Brasil confessa na ONU que ajuste fiscal é mais importante do que direitos humanos
O governo brasileiro deu mais uma prova esta semana de que não mede consequências para levar adiante o ajuste fiscal em detrimento da garantia dos direitos de seus cidadãos. Em votação realizada quinta-feira (23/3) na Conselho de Direitos Humanos da ONU, o Brasil se colocou contra resolução que renovou o mandato da organização para monitorar impactos de políticas fiscais de cada país sobre os direitos humanos de seus cidadãos.
Mesmo com o voto contrário brasileiro, a resolução foi aprovada por 31 a 16. Com isso, o Brasil rompe alinhamento que tinha com países em desenvolvimento, que votaram em peso a favor da resolução, alinhando-se aos Estados Unidos, Reino Unido e outros países europeus. Nas três últimas votações da resolução na Conselho, em 2008, 2011 e 2014, o Brasil votou a favor.
“O argumento de que o ajuste fiscal é necessário para continuar e aprofundar as políticas sociais não convence ninguém, nem aqui no Brasil nem na ONU”, afirma Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc, que vê o voto brasileiro contra a resolução da ONU como uma “confissão internacional de que o ajuste fiscal estrutural que está sendo imposto de forma autoritária e antidemocrática à sociedade brasileira produzirá graves violações aos direitos humanos”.
O Brasil conta cada vez mais com a ONU e seus mecanismos de monitoramento do cumprimento dessa resolução aprovada e também no monitoramento do Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pidesc), do qual o Brasil é signatário desde 1992. “As violações aos direitos produzidas pelas políticas monetária e fiscal do governo Temer têm que ser avaliadas e denunciadas internacionalmente”, diz Alessandra.
O voto contrário do Brasil ocorre três meses após Philip Alston, relator especial da ONU para Extrema Pobreza e Direitos Humanos, afirmar em comunicado oficial que a emenda constitucional brasileira que propunha um teto de gastos públicos por 20 anos, à época em discussão no Congresso, colocaria o país numa categoria única no mundo em termos de retrocesso social.
Essa emenda constitucional foi aprovada em dezembro de 2016 e seus efeitos já podem ser sentidos no Orçamento de 2017: forte limite nas despesas com políticas públicas e programas sociais e mais espaço para liberação de recursos para o pagamento de juros da dívida.
A mulher carrega boa parte do peso das desigualdades na região. São elas que mais sofrem com a violência e os injustos sistemas fiscais. Apesar de muitas terem conseguido sair da pobreza, a desigualdade social se mantém e a região continua sendo a mais desigual do mundo para as mulheres.
Para nós, a justiça social significa uma sociedade mais equitativa, não apenas em termos financeiros, mas também em termos de capacidade das pessoas de exercer seus direitos, em políticas que incluam todas as pessoas e que ajudem a acabar com as desigualdades”, afirma Mara Manzoni Luz, diretora da Christian Aid para a América Latina e Caribe.
O relatório explora a identidade racial e étnica, e dá atenção especial à situação dos povos indígenas e das comunidades quilombolas, que são os mais afetados pela exclusão social e pelo racismo. Examina ainda o tema da desigualdade no contexto da violência de gênero, incluindo a violência sexual e o feminicídio, que fazem da América Latina uma das regiões mais violentas do mundo. Dos cinco países mais perigosos para as mulheres, quatro estão na região, sendo El Salvador o país com a maior taxa de homicídios de mulheres no planeta.
O relatório destaca ainda que a justiça fiscal pode ter um papel chave na redução da desigualdade, não apenas por meio das transferências de impostos, mas também com a implementação de sistemas fiscais progressivos, e o uso dos impostos para financiar serviços públicos universais, garantidos por sistemas mais justos e transparentes.
A sociedade civil tem um papel fundamental no combate das desigualdades e na pressão para que os governos prestem contas, além de exigirem mudanças e denunciarem as desigualdades e divulgarem o que vem sendo feito para superá-las.
O relatório aponta alguns caminhos necessários para enfrentar a desigualdade na América Latina e Caribe:
* Atacar urgentemente a desigualdade dos povos indígenas e quilombolas, garantindo o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS);
* Implementar medidas referentes ao controle do poder político, participação política e o acesso à terra;
* Enfrentar diretamente o crescente problema da violência e da violência de gênero, e suas interrelações com as desigualdades;
* Usar o sistema de impostos para combater a concentração de riqueza e permitir que a região autofinancie seu próprio desenvolvimento. Melhorar o acesso a empregos decentes para superar, de maneira sustentável, a pobreza e a desigualdade;
* Responder aos desafios impostos pelas mudanças climáticas e a necessidade urgente de se avançar para um desenvolvimento de baixo carbono.
La mujer carga con el peso de las desigualdades en la región, son las mujeres quienes más sufren por la violencia, los sistemas fiscales se ensañan contra ellas, las mujeres tienen menos oportunidades a acceder a trabajos dignos y son las más afectadas por el cambio climático.
Desde la publicación del último informe de Christian Aid sobre la desigualdad en el 2012, la región ha experimentado algunos cambios positivos, pero a pesar de que muchos han salido de la pobreza, la riqueza y la desigualdad social se mantienen y la región continúa siendo la más desigual en el mundo.
“Para nosotros la justicia social significa una sociedad más equitativa, no sólo en términos financieros sino en términos de la capacidad de las personas de ejercer sus derechos, en políticas que incluyan a todas las personas y que ayuden a acabar con las desigualdades”, afirma Mara Manzoni Luz, Directora de Christian Aid para América Latina y El Caribe.
El informe explora la identidad racial y étnica y da atención especial a la situación de los pueblos indígenas y las comunidades afro-descendientes, quienes son los más afectados por la exclusión social y el racismo.
El informe examina el tema de desigualdad en el contexto de la violencia de género, incluidos la violencia sexual y el feminicidio, tan prevalentes en la región, hacen de América Latina una de las regiones más violentas del mundo. De los cinco países más peligrosos para las mujeres, cuatro se encuentran en la región, siendo El Salvador el país con la mayor tasa de homicidios de mujeres en el planeta.
El informe destaca que la justicia fiscal puede jugar un papel clave en reducir la desigualdad, no sólo a través de las transferencias de impuestos, sino también con la implementación de sistemas fiscales progresivos, y la inversión de los ingresos fiscales en la provisión de servicios públicos universales garantizados por sistemas más justos y transparentes de inversión en los países.
Se destaca que la sociedad civil incluidas las organizaciones basadas en la fe y los movimientos sociales tienen un papel fundamental en combatir las desigualdades y en asegurarse que los gobiernos rindan cuentas, exijan cambios, denuncien las desigualdades y lo que se está haciendo para superarlas.
El informe insta a los gobiernos y la sociedad civil a:
• Abordar urgentemente la desigualdad de los pueblos indígenas y afro-descendientes, garantizando el cumplimiento de los Objetivos de Desarrollo Sostenible
• Implementar medidas referentes al control del poder político, participación política y al acceso a la tierra
• Desafiar directamente el creciente problema de la violencia y de la violencia de género y sus interrelaciones con las desigualdades
• Utilizar el sistema de impuestos para combatir la concentración de la riqueza y permitir que la región autofinancie su propio desarrollo. Mejorar el acceso a empleos decentes para superar de forma sostenible la pobreza y la desigualdad
• Responder a los desafíos que presenta el cambio climático y la necesidad urgente de avanzar a un desarrollo bajo en carbono
El 11 de marzo del presente año, cuatro días después de su gestión como Ministro de Relaciones Exteriores de Brasil, Aloysio Nunes Ferreira dio una entrevista al Blog de Josías. Ahí el nuevo canciller comparó el gobierno del presidente Nicolás Maduro con el régimen militar brasileño establecido después del golpe de 1964, dijo: “Es una dictadura con algunas zonas que aún se conservan, como hemos tenido aquí en el tiempo del autoritarismo en Brasil. Tenías espacios para la oposición utilizándolos para acumular fuerzas…”.
Dicha declaración pública de Aloysio Nunes Ferreira revela claramente la subordinación del actual gobierno de Brasil a las imposiciones del imperio de Estados Unidos. Al hacer coro con ese gobierno a los ataques y conspiraciones contra el régimen y pueblo venezolano no deja sombra de duda respecto a los intereses geopolíticos que guiaron a la derecha en la conspiración que resultó en el derrocamiento del gobierno de Dilma en Brasil en 2016.
Cuatro días después de dicha entrevista, el 15 de marzo, las calles del país fueron tomadas por las protestas contra la retirada de los derechos de los trabajadores en el Congreso Nacional a través de proyectos de reforma constitucional, en especial los relativos a la legislación laboral y seguridad social. Otras iniciativas similares del gobierno golpista de Temer están en curso, las mismas están destinadas a intensificar el despojo de los campesinos y pueblos indígenas.
La radiografía del gasto gubernamental revelada recientemente por INESC también no deja duda sobre el retroceso actual en el país “Aprobado en diciembre de 2016, la Propuesta de Enmienda Constitucional (PEC) 55/241 – ahora Enmienda Constitucional 95 (CE 95) – revela su esencia: limitar el gasto en políticas públicas y programas sociales para liberar recursos para el pago de intereses, priorizando al sistema financiero en lugar de los ciudadanos brasileños. Sus efectos ya son visibles en el presupuesto de 2017 y más recortes están por llegar”.
Los siguientes datos presentados por INESC, muestran claramente lo señalado:
Las consecuencias de la farsa engendrada por la conspiración de la derecha golpista en Brasil no se detienen ahí. Un artículo escrito por Marcos Sergio Silva, publicado el 17 de marzo, muestra lo que ya se sabía: el secuestro de la política por el poder privado para el incremento de su patrimonio y la corrupción que les caracteriza, dicho artículo que fue censurado en los medios de comunicación, como muestra nos dice:
Los registros históricos nos indican que recursos para usos ilícitos ya financiaron el golpe militar de 1964 “(…) el dinero en efectivo del llamado ‘caja dos’ (ardides de contabilidad que tienen como propósito ocultar el soborno) alimentó el golpe militar de 1964 ‘Cada uno llevaba dos maletas, una en cada brazo. En total, seis maletas. (…) les pide que abran. Empezó una pelea, pero me miró y vio que era sólo dólar, dólar. Todo lleno de dólares (…) Un millón y 200.000 dólares’. La frase anterior fue dicha por el coronel retirado Erima Moreira Pinheiro en la Comisión de la Verdad de la Cámara Municipal de la ciudad de Sao Paulo el 18 de febrero de 2014. Según él, el dinero – una cantidad ajustada a los valores de hoy sería alrededor de R$ 9.5 millones – fue llevado el 30 de marzo de 1964 por el entonces presidente de la Fiesp (Federación de Industrias del Estado de São Paulo), Raphael de Souza Noschese para financiar el apoyo del general Amaury Kruel, que era el jefe del gabinete militar y ministro de la guerra de João Goulart, que también comandaba al 2º Ejército en Sao Paulo…”
Farsas similares a la que supuso el derrocamiento del gobierno de Dilma en Brasil se sigue replicando en “Nuestra América”. En el caso de Ecuador el discurso utilizado por la derecha contra “Alianza PAIS” repite lo utilizado por la derecha en Brasil. Ojalá que el pueblo ecuatoriano no se deje engañar por los “cantos de sirena” y siga adelante luchando para expandir los logros conquistados en el curso de su heroica resistencia contra el neoliberalismo y neocolonialismo y las fracciones de clase subordinadas a las élites financieras.
Elder Andrade de Paula, es post doctorado en Sociología del Desarrollo de la Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM, Profesor e Investigador de la Universidad Federal de Acre, Coordinador del Centro de Investigación: Sociedad Estatal de Desarrollo para la Amazonía occidental. Su accionar se centra en las luchas por la tierra / territorio en la Amazonía desde 1984.
Elder Andrade de Paula, é Pós Doutor em Sociologia do Desenvolvimento pela Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM, Prof e Pesquisador da Universidade Federal do Acre, Coordenador do Núcleo de Pesquisa: Estado Sociedade e Desenvolvimento na Amazônia Ocidental. Atua junto às lutas de resistência por terra/território na Amazônia desde 1984.
Livro discute projetos políticos de grupos evangélicos no Brasil
Quais são os projetos políticos dos grupos religiosos evangélicos no Brasil? Esse é o eixo central do livro “Religião e Política: medos sociais, extremismo religioso e as eleições 2014”, que será lançado nesta quarta-feira (22/3) no Rio de Janeiro.
O livro registra estudo sobre as eleições de 2014, com foco nas candidaturas do Pastor Everaldo (PSC) a presidente da República, e de Marcelo Crivella (PRB) e Anthony Garotinho (PP) a governador do Rio de Janeiro. A publicação foi desenvolvida pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser) em parceria com a Fundação Heinrich Böll (HBS).
Os autores do livro têm como objetivo recuperar detalhes das eleições 2014 para refletir sobre comportamentos públicos de evangélicos no Brasil hoje – ações extremistas, conservadoras e progressistas; seu lugar como ator político, de “ovelhas” a players; e o lugar relativo que a religião e a tradição ocupam no debate público. Buscou-se olhar a eleição à luz das questões que tomaram a agenda pública desde a reeleição de Dilma Rousseff à Presidência da República e a culminância que tal processo atingiu com seu afastamento do cargo em maio de 2016. Desse modo, procurou-se refletir sobre o contexto tão turbulento e complexo que se desenrolou das eleições até o período mais recente.
Proposta de Serra para mudar regras eleitorais “é reformar para não mudar”
A ideia do senador José Serra de apresentar uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) para retirar as regras eleitorais da Constituição, permitindo assim que sejam alteradas por meio de leis ordinárias, é o pior dos mundos, afirmam os especialistas ouvidos pela reportagem do Brasil de Fato, entre os quais José Moroni, do Colegiado de Gestão do Inesc.
Para Moroni, o atual Congresso brasileiro não tem legitimidade para propor reforma eleitoral alguma. “Esse Congresso – não só ele, a própria proposta é fruto de uma articulação dos três Poderes – não tem legitimidade, hoje, para propor uma reforma nesse sentido”, diz. “É uma questão de legitimidade, mesmo. Independentemente das propostas que venham a ser votadas pelo Parlamento, há um problema de origem.”
Para Moroni, qual seria esse vício de origem? “O atual sistema político não tem legitimidade por uma série de fatores. O motivo que leva a essa proposição não é o enfrentamento do déficit democrático, da subrepresentação de diversos setores – mulheres, negros, indígenas, da classe trabalhadora. É unicamente para que os que estão no poder lá continuem. É reformar para não mudar. Para que, nas eleições de 2018, o mesmo grupo se perpetue”, explica. “Estão pegando propostas como financiamento público, lista fechada – coisas que defendemos – com um objetivo totalmente diferente da sociedade civil.”
Outros especialistas consultados concordam com Moroni, como Alessandro Soares, professor de Direito do Mackenzie, em São Paulo: “Do ponto de vista político, à medida que você tem um presidente da República que não tem o aval direto do voto popular, uma crise política, social e econômica, todo mundo vai buscar saídas de emergência. Acho que, antes de tudo, é preciso recuperar a legitimidade do governo democrático.”
7 Razones por las que necesitamos #JusticiaFiscal para garantizar los derechos de las mujeres
Los líderes del mundo se han comprometido a cumplir los Objetivos de Desarrollo Sostenible para que en el año 2030 hayamos acabado con todas las desigualdades y formas de violencia contra las mujeres y niñas y logremos que la economía del cuidado, no remunerada, y el trabajo doméstico sean reconocidos y valorados a través de la implementación de servicios públicos gratuitos y de calidad. Pero, ¿de dónde saldría el dinero para lograr estas necesarias metas?
Actualmente, la ONU Mujeres afirma que los Planes Nacionales de Acción para la Igualdad de Género tienen hasta un 90% de déficit de financiamiento: ¿no hay dinero para combatir un problema tan grave como la desigualdad de género?
Un sistema fiscal justo puede ser la clave para acabar con las desigualdades. Un sistema tributario justo que cobre más a quienes más tienen e impida la fuga de recursos a paraísos fiscales, puede ser la herramienta más poderosa para reducir la brecha entre ricos y pobres –dentro y entre países- y entre hombres y mujeres. Los impuestos son la fuente más sostenible de ingresos públicos, con ellos se financian la gran mayoría de los servicios públicos. Para acabar con la desigualdad de género y cumplir con los ODS, los gobiernos necesitan aumentar progresivamente su recaudación para gastar más recursos en el trabajo y los servicios que necesitan las mujeres.
La justicia fiscal, que abarca la elaboración de presupuestos públicos con perspectiva de género y la supervisión presupuestaria a nivel nacional, regional y local, adquiere en este escenario, una vital importancia. Es por eso que es un elemento clave en diversos protocolos y marcos internacionales, como la Convención sobre la Eliminación de todas las formas de Discriminación contra la Mujer de 1979 (CEDAW) y la Plataforma de Acción de Beijing (BPfA), a partir de 1995.
Sin embargo, la evasión fiscal y los beneficios tributarios para las grandes empresas, cuestan a los países en desarrollo más de 100 mil millones de dólares cada año. Sí hay dinero, pero en cuentas privadas y paraísos fiscales, no donde debería estar: financiando servicios para mejorar la vida de las mujeres y niñas. Porque cuando los servicios públicos carecen de fondos y los ricos no pagan impuestos, son las mujeres y las niñas quienes pagan el precio más alto.
#JUSTICIAFISCAL significa impuestos justos e invertidos con el fin de acabar con la pobreza y las desigualdades. ¿Las mujeres necesitan #JusticiaFiscal? Claro que sí y aquí te lo decimos punto por punto:
La #JusticiaFiscal contribuye a que las niñas obtengan una mejor educación
La educación es un derecho fundamental de todos los niños. Sin embargo, en el mundo hay 124 millones de niños y niñas que no asisten a la escuela. Además, existe una brecha significativa entre los géneros, 1 de cada 8 niñas (63,1 millones) en comparación con 1 de cada 9 niños (61 millones) no asisten a la escuela.
La educación es una de las herramientas más importantes para reducir la desigualdad y nivelar el terreno de juego en el que nos desarrollamos. Si todas las mujeres terminaran la educación primaria, las muertes maternas disminuirán en dos tercios y las muertes infantiles se reducirían en un 15%.
Un sistema progresivo de recaudación y gasto, puede generar ingresos significativos para los gobiernos, sin afectar la economía de los más pobres. Por ejemplo, Ecuador ha triplicado su gasto en educación: de US $ 225 millones en 2003-2006 a US $ 941 millones en 2007-2010 a través de políticas efectivas de movilización de impuestos. La educación financiada y proporcionada con fondos públicos tiene mayor potencial transformador que la educación privada que, al contrario, puede empeorar la movilidad social y socavar el potencial de la educación para revertir la desigualdad.
Se calcula a nivel mundial que la brecha anual de financiación para alcanzar la educación universal en los niveles preescolar, primario y secundario en los países de ingresos bajos y medios bajos es de 39.000 millones de dólares. ¿Podemos cambiar esto? Sí, con #JusticiaFiscal.
La #JusticiaFiscal contribuye a reducir la carga de cuidados no remunerados de que realizan las mujeres y las niñas
El trabajo no remunerado de mujeres y niñas subvenciona el crecimiento económico. Las mujeres gastan 2,5 veces más tiempo en la atención no remunerada y el trabajo doméstico que los hombres, que se ha valorado en 10 billones de dólares anuales o alrededor del 13% del PIB mundial.
Cuando los estados no tienen ingresos suficientes para proporcionar servicios públicos esenciales, la constante es que sean las mujeres las que llenen la brecha con sus cuerpos y tiempo, reduciendo el tiempo que tienen para la educación, el empleo remunerado y el descanso y el ocio.
Del mismo modo, a medida que más mujeres entran en el mundo del trabajo sin el soporte básico de un estado que garantiza servicios fundamentales, la carga no remunerada del cuidado recae en otras mujeres miembros de la familia. Esto puede limitar las capacidades de las niñas para acceder a la educación y otros derechos, como el tiempo para jugar. Esto es particularmente cierto en el caso de las mujeres con un trabajo mal remunerado y jornadas de trabajo largas.
Sin embargo, el Estado no es el único responsable – los hombres tienen la responsabilidad de cuidar de sus hijos, el hogar y los parientes tanto como las mujeres. Los servicios públicos financiados con impuestos, en especial los servicios pre-escolares, son medidas eficaces para aumentar el acceso de las mujeres al trabajo decente, la educación, la participación política y el descanso.
Globalmente, uno de cada dos niños asiste a una guardería. Muchos estados, entre ellos Brasil, Liberia, Nigeria, Senegal y Sudáfrica, han dedicado fondos públicos a la atención de la primera infancia, pero la brecha de financiación para satisfacer las necesidades reales es enorme.
La #JusticiaFiscal contribuye a que las mujeres obtengan servicios de salud que salvan vidas
El embarazo y el parto aumentan la necesidad de las mujeres de una asistencia sanitaria de calidad que no ponga en riesgo sus vidas, al igual que la naturaleza endémica de la violencia contra las mujeres y las niñas en todo el mundo. Mujeres en todo el mundo mueren a diario por complicaciones prevenibles durante el embarazo y el parto. En 2015 se estimó que de cada 100 mil nacidos vivos, 216 nacieron muertos; 19 de cada 1000 recién nacidos no sobreviven su primer mes después del nacimiento. Los países africanos, con impuestos extremadamente bajos a las grandes empresas y riquezas, sufren los niveles más altos de mortalidad infantil. Casi todas las muertes maternas ocurren en entornos con recursos insuficientes.
Muchas formas de violencia contra las mujeres y las niñas requieren atención del sistema de salud incluyendo, pero no limitado a, ataques de ácido, agresión sexual, mutilación genital femenina y violencia de pareja.
Los estados deben aumentar la inversión en salud, las enfermeras y los médicos necesitan más recursos, sobre todo en las zonas con mayor escasez de fondos: zonas rurales pobres y los asentamientos informales en las ciudades. El derecho de las mujeres y las niñas a la salud es un derecho humano. Un sistema tributario que cobre lo justo a las grandes empresas y fortunas aumentaría la inversión pública desesperadamente necesaria.
Los líderes de la Unión Africana se han comprometido a gastar al menos el 15% de sus presupuestos anuales en salud. Si esto se convirtiera en realidad, se invertirían más de US $ 29 mil millones en sistemas de salud que salven vidas. ¿Cómo pueden conseguir esos recursos? ¡Con #JusticiaFiscal!
La #JusticiaFiscal ayuda a reducir la violencia contra las mujeres y las niñas
Una de cada tres mujeres ha sufrido violencia al menos una vez en su vida. Casi la mitad de las mujeres asesinadas en todo el mundo, son asesinadas por parejas íntimas o familiares.
Las mujeres pobres de los países en desarrollo son las que tienen más probabilidades de estar expuestas a la violencia sexual mientras están en las calles. El transporte público, en particular, es un gran desafío: en Bangladesh, el 84% de las mujeres preguntadas dijeron haber sufrido insultos o comentarios sexuales, y más de la mitad dicen haber enfrentado agresiones sexuales mientras viajaban. En las ciudades de Brasil, dos tercios de las mujeres dicen tener miedo de viajar solas. Se informa que en São Paulo, una mujer es asaltada en un espacio público cada 15 segundos.
Los servicios públicos financiados con impuestos que se centran en los derechos de las mujeres pueden mejorar su seguridad en lugares públicos, proporcionando una mejor policía, aseos públicos seguros, alumbrado público y sistemas de transporte diseñados teniendo en cuenta las necesidades de las mujeres.
Poner fin a esta violencia es una tarea gigantesca, ya que las normas sociales y las desigualdades de género no desaparecen simplemente cuando alguien asume un papel dentro del gobierno. Las normas patriarcales pueden socavar, subvertir e ignorar la política y la práctica de los derechos de la mujer, dejando los servicios que responden y tratan de prevenir y mitigar la violencia contra las mujeres y las niñas que sufren de insuficiencia crónica o no reciben financiación alguna.
Los gobiernos deben invertir en servicios públicos financiados con impuestos para cumplir con sus compromisos internacionales y nacionales de eliminar toda la violencia contra las mujeres y las niñas. Las inversiones en el trabajo preventivo que son oportunas y bien integradas pueden traer enormes beneficios a las mujeres ya sus comunidades.
Las organizaciones de derechos de la mujer están sub-financiadas y se requiere con urgencia un aumento significativo de la inversión en estas organizaciones.
Cuando las corporaciones multinacionales y los muy ricos no pagan su parte justa del impuesto, las mujeres son las más afectadas
La pobreza y la distribución de la riqueza es sexista. En el mundo, 9 de cada 10 multimillonarios son hombres. Transferir y redistribuir la riqueza a través de la tributación tiene el potencial de abordar la discriminación sistémica basada en el género, la raza, la edad, la orientación sexual, la discapacidad y el estatus socioeconómico.
Cuando los países no aumentan un impuesto progresivo sobre la renta de las personas que más poseen, no gravan los ingresos de las inversiones y al contrario, ofrecen exenciones fiscales a las grandes empresas y hacen la vista gorda a la evasión y evasión fiscal, la mayoría de los “ahorros” son hechos por hombres.
Los países de bajos ingresos recaudan alrededor de 2/3 de sus ingresos tributarios a través de impuestos indirectos, como el consumo y los impuestos al comercio –estos impuestos impactan de manera diferenciada a las personas según su ingreso, quienes menos tienen salen perdiendo. En los países de ingresos altos, estos impuestos juegan un papel mucho menor y sólo constituyen 1/3 del total de los ingresos tributarios en promedio.
Los impuestos indirectos no tienen capacidad redistributiva, al contrario de los impuestos directos -sobre la renta y la riqueza-, al contrario golpean fuertemente a las mujeres que viven en la pobreza aumentando el costo de los artículos de primera necesidad como la comida, la ropa de los niños y el jabón. En marcado contraste, menos del cinco por ciento de la población de los países en desarrollo paga el impuesto sobre la renta personal. Esta manera de recaudar los impuestos perjudica a las mujeres más pobres y beneficia a quienes más poseen.
Cada año, los gobiernos de los países en desarrollo donan un estimado de US $ 138.000 millones en exenciones fiscales a las empresas. Además, se calcula que las pérdidas por evasión fiscal son de cientos de miles de millones de dólares cada año.
Los paraísos fiscales, que desempeñan un papel clave en este drenaje de recursos públicos, también permiten los flujos financieros ilícitos derivados de la trata de mujeres. A medida que nuestro sistema financiero continúa ofreciendo oportunidades para esconder y lavar el dinero producto del crimen, y las élites dominadas por los hombres continúan evitando o evadiendo el pago de su parte justa de los impuestos, las mujeres y las niñas pagan el precio más alto con sus cuerpos y sus vidas.
La #JusticaFiscal contribuye a que aumentar el acceso al agua potable que mantiene a las mujeres más seguras y permite su empoderamiento económico
El agua se reconoce como un derecho humano básico y, por lo tanto, todos los ciudadanos deben tener acceso a agua limpia y segura en cantidades adecuadas. Por lo tanto, se espera que las regiones que experimentan una escasez aguda de agua inviertan en programas que mejoren el acceso y reduzcan la distancia media al punto de agua más cercano.
Cuando no hay servicios públicos de agua, las mujeres y las niñas suelen ser las encargadas de llevar agua a sus hogares, a cualquier costo humano, haciéndolas vulnerables a la violencia y manteniéndolas alejadas de la educación y otros trabajos más seguros.
El acceso al agua pública es vital para la autonomía económica de las mujeres.
La #JusticiaFiscal proporciona protección social para las mujeres
Las mujeres se enfrentan a diversos riesgos de protección debido a sus vulnerabilidades. Por consiguiente, los programas de protección social contribuyen eficazmente a la protección y la realización de los derechos de la mujer, incluida la salud sexual y reproductiva.
Sin embargo, la cobertura de la protección social suele ser limitada y se deben hacer inversiones para que la cobertura coincida con la necesidad real de las mujeres. Los programas de protección social se han visto previamente afectados por la falta de coordinación, ya que los distintos organismos y los asociados para el desarrollo aplican diferentes programas.
La reducción de la vulnerabilidad y la pobreza es un elemento clave de muchos programas de protección social, ya que ninguna sociedad puede ganar cohesión social si hay sectores significativos de la población que viven en una pobreza extrema y, por lo tanto, los países necesitan programas de protección social en forma de programas de protección social para los más vulnerables. Y mujeres marginadas en la comunidad.
Texto original elaborado por la Global Alliance for Tax Justice (Alianza Global por Justicia Fiscal) y está disponible: http://bit.ly/2lMfIC1
Com desmonte institucional e orçamento reduzido, direitos das mulheres estão sob ataque
Não é de hoje que as mulheres precisam conquistar seus direitos na base de muita luta, transformando as instituições e as políticas públicas por meio de marchas, conferências, reuniões de conselhos e outras formas de atuação.
Entre as muitas conquistas alcançadas, temos:
a criação de órgãos de governo específicos para garantir direitos das mulheres e promover igualdade racial;
a incorporação de políticas para mulheres em agendas como desenvolvimento rural, meio ambiente, saúde, entre outras;
garantia de orçamentos públicos especificamente destinados a políticas de superação das desigualdades de gênero, de combate à violência e outros.
Apesar de ainda ser preciso avançar muito, o retrocesso vem ganhando fôlego nos últimos tempos: órgãos federais comprometidos com os direitos das mulheres foram extintos ou “incorporados” por outros ministérios onde nossos direitos são marginais e figurativos. Os orçamentos, já insuficientes, foram drasticamente cortados.
Convidamos lideranças femininas para nos ajudar a entender o que o Orçamento de 2017 revela sobre o compromisso do governo federal com os direitos das mulheres.
Assistência Técnica para agricultoras familiares
No Plano Plurianual (PPA) do governo federal para 2016-2019, existem metas destinadas para garantir acesso à assistência técnica específica para mulheres, como:
* ATER (Assistência Técnica e Extensão Rural) qualificada, direcionada e continuada para 1 milhão de famílias da agricultura familiar, incluindo ATER específica para jovens rurais e povos e comunidades tradicionais, e assegurando que pelo menos 50% do público atendido seja de mulheres e que 30% do orçamento seja destinado a atividades específicas de mulheres;
* Capacitação de mil agentes de ATER para atuarem com mulheres e com foco na agroecologia;
* Atendimento a 15 mil mulheres agricultoras familiares com ATER específica para mulheres.
Mas se olharmos para o orçamento de 2017, há somente R$ 2 milhões destinados a ações ligadas a essas metas. Em 2016, foram pagos R$ 4 milhões nessa ação.
Detalhe: esse recurso de R$ 2 milhões está hoje na Presidência da República porque o Ministério do Desenvolvimento Agrário foi extinto pelo governo Temer.
“É uma importante política que foi conquistada com a luta e organização dos movimentos de mulheres, que estava se estruturando e fortalecendo a produção e a organização produtiva das mulheres camponesas, garantindo acesso a renda e autonomia econômica das mulheres. A meta de atendimento de 15 mil mulheres em todo o Brasil em um mundo de mais de 4 milhões de famílias, sendo a metade deste número de mulheres, já e muito aquém da demanda real do campo brasileiro. E com o orçamento de 2 milhões de reais para ATER específica não serão atendidas nem sequer 1000 mulheres. Isso significa o fim da ATER para as mulheres e o retrocesso em uma política conquistada com tanta luta das mulheres camponesas. É um direito que sempre foi negado às mulheres, como políticas de incentivo e promoção a produção e comercialização para as mulheres trabalhadoras rurais. Reforçando mais uma vez o caráter machista e misógino do governo golpista de Michel Temer.“
Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura Familiar – PAA
O PAA é reconhecido como um dos programas mais eficientes para garantir a comercialização a preço justo dos produtos da agricultura familiar. Ao mesmo tempo, contribui para a segurança alimentar e nutricional da parcela mais pobre e vulnerável da população brasileira.
Uma das metas do PAA 2016-2019 é ampliar a participação das mulheres no programa de 41% para 45% do total de fornecedores.
Mas, em 2017, o programa sofreu uma perda de R$ 132 milhões em relação a 2016 – um corte orçamentário de 28,4%.
“A redução dos recursos públicos destinados ao programa PAA, que construiu a interação entre instrumentos da política agrícola com a política social, é um grave retrocesso. Perdem os agricultores familiares e principalmente as mulheres agricultoras, que através de suas formas organizativas vinham fortalecendo-se como sujeitos de direitos e encontrando caminhos para a construção de sua autonomia econômica no enfrentamento das desigualdades de gênero. Perdem as organizações da rede socioassistencial que veem reduzidas as possibilidades de receberem alimentos saudáveis e diversificados. Perde a democracia, pois esse programa inovador deveria avançar para a construção de uma política pública no caminho da justiça social e da garantia da segurança alimentar e nutricional, com a perspectiva igualitária e distributiva de “tratar desigualmente os desiguais”, rompendo com a prática histórica de só favorecer preço e mercado para a agricultura do agronegócio.”
Promoção da Igualdade Racial e Superação do Racismo
Esse programa tem entre seus objetivos o de “promover ações afirmativas e incorporar a perspectiva da promoção da igualdade racial no âmbito das políticas governamentais e de organizações privadas, com ênfase para a juventude e mulheres negras”. Essa atribuição cabia à Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir) mas, com sua extinção, o programa foi para o Ministério da Justiça.
No PPA 2016-2017, existem várias metas que seriam de responsabilidade da Seppir, entre elas:
Articular e incentivar a execução de políticas intersetoriais que possibilitem o aumento da geração de emprego formal e renda para a população negra, com ênfase nas mulheres e jovens;
Articular a ampliação do número de órgãos públicos e organizações privadas que promovem ações afirmativas e/ou adotem medidas de prevenção e enfrentamento ao racismo e sexismo institucional.
Em 2016, foram autorizados R$ 39 milhões para o Programa da Igualdade Racial e Superação do Racismo, e gastos R$ 32 milhões. Em 2017, estão autorizados apenas R$ 24 milhões.
“Se considerarmos que tanto a Seppir quanto a Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM) seguiam para o fortalecimento de orçamento e políticas públicas, a avaliação é muito negativa. Provavelmente 2017 e 2018 seriam anos de consolidação dessas políticas. Esse valor atual é praticamente para pagar funcionários, não é para implementar política, porque em um país continental como o nosso não tem como implantar política com isso. E talvez as coordenações nem consigam se sustentar com esse valor durante o ano todo. Que política você implementa com esses valores? Na verdade você faz eventos como balão de ensaio retardado, produzindo atividades que na verdade tem pouco ou nada a ver com políticas de fato. É um exemplo de como esse governo golpista veio para atrasar todo o processo de diálogo, a conquista de direitos das mulheres, da população negra, dos gays, transexuais, comunidades e povos tradicionais, a juventude negra, a trabalhadora doméstica, um conjunto de públicos que de uma forma ou de outra depende de políticas públicas oriundas dessas secretarias. Com isso, estão dizendo que não precisa de política para a população negra e para a mulher. E eles ainda acham que é muito. A tendência é diminuir.”
As mulheres e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar – Pronaf
O acesso ao crédito rural é mais uma luta das mulheres. A partir dela foi incorporada ao Plano Plurianual do governo (PPA 2016-2019) a meta de “disponibilizar os meios para efetivar a contratação por mulheres rurais de pelo menos 35% das operações de crédito efetivadas e 20% do volume total de crédito acessado no âmbito do Pronaf”.
Mas isso está cada vez mais longe de acontecer. Dados do Banco Central mostram que, de 2013 até março de 2017, o Pronaf Mulher emprestou somente R$ 87 milhões. Isso representa 0,08% do total emprestado pelo Pronaf e 0,01% do total do crédito rural no país.
“O Pronaf Mulher foi uma conquista da Marcha das Margaridas de 2004. Foi uma resposta do governo federal a nossa luta para que as mulheres rurais tivessem seu trabalho reconhecido e sua produção valorizada. Ter crédito específico também era, e ainda é, uma forma ampliar e qualificar os produtos feitos por elas, aumentando a renda e a autonomia social e econômica dessas mulheres. Para muitas, ter renda própria é uma forma, inclusive, de romper com ciclos de violência doméstica e familiar. No entanto, a lógica do sistema bancário, que é a mesma da sociedade patriarcal, tem dificultado o acesso das mulheres, pois o limite de crédito é de todos os integrantes da família, o que faz com que, muitas vezes, sobre muito pouco após o acesso do homem, ainda considerado como chefe de família. É preciso rever os critérios de concessão de crédito, possibilitando as mulheres trabalhadoras rurais o acesso de forma autônoma, independente do que já foi acessado pelo marido ou outros integrantes da família. Na Marcha das Margaridas de 2015 propusemos que os limites de acesso sejam individualizados e que os créditos do Pronaf Mulher passem a ser considerados riscos da União.”
Programa Políticas Para as Mulheres: Promoção da Igualdade e Enfrentamento à Violência
No orçamento público federal existe um programa orçamentário específico para as mulheres que tem vários objetivos, entre eles:
Promover a autonomia econômica, social e sexual e a garantia de direitos, considerando as mulheres em sua diversidade e especificidades.
Promover a transversalidade intra e intergovernamental das políticas para as mulheres e de igualdade de gênero, observando as diretrizes do Plano Nacional de Políticas para as Mulheres.
Ampliar e fortalecer o diálogo com a sociedade civil e com os movimentos sociais, em especial com os movimentos feministas e de mulheres, mulheres com deficiência, LBTs, urbanas, rurais, do campo, da floresta, das águas, de povos e comunidades tradicionais, de povos indígenas e dos distintos grupos étnico-raciais e geracionais.
Ampliar a política nacional de enfrentamento a todas as formas de violência contra as mulheres, considerando sua diversidade e especificidades.
O programa já era frágil institucionalmente e, em termos de recursos, está hoje em situação ainda mais precária. Com a extinção da Secretaria de Políticas para Mulheres, o orçamento do programa foi para o Ministério da Justiça e Cidadania.
Em 2016, foram autorizados R$ 116 milhões para o programa e foram gastos somente R$ 83 milhões. Em 2017, o total autorizado é de apenas R$ 93 milhões.
Um exemplo claro do desmonte do programa é a ação orçamentária “atendimento às mulheres em situação de violência”. Em 2016, tal ação teve recursos de R$ 43 milhões e foram gastos irrisórios R$ 41. Em 2017, o total de recursos disponíveis foi reduzido para R$ 17 milhões.
“Esse corte revela o direcionamento antidireitos das mulheres por parte desse governo. Estamos vivenciando mais sofrimento entre as mulheres e também é perceptível o aumento da violência e de assassinatos.”
Orçamento 2017 prova: teto dos gastos achata despesas sociais e beneficia sistema financeiro
Aprovada em dezembro de 2016, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55/241 – agora Emenda Constitucional no 95 (EC 95) – já revela sua essência: limitar despesas com políticas públicas e programas sociais para liberar recursos para pagamentos de juros, priorizando o sistema financeiro em vez dos cidadãos brasileiros.
Seus efeitos já são visíveis no Orçamento de 2017 e mais cortes ainda virão. Isso porque os gastos sociais estão agora submetidos a um duplo teto: a EC 95 e a meta de superávit primário. E vamos provar isso, a seguir. Acompanhe.
NOTA METODOLÓGICA: Para fazer esse exercício utilizamos dados do Orçamento Federal do Portal SIGA Brasil. Os dados de 2016 referem-se às despesas realizadas que são equivalentes aos valores pagos mais restos a pagar pagos. Os dados de 2017 são referentes aos valores autorizados na Lei Orçamentária Anual. Para a análise das despesas primárias realizadas utilizamos a correção monetária de 7,2% conforme a EC 95 (Artigo 107, §1°, I).
Em apenas um ano, de 2016 para 2017, a parte do Orçamento da União comprometida com despesas financeiras* cresceu, passando de 45% para 53%, totalizando R$ 1,85 trilhão em 2017, o que equivale a um acréscimo de R$ 645 bilhões. Em contrapartida, as despesas primárias, apesar de terem tido um aumento de R$ 77 milhões, encolheram de 55% para 47%.
* DESPESAS FINANCEIRAS: o conjunto das operações financeiras, tais como empréstimos, concessões de empréstimos, amortização e juros.
Composição das Despesas Financeiras
As despesas financeiras são compostas por 4 grandes grupos: refinanciamento da dívida, serviço da dívida, amortização da dívida e outras despesas financeiras. Os valores relativos das despesas financeiras por grupos ficam assim:
Em 2017, a ação específica de refinanciamento da Dívida Pública Federal (DPF)* prevê um total de R$ 925 bilhões, o que dá R$ 274,5 bilhões a mais do que o realizado em 2016 (650,5 bilhões).
* Para REFINANCIAR a Dívida Pública, o governo emite títulos. Dessa forma, a previsão orçamentária com refinanciamento não deve ser considerada como um gasto, como os outros, já que o valor entra como receita financeira (de operação de crédito) e despesa (de refinanciamento).
Atenção! Na Lei Orçamentária 2017 e no Plano Anual de Financiamento da Dívida Pública Federal 2017 estão previstos R$ 946 bilhões de refinanciamento. A diferença, em relação aos R$ 925 bilhões, equivale a despesas que estão em outras ações orçamentárias, sendo o maior valor, R$ 17 bilhões, previsto para a “Assunção, Reconhecimento, Novação de Dívidas de Entidades Públicas e do Fundo de Compensação das Variações Salariais- FCVS”.
Para o serviço da dívida interna e externa, onde estão os juros, ocorreu um crescimento de 46%, passando deR$ 381 bilhões em 2016 para R$ 557 bilhões em 2017.
Moral da história: não é errado um país contrair dívida para o benefício da sua população ou de seus cidadãos, nem honrar seus compromissos financeiros. O principal problema da Dívida Pública Brasileira não é seu tamanho, mas os juros que a remuneram, os mais altos do mundo.
Estudos já mostraram que uma taxa de juros muito alta desloca um volume significativo do orçamento corrente para o pagamento de juros. Taxas de juros muito elevadas em um contexto de crise fiscal, impulsionada por baixa arrecadação, tem levado a um aumento da rolagem da dívida.
Em compensação, para as amortizações da dívida pública, que é o pagamento do valor principal da dívida, o valor aumentou pouco, saindo de R$ 1,6 bilhão em 2016 para R$ 1,8 bilhão em 2017, o que equivale a um incremento de pouco mais de 12%.
Os juros e a rolagem da dívida têm consumido quase a totalidade das despesas financeiras, restando baixa capacidade de pagamento da dívida em si.
Essa é a PROVA 1 de que o sentido da EC 95 foi limitar as despesas primárias para liberar recursos para as despesas financeiras.
Como já vimos, houve redução da participação das despesas primárias no bolo do Orçamento da União. Ou seja, enquanto a fatia das despesas financeiras cresceu de 2016 para 2017, a das despesas primárias* reduziu 14%.
* DESPESAS PRIMÁRIAS são o conjunto de gastos que possibilita a oferta de serviços públicos à sociedade. São todos os gastos com pessoal, investimentos, custeio da máquina pública etc.
Entendemos melhor a composição das despesas primárias, mostradas a seguir, decompondo-as em 4 grandes grupos: 1) as obrigatórias, que são aquelas vinculadas legalmente e que o gestor não tem o poder de utilizar em políticas ou entes distintos daqueles definidos em lei; 2) as discricionárias, que são aquelas que dependem de uma decisão política do governante e são definidas pela Lei Orçamentária Anual; 3) os investimentos de estatais e; 4) as emendas parlamentares individuais.
Na divisão do bolo das despesas primárias, de um ano para o outro, ocorreu redução da proporção das despesas obrigatórias, muito em virtude do fato de estarem vinculadas a porcentagens da arrecadação, que está baixa devido à crise econômica, além da intencionalidade do governo em reduzir cada vez mais as despesas vinculadas em lei.
Já as despesas discricionárias quase dobraram, passando de R$ 75,5 bilhões para R$ 145,6 bilhões. Os dados apresentados mais adiante, do orçamento por funções, darão boas pistas sobre quais despesas discricionárias cresceram. Como veremos, não foram despesas com políticas sociais!
Outro grupo de despesa que cresceu foi o das emendas parlamentares. Nesse caso, devido à Emenda Constitucional 86/2015, que garantiu que 1,2% da Receita Corrente Líquida deve obrigatoriamente ser destinada para emenda parlamentar individual.
A situação das despesas primárias efetivamente submetidas ao teto dos gastos é bem pior!
Isso acontece porque algumas das despesas primárias estão excluídas da Emenda Constitucional 95, fazendo com que o teto seja ainda mais sufocante para aquelas despesas que estão embaixo dele.
Em 2017, com a Emenda em vigor, as despesas primárias dentro do teto dos gastos, retirando-se as exclusões e as exceções, sofrerão diminuição de 11,55%.
As despesas primárias excluídasdo teto são: Compensações pela exploração de recursos naturais (petróleo, recursos minerais e hídricos); Fundos de Participação dos Estados e Municípios (FPM e FPE); Educação (Cota parte do Salário Educação e FUNDEB); Fundos Constitucionais (Norte, Nordeste, Centro Oeste); Fundo Constitucional do Distrito Federal; outras transferências (cota-parte dos Estados e do DF referente ao IPI exportação e CIDE combustível, transferência dos impostos sobre o outro e do imposto territorial rural – ITR).
Mesmo excluídas do teto essas despesas mostradas acima deverão diminuir em 2017 devido à queda de arrecadação, provocada pela crise econômica. Em 2016, elas representavam 15,48% das despesas primárias, já em 2017 a previsão é de que essa proporção seja de 15,03%.
A EC 95 trouxe também duas exceções ao teto somente para o ano de 2017: Saúde e Educação.
Para a Saúde, existia a Emenda Constitucional (EC) n.86/2015, que garantia porcentagem mínima da Receita Corrente Líquida (RCL) a ser investida em ações e serviços públicos em Saúde (ASPS), a qual deveria atingir 15% em 2020. Com a EC 95/2016, esse patamar de 15% da RCL em ASPS foi antecipado para 2017. Contudo, isto não representa avanço uma vez que a partir de 2018 a Saúde entra no teto das despesas primárias e mesmo que a economia cresça não haverá possibilidade de aumento de recursos para a Saúde sem sufocar outra despesa primária, sob um teto bastante restrito.
Apesar de ter havido um aumento de recursos para a ASPS de R$ 8 bilhões de 2016 para 2017, a fatia das despesas com Saúde no bolo do Orçamento Federal reduziu de 3,93% em 2016 para 3,25% para 2017. Ou seja, ocorreu uma queda de 17% da participação da Saúde no bolo do orçamento da Uniãoem 2017.
Para a Educação foi garantida em 2017 a destinação do mínimo de 18% do total arrecadado pelo governo. Contudo, a partir de 2018 a Educação entra no teto das despesas primárias e mesmo que a arrecadação cresça não haverá aumento de recursos para essa área sem sufocar outras despesas primárias, sob um teto bastante restrito.
Apesar de ter havido um aumento de recursos para Educação, já descontados as despesas financeiras e as exclusões, de R$ 2,8 bilhões de 2016 para 2017, a fatia das despesas com Educação no bolo do Orçamento Federal reduziu de 1,76% em 2016 para 1,42% para 2017. Ou seja: ocorreu uma queda de 19% da participação da Educaçãono bolo do Orçamento da Uniãoem 2017.
É ainda importante destacar que para alcançar as metas do Plano Nacional de Educação recursos orçamentários adicionais são necessários. Eles estavam previstos para vir dos royalties do petróleo, por meio do Fundo Social. Porém, dos R$ 3,6 bilhões que deveriam ser aplicados em Educação, R$ 1,5 bilhão está alocado como reserva de contingência para gerar economia de caixa. Isso frustra a expectativa de recursos adicionais para o financiamento da Educação, em benefício da geração de resultado primário.
Essa é a PROVA 2 de que a lógica da EC 95 é ter recursos cada vez mais protegidos para o financismo e cada vez mais limitados para os direitos.
Quais políticas estão sendo sacrificadas para garantir o teto dos gastos e a liberação de recursos para o pagamento dos elevados juros da dívida pública? Avaliando por função orçamentária, temos o seguinte cenário referente à variação do Orçamento de 2016 para 2017.
Algumas poucas funções ganharam participação relativa no bolo de recursos em 2017: urbanismo, comércio e serviços, agricultura e encargos especiais. Essas funções explicam o crescimento das despesas discricionárias no orçamento das despesas primárias ressaltados anteriormente.
Porém quase todas as funções tiveram redução orçamentária em 2017.
Embora pela regra da EC 95 não haja limite específico por função, órgão ou programa orçamentário, os dados evidenciam que são aqueles relacionados com as populações em situação de maior vulnerabilidade e com menor poder dentro das estruturas do Estado que mais perdem.
No Orçamento da União, a fatia da Função “Direitos da Cidadania” foi a que teve a maior redução orçamentária, de 37,1%, saindo de R$ 2,6 bilhões em 2016 para R$ 1,6 bilhão em 2017.
Um caso marcante dentro dessa Função é o Programa “Políticas para as Mulheres: Enfrentamento à Violência e Autonomia” que teve redução orçamentária de 52%. É esse Programa que garante, por exemplo, o atendimento as mulheres em situação de violência. Esta ação orçamentária perdeu, em apenas um ano, R$ 5,5 milhões.
Outra importante Função Orçamentária para a promoção de direitos é a de “Assistência Social” que sofreu corte de 5%. Em termos de valores, essa função saiu de R$ 87 bilhões em 2016 para R$ 83 bilhões em 2017.
Um exemplo emblemático de corte dentro da Função Assistência é o do Programa “Segurança Alimentar e Nutricional” quevisa garantir o direito à alimentação adequada. Esse Programa é transversal a várias Funções: Assistência, Saúde, Gestão Ambiental, Agricultura e Organização agrária. Somente na função Assistência ele reduziu 44% e considerando todas as funções a redução foi de 55% do seu orçamento, um corte de R$ 944 milhões.
É o Programa de Segurança Alimentar e Nutricional que garante, por exemplo, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que compra alimentos da agricultura familiar e distribui para a população em situação de risco alimentar e nutricional. Ele teve perda de R$ 132 milhões no seu valor em 2017, um corte orçamentário de 28,4% em relação ao ano anterior.
Outra ação orçamentária importante do Programa de Segurança Alimentar e Nutricional é a de apoio a tecnologias sociais de acesso a água para consumo humano e produção de alimentos na zona rural. Essa ação perdeu R$ 279 milhões em 2017, um corte orçamentário de 52,9% em relação ao ano anterior.
Além do teto das despesas primárias decorrente da EC 95, o Brasil tem, desde 2000, com a Lei de Responsabilidade Fiscal, o teto decorrente da meta de superávit primário*. Assim, quanto maior a meta de superávit primário a cada ano, mais baixo será o teto para as despesas primárias. Ou seja, além dos limites impostos pela EC 95, as despesas primárias serão duplamente penalizadas, pois deverão submeter-se também ao superávit primário.
* SUPERÁVIT PRIMÁRIO é o dinheiro que o governo “economiza”, deixando de realizar despesas primárias para poder usá-lo nas despesas financeiras, como pagamento de juros da dívida.
Em 2017, no cenário de crise fiscal, a previsão do governo federal é de que haja um déficit de R$ 143 bilhões. Para que o déficit não seja maior, a previsão é de que haverá um corte adicional de despesas de R$ 38,9 bilhões, o chamado contingenciamento. Em resumo, os gastos sociais serão submetidos a um duplo constrangimento: a EC 95 e a meta de superávit primário.
Enquanto isso, as despesas financeiras alimentadas por juros estratosféricos continuarão crescendo e enriquecendo ainda mais os credores da dívida.
A proposta encaminhada esta semana pelo presidente americano ao Congresso Nacional vai balançar as estruturas do governo federal dos Estados Unidos caso seja aprovada. Estão previstos cortes em vários programas sociais e ambientais, e na política externa, entre outros. Em termos de gastos, significa uma redução história – sem contar os cortes previstos de servidores públicos federais.
Na área de educação, a nova orientação é priorizar as escolas chamadas ¨charter schools”, que são de iniciativa privada, mas subsidiadas pelo Estado. E tal decisão foi tomada sem ouvir as populações diretamente atingidas, como as comunidades negras.
Outro desafio que os Estados Unidos têm pela frente é a implementação do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, que teve pela primeira vez a assinatura do governo americano, ainda que sem a aprovação do seu Congresso Nacional. Nesta administração neoliberal e conservadora e privatizante, quase certamente o Acordo de Paris será descartado e não cumprido.
Segundo os analistas econômicos, é a primeira vez que um governo faz cortes desta magnitude nos Estados Unidos desde a Segunda Guerra Mundial.
A intenção dos cortes no orçamento americano é reduzir o papel do Estado e distribuir as responsabilidades das políticas públicas socioambientais para o setor privado e para os próprios cidadãos e cidadãs. Ninguém sabe dizer qual será o impacto final dessa medida, mas alguns já estimam um aumento no desemprego e, sem duvida, aumento da pobreza no país.
A proposta ainda será discutida no Congresso americano, e muita água vai rolar. No entanto, a capacidade de o Partido Democrata, de oposição, conseguir mudar alguma coisa na proposta de Trump é bem pequena, já que os republicanos têm maioria no Congresso. Ainda que haja uma certa reticência entre alguns republicanos sobre o sucesso da proposta de Trump, está claro que os Estados Unidos – e consequentemente o mundo – sofrerão profundas mudanças nos próximos anos.
Haja ansiedade e apreensão!
O impacto das medidas anunciadas pelo presidente Trump está sendo discutido intensamente e analisado por organizações da sociedade civil, analistas políticos e econômicos, membros do Congresso Nacional, movimentos sociais e sindicatos. No entanto, a capacidade dessas forças sociais em parar ou mesmo alterar essa investida do governo Trump parece ser nula. A loucura do novo presidente americano e seu governo parece estará bem ancorada nas instituições do país e numa parcela significativa da população que o elegeu.
É importante pensarmos o impacto dessas decisões no conjunto dos Acordos e Tratados Internacionais que vêm sendo firmados ou já assinados no âmbito da ONU. Vivemos uma crise do sistema multilateral sem precedentes. A redução da participação dos Estados Unidos nesses acordos e tratados impactará definitivamente a capacidade da ONU e sua relativa independência, tendo suas atividades cada vez mais privatizadas, resultando em redução de liberdade na tomada de decisão.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) ficarão pendurados na liquidez e rapidez da realidade (para lembrar o filósofo e sociólogo polonês Zygmunt Bauman, recém falecido), transformando tudo sem que possamos antes refletir e atuar – como uma agenda da utopia do vir a ser. Se os ODS já não significavam mudança estrutural alguma, imagine em um mundo em crise?
Estamos muito próximos de um momento em que avanços serão uma concreta impossibilidade política.
Os Estados Unidos influenciam fortemente uma tendência conservadora no mundo. Além da própria eleição de Donald Trump como presidente do país, temos ainda o Brexit (saída do Reino Unido da União Europeia), golpe parlamentar no Brasil e a grande ascensão de forças de direita na Holanda, França e Alemanha, que terão eleições em breve – o resultado desses pleitos dirão muito sobre o fortalecimento dessa direita extremista no curto prazo.
No mundo periférico em que o Brasil se situa, estamos reproduzindo exatamente a mesma lógica de retrocessos, ainda que com toques de cultura política específica de cada país. As elites realizam um golpe de Estado e implementam, à revelia do processo democrático, as mesmas reformas do centro do capitalismo.
A conta, claro, sobra para o povo, os 99% da população mundial. E onde está a resistência aos retrocessos? Por que, apesar de protestos aqui e ali, não tem força suficiente para brecar essa tendência conservadora e antidemocrática pelo mundo?
No último dia 23, um pouco antes do carnaval, tive a oportunidade de, pela primeira vez na vida, voar de avião e pisar em Brasília (DF). As missões: participar do lançamento da revista “Descolad@s”, para a qual escrevi um artigo sobre o extermínio da juventude preta, e participar de uma roda de conversa sobre Comunicação Crítica, Publicidade Afirmativa e Cultura Hip Hop. E lá fomos nós.
Olhar pela janela e ver que se está na altura das nuvens é algo lindo. Não teria como começar a discorrer sobre a viagem sem falar isso. Ao chegar no aeroporto de BSB, fui ao encontro de Márcia Accioli, professora de artes e uma das responsáveis pelo projeto Onda – Adolescentes Protagonistas desenvolvido pelo INESC – Instituto Nacional de Estudos Sócio Econômicos. A ideia do projeto é fortalecer a capacidade de atuação dos jovens na conquista de seus direitos e no monitoramento das políticas públicas destinadas a eles. Cerca de 200 crianças, adolescentes e jovens de quatro escolas públicas do Distrito Federal (Estrutural/Guará, Lago Oeste, Paranoá, Cidade Ocidental/Quilombo Mesquita) e da Unidade de Internação de Santa Maria (UISM) são atendidos, e o principal material gerado é a revista – integralmente pensada por eles com a orientação dos educadores.
Ao chegar ao Museu Nacional, o evento estava nos ajustes finais. Os próprios jovens pensaram e produziram a atividade, que foi mais do que apenas um lançamento da revista, mas também uma celebração do Onda. A abertura contou com dois jovens que participaram da primeira edição da revista contando sobre como surgiu a ideia da publicação e suas histórias até a chegada à sexta edição. “Para fazer uma revista dessa, é preciso ter muito espírito investigativo. A comunicação é oportunidade para pensarmos sobre várias coisas que nos acontecem. Ser ativo em comunicação é uma tarefa muito difícil, mas também nos empodera muito”, avaliou Pedro Couto. “Escrever para a ‘Descolad@s’ era um desafio imenso. Cada edição ajuda a gente a quebrar um preconceito”, completou Raquel Ferreira.
Na sequência houve uma atividade em que todos os presentes foram divididos em grupos para pensar em como a publicação poderia ser melhor utilizada no atual contexto onde há um retrocesso na garantia de direitos. Pelos grupos, crianças de 12 anos, adolescentes de 16 e alguns outros com mais de 20.
Durante o evento, houve atividades culturais como a Cia de Teatro Bisquetes, composta por jovens LGBTs moradores da Cidade Estrutural, região com o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do DF. Outro destaque foi o poeta Marcelo Caetano que recitou “O Som dos Grilhões”, que fala da questão do povo preto pelas diásporas no mundo. De arrepiar! Ainda houve também apresentação de dança cigana. As dançarinas moram no acampamento cigano localizado no Distrito Federal e foram entrevistadas para a sexta edição da revista.
Ao chegar a minha vez, falei da minha trajetória, da maneira como o rap passou a ser meu canal de expressão e que, consequentemente, me levou para a Comunicação. Fica o registro de que uma menina e um menino trans que se encontram privados de liberdade, em medidas socioeducativas, colaboraram com a revista e não receberam liberação para estarem presentes no lançamento. O motivo teria sido a falta de agentes para fazer a escolta.
No dia seguinte participei de uma roda de conversa na sede do INESC, onde troquei experiências e ideias com um time de responsa: Kinah Monifa (artesã, militante do movimento negro), Dyarley Viana (assessora técnica do INESC), Caroline Lima (militante do Levante Popular da Juventude), Thallita Oliveira (educadora), Markão Aborígene (rapper/educador social), além da própria professora Márcia Accioli. Através dessas pessoas, conheci um pouco mais sobre iniciativas extremamente potentes que acontecem nas periferias do DF: Grito das Periferias, Clube das Pretas, Família Hip Hop, dentre outras. Em cada uma das falas, pude perceber um incômodo com a naturalização do racismo, machismo, da pobreza e violência nas periferias, incômodo que motiva essas pessoas a agirem e, de alguma forma, mudarem o panorama, principalmente para os mais jovens.
Ainda tive tempo de conhecer a Unidade de Internação de Jovens Granja os Oliveiras, no Recanto das Emas, onde menores que infringiram a lei recebem medidas socioeducativas. O INESC irá começar a desenvolver atividades naquela unidade nos próximos meses.
Foi uma experiência incrível ver um pouco do trabalho que essa galera desenvolve pelo DF. Em um país onde há um abismo de desigualdade entre pobres e ricos, essas iniciativas são fundamentais para se pensar a sociedade a partir da periferia e de quem faz a engrenagem girar nessa máquina. Volto do Distrito Federal com mais sonhos, ambições e disposição para realizar o que eu acredito, com as ferramentas que tenho: muito mais fome de conhecer esse país enorme e esse mundo gigante.
Seguimos firmes e expandindo nossas conexões e horizontes em prol de transformações sociais.
Sete motivos pelos quais precisamos de justiça fiscal para promover os direitos das mulheres
Nesta Semana da Mulher, o Inesc vai atuar em parceria com o site Outras Palavras com a publicação conjunta de artigos que examinam questões importantes de gênero e do movimento feminista em nosso cotidiano.
Acompanhe também nossas publicações pelo Twitter e Facebook (#8M e #Inesc8M).
Por meio da agenda dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), líderes globais se comprometeram, com um futuro melhor até 2030. O propósito é que todas as desigualdades sejam enfrentadas; todas as formas de violência contra as mulheres e meninas sejam eliminadas; e os trabalhos não remunerados de cuidados e domésticos sejam reconhecidos e valorizados, por meio da garantia de direitos e serviços públicos acessíveis e de qualidade.
Mas tais metas só serão alcançadas se tivermos um financiamento adequado, por meio de um sistema tributário justo. A política fiscal é uma das ferramentas mais poderosas que temos para reduzir as desigualdades entre pobres e ricos, entre mulheres e homens, dentro de um país e entre países.
Os tributos que pagamos de variadas formas são a fonte mais sustentável de receitas que um governo pode ter. Eles bancam a maioria dos serviços públicos dos quais as sociedades dependem, especialmente as mulheres. É por isso que defendemos a justiça fiscal com arrecadação e alocação orçamentárias sensíveis a gênero. Outros elementos, como a questão racial e diversidade étnica devem ser consideradas ao se pensar em justiça fiscal, uma vez que para o alcance dos direitos humanos é necessário que os orçamentos sejam não discriminatórios.
Quando os serviços públicos deixam de receber um financiamento adequado, e quando os impostos não são arrecadados e alocados de forma justa, são as mulheres que pagam o preço mais alto. E entre as mulheres, são as negras que arcam com a carga mais pesada, uma vez que são elas que pagam proporcionalmente mais impostos que os demais segmentos sociais no Brasil, conforme estudo do Inesc.
A #JustiçaFiscal ocorre quando os tributos são arrecadados e aplicados de forma justa, progressiva, proporcional e com equidade.
Um sistema tributário progressivo acompanhado de despesas redistributivas podem gerar receitas significativas para o País. Por exemplo, o Equador triplicou sua despesa com educação passando de U$ 225 milhões em 2003-2006 para US $ 941 milhões em 2007-2010 por meio de políticas eficazes de mobilização de arrecadação tributária.
2. #JustiçaFiscal reduz a carga sobre as mulheres em decorrência dos trabalhos e cuidados não remunerados
O trabalho não remunerado de mulheres subsidia o crescimento econômico. Estima-se que se o tempo que as mulheres gastam realizando cuidados não remunerados e trabalho doméstico fosse monetarizado, equivaleria a U$ 10 trilhões por ano, em torno de 13% do PIB mundial.
Quando os Estados não dispõem de receitas suficientes para prestar serviços públicos essenciais, é frequente que sejam as mulheres que preencham essa lacuna, dedicando importante parte do seu tempo, corpo e vida às atividades que o Estado deveria executar ou suprir. As mulheres gastam 2,5 vezes mais tempo realizando trabalho doméstico e cuidados com os familiares dos que os homens. É sobre elas que recai o peso dessas atribuições, limitando suas possibilidades de realizar outras atividades essenciais para a vida como, educação e formação, trabalho remunerado, descanso e lazer, entre outras. Da mesma forma, à medida que mais mulheres entram no mundo do trabalho sem o devido apoio de serviços públicos essenciais, como creches, escolas públicas ou asilos, o peso do cuidado não remunerado recaí sobre outras mulheres membros da família. O que reforça o círculo vicioso da exclusão de gênero.
O Estado não é o único corresponsável, os homens também têm a responsabilidade de cuidar de seus filhos, casa e parentes tanto quanto as mulheres. Mas os serviços públicos financiados por tributos, especialmente creches, são medidas eficazes para a efetiva realização dos direitos das mulheres ao trabalho decente, à educação, à participação política e ao descanso. Globalmente, uma em cada duas crianças está matriculada em uma creche. Muitos países têm dedicado fundos públicos para o cuidado da primeira infância, mas o financiamento ainda é muito limitado para cobrir as necessidades existentes.
3. #JustiçaFiscal possibilita o acesso das mulheres a serviços de saúde que salvam vidas
A gravidez e o parto aumentam a necessidade de cuidados de saúde para salvar vidas, assim como a natureza endêmica da violência contra mulheres e meninas em todo o mundo. Todos os dias, mulheres de todo o mundo morrem em decorrência de complicações da gravidez e do parto. Muitas dessas complicações são facilmente preveníeis com políticas públicas adequadas. Quase todas as mortes maternas ocorrem em locais com poucos recursos e a maioria poderia ser evitada. Os países africanos com receitas fiscais extremamente baixas sofrem com as maiores taxas de mortalidade materna.
No Brasil, há ainda o problema do racismo institucional na rede pública de saúde: de acordo com a Secretária de Política para Mulheres, de 2000 pra 2012 as mortes por hemorragia entre mulheres brancas caíram de 141 casos por 100 mil partos para 93 casos; entre mulheres negras aumentou de 190 para 202.
4. #JustiçaFiscal reduz a violência contra mulheres
As mulheres que vivem em situação de pobreza nos países em desenvolvimento são as que estão mais expostas à violência sexual nas ruas. O transporte público, em particular, é um grande desafio. Nas cidades brasileiras, dois terços das mulheres dizem ter medo de se deslocar sozinhas, seja a pé ou por meio de transporte público. É relatado que em São Paulo, uma mulher é assaltada em um espaço público a cada 15 segundos; o quadro se agrava quando essas mulheres são pobres, negras, lésbicas ou trans.
As políticas públicas elaboradas com a participação das mulheres podem melhorar a sua segurança em espaços públicos e privados, oferecendo serviços como delegacia da mulher, abrigos, melhor policiamento, banheiros públicos seguros, iluminação pública, entre outros.
Combater a violência contra a mulher não é tarefa fácil, pois o patriarcalismo e o sexismo reinantes inviabilizam a efetiva realização dos direitos da mulher. Faltam recursos e políticas apropriadamente desenhadas para promover a igualdade entre mulheres e homens. Esse é o caso no Brasil: em apenas em um ano, entre 2016 e 2017, o programa “Políticas para as Mulheres: Enfrentamento à Violência e Autonomia” tem previsão de corte orçamentário de 52%, o equivalente a R$ 5,5 milhões, conforme dados do Siga Brasil e análise do INESC. É esse Programa que deveria garantir, por exemplo, o atendimento as mulheres em situação de violência.
Os governos devem investir em serviços públicos financiados por impostos para cumprir seus compromissos internacionais e nacionais em eliminar todas as formas de violência contra as mulheres e as meninas. Devem ainda apoiar organizações de direitos das mulheres que estão cronicamente subfinanciadas e que cumprem papel central na promoção da igualdade de gênero em todas as partes do mundo.
5. Quando as multinacionais e os muito ricos não pagam seus tributos devidos, dói mais nas mulheres.
Os países de baixa renda arrecadam cerca de 2/3 de suas receitas tributárias por meio de impostos indiretos, como tributos sobre o consumo e serviços, que são regressivos e penalizam proporcionalmente mais os pobres. Nos países de rendimento elevado, estes impostos desempenham papel muito menor, representando, em média, 1/3 da arrecadação tributária. Os impostos indiretos não possuem o poder redistributivo que os impostos sobre a renda têm e, consequentemente, penalizam desproporcionalmente as mulheres mais pobres.
Quando os países não arrecadam de forma progressiva o imposto de renda, não tributam a renda decorrente de lucros e dividendos, favorecem as grandes corporações por meio de benefícios fiscais sem monitoramento do retorno social, ou “fecham os olhos” à elisão e evasão fiscal: a absoluta maioria desses recursos que deixam de ser arrecadados pelo Estado é acumulada por homens.
Os paraísos fiscais que desempenham papel central nesta drenagem de recursos públicos também abrigam fluxos financeiros ilícitos resultantes do tráfico de mulheres. Como nosso sistema financeiro continua a oferecer oportunidades para esconder e lavar dinheiro produto do crime, e majoritariamente são os homens brancos os arquitetos desse sistema, são as mulheres e as meninas que acabam pagando o mais alto preço dessa arquitetura.
6. #JustiçaFiscal garante o acesso à água limpa que mantém as mulheres mais seguras e constrói sua emancipação econômica
A água é reconhecida como um direito humano básico, todos os cidadãos devem ter acesso a ela em quantidades adequadas. Assim, as regiões que experimentam escassez aguda de água ou má distribuição devem realizar investimentos em programas que melhorem o acesso à água e, entre outras medidas, reduzam a distância média até um ponto de água.
Onde não há serviços públicos que viabilizem a obtenção de água, as mulheres e as meninas carregam o fardo de ter que buscar água para as suas casas, tornando-as vulneráveis à violência, sobrecarregando sua saúde e mantendo-as longe das oportunidades de educação, de trabalhos remunerados, de atividades políticas e de lazer, entre outras.
No Brasil, apesar dos avanços na última década com políticas públicas de construção de cisternas em áreas rurais, especialmente no Nordeste, o problema de abastecimento de água tem se tornado crítico nos grandes centros urbanos, onde as populações periféricas, onde estão as mulheres e meninas negras, sofrem mais com os racionamentos e a falta de saneamento básico. O acesso à água pública é vital para a autonomia econômica das mulheres.
7. #JustiçaFiscal oferece proteção social para mulheres
As políticas públicas de promoção e de proteção social contribuem para a realização dos direitos das mulheres. No Brasil, até recentemente, a cobertura do Sistema Nacional de Assisténcia Social era universal e até bem capilarizada e estruturada (CRAS, CREAS, com especificidades para indigenas, quilombolas, pop rua e pop LGBTI).
Entretanto, as políticas de austeridade, de corte de gastos, como as adotadas no momento no Brasil, quase sempre afetam essas políticas, penalizando ainda mais as mulheres. O caminho para alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) voltado para a igualdade de gênero ainda é longo: segundo a ONU Mulheres cerca de 90% dos Planos Nacionais de Ação para a Igualdade de Gênero que analisaram não contam com previsão de financiamento necessária.
Versão traduzida e adaptada pelo INESC
Texto original elaborado pela Global Alliance for Tax Justice (Aliança Global por Justiça Tributária) e disponível em: http://bit.ly/2lMfIC1
No dia 8 de março, a Plataforma dos Movimentos Sociais pela Reforma Política fez uma entrevista com a ativista do Fórum de Juventude Negra de Brasília e educadora social pelo INESC, pedagoga pela UDF, especializada em História e Cultura Afrobrasileira e em Educação em Direitos Humanos pela UFG, Layla Maryzandra, para fazer uma reflexão sobre a luta das mulheres não só pela igualdade de gênero, mas sobre todos os recortes de raça e classe.
A entrevista:
Layla estamos iniciando mais um mês em que a luta das mulheres se verbaliza, a partir da simbologia do dia 8 de março. Na história, o dia internacional da mulher foi criado a partir da organização das primeiras Conferências de Mulheres socialistas na Europa, embora exista o mito das mulheres queimadas em uma fábrica americana. Mas, diante de tantos processos anteriores de resistência, é correto afirmar que a luta das mulheres tem como marco inicial o dia 8 de março?
Não, esta afirmação está incorreta. O dia Internacional da Mulher – 08 de março é uma continuidade na luta das mulheres, afirmar isso é negar, por exemplo, a história de Rainhas e Guerreiras negras no período pré-colonial, além de 300 anos de escravidão negra no Brasil, e invisibilizar 128 anos de pós abolição. Como se mulheres negras estivessem alheias aos processos ocorridos com ela e sua comunidade, apesar do papel passivo e submisso embutido na mulher negra, elas estavam a frente de Revoltas, Quilombos, Irmandades e Associações,em 1950, por exemplo, foi fundado o Conselho Nacional de Mulheres Negrasno Rio de janeiro. Mostra-se assim que não diferente de outros grupos de mulheres, a negra tem um papel fundamental na trajetória do que ocorreu antes e depois do 08 de março.
Existe um equivoco quando se pensa a política para as mulheres de uma forma generalizada, sem entender, de forma principal, os recortes de classe e raça. A mulher negra totaliza 58,86% das mulheres vítimas de violência doméstica, a partir doBalanço do Ligue 180 – Central de Atendimento à Mulher/2015, 68,8% das mulheres mortas por agressão são negras, a partir do diagnóstico dos homicídios no Brasil, feito pelo Ministério da Justiça/2015. Como ligar a discussão feminista ao combate ao racismo, como ligar a luta pela igualdade degêneroà justiça social?
Primeiro, penso que a teoria interseccional, consegue ligar essas pautas, pois a mesmaexplica como diferentes estruturas de poder interagem na vida das minorias, especialmente mulheres negras. O nome foi dado pela afroamericanaKimberlé Crenshaw em meados dos anos 1980. O conceito refere-se à continuidade de antigas articulações dentro do movimento feminista que sentiam a necessidade de pensar para além das lentes coloniais. O O feminismo negro, surge exatamente dessa necessidade, aliar as duas questões, em destaque, noBrasil temos Lélia Gonzales e nos Estados Unidos Angela Davis, dentre outros nomes, que dialogam com essa junção.
Segundo, a igualdade de gênero é uma questão de direitos humanos e uma condição de justiça social, é fomentado pelas demandas da sociedade e pela pressão política dos movimentos sociais que o Estado deve ser orientado na implementação de políticas de promoção da igualdade de gênero.
Falando sobre democracia e a representativa, um estudo realizado pelo INESC, analisou o perfis das candidaturas no pleito eleitoral de 2014. Os dados mostraram um pouco mais de 14% de candidatas negras disputando as eleições. O atual Congresso Nacional só tem apenas 56 mulheres, sendo 12 negras (11 eleitas para a Câmara e 1 para o Senado). Como reverter esse contexto de subrepresentação?
Esse contexto está aliado a toda uma estrutura racista na política brasileira que foi construída ao longo dos séculos, e a subrepresentação reverbera isso. Então teremos mais longos décadas a reverter esse processo através de consciência racial que está aliada a consciência política e que conseqüentemente poderá mudar aos poucos o quadro da representação dos negros na eleição.
Notas de uma mulher negra sobre o 8 de março
Nesta Semana da Mulher, o Inesc vai atuar em parceria com o site Outras Palavras com a publicação conjunta de artigos que examinam questões importantes de gênero e do movimento feminista em nosso cotidiano.
Acompanhe também nossas publicações pelo Twitter e Facebook (#8M e #Inesc8M).
Por Layla Maryzandra, pedagoga, educadora social do Inesc e coordenadora do Fórum de Juventude Negra do DF e Entorno (Fojune).
As narrativas que acompanham o surgimento do Dia Internacional da Mulher são conseqüências de vários fatos históricos ocorridos entre direitos sociais e políticos de mulheres que se iniciaram na segunda metade do século 19 e se estenderam até os dias atuais. É um dia legítimo de memória e continuidade daquelas que rasgaram as mantas instauradas pelo patriarcado, impulsionando perspectivas para um debate inicial de gênero.
No entanto, as mulheres que instigaram esse debate neste período são as mesmas que foram formadas para não refletir, em primeira instância, sobre as desigualdades raciais e de gênero, e até mesmo de classe. Tendo pouco ou nenhum impacto em suas reflexões sobre o que ocorreu às mulheres negras entre os séculos 16 e 19 nas Américas, no período de tráfico negreiro, ou o que ocorreu pós-abolição no Brasil. Isso revela o abismo que o racismo provoca mesmo em mentes que buscam emancipação de um grupo oprimido.
Transgredindo as fronteiras instauradas pelo racismo, a mulher negra já trazia elementos ancestrais, que dialogam com o que a gente conhece hoje como interseccionalidade, isso através de uma herança malunga, onde foi recriado laços políticos e estratégias de sobrevivência.
E por que é uma herança malunga? Como isso dialoga com o movimento de mulheres no dia 8 de março e uma ruptura de uma lógica colonial? Bom, primeiro é importante compreender que a palavra ‘malungo’ vem de uma perspectiva epistemológica afrocêntrica, tecendo referências que ainda estão longe de serem aceitas no mesmo prisma dos modelos judaico-cristão e anglo-saxões, mas que exprimem de fato o que é a organização política de negros em diáspora.
A palavra ‘malungo’ vem dos povos de matriz bantu da África Central e Oriental, particularmente entre os falantes das línguas kikongo, umbundu e kimbundu. Entre seus vários significados, que dependem do tempo e lugar, está “companheiro de viagem”, termo utilizado pelos negros escravizados com os que estavam na mesma situação que ele no navio negreiro.
A interccionalidade é uma teoria que explica como diferentes estruturas de poder interagem na vida das minorias, especialmente mulheres negras. O nome foi dado pela afroamericana Kimberlé Crenshaw em meados dos anos 1980. O conceito refere-se à continuidade de antigas articulações dentro do movimento de mulheres que sentiam a necessidade de pensar para além das lentes coloniais.
Elas compreenderam o verbo malungar muito cedo, e levaram isso para a organização política de mulheres negras, com um olhar interseccional: é por meio do companheirismo, ou da irmandade, construída a partir da perda, da ruptura, mas também da transgressão identitária, que a ação ancestral de sobrevivência, incorporada em diáspora, vem sendo costurada. A travessia entre África e América propiciou violências, mas também desencadeou solidariedades entre grupos que poderiam ser inclusive inimigos étnicos em suas respectivas regiões na África.
Nota-se então a malunagem ativa na organização política de mulheres negras, pois as companheiras de viagem ainda navegam em um mar racista, sexista e classista, que estrutura suas vivências de forma subalterna. Mas as malungas ainda emergem na luta, respeitando as experiências comuns e distintas de cada uma.
É a consciência coletiva da mulher negra que traz a ruptura das invisibilidades, que chama atenção para as lacunas existentes na luta de mulheres, do negro e nas políticas de classe. Assim temos a insurreição de quem não tinha direito nem ao próprio corpo, mas que recriou no infortúnio a emergência de outras subjetividades, trançadas com o termo da interseção nas demandas.
É a malunga pondo ordem na casa. As experiências comuns entre as mulheres não podem desconsiderar as desigualdades existentes a este grupo.
Quando mulheres negras chamam atenção sobre interseccionar às lutas, ela demonstra que apesar de estar num espaço extremamente marginalizado, esse mesmo espaço faz com que ela visualize a sociedade de outra forma: isso é herança malunga, é ver para além das brechas do navio, são os elementos simbólicos de sua origem reacendendo em suas memórias através do discurso político.
Assim, a mulher negra foi convivendo com esses saberes simbólicos, que foram se organizando e reorganizando, tanto para dentro do movimento de mulheres como para fora, em combate a uma conjuntura que nunca foi favorável a elas. O próprio 8 de março – Dia Internacional da Mulher, ainda não é um dia em que todos os movimentos de mulheres negras se sintam confortáveis para chamar de seu, e para atribuí-lo a uma luta histórica sua também, devido à deslegitimidades e silenciamentos ainda presentes no movimento de mulheres.
No entanto, nota-se uma renovação nas demandas desse dia de luta, mesmo que a inclusão das demandas, discutidas pela interseccionalidade, não estejam no formato ideal, já se alcança aos poucos o que se espera. Possivelmente a Marcha de Mulheres Negras ocorrida em novembro de 2015 com presença de cerca de 40 mil mulheres contribuiu para dar um fôlego a isso no Brasil. O slogan dessa marcha foi: “Contra o racismo e pelo Bem-Viver”, com uma carta que resume tudo que o Estado deveria ter feito há 130 anos, pós-abolição. São demandas que o movimento social, seja de mulheres, negro, LGBTI, ou qualquer outro que tenha mulher negra, deve se ater.
As malungas provocam uma crítica radical de mudança social, suas demandas de outrora não deixam de ser demandas atuais.
No chamamento da greve internacional para este dia 8 de março de 2017 estão envolvidos pelo menos 30 países, boa parte deles vivendo um contexto de retrocesso político, o que só fortalece o contexto levantado pela carta da Marcha de Mulheres Negras no Brasil, além de marchas e protestos ocorridos recentemente na Argentina e nos Estados Unidos.
A greve internacional de mulheres representa um passo importante para um novo ciclo de legitimação das demandas de povos historicamente discriminados. Com o slogan “Se nosso trabalho não vale, produzam sem nós”, há de se refletir que o trabalho em massa está nas mãos desses povos, sobretudo das mulheres negras.
As vozes malungas estão ecoando seus saberes e conhecimentos, legitimando e partilhando uma nova ordem para instauração de outra matriz civilizatória. Qualquer avanço adquirido por mulheres negras nunca será um avanço individual; o avanço delas é a transgressão de toda uma sociedade.
El Icefi asistió los días 13 y 14 de febrero al Seminario internacional«Hacia una agenda fiscal internacional basada en los derechos y la igualdad», realizado en la ciudad de Quito, Ecuador. La actividad fue convocada por diferentes redes, incluida la Red de Justicia Fiscal de América Latina y el Caribe –de la cual Icefi participa en su consejo directivo. También se sumó a la convocatoria el Ministerio de Relaciones Exteriores y Movilidad Humana de Ecuador, como país anfitrión, y como parte de la promoción de un referéndum para prohibir a funcionarios públicos tener bienes en paraísos fiscales.
El evento reunió a especialistas en temas de justicia fiscal de dentro y fuera de la regiónlatinoamericana, y perseguía como objetivo abrir un espacio de diálogo y reflexión sobre los principios de justicia fiscal, con énfasis en la transparencia financiera y el abuso de poder corporativo. Y en ese marco, el evento se enfocó en la búsqueda de estrategias para poner fin a las guaridas fiscales (más conocidos como paraísos fiscales), y proponer un organismo intergubernamental dentro deNaciones Unidasorientado a combatir ese flagelo.
Al finalizar el evento, las organizaciones participantes hicieron pública una Declaración Final en la cual expresaron su respaldo al referéndum ecuatoriano, que es pionero en la búsqueda por eliminar los paraísos fiscales. En esta se reafirmó el compromiso de diversas organizaciones para «trabajar junto al gobierno de Ecuador por la justicia fiscal y erradicar los paraísos fiscales». El referéndum realizado el 18 de febrero, junto a las elecciones generales, dio un resultado afirmativo, por lo cual Icefi expresó sus felicitaciones al pueblo ecuatoriano por este importante precedente.
Mineradora Vale promove a intensificação do conflito fundiário em Canaã de Carajás
Recentemente tivemos mais um caso de conflito violento na região que pode aumentar as estatísticas fatais no Pará: seguranças da mineradora Vale, que atua no município de Canaã dos Carajás, foram indiciados por lesão corporal após agredirem trabalhadores rurais. Segundo reportagem publicada pelo site The Intercept Brasil, os agricultores faziam reparos em uma cerca de arame que separa a propriedade da família deles da estrada de ferro da mineradora Vale, quando foram agredidos com socos, pontapés, spray de pimenta e coronhadas por ao menos oito seguranças da empresa Prosegur, a serviço da mineradora.
A cerca está em área da mineradora, mas, segundo a família, a empresa não cumpriu com uma obrigação judicial de separar os dois terrenos, o que teria provocado a fuga de animais dos fazendeiros. A Vale alega que eles invadiram a propriedade da empresa e que seus seguranças agiram em legítima defesa. Desde sua chegada à região, a empresa é acusada de uma série de práticas abusivas e ilegais.
Para Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc, a área do Grande Carajás, no Pará, é muito estratégica para a indústria de mineração, por concentrar a maior reserva de minério de alto teor de ferro do mundo, além de contar com reservas de outros metais como cobre, níquel e bauxita
“Devido ao seu potencial riquíssimo, a Vale tem uma visão de higienizar a área, cercá-la, ter seu domínio territorial. Temos então um processo de conflito fundiário muito intenso, no qual pequenos posseiros tentam se manter, diante de uma empresa que quer limpá-los dali”, afirma Alessandra na reportagem do Intercept Brasil.
O processo de globalização econômica tem sofrido críticas severas, principalmente no que diz respeito ao aumento das desigualdades regionais. O Brasil se diferencia por ser um país de dimensão continental, com um gigantesco estoque de recursos naturais e uma crescente influência econômica e política no cenário internacional, o que faz do Brasil um grande produtor e exportador de “commodities” minerais e agrícolas.
A riqueza ambiental do território brasileiro adicionada à diversidade de biomas e possibilidades de exploração de seus recursos, inclusive os minerais, provoca a urgente necessidade de mudança nos padrões de desenvolvimento econômico e social. Nas últimas décadas, o Brasil tem praticado um padrão de desenvolvimento que defende a instalação de grandes projetos de infraestrutura, energia, mineração, transportes, manutenção do latifúndio, pecuária extensiva e a reconfiguração das cidades.
Os efeitos desse modelo, contudo, têm sido drásticos para as populações que vivem ao lado de tal empreendimento, escassez d’água, deterioração do solo, da vegetação, expropriação da terra, do trabalho e dos recursos naturais. (CHAVEIRO, 2010). A instalação das empresas transnacionais de mineração nestes espaços territoriais diminui significativamente a diversidade econômica e ambiental, e, em pouco tempo, as cidades e povoados tornam-se reféns dessa atividade econômica.
Este modelo econômico extrativista mineral insere-se no contexto de megaciclo das commodities, ocorrido entre 2003 e 2013, que foi beneficiado pela ascensão da China e sua incessante demanda por minérios. Nesse período, as importações globais de minério saltaram de US$38 bilhões para US$277 bilhões (um aumento de 630%), (MDIC, 2013).
Segundo estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC 2015), as empresas transnacionais de mineração que atuam no Brasil são favorecidas por uma baixa carga tributária, desonerações e manobras fiscais para fugir do pagamento de tributos. O estudo conclui que as megacorporações mineradoras obtêm lucros altíssimos pagando poucos tributos, por uma regulação insatisfatória e uma fiscalização insuficiente, e, como consequência, à precarização e sucateio dos órgãos licenciadores e fiscalizadores da atividade minerária.
O setor extrativo minerador no país desenvolve uma sofisticada estratégia de discursos pró-mineração e monitoramento dos riscos potenciais que desperte contestação social. Através de financiamentos a projetos sociais, as empresas mineradoras geram condições necessárias a fim de seguir explorando com menor custo às atividades extrativistas na região. Compreender os impactos socioambientais da produção de minério no Brasil demanda um olhar para a cadeia de ações que envolvem as atividades de risco na indústria da mineração e em especial na violação de direitos humanos.
O uso irracional desses recursos tem gerado impactos sobre o território e criando áreas de exclusão ecológica e social. O ensinamento dominante determina que deva haver uma relação indissolúvel entre direitos humanos fundamentais e o meio ambiente, e que existe uma obrigação premente a ser harmonizada: “o direito ao desenvolvimento econômico e o direito fundamental ao meio ambiente equilibrado”. (MACHADO, P., 1998).
A adoção de políticas públicas e programas de RSA (Responsabilidade Socioambiental) tem estimulado a inclusão de tópicos globais de proteção ao meio ambiente, desenvolvimento econômico e sustentabilidade. Empreendimentos que investem em métodos de responsabilização social elevam os níveis de desenvolvimento social, proteção ao meio ambiente e respeito aos direitos humanos fundamentais e passam a adotar um modelo de governança acessível e transparente que concilia interesses do estado e sociedade, com uma abordagem globalizada de qualidade e viabilidade.
A mineração é uma atividade que degrada o meio ambiente, e, além disso, o Estado é ineficiente em fiscalizar, o que dificulta os órgãos de fiscalização ambiental adotar medidas que assegurem a reabilitação das áreas degradadas pela atividade extrativa minerária transnacional. A adoção de princípios sustentáveis na gestão e regulação das empresas transnacionais exige mudanças de atitudes e de práticas responsáveis para que direitos humanos fundamentais não sejam violados, como o que aconteceu no episódio de Mariana-MG.
A tragédia ocorreu após o rompimento de uma barragem (Fundão) da mineradora Samarco, controlada pela Vale e pela BHP Billiton, que liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, causando impactos sociais, econômicos e ambientais na região. A indústria extrativa minerária no país está visando à produção em detrimento da segurança, e, desta forma, descumprindo regras condicionantes de segurança e flexibilização no processo de licenciamento ambiental, o que resultou no maior acidente ambiental do Brasil.
É fundamental que os órgãos federais, estaduais e municipais mantenham constante diálogo, a fim de dinamizar a fiscalização e a concessão de licenças necessárias à implementação de determinados empreendimentos. A hipótese é que as medidas, tomadas pelas empresas mineradoras frente aos conflitos e acidentes ambientais, foram tímidas e insuficientes, além do que, as pessoas atingidas no evento danoso não foram devidamente socorridas, amparadas e indenizadas pelos órgãos responsáveis.
A ausência de estruturas legalmente eficazes para regular as atividades das empresas mineradoras transnacionais é um dos elementos que contribui para o desrespeito e o agravamento das violações dos direitos humanos no mundo, especialmente nos países mais pobres, comprometendo o direito de sobrevivência do planeta, das espécies e consequentemente da própria humanidade. Sem a garantia desses direitos não será possível construir sociedades livres e democráticas, não haverá condições de vida digna para as populações que hoje sofrem com o “modelo” internacional de produção e consumo.
Entrevista com adolescentes ciganos é destaque da nova Descolad@s
Vai ter dança, vai ter teatro, vai ter música, vai ter muita emoção no lançamento da sexta edição da revista Descolad@s, que foi totalmente produzida e editada por adolescentes e jovens do projeto Onda – Adolescentes Protagonistas.
A publicação, que será lançada nesta quinta-feira (23/2) a partir das 14 horas no Museu da República, em Brasília (DF), aborda temas relacionados a direitos humanos e orçamento público e que afetam e envolvem diretamente os meninos e meninas. Tem textos sobre comportamento (uso de aplicativos de relacionamento, por exemplo), política, educação, gênero e sexualidade, entre outros.
A capa desta edição foi inspirada na entrevista feita com jovens ciganos e que responderam sobre os desafios que seu povo enfrenta diariamente no enfrentamento ao preconceito que sofre há séculos por onde passa.
Os adolescentes que participaram da elaboração da revista foram responsáveis por todas as etapas – da escolha das pautas até a definição do projeto gráfico e diagramação de cada matéria.
“Desde criança eu sempre gostei de brincar fingindo que era repórter, imaginando viver as aventuras de uma vida emocionante da carreira jornalística. Quando eu conheci o projetoAdolescentes Protagonistaseu vi ali a oportunidade de explorar mais esse lado. E quando eu fiquei sabendo da Descolad@s aproveitei para conhecer mais, sobre como é a rotina e as obrigações da carreira”, conta Victor Hugo Vieira Queiroz, estudante do Centro Educacional Darcy Ribeiro, localizado no Paranoá (DF).
Pouco depois do lançamento, a revista começou a ser distribuída nas escolas públicas de Brasília. Veja na reportagem da TV dos Trabalhadores (TVT):
Saiba mais sobre a produção da sexta edição da revista Descolad@s no site do projeto Onda.
Mapa da Violência 2016: Brasil é um dos países que mais mata jovens no mundo
O Brasil está entre os 10 países que mais mata jovens no mundo, e a maior parte deles são negros e pobres, das periferias das grandes cidades. Segundo o relatório Mapa da Violência 2016, lançado semana passada (quinta-feira 15/2) na Câmara dos Deputados, em Brasília, foram mortos mais de 25 mil jovens entre 15 e 29 anos por armas de fogo no Brasil em 2014, o que representa um aumento de quase 700% em relação aos dados de 1980, quando o número de vítimas nessa faixa etária foi pouco mais de 3 mil no período.
Os dados confirmam ainda que a população negra brasileira é extremamente vulnerável: morrem 2,6 vezes mais negros do que brancos no Brasil em homicídios cometidos com armas de fogo. O Mapa, inclusive, mostra que entre 2003 e 2014, o índice de mortes de pessoas negras aumentou (de 24,9 mortes por 100 mil habitantes para 27,4 – um aumento de 9,9%) enquanto que o de pessoas brancas diminuiu (de 14,5 para 10,6 – uma queda de 27,1%).
Em números absolutos, o estudo revela um crescimento de 46% no número de negros vítimas de homicídio porarma de fogo— de 20.291, em 2003, para 29.813, em 2014. Em 2003, morriam 71,7% mais negros do que brancos por esse tipo de crime. A proporção chegou a 158,9% em 2014. (2,6 vezes mais).
O estudo analisa a evolução dos homicídios por armas de fogo no Brasil no período entre 1980 e 2014, e estuda a incidência de fatores como o sexo, a raça/cor e as idades das vítimas dessa mortalidade. São apontadas as características da evolução dos homicídios por armas de fogo nas 27 Unidades da Federação, nas 27 Capitais e nos municípios com elevados níveis de mortalidade causada por armas de fogo.
“O Mapa da Violência já está existe há quase 20 anos. Precisamos denunciar que se trata de um projeto político, um sistema que extermina jovens negros. Há uma autorização social para que isso aconteça, e normas do Estado como ‘autos de resistência‘ corroboram com esse escândalo”, afirma Carmela Zigoni, assessora política do Inesc, lembrando que no cenário político atual, com as instituições desmoralizadas como estão, a tendência é termos mais repressão por meio de violência, e maior impunidade. “As comunidades e as famílias desses jovens estão em luto permanente.”
“Apesar de serem apontados como os principais responsáveis pelas alarmantes estatísticas no Brasil, os adolescentes são mais vítimas do que autores de atos violentos”, afirmou Jaime Nadal, representante do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) no lançamento do Mapa da Violência 2016 na Câmada dos Deputados. Para ele, é preciso mudar a forma como a juventude é vista no Brasil.
Reformar ensino médio por medida provisória é mais uma peça do retrocesso social
Acaba de ser sancionada a “reforma” do ensino médio, proposta por medida provisória, pelo governo em exercício. É possível alterar significativamente uma política pública por medida provisória? O que abonaria a utilização desse recurso? Dentre vários motivos, a urgência seria uma justificativa. Então, as mudanças no ensino médio são urgentes? Argumentam alguns que estão sendo discutidas há anos sem sair do lugar, por isso, o Ministério da Educação defendeu esse formato.
Quando falamos que esse recurso não deveria ser utilizado na Educação, pelo necessário caráter participativo da política, dizem alguns: mas o Prouni, no governo petista, foi criado por medida provisória. Fato também indefensável, porém, um erro não justifica o outro. E são políticas muito diferentes. Uma foi implantada para ampliar as vagas no ensino superior, já que as universidades públicas não tinham capacidade de expansão ao ponto de dar conta da demanda. E a “reforma” do ensino médio é basilar, diz respeito à arquitetura do sistema de ensino – portanto, qualquer mudança precisa ser dialogada com todos os grupos envolvidos.
Várias organizações atuantes na defesa do direito à Educação de qualidade, em conjunto com estudantes, vinham há tempos dialogando sobre mudanças no ensino médio. Não havia voz dissonante quanto à necessidade de novas metodologias e conteúdo, novas formas de fazer acontecer essa etapa da formação intermediária entre a infância, adolescência e a juventude. Além de ser a fase de escolhas profissionais, é neste período que acontece em maior número o abandono escolar.
Diferentes metodologias vinham sendo utilizadas para construir consensos sobre as mudanças. Caminhos diversos eram escolhidos. O Inesc – Instituto de Estudos Sócioeconômicos – , por exemplo, em parceria com o Unicef, dialogava há três anos com estudantes de escolas públicas de ensino médio e da segunda fase do ensino fundamental, com duas perguntas: qual o ensino médio que queremos? E para aqueles que ainda ingressariam nesta etapa, quais as expectativas que temos para o ensino médio?
A ideia era somar as impressões encontradas, com outras, de lugares e organizações diferentes, e levar até o ministério da Educação e o Congresso para apresentar o que os usuários da política estão pensando sobre ela, e quais mudanças gostariam de ver. Essa era uma discussão corrente por diversas outras organizações. Já havia alguns consensos e certamente, em pouco tempo, teríamos uma proposta para ser votada.
O texto aprovado avança em alguns aspectos, quando dá maior fluidez a esta etapa de ensino, o que vai ao encontro de uma das questões levantadas pelos estudantes – o conteudismo e o excesso de disciplinas é desestimulante. No entanto, as várias outras questões levantadas, tais como bullying provocado por LGBTfobia, racismo, gravidez na adolescência, ou necessidade de trabalhar precocemente, não foram consideradas no âmbito da reforma. Até porque há um reforço do próprio ministério em investir em Educação não crítica. O que nos deixa a impressão de ser para atender aos apelos da “Escola sem Partido”.
Mas o que se esperar de um governo ilegítimo, que não transita bem pelas regras democráticas, que utiliza como argumento que o país tem pressa por mudanças, dando a impressão aos leigos que está disposto a atender as demandas reprimidas da sociedade. Sim, temos pressa por mudanças, desde que sejam construídas de forma participativa, que os envolvidos sejam ouvidos e possam ser protagonistas das novidades.
Há outros problemas de concepção, dentre eles a proposta de formação técnica para o mercado de trabalho, que precariza a formação, especialmente dos mais pobres, que em geral precisam estudar e trabalhar. Como é oferecida a possibilidade de complementação da formação por cursos ofertados em seus próprios trabalhos – não importa a qualidade – certamente teremos a realidade da classe média e elite e a realidade da população de baixa renda, que terá muita dificuldade de acesso ao ensino superior, especialmente, às universidades públicas. Estamos na contramão do Pacto Internacional pelos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (PIDESC), assinado pelo Brasil, que diz que não pode haver retrocesso de direitos.
A proposta ainda mostra outras discrepâncias, tais como a ampliação da Educação integral. No entanto, acabou de ser aprovada a Emenda Constitucional do teto do investimento público, reduzindo drasticamente, nos próximos vinte anos, os recursos orçamentários para a Educação. Então, como irão ampliar o ensino integral? Mais uma vez será uma política para poucos, para jovens que não precisam trabalhar e estudar – ou seja, minoria de nossa população.
O texto diz que o governo federal fará repasse suplementar para escolas que migrarem para o ensino integral. Um aspecto é digno de elogios, pois dá prioridade às regiões com mais baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). No entanto, conclui dizendo que fará o repasse caso haja recursos orçamentários. O que nos parece é que não será factível, dada a drástica redução de recursos. Ou, para atender esta demanda, outra política deixará de ser realizada…
Os exames de ingresso no ensino superior serão realizados com base nos conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), ou seja, 60% dos conteúdos. Os outros 40% são conteúdos regionais, baseados em realidades locais. O que se infere é que os conhecimentos preexistentes, culturais, serão desconsiderados em exames e avaliações, que continuarão a ser de caráter nacional. O que fortalecerá a hegemonia das regiões mais ricas que impõem padrões culturais.
Não podemos deixar de anotar o fato de o Congresso Nacional, por pressão dos movimentos populares, ter alterado a proposta original, inserindo novamente a obrigatoriedade das disciplinas de filosofia, sociologia, artes e educação física na BNCC, melhorando o texto final.
No entanto, ainda há uma excessiva valorização do caráter pragmático das formações. O que importa são os resultados, não os processos, ou o amadurecimento, ou a formação de uma consciência crítica, ou a possibilidade de formação de atletas ou artistas. Vamos produzir profissionais da infraestrutura. Que garantam a continuidade de uma sociedade classista, fragmentada, racista, patrimonialista, machista, neocolonialista.
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