem respondido às recomendações feitas pela ONU?

Algumas delas foram implementadas. A titulação da Terra Indígenas Cachoeira Seca, por exemplo, foi recomendada por nós. Isso aconteceu ainda nos tempos de Dilma Rousseff. O caso dos munduruku também foi citado no nosso relatório: recomendamos que o país não implementasse a hidrelétrica no rio Tapajós. O projeto foi suspenso – pelo menos por enquanto.

Algumas coisas aconteceram no sentido de o governo ouvir as recomendações, mas, naturalmente, há muitas que ainda estão pendentes.

A senhora está participando aqui em Oslo da iniciativa que reúne líderes religiosos, cientistas e indígenas em torno da proteção florestal. Como vê a relação entre as igrejas e povos indígenas?

Muitas grandes religiões ajudaram a marginalizar as crenças espirituais dos indígenas. Agora, evidências estão mostrando que as florestas protegidas que restam no mundo estão nos territórios indígenas. Acho que esse tipo de informação e aceitação por parte das comunidades religiosas podem aumentar a colaboração entre esses grupos. E também, quem sabe, levar os representantes de grandes religiões a pedir desculpa por todos os erros cometidos contra os indígenas, alem de acabar com a discriminação. Em alguns países, o governo não é presente, mas a igreja sim.

Vamos falar sobre Gênero, Raça e Etnia?


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#JusticiaFiscal por los #ServiciosPúblicos

¡Estás invitad@ por la Alianza Global por la Justicia Fiscal y sus redes regionales, junto a aliad@s comprometid@s tales como la federación sindical mundial Internacional de Servicios Públicos y su respectivo Comité Mundial de Mujeres y miembros regionales, la confederación sindical internacional africana, ActionAid y Oxfam y la Campaña mundial por la educación, a trabajar junt@s en la semana global de acción #JusticiaFiscal por los #ServiciosPúblicos, del 19 al 23 de junio 2017. La semana de acción tendrá lugar alrededor del 23 de junio, cuando se conmemora la Jornada Mundial de los Servicios Públicos.

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Justiça Fiscal para os Serviços Públicos

A ideia de que a carga tributária no Brasil é a mais alta do mundo é repetida diariamente, e já virou um discurso adotado por muitos brasileiros. Essa é uma ideia equivocada, que é reforçada diariamente na televisão, nos grandes jornais e em grandes campanhas publicitárias do empresariado brasileiro – tal como o pato amarelo da Fiesp.

Na realidade, o verdadeiro problema da tributação no Brasil não está na quantidade de impostos, e sim na forma injusta como os impostos são cobrados no Brasil.

A tabela abaixo demonstra como a carga tributária afeta a renda dos brasileiros:

No Brasil, as rendas menores são mais afetadas pela carga tributária do que as rendas maiores. Ou seja: no Brasil, os mais ricos pagam menos e os mais pobres pagam mais.

Portanto, quando falamos em Justiça Fiscal, estamos falando de justiça social. Porque tirar pouco de quem tem muito e tirar muito de quem tem pouco significa continuar e aprofundar a desigualdade social que existe em nosso país.

Nesse sentido, é importante destacar que uma das formas de se combater a desigualdade social são justamente os serviços públicos de qualidade. A saúde, a educação, o saneamento básico, e toda a diversidade de serviços vitais que devem ser acessíveis para toda a população precisam do financiamento com os recursos públicos que vêm da arrecadação fiscal.

Portanto, se a arrecadação fiscal não funciona bem, a consequência é a falta de recursos para garantir a existência dos serviços públicos de qualidade. Toda a população sai perdendo, e isso prejudica mais as camadas com maior vulnerabilidade social, que necessariamente dependem dos serviços públicos. E, no caso dxs trabalhadorxs dos serviços públicos, a falta de financiamento dos serviços públicos significa também a perda de postos de trabalho e de direitos conquistados historicamente.

Sonegação fiscal, elisão fiscal e isenção fiscal

No Brasil, além do problema da carga tributária que recai de maneira injusta sobre as diferentes classes sociais, existe também a questão dos montantes sonegados e eludidos por indivíduos milionários e pelas empresas privadas nacionais e multinacionais.

A sonegação fiscal e a elisão fiscal são amplamente praticadas por empresas e alguns indivíduos, os chamados “super-ricos”. Pela facilidade das empresas escaparem da tributação no Brasil, um relatório recente da ONU considera o país um “paraíso tributário” para os “super-ricos”, uma vez que, em média, eles pagam uma taxa efetiva de apenas 7% de encargos.

Sonegação Fiscal: são os atos ilegais realizados com o objetivo de não pagar ou de diminuir o pagamento de impostos. Sonegação Fiscal é sinônimo de Evasão Fiscal.

Elisão fiscal: são os atos legais realizados com o objetivo de reduzir a taxação. Normalmente ocorrem através de lacunas jurídicas que permitem que empresas e indivíduos mais ricos utilizem brechas na lei para pagar menos impostos. A elisão fiscal não é ilegal, e sim imoral, porque significa que empresas e os mais ricos se beneficiam à custa da sociedade.

Além disso, escândalos internacionais recentes – como o LuxLeaks, Swiss Leaks, Panama Papers e Malta Files – conseguiram romper a falta de transparência dos paraísos fiscais e divulgaram os nomes de alguns brasileiros que se beneficiaram dessas manobras. Entre eles aparecem empreiteiras, o grupo JBS, todas as empresas que compõem o oligopólio midiático e diversas figuras políticas que vão desde o atual prefeito de São Paulo, João Dória Jr. (PSDB), o filho de Paulo Skaf (presidente da FIESP, PMDB), até nomes vinculados a José Dirceu (PT). A presença desses atores nas denúncias sobre os paraísos fiscais explica muito do silêncio da grande mídia e do Congresso diante dessas notícias, e a preferência pelo discurso que critica a alta carga tributária no Brasil, utilizado para desviar a atenção de debates mais consistentes sobre as relações entre a injustiça tributária e a impunidade em nosso país.

Paraísos Fiscais: são jurisdições com tributação muito baixa ou nenhuma tributação. Normalmente são os destinos finais da verba sonegada ou elidida nos países.

E qual é o tamanho do prejuízo para os cofres públicos? Segundo o Sindicato Nacional dos Procuradores da Fazenda (Sinprofaz), somente em 2014 o Brasil teria perdido cerca de R$ 500 bilhões para a sonegação fiscal, e empresas e indivíduos milionários foram responsáveis por 80% desse total. A título de comparação, em 2014, as perdas do Brasil por causa da corrupção correspondem a um valor sete vezes menor do que esse valor que deixou de ser arrecadado por conta da sonegação fiscal.

Além da sonegação e da elisão fiscal, existe um terceiro instrumento que livra as empresas privadas nacionais e multinacionais do pagamento de impostos: as isenções fiscais concedidas pelo Estado.

Isenções/Incentivos Fiscais: políticas estatais que liberam determinadas empresas do pagamento de tributos.

Para atrair empresas para determinados locais, os governantes decidem abrir mão de ingressos tributários das empresas, com a justificativa de estimular a economia e gerar empregos. O estímulo da economia e a geração de empregos são motivos justos. Porém, o problema é que as isenções fiscais não passam por controle social; elas são concedidas sem debate e em processos sem transparência: bilhões de reais deixam de ser arrecadados, sem esclarecimentos e análises suficientes sobre contrapartidas e impactos socioeconômicos.

Em muitos casos, os benefícios fiscais são dados para o empresariado que possui vínculos pessoais com os governantes, por exemplo, como forma de retribuir as “doações” empresariais para as campanhas eleitorais. No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, em 2013 as isenções fiscais para as grandes empresas foram seis vezes maiores do que o orçamento estadual para a Saúde (R$ 32,3 bilhões vs R$ 5,2 bilhões). Hoje, o Estado do Rio de Janeiro se encontra financeiramente quebrado, com diversos serviços públicos sucateados e na mira da privatização, e xs trabalhadorxs dos serviços públicos estão com seus direitos básicos comprometidos, como o pagamento dos salários e das aposentadorias.

O papel dos sindicatos na defesa da Justiça Fiscal

Para os sindicatos dos serviços públicos, é fundamental conhecer o funcionamento básico do sistema tributário e os mecanismos relacionados à arrecadação de impostos e ao não pagamento dos impostos. Essas informações são instrumentos importantes para que o movimento sindical responda ao discurso de muitos governos, que utilizam a crise econômica como a justificativa para a redução do papel do Estado, diminuindo o fornecimento de serviços públicos e eliminando os postos de trabalho no setor público. É preciso questionar e contestar o argumento da crise econômica, que é usada como a justificativa para a precarização das condições de trabalho e a precarização da vida de modo geral.

O financiamento dos serviços públicos não é só uma questão de recursos financeiros, e sim uma questão de vontade política: porque o Estado tem o dever de garantir que todos os cidadãos e cidadãs, e que todas as empresas nacionais e transnacionais paguem a sua parcela justa de impostos.

Diante de todos esses aspectos, a ISP reafirma o seu compromisso com a defesa e a promoção da Justiça Fiscal nos países e em nível mundial, como continuidade, aprofundamento e fortalecimento de nossa luta em defesa e promoção dos serviços públicos de qualidade e dos direitos das trabalhadoras e trabalhadores dos serviços públicos, em nome do bem-estar de todas as comunidades.

Portanto, convidamos todas as entidades filiadas à ISP a se juntarem nessa luta, ampliando o diálogo e somando nossas vozes com cada vez mais organizações sindicais e com os movimentos sociais, em cada país e em todo o mundo.

Por Justiça Fiscal para os Serviços Públicos,

Por justiça social e por mais direitos para todas e todos,

Porque as pessoas estão acima do lucro.

Mais informações sobre as denúncias internacionais sobre paraísos fiscais:

Panamá Papers

Malta Files

LuxLeaks

Swiss Leaks

Vamos falar mais sobre Justiça Fiscal?

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ATENÇÃO: Veto a Medidas Provisórias não garante proteção de floresta

As Medidas Provisória 756 e 758 reduzem o nível de proteção de quase 600 mil hectares de unidades de conservação (UCs). A MP 756 transforma 480 mil hectares da Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no Pará, em Área de Proteção Ambiental (APA) e reduz o Parque Nacional de São Joaquim, em Santa Catarina, em 20% de sua extensão original. A MP 758 também transforma 100 mil hectares do Parque Nacional de Jamanxim em APA, também no Pará. A desproteção é incontestável porque a APA é uma categoria de UC que permite o desmatamento, mineração e a venda de terras. Isso vai resultar na regularização de todos que ocuparam terras em seu interior, inclusive alguns dos maiores grileiros e desmatadores da Amazônia.

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), mais de 67% dos ocupantes da Flona entraram pouco antes ou logo após a criação da área. Devido ao desmatamento decorrente dessa ocupação irregular, a Flona do Jamanxim perdeu 117 mil hectares de floresta, entre 2004 e 2016, gerando uma emissão de 70 milhões de toneladas de CO2.

O clamor pelo veto dessas MPs foi amplo, reunindo pesquisadores, ambientalistas, artistas, governos, órgãos internacionais, setores do próprio agronegócio e o Ministério do Meio Ambiente. O Palácio do Planalto anunciou o veto integral à MP 756 e o veto parcial da MP 758.

Nos últimos dias, veio a público um vídeo onde o ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, já anunciava que a Presidência vetaria a MP 756. O problema é que, de acordo com o ministro, será enviado um projeto de lei ao Congresso, em regime de urgência, propondo a transformação daqueles mesmos 480 mil hectares da Flona de Jamanxim em APA. Isso significa que o veto apenas serve para transferir do presidente para o Congresso, hoje dominado por parlamentares sem compromisso com a conservação ambiental, a responsabilidade de desproteger essa parcela significativa da floresta amazônica.

Na semana passada uma série de denúncias na imprensa brasileira e internacional revelaram os reais beneficiados dessa redução da proteção da floresta. Entre eles, estão o empresário Ezequiel Castanha, acusado pelo Ministério Público de ser um dos maiores desmatadores da Amazônia; Ubiraci Soares da Silva, prefeito de Novo Progresso (PA), devedor de R$ 1,9 milhão em multas por desmatamento; Pedro Cordeiro, apontado como o maior desmatador ilegal da Floresta Nacional Jamanxim; entre outros grileiros que invadiram e desmataram a área para lucrar com sua posterior regularização.

Vale ressaltar que as Medidas Provisórias 756 e 758 foram desfiguradas em sua passagem pelo Congresso. Da mesma forma, é previsível que esse projeto de lei também receba emendas para desproteger outras UCs. A manobra do governo traz de volta a ameaça inicial, com o objetivo de recuperar todo o texto que foi vetado, e a possibilidade de um estrago ainda maior.

Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade (Afes)

Amigos da Terra – Amazônia Brasileira

Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida (Apremavi)

Associação Alternativa Terrazul

ClimaInfo

Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração

Conectas Direitos Humanos

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais e Desenvolvimento (FBOMS)

Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social (FMCJS)

Greenpeace-Brasil

Iniciativa Verde

Instituto BVRio

Instituto Centro de Vida (ICV)

Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia (Idesam)

Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema)

Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)

Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam)

Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)

Instituto Hórus

Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB)

Instituto Socioambiental (ISA)

Justiça Global

Mater Natura

Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela

Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM)

Observatório do Clima

Projeto Hospitais Sau

Democracia brasileira precisa de mais participação popular nas decisões do Estado

O direito ao voto é a base da democracia brasileira, mas não pode ser a única expressão de soberania popular do país, principalmente pelos vícios que temos hoje no sistema – processos eleitorais distorcidos devido a influência de grandes empresas, falta de representatividade de grupos importantes da população, entre outros. Para aprimorar nossa democracia e enfrentar crises políticas como a que vivemos atualmente, é preciso ampliar a participação popular nas decisões do Estado, afirma José Moroni, do Colegiado de Gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), em entrevista ao site Brasil de Fato.

“Hoje não temos nenhum mecanismo institucional de expressão da soberania popular para resolver essa crise. Não somos chamados para resolvê-la, quem resolveria é o judiciário e as elites, e essa é a mensagem que nos passam a todo momento”, afirma Moroni, acrescentando que isso se complica ao se constatar que justamente essas elites não têm apreço algum à decisões populares por meio do voto – destituíram Dilma Rousseff do cargo de presidenta da República com bases frágeis para dar lugar ao governo Temer e sua agenda política de austeridade e reformas trabalhista e previdenciária.

Moroni aponta a necessidade de ampliar a participação da população nas decisões do Estado, para garantir o fortalecimento de uma democracia direta, com a construção de instrumentos como referendos revogatórios e convocações de plebiscitos.

Todavia, para que tal avanço pudesse ocorrer, Moroni destaca que o primeiro passo para a democratização do Estado é a antecipação das eleições diretas, uma das medidas defendidas pelos setores progressistas da sociedade para restabelecer a democratização do Estado. No Plano Popular de Emergência, documento elaborado pelos movimentos que compõem a Frente Brasil Popular (FBP) – que é formada por mais de 80 organizações -, mais quatro medidas retratam a necessidade de uma maior soberania popular no país.

Leia aqui a matéria completa do Brasil de Fato.

Vamos falar sobre Reforma do Sistema Político?

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Projeto Vozes da Cidadania media conflitos com arte, cultura e direitos humanos

Conhecendo melhor suas origens e aprendendo sobre seus direitos, adolescentes que cumprem medidas socioeducativas em duas unidades do Distrito Federal passam a se reconhecerem melhor como cidadãos – alguns pela primeira vez na vida. “Isso melhora a autoestima e a consciência que têm de si perante a sociedade”, afirma Ravena Carmo, educadora do projeto Vozes da Cidadania que atua oferecendo arte, cultura e educomunicação a jovens das unidades de São Sebastião e Recanto das Emas no DF, desde fevereiro deste ano.

“Ao debater temas pouco discutidos ligados aos direitos humanos, nós acabamos mediando situações de conflito que poderiam gerar violência, por meio de uma cultura de paz, que está presente em nossa metodologia”, conta a educadora Ravena.

Vozes da Cidadania é uma iniciativa do Onda – Adolescentes em Movimento pelos Direitos, realizado pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) com fundos Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente (CDCA). Ele promove a participação dos adolescentes em atividades de cultura e educação, ações socioeducativas previstas em todas as medidas das unidades. Essa estratégia tem grande potencial de transformação e oferece aos jovens novos pontos de vistas sobre o mundo e a vida em sociedade.

 

O  principal objetivo do projeto é realizar movimentos educativos sobre cidadania, direitos humanos e orçamento público junto aos socioeducandos das unidades de internação de São Sebastião e Recanto das Emas. “Os adolescentes estão se reconhecendo como cidadãos e o caminho que devem trilhar”, conta Ravena. Cabe destacar que o processo pedagógico tem contribuído para que os adolescentes percebam os problemas sociais de uma forma mais complexa. Os novos olhares passam a enxergar os problemas para além da dimensão pessoal.

Conheça mais sobre o projeto Vozes da Cidadania e suas atividades.

Vamos falar sobre crianças, adolescentes e jovens?

Nobel da Paz vem ao Brasil para lançamento de campanha pelo fim do trabalho infantil

Será lançada no próximo dia 12 de junho, no Dia Mundial e Nacional contra o Trabalho Infantil, a campanha 100 Milhões por 100 Milhões, com o objetivo de mobilizar 100 milhões de pessoas, especialmente os jovens, para lutar pelos direitos de 100 milhões de crianças que vivem hoje na extrema pobreza, sem acesso à saúde, educação e alimentação, em situação de trabalho infantil e completa insegurança pelo mundo. A campanha é uma iniciativa de Kailash Satyarthi, vencedor do prêmio Nobel da Paz em 2014 que virá ao Brasil para o lançamento no dia 12 de junho no Museu Nacional, em Brasília.

“Será um grande chamamento intersetorial, com forte participação da juventude, envolvendo representantes de diferentes setores unidos para combater todas essas formas de exploração”, afirma Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e coordenador da iniciativa 100 milhões por 100 milhões no Brasil em parceria com o Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil. 

A agenda de lançamento da iniciativa também contará com audiências públicas na Câmara dos Deputados e no Senado, além de exposição fotográfica do Ministério Público do Trabalho intitulada #ChegaDeTrabalhoInfantil. Será realizada também uma roda de conversa com Satyarthi e estudantes. A vinda do Nobel da Paz marcará o início de uma estratégia de mobilização nacional de longo prazo. Todas as informações de como se envolver e participar estarão em breve disponíveis em: 100milhoes.org.br (ainda em construção).

Cenário do trabalho infantil e da exploração de crianças e adolescentes no Brasil

•    O trabalho infantil é proibido no Brasil pela Constituição Federal de 1988. Ainda assim, 2,7 milhões de crianças e adolescentes brasileiros estão em situação de trabalho, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2015. O número equivale a toda a população da Jamaica e representa 5% do total de brasileiros de 5 a 17 anos. Em 2014, eram 3,3 milhões.
•    A tendência de queda nos índices de trabalho infantil está em risco devido ao crescimento entre a população de 5 a 9 anos por três anos seguidos e na agricultura.
•    Em 2015, foram registrados 79 mil casos entre crianças de 5 a 9 anos, 12,3% a mais que em 2014, quando havia 70 mil crianças nesta faixa trabalhando. Em 2013, eram 61 mil. O aumento é inaceitável e preocupante, na avaliação do FNPETI.
•    A Pnad registrou também elevação do percentual de crianças de 5 a 13 anos ocupadas em atividades agrícolas, de 62% para 64,7% entre 2014 e 2015.
•    Caso a redução se mantenha no ritmo atual, o Brasil não conseguirá cumprir a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU de eliminar todas as formas de trabalho infantil até 2025.
•    O Brasil também não foi capaz de cumprir a meta de eliminar as piores formas de trabalho infantil em 2016, compromisso firmado com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2006 e reforçado na Conferência de Haia, em 2010.
•    A exploração sexual é considerada uma das piores formas de trabalho infantil. Por ocorrer de maneira ilícita, tem pouca visibilidade e torna-se difícil de ser quantificada. Trata-se de crime hediondo, com pena de 4 a 10 anos de prisão, a ser cumprida em regime fechado e sem fiança. A maioria das vítimas são meninas.
•    O trabalho infantil doméstico também é uma das piores formas. Mais de 90% das exploradas são meninas e cumprem dupla jornada. 83,1% também realizam afazeres domésticos nas próprias casas. O baixo rendimento escolar, o abandono dos estudos, adoecimentos e acidentes de trabalho são algumas das consequências desse excesso de atividades.
•    Todas as piores formas de trabalho infantil estão explicitadas no Decreto 6481/2008.
•    O trabalho infantil pode causar graves danos à saúde. Desde 2007, 38.257 mil crianças e adolescentes sofreram algum tipo de acidente enquanto trabalhavam. Desses, 23.100 foram graves, o que inclui amputação de mãos e braços, e 208 morreram. Os dados são do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde.
•    A idade mínima para o trabalho no Brasil é 16 anos. Abaixo dos 18 anos, é proibido o trabalho noturno, perigoso e degradante. A única exceção é para a aprendizagem, que pode ocorrer a partir dos 14 anos. Para ser aprendiz, o adolescente precisa frequentar a escola e ter bom rendimento.
•    A garantia da educação de qualidade até os 17 anos é fundamental para erradicar o trabalho infantil e outras formas de exploração de crianças e adolescentes.

Exclusão escolar e violações ao direito à educação

•    No Brasil, 2,8 milhões de crianças e adolescentes de 4 a 17 anos estão fora da escola, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2015.
•    A exclusão escolar afeta principalmente meninos e meninas das camadas mais vulneráveis da população, já privados de outros direitos constitucionais. Do total fora da escola, 53% vivem em domicílios com renda per capita de até ½ salário mínimo.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015)
•    Atualmente, o Brasil apresenta uma taxa de 19% de distorção idade-série no ensino fundamental. No ensino médio, essa taxa de distorção chega a 27%. É essa a faixa etária de transição para a idade adulta e esses adolescentes ingressam no mundo do trabalho em condições precárias.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015)
•    Em razão das dificuldades econômicas, muitas crianças acabam deixando a escola para trabalhar e ajudar na renda familiar ou mesmo para cuidar dos serviços domésticos, liberando suas mães para o trabalho remunerado.
Fonte: Fora da Escola Não Pode!: Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Unicef
•    Além de tirar as crianças da escola, o trabalho afeta seu rendimento escolar, que é inferior ao das crianças que só estudam. Por isso, também são maiores entre as crianças trabalhadoras as taxas de repetência e de abandono.
Fonte: Fora da Escola Não Pode!: Campanha Nacional pelo Direito à Educação e Unicef | PISA/OCDE
•    Nenhuma das metas e estratégias do Plano Nacional de Educação com prazo para 2015, 2016, e 2017  foram cumpridas. As estratégias 20.6 e 20.9, de implementação do Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi) e de regulamentação do Sistema Nacional de Educação (SNE), respectivamente, não foram cumpridas até 2016, em seu prazo. A estratégia 20.8, de definição do Custo Aluno-Qualidade (CAQ) também não foi cumprida até 2017.
•    Apenas 0,6% das escolas brasileiras possuem insumos de qualidade previstos no mecanismo do Custo Aluno-Qualidade Inicial (CAQi), criado pela Campanha Nacional pelo Direito à Educação, ou seja, 98,4% das escolas funcionam abaixo do nível de dignidade de um padrão mínimo de qualidade.
Fonte: NETO, DE JESUS, KARINO, DE ANDRADE. Uma escala para medir a infraestrutura escolar. (http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1786/1786.pdf)
•    17,6% da população com 15 anos ou mais é analfabeta funcional.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015)

Pobreza, exploração e violência contra crianças e adolescentes

•    Aproximadamente 55 milhões de pessoas vivem em situação de pobreza no Brasil, sendo que 18 milhões deste total se encontram em situação de extrema pobreza. Dentre as pessoas entre 0 e 14 anos em situação domiciliar de baixa renda,  17,3 milhões (40,2%) são pobres e  5,8 milhões (13,5%) são extremamente pobres.
Fonte: IBGE (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2015)
•    Foram registradas 150 mil crianças de 0 a 5 anos em situação de desnutrição em 2016.
Fonte: Ministério da Saúde /Datasus/Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan 2016)
•    No ano de 2015, mais de 56 mil mortes por homicídios foram notificadas no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Brasil. Pouco mais de 80% dos homicídios de crianças e jovens entre 0 e 19 anos foram cometidos com armas de fogo em 2015. A Região Nordeste concentra a maior proporção de homicídios de crianças e jovens por armas de fogo e supera a proporção nacional em 5,4 pontos percentuais.
Fonte: MS/SVS/CGIAE/ Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)
•    Em 2015, o Disque 100 recebeu mais de 153 mil denúncias de violações de direitos contra crianças e adolescentes em todo o país, sendo 45,7% por violência física ou psicológica, 37,9% delas por negligência, e 13% por violência sexual.
Fonte: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – Balanço Geral – Disque 100 (2015)
•    Em 2015, foram 546.537 nascimentos de mães entre 0 e 19 anos, sendo 26.629 deles de mães entre 10 e 14 anos e 8 de mães menores de 10 anos.
Fonte: MS/SVS/DASIS/ Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc 2015)

10 cidades participam de projeto de fortalecimento de políticas de mobilidade urbana

Movimentos de 10 cidades da Rede Social Brasileira por Cidades Justas, Democráticas e Sustentáveis participaram na última semana, em Brasília, de oficina de formação do projeto Orçamento e Direito à Cidade – fortalecimento de organizações da sociedade civil para monitoramento e incidência na política de mobilidade urbana. Foram três dias de atividades com elaboração de planos de ação e de comunicação para as ações dos movimentos no projeto, que tem coordenação do Inesc e apoio da União Europeia.

O projeto tem como objetivo monitorar o orçamento dos municípios participantes referentes à mobilidade urbana para incidir e elaborar políticas públicas de mobilidade urbana nas respectivas cidades, além de promover maior transparência e participação social nessas decisões.

Temas como segregação socioespacial, acessibilidade, mobilidade adequada para idosos, mulheres e crianças, e o uso do espaço público pelas pessoas foram debatidos com representantes dos demais movimentos participantes: Casa Fluminense (RJ), Nossa São Paulo, Instituto Soma Brasil (João Pessoa-PB), Nossa Ilhabela (SP), Observatório de Recife (PE), Observatório Cidadão de Piracicaba (SP), Nossa São Luís (MA), Nossa BH (MG), Instituto Nossa Ilheus (BA) e Coletivo Nossa Brasília (DF).

Para a assessora política do Inesc, Cleomar Manhas, o projeto contribuirá para a regulamentação do transporte como direito social e também para que se tenha um plano de mobilidade nas 10 cidades, “além orçamentos temáticos monitorados pela sociedade civil e que avancemos numa política de mobilidade mais sustentável, além de cidades mais humanizadas”.

Vamos falar sobre Direito à Cidade?

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É hora de tomar as ruas e gritar bem alto e forte: “Fora Temer! Diretas Já!”

O Brasil atravessa uma grave crise política, econômica, social e institucional. Michel Temer não reúne as condições nem a  legitimidade para seguir na presidência da República. A saída desta crise depende fundamentalmente da participação do povo nas ruas e nas urnas. Só a eleição direta, portanto a soberania popular, é capaz de restabelecer legitimidade ao sistema político.

A manutenção de Temer ou sua substituição sem o voto popular significa a continuidade da crise e dos ataques aos direitos, hoje materializados na tentativa de acabar com a aposentadoria e os direitos trabalhistas, as políticas publicas além de outras medidas que atentam contra a soberania nacional.

As diversas manifestações envolvendo movimentos sociais, artistas, intelectuais, juristas, estudantes e jovens, religiosos, partidos, centrais sindicais, mulheres, população negra e LGBTs demonstram a vontade do povo em definir o rumo do país.

Por isso, conclamamos toda a sociedade brasileira a se mobilizar, tomar as ruas e as praças para gritar bem alto e forte: Fora temer! Diretas já! E Nenhum direito a menos! O que está em jogo não é apenas o fim de um governo ilegítimo, mas sim a construção de um Brasil livre, soberano, justo e democrático.

Assinam:

Frente Brasil Popular – FBP

Frente Povo Sem Medo – FPSM

Centra Única dos Trabalhadores – CUT

Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – ABONG

Articulação das Mulheres Brasileiras – AMB

Associação Nacional de Pós Graduandos – ANPG

Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho – ANAMATRA

Brigadas Populares

Central dos Movimentos Populares – CMP

Central dos Sindicatos Brasileiros – CSB

Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil – CTB

Central Pública

Centro de Atendimento Multiprofissional – CAMP

Coletivo Quem Luta Educa/MG

Comissão Brasileira de Justiça e Paz da CNBB – CBJP

Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio – CNTC

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação – CNTE

Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino – CONTEE

Confederação Nacional dos Trabalhadores Metalúrgicos – CNTM

Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – CONTAG

Conferência dos Religiosos do Brasil – CRB

Conselho Federal de Economia – CONFECON

Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil – CONIC

FASE Nacional

Fora do Eixo / Mídia Ninja

Fórum de Lutas 29 de abril/PR

Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito

Frente de Juristas pela Democracia

Instituto de Estudos Socioeconômicos – INESC

Central Intersindical – INTERSINDICAL

Juntos

Koinonia

Levante Popular da Juventude

Marcha Mundial das Mulheres – MMM

Movimento Camponês Popular – MCP

Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST

Movimento dos Trabalhadores Sem Teto – MTST

Movimento Humanos Direitos – MHUD

Movimento Nacional contra a Corrupção e pela Democracia – MNCCD

Movimento pela Soberania Popular na Mineração – MAM

Movimento por uma Alternativa Independente e Socialista – MAIS

Partido Comunista do Brasil – PC do B

Partido dos Trabalhadores – PT

Partido Socialismo e Liberdade – PSOL

Partido Socialista Brasileiro – PSB

Pastoral Popular Luterana

Rede Ecumênica da Juventude – REJU

Rua Juventude Anticapitalista – RUA

Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

União Brasileira de Mulheres – UBM

União da Juventude Socialista – UJS

União Geral dos Trabalhadores – UGT

União Nacional dos Estudantes – UNE

Carga tributária brasileira precisa ser redistribuída para ser mais justa

Semana passada participamos do programa Expressão Nacional da TV Câmara para debater a injustiça tributária no Brasil. Além de nossa assessora Grazielle David, estavam presentes Guilherme Gonçalves, presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) e os deputados Luiz Carlos Hauly (PSDB-PR) e Ênio Verri (PT-PR), respectivamente relator e vice-presidente da Comissão de Reforma Tributária da Câmara dos Deputados. Qual não foi a nossa surpresa em ver que entre os convidados havia um grande consenso: a carga tributária brasileira precisa ser redistribuída para ser mais justa.

“Esse é um momento muito único, de praticamente consenso: nós precisamos de uma redistribuição da carga tributária. Ninguém falou em aumentar, ninguém falou em diminuir, nós falamos em redistribuir a carga tributária”, afirmou Grazielle durante o programa. “Isso é um momento muito especial e tem que ser aproveitado. Essa comissão da reforma tributária está ativa e com grande capacidade de fazer uma mudança importante para o país.”

Assista abaixo ao programa na íntegra:

Durante suas intervenções, Grazielle lembrou que a composição da carga tributária no Brasil é perversa e injusta, porque tributa de forma indireta o consumo, penalizando desproporcionalmente aqueles que ganham menos. “Se eu vou a um supermercado e compro um produto, e eu ganho dois salários mínimos, pago o mesmo imposto que uma pessoa que ganha 20 salários mínimos.” O cenário brasileiro é de uma tributação que, em vez de redistribuir, amplia a concentração de riqueza no país, penalizando quem menos recebe.

“No Brasil, quem ganha pouco mais de R$ 1.900 reais já sofre a mordida do Leão. Se a tabela do Imposto de Renda fosse corrigida todos os anos, esse valor subiria para quase R$ 3.500. Não bastasse isso, quem ganha até dois salários mínimos destina 49% dessa renda somente para pagar impostos. Mas, para os que recebem acima de 30 mínimos, esse percentual cai para cerca de 26%.”

Grazielle frisa que o tributo não é um mal em si, não é um veneno. Ele tem um propósito e é preciso resgatar isso. “Para que existe tributo, afinal de contas? O tributo serve para financiar as necessidades da população, para organizar um Estado, para garantir infraestrutura, para permitir inclusive a economia fluir, a movimentação econômica, e garantir direitos.”

E é nesse propósito de organizar um Estado e de garantir direitos que a gente tem o tributo, afirma Grazielle. O tributo não é um problema em si, o problema acontece quando ele é mal distribuído. “Por isso é tão importante fazer uma redistribuição da carga tributária. Hoje a gente enxerga o tributo como algo ruim porque ele é tributado de uma forma incorreta. Ele pesa desproporcionalmente sobre as pessoas. E como ele pesa desproporcionalmente, as pessoas naturalmente vão falar que ele é ruim.”

A Justiça Fiscal tem a ver com a arrecadação e com a alocação do recurso do tributo, explicou Grazielle – e os demais convidados concordaram. Na parte da arrecadação, a pessoa sente o peso porque esse tributo vem mais indireto. Tudo que ela compra, já que metade da carga tributária é sobre o consumo, acaba pesando sobre a vida da pessoa. Por outro lado, aqueles que mais têm não sentem peso algum, porque a tributação sobre a renda é praticamente inexistente em nosso país. “Se formos comparar com os demais países, é metade do que a média mundial. A gente cobra a metade do que outros países cobram da renda e o dobro sobre o consumo. É muito desproporcional.”

“A gente fez um levantamento no Inesc que mostra que o gasto tributário no Brasil está chegando a 5% do PIB, isso dá cerca de 20% da arrecadação. Então 20% do que é arrecadado está indo para gastos tributários, sem controle efetivo. Está sendo distribuído sem justificativa de fato e sem controle de sua efetividade.”

Vamos falar sobre Justiça Fiscal?

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Os avanços e desafios na implementação da Agenda 2030 no Brasil

Instituídos em 2015 pelas Nações Unidas, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável abrangem metas universais de desenvolvimento sustentável que devem ser alcançadas até 2030 por todos os países, em três dimensões: ecológica, social e econômica. São 17 objetivos, definidos com base em consulta pública global, que propõem acabar com a pobreza, a fome e as desigualdades, entre outros pontos. Como o Brasil pretende implementar essa Agenda 2030? Temos condições de cumprir todos os objetivos postos? Esses e outros tópicos serão debatidos no seminário “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável: avanços e desafios na implementação da Agenda 2030 no Brasil”, promovido pela Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados na próxima quinta-feira (8/6) em Brasília.

O evento faz parte da programação da “Semana do Meio Ambiente 2017 – Desafios para a sustentabilidade em uma conjuntura de retrocessos”.

INSCRIÇÕES: http://www.camara.leg.br/eventos-divulgacao/evento?id=40041

Programação do seminário:

Data: 08/06/2017 (Quinta-feira)
Horário: 9 às 12h30
Local: Plenário 2 – Anexo II da Câmara dos Deputados, Brasília (DF).

9h às 10h – Mesa de Abertura

EMBAIXADOR JOSÉ ANTÔNIO MARCONDES DE CARVALHO, Chefe da Subsecretaria Geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do MRE – Ministério das Relações Exteriores

DEPUTADO NILTO TATTO, Presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados (*)

DEPUTADO ALESSANDRO MOLON, Presidente da Frente Parlamentar Ambientalista

DEPUTADO VICENTINHO, Coordenador Frente Parlamentar Mista de Apoio aos Objetivos de Desenvolvimentos Sustentável – ODS (*)

ALESSANDRA NILO, Representante do GT da Sociedade Civil para a Agenda 2030, Diretora da Abong – Associação das Organizações Não Governamentais e Coordenadora Geral da Gestos (*)

10h15 às 11h – Apresentação do Relatório do GT da Sociedade Civil para Agenda 2030 – ODS 1,2,3,5,9,14 e 17

FRANCISCO MENEZES, Economista e Pesquisador na Área de Pobreza e Segurança Alimentar da ActionAid no Brasil – ODS 1 e 2 (*)

JULIANA CESAR, Assessora de Projetos Internacionais da Gestos – ODS 3 e 5 (*)

FABIO DE ALMEIDA PINTO, Coordenador Executivo do IDS – Instituto Democracia e Sustentabilidade – ODS 9 (*)

ZULEICA GOULART, Coordenadora de Mobilização do Programa Cidades Sustentáveis – Territorialização dos ODS

VITOR MIHESSEN, Representante do Observatório Metropolitano dos ODS e Coordenador da Casa Fluminense (*)

11h – Implantação e Perspectivas de Avanço dos ODS no Brasil

CLAUDIO FERNANDES, Representante da Campanha TTF Brasil (*)

HAROLDO MACHADO, Assessor Senior do Pnud no Brasil (*)

HENRIQUE VILLA DA COSTA FERREIRA, Secretário Nacional de Articulação Social da Segov – Secretaria de Governo da Presidência da República (*)

JOARA MARCHEZINI, Oficial de Projetos da ONG Artigo 19 (*)

MAITÊ GAUTO, Representante da Sociedade Civil na Comissão Nacional dos ODS e Líder de Políticas Públicas da Fundação Abrinq (*)

12h30 – Encerramento

Orçamento do Incra inviabiliza titulação de terras quilombolas

Publicado por Comissão Pró-Índio de São Paulo

Os sucessivos cortes no orçamento ameaçam a política de regularização de terras quilombolas. Em sete anos, o orçamento do Incra apresentou uma queda de 94%. Para 2017, o órgão dispõe de apenas R$ 4 milhões para encaminhar mais de 1.600 processos de titulação. Em 2010, eram 64 milhões. Este é o menor orçamento para a titulação de terras quilombolas desde 2003, ano em que o órgão reassumiu a responsabilidade por encaminhar a regularização das áreas.

Dados obtidos pela Comissão Pró-Índio junto ao Incra indicam que 09 das 30 Superintendências Regionais do órgão têm verba inferior a R$ 10 mil para a regularização de terras quilombolas esse ano. A SR do Mato Grosso, por exemplo, conta com R$ 6.844,00 para conduzir 73 processos. O menor orçamento é da SR de Alagoas de apenas R$ 3.948,00 para encaminhar 17 processos.

As Superintendências Regionais são responsáveis pela condução dos processos de identificação dos limites do território que resultam nos Relatórios Técnicos de Identificação e Delimitação (RTID). São processos de longa duração que exigem recursos humanos (técnicos de diferentes áreas do órgão, como antropólogos e agrônomos) e financeiros. Há necessidade de diversas viagens às comunidades para o levantamento de dados.  Os custos e tempo gasto variam conforme a região do país, comunidades de difícil acesso no interior da Amazônia demandam custos mais elevados, por exemplo.

A Comissão Pró-Índio apurou que a SR do Incra de São Paulo gasta em média 60 mil reais para a elaboração de um relatório (RTID) e 2 anos para finalizá-lo. Nesta SR, há 50 processos abertos e o orçamento disponível para 2017 é de 30 mil reais.

As limitações orçamentárias das Superintendências representam um sério gargalo para a continuidade da maior parte dos processos, já que 87% dos 1.675 processos não tiveram o Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID) publicado.

Antônio Oliveira Santos, coordenador de Regularização de Territórios Quilombolas do Incra, confirma a gravidade da situação em entrevista à Comissão Pró-Índio: “Nós estamos evitando abrir novas frentes de trabalho. Estamos priorizando os mais urgentes, o que é possível aguardar, vamos segurando”. Para superar essa situação, o coordenador informou que estão buscando parcerias. Segundo Oliveira, o Incra e a Secretaria Especial de Política Pública e Igualdade Racial acordaram a transferência de recursos para a elaboração de cinco relatórios de identificação de limites nos estados de Alagoas e de Rondônia.

Direito inviabilizado

Completamente defasado em relação à demanda, o recurso disponível no Incra acaba por inviabilizar a efetivação a titulação das terras quilombolas, direito essencial para o futuro das comunidades. Assim avalia o procurador da República Luciano Mariz Maia, coordenador da 6ª Câmara do Ministério Público Federal, “O que se vê é uma redução orçamentária que termina por anular um direito fundamental, não se revoga o direito, mas inviabiliza o seu cumprimento efetivo. Trata-se de retrocesso em matéria de direitos humanos que viola, além de vários tratados internacionais, a própria Constituição”.


Os quilombolas também se preocupam. “O corte de orçamento foi muito grande, já com aquele orçamento não titulava, imagina com esse corte imenso então? ”, questiona Hilário Moraes, coordenador regional da Malungu – Coordenação Estadual das Associações das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Pará. “O processo das comunidades do Marajó já completou 13 anos aberto e não temos nem resposta do que aconteceu. Isso tira o sono das pessoas, todos ficam sofrendo e a violência se acirra, já teve morte de quilombola, criminalização dos movimentos que lutam pela terra”, relata Hilário sobre a dramática situação vivida em sua região.

Cleone de Souza Matos, coordenador da Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do município de Óbidos (ARQMOB), no oeste do Pará, reforça o sentimento de desesperança: “para a gente o impacto foi grande, teve processo que tínhamos esperanças que seria publicado e que está parado. Sentimos que os funcionários da casa querem fazer, mas sem dinheiro fica muito difícil. Com certeza, é muito desanimador paras comunidades que já enfrentam muitos problemas e pressões”.

“O orçamento não impacta apenas as metas desse ano do Incra, mas coloca em cheque o futuro das comunidades quilombolas” alerta Lúcia M. M. de Andrade, coordenadora da Comissão Pró-Índio de São Paulo. “A insegurança para as comunidades quilombolas é enorme. O artigo 68 da ADCT da Constituição Federal está sendo inviabilizado”, complementa.

Até hoje, quase 30 anos após a Constituição de 1988 garantir o direito dos quilombolas à propriedade de seus territórios, o governo federal titulou somente 37 terras, sendo que 11 delas apenas parcialmente. Em 2016, nenhuma terra quilombola foi titulada pelo Incra, e em 2017 apenas uma recebeu título até o momento – Invernada dos Negros (SC), em janeiro. O total de 168 terras quilombolas tituladas hoje no Brasil foi garantido em grande parte pelas regularizações realizadas pelos governos estaduais.

Cenário nacional – cortes nas políticas sociais

A regularização de terras quilombolas não é a única política social inviabilizada pelos cortes orçamentários. No final de março, o governo Temer anunciou um corte de R$ 42,1 bilhões no orçamento público federal, afetando gravemente o Ministério do Meio Ambiente e a Fundação Nacional do Índio (Funai). O recurso disponível para os dois órgãos em 2017 foi cortado pela metade.

Alessandra Cardoso, assessora do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) alerta que “Além do corte de orçamento, MMA, Funai e Incra passaram por cortes graves de pessoal que impactam diretamente a capacidade do governo de cumprir e executar suas políticas”. O resultado, na avaliação do Inesc, é um aumento nas violações de direitos e acentuação das desigualdades.

Acompanhe o andamento dos processos de titulação de terras quilombolas.

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Licença para destruir #Resista

Reação ofensiva do governo Temer a entidades de direitos humanos é grave e destemperada

Reação ofensiva do governo Temer a entidades de direitos humanos é grave e destemperada

O Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa e as organizações que assinam este documento consideram gravíssima e destemperada a atitude do governo brasileiro em relação ao comunicado conjunto da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e do Escritório Regional para América do Sul do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). No comunicado, emitido em 26 de maio de 2017, as entidades condenam o uso excessivo da força durante as manifestações e em operativos de segurança no Brasil.

A linguagem desrespeitosa e agressiva adotada pelo Itamaraty se distancia demasiadamente da postura que se espera de um país membro do Conselho de Direitos Humanos da ONU e que se diz comprometido com a proteção internacional dos direitos humanos. Ao dirigir-se de forma a menosprezar e questionar a boa-fé da CIDH e do ACNUDH, o governo de Michel Temer demonstra preocupante desconsideração com dois dos principais organismos internacionais e regionais de direitos humanos que se dedicam ao tema.

Ademais, a reação ofensiva do Ministério das Relações Exteriores (MRE) indica desconsideração aos princípios tradicionalmente conferidos à política externa brasileira, como o multilateralismo e a valorização do direito internacional.

A condenação pela CIDH e ACNUDH do uso excessivo da força é pertinente uma vez que o país padece desse abuso de forma crônica e estrutural. A falta de protocolos claros e públicos sobre uso da força por agentes de segurança, os inúmeros casos de permissividade por parte do poder público frente à ação e repressão violenta da polícia e o modelo de segurança pública anacrônico, militarizado e que privilegia o confronto com cidadãos, são elementos notórios da violência institucional que persiste no Brasil.

O comunicado conjunto da CIDH e do ACNUDH menciona o violador decreto presidencial que autoriza o emprego das Forças Armadas para garantia da lei e da ordem no Distrito Federal entre os dias 24 e 31 de maio como resposta a manifestações de rua. A revogação do decreto no dia seguinte demonstra a desproporcionalidade de tal ato. Reiteramos e apoiamos o pedido da CIDH e ACNUDH de que a “ação das forças de segurança deve respeitar em todo momento as normas internacionais de direitos humanos”.

A manifestação das entidades internacionais também faz referência à sucessão de violações de direitos humanos em episódios recentes, como uso excessivo da força em operações tanto no marco do conflito de terras como no contexto da remoção urbana de dependentes químicos usuários de drogas ilícitas. Causa-nos preocupação a classificação pelo governo de “cínica” e “fora de contexto” à atitude da CIDH e do ACNUDH de incluir essas violações no comunicado conjunto sobre uso excessivo da força.

De acordo com a organização Global Witness , o Brasil é o país mais perigoso do mundo para o ativismo ambiental. Além disso, segundo a Comissão Pastoral da Terra , a chacina em Pau D’Arco, que aconteceu no último dia 24, elevou para 37 o número de mortes no campo apenas nos primeiros cinco meses de 2017.

Já a violenta operação de segurança na região da Cracolândia, em São Paulo, foi classificada como “desastrosa” pela própria Secretária Municipal de Direitos Humanos, Patrícia Bezerra, que pediu exoneração após o episódio.

Reiteramos nosso apoio à Comissão Interamericana de Direitos Humanos e ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos. A CIDH possui um vasto histórico de contribuição ao avanço dos direitos humanos no Brasil e em todo o continente americano. O ACNUDH representa o compromisso do mundo com os ideais universais da dignidade humana e possui o mandato de promover e proteger todos os direitos humanos internacionalmente.

Por fim, cabe reafirmar que a Constituição Federal de 1988 vincula as relações internacionais do país à prevalência dos direitos humanos e clamamos para que o Itamaraty se retrate imediatamente pela forma desrespeitosa e descompromissada em que se dirigiu à CIDH e ao ACNUDH, reiterando os compromissos nacionais e internacionais assumidos pelo Estado Brasileiro em matéria de direitos humanos.

Assinam esta nota:

1. ABA – Associação Brasileira de Antropologia

2. ABIA – Associação Brasileira Interdisciplinar de Aids

3. Ação Educativa

4. Aliança Nacional LGBTI

5. APIB – Articulação dos Povos Indígenas do Brasil

6. Articulação Justiça e Direitos Humanos (JusDh)

7. Articulação para o Monitoramento dos DH no Brasil

8. Artigo 19

9. ASP – Associação Palotina

10. Associação de Advogadas Pela Igualdade de Gênero, Raça e Etnia

11. Associação Tapera Taperá

12. CAMI – Centro de Apoio e Pastoral do Migrante

13. Campanha Nacional pelo Direito à Educação

14. CBDDH – Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensoras e Defensores de Direitos Humano

15. CENDHEC – Centro Dom Helder Câmara de Estudos e Ação Social

16. CIMI – Conselho Indigenista Missionário

17. Circuito de Apoio ao Imigrante

18. CLADEM/BRASIL – Comitê da América Latina e do Caribe de Defesa dos Direitos das Mulheres

19. Clínica de Direitos Humanos da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE

20. Clínica de Direitos Humanos e Direito Ambiental da Universidade do Estado do Amazonas

21. Clínica de Direitos Humanos PUC-SP “Maria Augusta Thomaz”

22. Coletivo Estadual de Combate à LGBTfobia da APP Sindicato

23. Comitê Brasileiro de Direitos Humanos e Política Externa

24. Conectas Direitos Humanos

25. CONIC – Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil

26. Conselho Federal de Psicologia

27. DDH – Instituto de Defensores de Direitos Humanos

28. FAOR – Fórum da Amazônia Oriental

29. FIAN Brasil

30. GAIRE – Grupo de Assessoria a Imigrantes e a Refugiados

31. GAJOP – Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares

32. Gestos – Soropositividade, Comunicação e Gênero

33. Grupo Dignidade 5 Artigo 4, inciso II.

34. IBCCRIM – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais

35. IDDH – Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos

36. INCIDE

37. INESC – Instituto de Estudos Socioeconômicos

38. Instituto EQUIT

39. Instituto Sou da Paz

40. ISER – Instituto de Estudos da Religião

41. Justiça Global

42. Laboratório de Justiça Global e Educação em Direitos Humanos na Amazônia (LAJUSA)

43. Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos da Defensoria Pública do Paraná

44. Núcleo de Estudo e Pesquisa sobre Deslocados Ambientais – NEPDA/ UEPB

45. PBPD – Plataforma Brasileira de Política de Drogas

46. PFDC – Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão

47. Plataforma de Direitos Humanos Dhesca Brasil

48. RCA – Rede de Cooperação Amazônica

49. Rebrip – Rede Brasileira de Integração dos Povos

50. Redes da Maré

51. RENAP – Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares

52. SMDH – Sociedade Maranhense de Direitos Humanos

53. Terra de Direitos

54. Vigência!

Acordo do Mercosul com União Europeia em nada ajuda desenvolvimento sulamericano

As negociações entre Mercosul e União Europeia para a conclusão de um Acordo de Livre Comércio nas bases que estão sendo feitas – sem transparência e com estrutura e conteúdo que colocam os países europeus e Estados Unidos em posição de ampla vantagem sobre os países sulamericanos – precisam ser rechaçadas e paralisadas, afirma em nota a Rede Brasileira pela Integração dos Povos (Rebrip).

Leia aqui a íntegra da nota da Rebrip.

Paralisadas desde 2004 e retomadas em 2013, essas negociações ganharam novos ares a partir de 2016, com a eleição de Trump nos Estados Unidos e o golpe institucional dado no Brasil.

Pelo lado europeu, essa parceria é bem-vinda porque a União Europeia está em crise desde 2008, e tem pela frente as consequências da saída do Reino Unido (Brexit) e a paralisação das negociações comerciais com os Estados Unidos (TTIP), vendo “na expansão dos interesses de suas transnacionais e a abertura de possibilidades de expansão de mercado para com o Mercosul e outras regiões uma parte da solução para seus graves problemas sociais, ambientais, econômicos e políticos”.

Para o Brasil e Mercosul, o acordo com a UE é também uma forma de fugir de uma grave crise econômica que fez o país entrar numa profunda recessão, ainda que de uma forma subalterna e claramente equivocada.

Mais grave de tudo, informes do lado europeu dão conta de que, enquanto a oferta atual que o Mercosul coloca na mesa oferece reais melhorias quanto a questões tarifárias, facilitando a vida dos europeus, a oferta europeia se limitaria em geral a concessões tarifárias de nação mais favorecida, ou seja, que não iriam muito além do que já consta nos acordos da OMC – que justamente terá sua Ministerial em dezembro próximo em Buenos Aires e onde se prevê que novas concessões serão definidas. Ou seja, além de ruim no geral, o acordo é assimétrico contra o lado dos países em desenvolvimento do Mercosul, favorecendo os desenvolvidos países da União Europeia, o que por si só é uma mostra de subalternidade no processo negocial.

As negociações são amplamente favoráveis à União Europeia nas questões agroindustriais, industrias e também nas compras do setor público. E tudo seguindo sem um mínimo de transparência, ao contrário até das negociações anteriores da Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca).

Reafirmamos mais do que nunca nesse novo cenário internacional nosso compromisso na construção de laços de integração cada vez mais fortes com os povos europeus, mas fundamentados em critérios de solidariedade, igualdade, justiça e respeito aos direitos humanos de nossos povos. Exigimos políticas conjuntas de geração de empregos e que os direitos sócio laborais sejam protegidos, sendo priorizados sobre os objetivos de liberalização comercial, com base na Declaração Sócio Laboral do Mercosul e a Carta de Direitos Fundamentais da União Europeia.

E, mais do que tudo, não vemos no governo atual brasileiro legitimidade para seguir adiante com esse processo, nem legitimidade em um Mercosul onde a  participação da Venezuela foi questionada de forma casuística e antidemocrática, situação ainda não  resolvida.

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O discurso pró ‘liberdade’ como legitimador da escravidão moderna

Publicado pelo site Voyager.

Em uma experiência no Museu do Seringal em Manaus, pude ir além da abstração e melhor refletir sobre a história do ciclo da escravidão por dívidas. Porém, fiquei ainda mais preocupado com a imagem que me veio, um cenário tenebroso que já é uma realidade mundo afora, a qual pode, se nada for feito, se converter numa distopia enlouquecedora para as “pessoas comuns”.

Também ficou evidente que grupos financiados por ultra-magnatas para fazer panfletagens nas quais insistem que liberdade é meramente ausência de coerção, trabalham para nos jogar numa armadilha. Não se percebeu ainda o risco catastrófico que significa para nós essa intensificação de um lobby que visa, na verdade, um processo político que trará retrocessos a longo prazo.

Para continuarmos o debate deste tema, cabe recapitular brevemente o modus operandi da servidão por dívidas: o capataz, de confiança do Barão, lhe servia na esperança de um dia poder comprar um bocadinho de terra para descansar as canas na velhice; buscava os trabalhadores – em sua maioria nordestinos, os mais precarizados e, logo, vulneráveis –aliciados pelos “gatos”, vindos em barcos chamados “Gaiolas”.

Chegavam já devendo a viagem e a acolhida, o local de residência para fazer a cabana – apenas um pequeno espaço de chão -, comida, ferramentas de trabalho e, então,  já estavam presos a uma pesada dívida… Tratava-se do “adiantamento” do Barão, o qual considerava em sua auto-compensação moral como “renúncia de gasto presente”. Devia-se trabalhar muito tempo para apenas amortecer uma dívida que se auto replicava, sonhando em conseguir quitar antes de morrer de tuberculose, malária, febre amarela, ou mesmo devido a ataques de animais ou pelas mãos de um assassino do seringal.

Os trabalhadores eram obrigados a conseguir pelo menos cinquenta quilos em uma semana de borracha para incitar a produtividade. Os rolos de borracha não tinham sistema de rigor de marcação de peso, então se produzia em torno de 60 kg ou 70 Kg para não ficarem abaixo do mínimo. Como a balança do Barão só media 50Kg, este lucrava com a quantidade a mais. Afinal, precisava de “produtividade”.

O Barão contratava um espião disfarçado de padre, que além de ouvir as confissões obrigatoriamente semanais, perambulava sondando as conversas. E repassava ao Barão os anseios, planos e ideias dos seringueiros.

Muitas vezes não recebiam em espécie. O Barão pagava em entretenimento. Era o patrono das festas, dos encontros religiosos, e trazia mulheres, chamadas de “cocotas”, para os seringueiros encontrarem “conforto”. Tudo meticulosamente cobrado deles. Quando tentavam ir embora do seringal , considerava-se que os Seringalistas estavam sendo roubados pela dívida não paga e carregada. O castigo era sempre exemplar.

Algum defensor do livre mercado pode tergiversar, dizendo que isso era um sistema de coerção. Mas – apoiando-se em muitos filósofos liberais – pode-se dizer que a base do sistema se dava a partir de trocas voluntárias. Os trabalhadores vinham espontaneamente porque a “utilidade” de irem era maior do que de não irem; contraíam obrigações com os seringalistas que lhes ofereciam serviços, ainda que o Regatão pudesse oferecer mercadorias a preço mais baixo – embora nem sempre acessível quando se precisava. Os Barões eram geradores da oferta, da riqueza, “criadores de empregos”, graças ao seu espírito de iniciativa, diligência e tato econômico mais desenvolvido do que os trabalhadores, abrindo com sua demanda outros postos de trabalho…

Quem quiser pode continuar fazendo os paralelos. Mas, enquanto isso…

Formados para dever, devendo para viver

Ganhou destaque, com muitas pessoas comentando e compartilhando uma matéria veiculada recentemente sobre o sistema de dívidas estudantis nos Estados Unidos intitulado “A Vida dos Estudantes Americanos com dívidas acima dos 500 mil”. Fenômeno que ocorre de forma análoga também em países com um sistema de ingresso nas universidades  privado ou semi-público, como é o caso do Chile e de Israel.

Noam Chomsky salienta que isso não ocorre por uma necessidade econômica, mas sim atende a uma agenda ideológica, com a qual apenas os mais ricos são beneficiados. Porém, se engana aqueles que acham que apenas intelectuais de esquerda criticam o sistema privado de unis. Nos EUA, isso se tornou um problema tão crítico, que sequer a imprensa conservadora o ignora mais, como podemos conferir na matéria “Por que a dívida estudantil é muito mais grave do que as pessoas pensam?”, da revista Time.

Mas há algo muito mais profundo e tenebroso que pode escapar de muitos leitores. É pra assustar mesmo, até porque é uma rede mafiosa que inclui jovens pagos para defender o esquema na internet.

Falo sobre um “complexo industrial de dívida estudantil”, uma hidra que cria mercados de títulos de securitização lastreados nos ativos de empréstimos estudantis (denominados SLABS). A securitização, a grosso modo, é um instrumento de transformação de créditos em um “produto financeiro”, um título negociado no mercado, de forma que não se compromete o securitizador quanto a seus limites de crédito junto a instituições bancárias e não se transforma em passivo no seu balanço de pagamentos. Esses títulos são transformados em mercadorias com valores ancorados a prêmios ao risco, negociados a “n” credores, movimentando mais de duzentos bilhões de dólares, com o qual os megainvestidores faturam com os pagamentos mensais dos empréstimos e o acréscimo dos juros. É fácil perceber que aqueles que lucram com isso podem muito bem investir em uma fortíssima panfletagem para convencer as pessoas que a privatização.

Esse mercado é complexo, muito diferente do funcionamento de uma feira como os panfletos lobistas e neoliberais de internet tentam vender o capitalismo. Pirâmides de mercados emergem dele, incluindo mercado de apostas; os credores faturam também com taxas, os negociadores recebem comissões e cada um vai repassando o risco pra frente formando uma bolha. Desta forma não interessa a estes poderosos agentes que ocorra uma grande quitação das dívidas, mas antes, que elas se acumulem.

Não há como os devedores atenuarem sua situação declarando falência. Esse Complexo envolve ainda corporações de advogados especializados e formas de arrecadação dos governos com os descontos em salários, nos seguros desemprego e benefícios sociais, acréscimo em impostos e taxas. O Complexo compra economistas e outros especialistas, bem como comentaristas na imprensa, para defender sua estrutura como algo “natural” e necessária. Mais ainda, financiam políticos e atacam aqueles que ousam enfrentar o problema.

Atentem: há forças ultra-poderosas que agem por meio de lóbi, usando seu poder econômico para forçar governos a mudarem o sistema de financiamento estudantil, cortando da verba direta das universidades, estimulando-as a entrarem nas bolsas de valores e captarem financiamento lá (captarem de quem mesmo? ) e assim criar a vulnerabilização necessária para erguer o sistema de dívidas. Depois dirão que é um sistema em que o estudante age em liberdade, sem coação, estimulado a ser responsável.

Esta espiral gera desigualdade que, por sua vez, alimenta a espiral. O componente racial é substancialmente impactante na desigualdade nos EUA. Um pesquisador apontou em um estudo que, nos períodos de menor investimento público em estudantes de ensino superior, “os negros experimentaram uma mobilidade inter geracional substancialmente menos ascendente e uma mobilidade inter geracional substancialmente mais descendente do que os brancos”.

Em uma pesquisa, abrangendo cerca de 125 anos dos Estados Unidos, analisando as diferenças salariais entre pessoas com diploma universitário e de ensino médio e comparando com o ritmo do número de diplomas universitários, foi constatado que as curvas evoluíram inversamente, ou seja, o ensino universitário ficou cada vez mais elitizado e a diferença da renda entre quem cursou uma universidade e quem ficou excluído do ensino superior se aprofundou. Nos anos setenta,  a curva do número de diplomas universitários estacionou, quando então a discrepância salarial, que vinha diminuindo, ganhou impulso. A queda em investimentos públicos em ensino superior repercutiu nas desigualdades salariais, dado o maior custo para as famílias de pagarem as anuidades das universidades. Vemos que boa parte dos que militam contra a tônica de direitos sociais costumam também ser contra o ensino público gratuito. Assim, as coisas vão se encaixando.

E a espiral vai se avolumando: do início de 1994 ao início de 2016 a média da dívida dos bacharéis formados mais do que triplicou, sendo que, quando metade se formou devendo em média pouco mais de dez mil dólares, passou para dois terços devendo trinta e cinco mil dólares. Uma pesquisa do Federal Reserve de Nova Iorque constatou que boa parte dos devedores ainda não quitaram seus empréstimos estudantis, mesmo já estando numa faixa etária entre 40 e 50 anos de idade. A lógica mercantil desse sistema também provoca o  declínio de estudantes nos cursos considerados não rentáveis, como é o caso dos cursos de humanas (e não é ao acaso que os lobistas venham desqualificando estes cursos, bem como de ciências sociais).

Dos Estados Unidos ao Chile e à Israel se forma uma grande massa de egressos da universidade vítimas do sistema da dívida.

“Fiz tudo certo: trabalhei muito, estudei muito, entrei para a faculdade. Agora, estou em um emprego precário muito aquém do que se prometia, com perspectivas realistas piores do que a geração anterior, e dívidas de dezenas de milhares”.

Em 1993, pouco menos da metade dos estudantes universitários dos EUA se formavam presos em dívidas. Hoje é mais de 75%. Credores terceirizam para especializadas que podem confiscar salários, pagamentos de encargos e mesmo prestações do seguro-desemprego, tudo o que conseguir recuperar.

Considerando a grande tendência de diversas empresas terem boa proporção de sua rentabilidade advindo de serviços financeiros, que por sua vez participam de sistema de gestão com empresas dos executivos das bolsas, há a grande chance de, em última instância, os jovens formados devedores trabalharem para seus credores. Servidão por dívidas?

Sobre povos e nações: o sistema imperial da dívida

El desmonte del sistema de protección social

Publicado por Agencia Latinoamericana de Información (Alai)

La crisis económica de 2008 fue utilizada como justificación para la adopción de medidas de austeridad en Europa.  Los resultados han sido catastróficos, especialmente en países como Grecia y España, por lo que incluso el Fondo Monetario Internacional (FMI) ha tenido que reconocer, por medio de estudios empíricos, que los recortes presupuestarios durante las recesiones económicas tienden a ampliar los déficits fiscales y prolongar la recesión, ampliando los niveles de desempleo y desacelerando la recuperación económica.

Con un efecto un poco más tardío de la crisis, actualmente es América Latina la que está siendo bombardeada con las mismas medidas de austeridad.  Entretanto, en lugar de tomar en cuenta su entendimiento sobre los efectos perjudiciales de las medidas de austeridad en casos de crisis económica, en esta región el FMI defiende a los gobiernos que adoptan medidas de ajuste fiscal extremo.

Brasil se ha destacado por el volumen, intensidad y perversidad de las medidas de austeridad adoptadas.  El gobierno de Temer, que llegó al poder en 2016 después de la destitución de la presidenta democráticamente electa, ha adoptado un acelerado paquete de maldades contra el pueblo brasileño.  Es importante destacar que tanto el presidente como sus ministros están profundamente implicados en las denuncias de corrupción en proceso, el país vive un escenario de crisis institucional y política, y las propuestas del gobierno nunca fueron sometidas al voto popular.

Entre las medidas más perversas, el gobierno de Temer presentó y aprobó en el Congreso Nacional, en 2016, una propuesta de Enmienda a la Constitución para instaurar un “nuevo” régimen fiscal, el cual determina que los gastos primarios, donde están todos los gastos sociales, tendrán un techo a partir de 2017: corresponderán al valor pagado en 2016 reajustado apenas por la inflación.  En la práctica, eso representará un congelamiento de los gastos sociales por 20 años, o aun peor, como la población crecerá en un 9% y la población de tercera edad se duplicará en 20 años, los gastos sociales per cápita serán de hecho reducidos.  Es importante destacar que existe en el país una normativa que permite contingencias presupuestarias para atender la meta de superávit primario, de acuerdo con la Ley de Directrices Presupuestales.  Si la meta fuese muy restrictiva, los gastos sociales no serían simplemente congelados, sino inferiores en comparación con el año anterior.  Ampliando el análisis, cuando el país vuelva a crecer, ninguna recaudación adicional del país podrá ser utilizada en gastos sociales para ampliar derechos, debido al techo de gastos primarios, y solamente podrá ser utilizada en gastos financieros, para pagar intereses y deuda.

Si bien se están adoptado medidas de control sobre los gastos primarios por el mundo, el caso brasileño es único: I.  Fue determinado por enmienda constitucional; II. Tiene un plazo excesivo de 20 años, lo cual inviabiliza la adopción de otras políticas fiscales por futuros gobiernos electos democráticamente; III. Imposibilita el crecimiento real de los gastos sociales al limitarlos a la corrección inflacionaria, en lugar de a la variación a mediano plazo del PIB como en muchos países europeos; IV. Hace abstracción de cualquier necesidad social que demande mayores inversiones sociales.  Por ejemplo, solamente el envejecimiento poblacional demandaría un crecimiento de 37% en el gasto de salud.

En perspectiva, si esa Enmienda hubiese sido aprobada desde 2013, el presupuesto de la salud en 2015 habría sido de casi la mitad de lo que fue realmente, R$ 55 billones en lugar de R$ 100 billones.  En los próximos 20 años se prevé una reducción del 25% a una política pública cuyo financiamiento ha sido históricamente seriamente insuficiente.

De esta manera, la Enmienda Constitucional n.95/2017, previamente conocida como PEC 241 y después como PEC 55, es enteramente incompatible con las obligaciones en derechos humanos.  Así lo afirmó el relator especial de las Naciones Unidas (ONU) para la extrema pobreza y los derechos humanos, Philip Alston, que considera que la enmienda afectará de forma más intensa a los brasileños más pobres y vulnerables, además de ampliar las desigualdades en una sociedad ya bastante desigual.

El comité de Derechos Económicos, Sociales y Culturales de la ONU ya emitió direcciones específicas a ser observadas por los países que forman parte del Pacto Internacional de los Derechos Económicos, Sociales y Culturales cuando se adopten medidas en respuesta a crisis económicas.  Para estar en acuerdo con el Pacto, las medidas fiscales deben: ser temporales; estrictamente necesarias y proporcionales; no discriminatorias; tomar en consideración posibles medidas alternativas, incluyendo medidas tributarias; identificar y proteger el contenido mínimo y central de los derechos humanos; y ser adoptadas solamente después de un cuidadoso análisis con genuina participación social en el proceso de toma de decisión, especialmente de los grupos e individuos afectados.

Con la EC 95, el gobierno de Temer falló en considerar todos esos criterios.  La Enmienda no es temporal, pues se extiende por 20 años y más allá del periodo de la crisis económica.  El techo a los gastos sociales afectará desproporcionalmente a los más vulnerables, como a las mujeres e infantes negros pobres, que son justamente los que más dependen de los servicios públicos como salud y educación.  No se consideraron medidas alternativas, especialmente las que podrían mejorar y ampliar las recetas de forma más equitativa.  Algunas posibilidades serían: I. Combatir la evasión fiscal que representaría un crecimiento del 27% del valor de recaudación, lo que en 2015 correspondió a R$ 500 billones; II. Ampliar la contribución de los súper ricos con la revocación de la no tributación sobre los lucros y dividendos en el impuesto a la renta, que en 2015 hubiese correspondido a R$ 43 billones.  Con esas medidas se podría haber evitado recortes drásticos en el gasto social.  Finalmente, el gobierno y varios congresistas no realizaron análisis sobre los efectos de las medidas, ni permitieron la participación social adecuada, al apresurar la aprobación de la Enmienda e inviabilizar la realización de Audiencias Públicas que ya estaban previamente aprobadas.

La Comisión Interamericana de Derechos Humanos (CIDH), al considerar todos esos elementos presentados en audiencia pública, instó al gobierno brasileño a respetar los principios de progresividad en la realización de los derechos humanos y de no regresión social, en conformidad con el Protocolo de San Salvador, que Brasil ratificó en 1996.  De acuerdo con ese documento, los países signatarios tienen prohibido adoptar medidas políticas y legales, sin justificación adecuada, que empeoren la situación de gozo de los derechos económicos, sociales y culturales por la población.

En la evaluación de la Inesc al presupuesto de Brasil para 2017 es posible observar los primeros indicios de irrespeto tanto a las orientaciones de la ONU como de la CIDH, lo que implicará una afrenta a los derechos sociales de las brasileñas y de los brasileños como resultado de la austera EC 95.  Entre 2016 y 2017 hubo un aumento del 17,20% de los recursos públicos para gastos financieros.  Por otro lado, los gastos primarios sufrieron una reducción del 14,2% en su tajada del pastel del presupuesto de la Unión.

Los datos presupuestarios evidencian que son las funciones y programas presupuestarios relacionados con las poblaciones en mayor riesgo los que más perderán.  Como ejemplo, la función “Derechos de la Ciudadanía” tuvo la mayor pérdida presupuestaria.  Nominalmente, esa función bajó de R$ 2,4 billones en 2016 a R$ 1,6 billones en 2017, un recorte del 47%.  Dentro de esa función, el programa más golpeado fue el de “Políticas para las Mujeres: Enfrentamiento a la Violencia y Autonomía” que tuvo una reducción del 52%.  Ese es el Programa que garantiza, por ejemplo, la atención a las mujeres en situación de violencia.  Esa acción presupuestaria se redujo en R$ 5,5 millones en 2017.  En contrapartida, para los intereses, en 2016 se pagaron como parte de la deuda interna y externa R$ 381 billones, y en 2017 la previsión es de R$ 557 billones, lo que representa un aumento de 46%.

Es decir, mientras el porcentaje del gasto financiero creció entre 2016 y 2017, los gastos primarios se redujeron, probando que la lógica de la EC 95 es fijar recursos cada vez más protegidos para el sector financiero y cada vez más limitados para los derechos humanos.  Esto atropella los principios de no regresión social, no discriminación y de uso máximo de recursos disponibles para la realización progresiva de los derechos humanos.

O desmonte do sistema de proteção social pelo governo Temer

A crise econômica de 2008 foi utilizada como justificativa para a adoção de medidas de austeridade na Europa. Os resultados foram catastróficos, especialmente em países como Grécia e Espanha, tendo ocorrido inclusive um reconhecimento do Fundo Monetário Internacional (FMI)[1], por meio de estudos empíricos, de que cortes orçamentários durante recessões econômicas têm a tendência de ampliar os déficits fiscais e prolongar a recessão, ampliando os níveis de desemprego e desacelerando a recuperação econômica.

O Brasil tem se destacado pelo volume, intensidade e perversidade das medidas de austeridade adotadas. O governo Temer que assumiu em 2016, após destituição da presidente democraticamente eleita, tem avançado um pacote de maldades contra o povo brasileiro em passos largos. É importante destacar que: tanto o presidente quanto seus ministros estão profundamente envolvidos nas denúncias de corrupção em andamento, o país vive um cenário de crise institucional e política, e as propostas do governo nunca foram submetidas ao voto popular.

Entre as mais perversas medidas, o governo Temer apresentou e aprovou no Congresso Nacional, em 2016, uma proposta de Emenda à Constituição[2] para instituir um “novo” regime fiscal, o qual determina que as despesas primárias, onde estão todos os gastos sociais, a partir de 2017, terão um teto: corresponderão ao valor pago em 2016 reajustado apenas pela inflação. Na prática, isso representará um congelamento dos gastos sociais por 20 anos, ou ainda pior, como a população crescerá em 9% e dobrará sua população idosa ao longo dos 20 anos[3], na realidade as despesas sociais per capita serão reduzidas. É ainda importante destacar que existe no país uma normativa que permite contingenciamentos orçamentários para atender a meta de superávit primário, de acordo com a Lei de Diretrizes Orçamentária. Se a meta for muito restritiva, os gastos sociais não apenas estarão congelados, como serão inferiores em comparação com o ano anterior. Ampliando a análise, quando o país voltar a crescer, toda arrecadação a mais do país não poderá ser utilizada nos gastos sociais para ampliar direitos, devido ao teto das despesas primárias, somente poderá ser utilizada nas despesas financeiras, para pagar juros e dívida.

Medidas de controle de despesas primárias estão sendo adotadas pelo mundo; porém, o caso brasileiro é único: I.  Foi determinado por alteração constitucional; II. Por um o prazo excessivo de 20 anos o que inviabiliza a adoção de outra política fiscal aos futuros governos eleitos democraticamente; III. Com impossibilidade de crescimento real dos gastos sociais ao limitá-los à correção inflacionária, ao invés da variação de médio prazo do PIB como foi feito em muitos países europeus; IV. Desconsiderando qualquer necessidade social que por si só viria a exigir maiores investimentos sociais. Por exemplo, somente o envelhecimento populacional demandaria um acréscimo de 37% nas despesas com saúde[4].

Em perspectiva, se essa Emenda tivesse sido aprovada desde 2013, o orçamento da saúde em 2015 teria sido quase a metade do que foi de fato, R$ 55 bilhões ao invés de R$ 100 bilhões. Para os próximos 20 anos, a previsão é de redução de 25% em uma política pública que já é historicamente seriamente subfinanciada[5].

Dessa forma, a Emenda Constitucional n.95/2017, previamente conhecida como PEC 241 e depois PEC 55, é inteiramente incompatível com as obrigações de direitos humanos, conforme afirmou em Declaração o relator especial da ONU para extrema pobreza e direitos humanos, Philip Alston[6], para quem a emenda afetará de forma mais intensa os brasileiros mais pobres e mais vulneráveis, além de ampliar as desigualdades numa sociedade já bastante desigual.

O Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas (ONU) já emitiu direções específicas que devem ser observadas pelos países parte do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais quando esses adotarem medidas em resposta a crises econômicas. Para estarem de acordo com o Pacto, as medidas fiscais devem: ser temporárias; estritamente necessárias e proporcionais; não discriminatórias; levar em consideração possíveis medidas alternativas, inclusive medidas tributárias; identificar e proteger o conteúdo mínimo e central dos direitos humanos; e serem adotadas somente após cuidadosa análise com genuína participação social no processo de tomada de decisão, especialmente dos grupos e indivíduos afetados[7].

Com a EC 95, o governo Temer falhou em considerar todos esses critérios. A Emenda não é temporária ao se estender por 20 anos e para além do período de crise econômica. O teto aos gastos sociais afetará desproporcionalmente os mais vulneráveis, como as mulheres e crianças negras pobres, que são justamente os que mais dependem dos serviços públicos, como saúde e educação. Medidas alternativas não foram analisadas, especialmente as que poderiam melhorar e ampliar as receitas de forma mais equitativa. Algumas possibilidades seriam: I. Combater a evasão fiscal que representaria um acréscimo de 27% do valor arrecadado[8], o que em 2015 correspondeu a R$ 500 bilhões; II. Ampliar a contribuição dos super ricos com a revogação da não tributação dos lucros e dividendos no imposto de renda, o que em 2015 teria correspondido a R$ 43 bilhões[9]. Com essas medidas poderiam ter sido evitados cortes drásticos em gastos sociais. Por fim, o governo e diversos congressistas não realizaram análises sobre os efeitos das medidas, nem permitiram participação social adequada, ao apressar a aprovação da Emenda e inviabilizar a realização de Audiências Públicas já previamente aprovadas.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)[10] ao considerar todos esses elementos apresentados em Audiência Pública orientou o governo brasileiro a respeitar os princípios de progressividade na realização dos direitos humanos e de não regressão social, em conformidade com o Protocolo de São Salvador, que o Brasil ratificou em 1996. De acordo com esse documento, os países signatários são proibidos de adotar medidas políticas e legais sem adequada justificativa que piorem a situação de gozo dos direitos econômicos, sociais e culturais pela população.

Em avaliação[11] pelo Inesc do orçamento para 2017 do Brasil é possível observar os primeiros indícios de desrespeito tanto das orientações da ONU quanto da CIDH, o que implicará em afronta aos direitos sociais das brasileiras e dos brasileiros em decorrência da austera EC 95. De 2016 para 2017 ocorreu um crescimento de 17,20% dos recursos públicos para despesas financeiras. Por outro lado, as despesas primárias sofreram uma redução de 14,2% na participação do bolo do Orçamento da União.

Os dados orçamentários evidenciam que são as funções e programas orçamentários relacionados com as populações em maior que mais perderão. Como exemplo, a função “Direitos de Cidadania” foi a que teve maior perda orçamentária. Nominalmente, essa função saiu de R$ 2,4 bilhões em 2016 para R$ 1,6 bilhões em 2017, um corte de 47%. Dentro dessa função, o programa mais atingido foi o de “Políticas para as Mulheres: Enfrentamento à Violência e Autonomia” que teve uma redução de 52%. É esse Programa que garante, por exemplo, o atendimento às mulheres em situação de violência. Essa ação orçamentária reduziu R$ 5,5 milhões no seu valor em 2017. Em contrapartida, para os juros, em 2016, foram pagos com serviço da dívida interna e externa R$ 381 bilhões, e em 2017 a previsão é de R$ 557 bilhões, o que representa um crescimento de 46%.

Ou seja, enquanto a fatia das despesas financeiras cresceu de 2016 para 2017, a das despesas primárias reduziu, provando que a lógica da EC 95 determina recursos cada vez mais protegidos para o financismo e cada vez mais limitados para os direitos humanos. O que afronta os princípios de não regressão social, não discriminação e de uso máximo de recursos disponíveis para a realização progressiva de direitos humanos.

(texto originalmente publicado em espanhol no site da Agência Latinoamericana de Información – Alai)

Leia também:

Banco Mundial despreza direitos socioeconômicos e ambientais dos brasileiros

 


 

[1] FMI. Expansionary Austerity: New International Evidence. IMF Working Paper. 2011. Disponível em: http://www.imf.org/external/pubs/ft/wp/2011/wp11158.pdf

[2] Íntegra da Emenda Constitucional n. 95/16. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc95.htm

[3] IBGE. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/

[4]Projeto Saúde Amanhã da Fiocruz. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SAUDE/500989-CUSTO-DA-SAUDE-VAI-ENCARECER-37-COM-ENVELHECIMENTO-DA-POPULACAO,-APONTA-PESQUISADOR.html

[5] Conselho Nacional de Saúde e Conselho dos Secretários Municipais de Saúde. Disponível em: http://www.conass.org.br/nota-conjunta-conass-e-conasems-sobre-a-pec-241/

[6] http://www.ohchr.org/EN/NewsEvents/Pages/DisplayNews.aspx?NewsID=21006&LangID=E

[7] ONU. Relatório sobre medidas de austeridade e direitos socioeconômicos, 2016. Disponível em: http://www.ohchr.org/Documents/Issues/Development/RightsCrisis/E-2013-82_en.pdf

[8] Estatão. Evasão Fiscal no Brasil chega a 27% do Total Arrecadado, de acordo com a ONU. Disponível em:http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,evasao-fiscal-no-brasil-chega-a-27-do-total-arrecadado,70001631710

[9] Orair e Gobetti. Progressividade Tributária: a agenda esquecida. 2015.  Disponível em: http://www.esaf.fazenda.gov.br/assuntos/premios/premios-1/premios-2015/xx-premio-tesouro-nacional-2015-pagina-principal/monografias-premiadas-xx-premio-tesouro-nacional-2015/tema-3-sergio-gobetti-e-rodrigo-orair

[10] Comunicado após a Sessão 159ª da CIDH. Disponível em: http://www.oas.org/es/cidh/prensa/Comunicados/2016/183A.asp

[11] INESC. A EC 95 na real. 2017. [no prelo]

E se os mais ricos ajudassem a pagar o rombo nas contas públicas?

Publicado no El País Brasil. Por Heloísa Mendonça.

O Governo interino de Michel Temer anunciou nesta terça-feira linhas gerais de suas estratégia para reequilibrar as contas públicas. O eixo principal é criar uma regra para congelar o gasto público, incluindo limitar gastos com saúde e educação modificando a Constituição. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, afirmou, em coincidência com empresários, que a carga tributária é alta e que, neste momento, não se contempla aumento de impostos. Especialistas ouvidos pelo EL PAÍS, no entanto, afirmam que há espaço para aumentar a tributação das camadas mais ricas da sociedade, distribuindo a fatura do ajuste imediato e de longo prazo de forma mais justa entre ricos e pobres. Defendem, como prioridade, a volta do imposto de 15% sobre lucro e dividendos recebidos por donos e acionistas de empresas.

Caso a cobrança desse tributo, que foi extinto em 1995, no Governo Fernando Henrique Cardoso, voltasse a ser cobrado, o Governo poderia arrecadar mais de 43 bilhões de reais por ano, segundo estudo feito pelos pesquisadores Rodrigo Orair e Sérgio Gobetti, do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea). O montante representa, por exemplo, ¼ do rombo esperado nas contas públicas de 2016, estimado na semana passada em 170,5 milhões de reais. A regra não foi alterada nos anos Lula e Dilma. Em 2015, o senador Lindebergh Farias apresentou projeto de lei para modificá-la, mas ele está parado no Senado.

“Hoje, grande parte do que os empresários ricos ganham não é tributada. Um trabalhador com salário de 8.000 reais paga um imposto de renda de 27,5%. Já um dono de uma grande empresa que fatura mais de 500.000 reais a título de lucros e dividendos pode não pagar nada como pessoa física”, explica Orair, que ressalta que o Brasil é um dos poucos países que ainda isentam esse imposto. O sistema clássico de tributação prevê imposto na pessoa jurídica e, posteriormente, havendo distribuição de dividendos aos acionistas, também na pessoa física. Dos 34 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que reúne economias desenvolvidas e algumas em desenvolvimento, apenas um, a Estônia, não cobra esse tributo. Alguns tributam mais na pessoa física, outros na pessoa jurídica, mas em média, de acordo com Orair, a parcela de lucros tributada pelo Estado é mais alta do que a do Brasil.

Ainda segundo o pesquisador, só após essa mudança, a progressividade das alíquotas do Imposto de Renda, outra mudança defendida por especialistas, seria efetiva, já que ela só incide sobre os salários. A volta da cobrança desse imposto seria inclusive mais interessante que a polêmica recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), na opinião do especialista. “É mais fácil argumentar sobre uma medida que vai afetar o topo da cadeia de um país tão desigual que falar na CPMF, que é um imposto regressivo (afeta de maneira proporcionalmente igual ricos e pobres)“, explica.

Segundo dados do Ministério da Fazenda, 2,1 milhões de pessoas no Brasil eram acionistas ou donos de empresas em 2013. O grupo, no entanto, é diverso, já que vai desde um microempresário a um acionista de uma grande companhia. “Por isso, defendo que poderíamos pensar também em uma volta do imposto progressiva, mais justa, com valores diferentes para diferentes faturamentos”, explica Orair. O projeto de lei atualmente no Senado (PLS) 588/2015 prevê o imposto sobre a distribuição de lucros e dividendos, mas sugere que a isenção seja mantida apenas para empresários inscritos no Simples Nacional, com receita bruta anual de até 3,6 milhões de reais.

Nara Cristina Taga, coordenadora de Direito Tributário Aplicado da FGV, explica que, quando o tributo sobre lucros e dividendos deixou de ser cobrado em 1995, o país vivia um momento de desenvolvimento em que houve um esforço de criar mecanismos de incentivo para o setor empresarial. “O país queria aquecer a economia criando incentivos, mas essa isenção não contribui tanto para o crescimento. Então, porque manteríamos isso?”, questiona.

De lá pra cá, também houve uma revisão dos estudos de distribuição de renda e de tributação. Um dos trabalhos que ganhou maior projeção foi o do economista Thomas Piketty, autor do best-seller Capital no século XXI. “Economistas como ele revisaram essa ideia de que não era papel da tributação distribuir renda, que ela deveria ser neutra. Essa visão não era realista, não nos levou ao crescimento e sim a concentração de renda”, explica Orair.

“Não é questão de aumentar ou diminuir a carga, mas redistribuir a carga tributária brasileira. Isso implica aumentar a tributação na renda”, já defendeu Marcelo Medeiros, pesquisador da UnB e do IPEA que ao lado de outros pesquisadores aplica metodologia de Piketty no Brasil.

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Imposto mais alto sobre heranças

Em sua passagem pelo Brasil em 2014, Piketty inclusive defendeu um imposto mais alto sobre heranças como instrumento para diminuir o abismo entre os mais ricos e mais pobres Brasil. Taga concorda com a medida pois considera a tributação atual de até 4% baixa em comparação com as alíquotas dos EUA, Reino Unido, Alemanha, França. “Alguns países tributam até 50% da herança. O fundamento é interessante. O herdeiro recebe aquela renda não pelo fruto do seu trabalho, mas pelo patrimônio da família. Dessa forma, o estado taxa aquela herança para fazer uma redistribuição mais igualitária”, afirma a economista.

No início de maio, o ministério da Fazenda, no apagar das luzes da gestão da presidenta Dilma Rousseff, enviou uma proposta para tributar heranças acima de 5 milhões e doações de mais de um milhão. A iniciativa visa compensar a correção de 5% na tabela do IR que elevará o limite de isenção de 1.903,98 reais para 1999,8. A ideia é aplicar alíquotas de 15%, 20% e 25% sobre heranças. O pesquisador do Ipea Rodrigo Orair afirma que a medida é válida, mas que pode gerar um imbróglio uma vez que a iniciativa pode ser considerada uma bitributação. “Já existe o tributo estadual de herança [Imposto de Transmissão Causa Mortis e Doação] e o Governo Federal está tentando federalizar esse imposto”, explica. O Governo também propôs no projeto uma aumento de impostos para as empresas, mas deixou de fora as grandes companhias.

Para o tributarista Miguel Silva, a solução mais simples para “praticar a justiça social” por meio de tributação é aplicar mais imposto sobre renda e propriedade e menos sobre o consumo. “Tributos como ICMS [Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços] é o que mais recai sobre a população mais baixa, você tributa igual desiguais”, explica. “O Brasil reduz pouco da desigualdade por tributação e tem uma ação distributiva forte por meio de gasto: Bolsa Família, salário mínimo de Previdência, Assistência. Em um momento de crise de ajuste, em que você quer repensar, talvez seja o momento de tirar tanto peso do gasto e olhar mais pra tributação”, resume Orair.

Impostos sobre fortuna

Outro tema polêmico para tributar os mais ricos é o imposto sobre grandes fortunas. A Constituição brasileira prevê a criação do imposto, mas ele nunca foi instituído. “Dependeria de uma lei complementar, mas há muitos interesses em jogo. Além disso há um problema, como vamos medir isso? O que é uma grande fortuna”, questiona Taga. Ela ressalta ainda que os donos de grandes poderiam optar mandar o dinheiro para paraísos fiscais caso o imposto fosse instituído ou se tornarem exilados fiscais. O ator francês Gerard Depardieu é um ótimo exemplo, segundo Taga, de quem foi embora do país após a alta taxação de grandes fortunas. Ele abandonou a França para não ser obrigado a pagar a alíquota de 75% instituído na França. Mas, na opinião da especialista, há melhores formas e mais igualitárias que o imposto sobre as grandes fortunas. “Muitos países que aliaram o tributo sobre lucros e dividendos com faixas mais progressivas de imposto de renda e uma alíquota grande na herança conseguiram uma redistribuição de renda mais eficaz”, conclui.

Vamos falar sobre Justiça Fiscal?

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É mais barato – e eficiente – prevenir do que lidar com consequências da violência contra as mulheres

As Nações Unidas reforçaram hoje, no Dia Laranja pelo Fim da Violência contra as Mulheres, o apelo para que os países combatam violações dos direitos humanos de meninas e mulheres, lembrando que investimentos em prevenção como conscientização sobre desigualdade de gênero nas escolas são mais eficientes e custam menos do que políticas necessárias para lidar com as consequências dos abusos.

Segundo a ONU, a violência contra as mulheres custa cerca de US$ 1,5 trilhão ao mundo, devido a despesas com atendimento às vítimas, com a aplicação das leis e com as consequências das agressões na vida de trabalhadoras. E isso vale para países desenvolvidos e em desenvolvimento.

No Brasil, 40% das mulheres já sofreram violência doméstica em algum momento de sua vida. Segundo dados da ONU Mulheres, 66% dos brasileiros presenciaram uma mulher sendo agredida física ou verbalmente em 2016. Em 2014, foram mais de 45 mil estupros cometidos no país. A cada duas horas, uma mulher é assassinada no país, a maioria por homens com os quais têm relações afetivas — o que coloca o Brasil na 5º posição em um ranking de feminicídio que avaliou a incidência do crime em 83 países. Apesar desta realidade tão cruel, o governo brasileiro reduziu em mais de 50% os recursos existentes para políticas que atendam as mulheres.

“Na prática cortaram metade dos recursos de toda a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), justamente o órgão responsável pelo Disque 180 (o disque-denúncia para violência contra as mulheres) e por implementar as Casas da Mulher Brasileira“, afirma Carmela Zigoni, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). “É um absurdo um corte desses em um país onde a cada 7 minutos uma denúncia é feita de violência. Somente no primeiro semestre de 2016, o Disque 180 registrou 555 mil denúncias. Este governo definitivamente não tem o menor comprometimento com as mulheres brasileiras.”

Todo dia 25 do mês é um Dia Laranja pelo Fim da Violência contra as Mulheres, uma forma de ampliar o calendário celebrado no dia 25 de novembro – Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres. No Dia Laranja, a ONU convida a sociedade civil, os governos e outros parceiros a se mobilizarem em apoio à causa.

Em 2017, o Dia Laranja adota o lema “Não deixe ninguém para trás: acabe com a violência contra as mulheres e as meninas”, uma adaptação do tema dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.

Vamos falar sobre Gênero, Raça e Etnia?

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