FAO lança consulta pública do relatório sobre sistemas alimentares e nutrição

O Painel de Especialistas do Comitê de Segurança Alimentar Mundial (HLPE-CSA), vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU), lançou uma consulta pública na Internet da Versão Zero do Relatório sobre Sistemas Alimentares e Nutrição. A consulta tem como objetivo recolher sugestões para o relatório que será lançado na sessão de outubro de 2017 do CSA.

O relatório tem como objetivo analisar as formas pelas quais os sistemas alimentares influenciam os padrões alimentares e a nutrição e também indicar soluções e destacar políticas e programas eficientes para que os sistemas alimentares protejam e promovam a boa nutrição. “Inúmeras instituições e grupos tem elaborado documentos e promovido eventos sobre este tema. O relatório do HLPE tem a importância de, uma vez aprovado, conduzir formalmente as discussões no cenário multilateral internacional”, avalia a conselheira Elisabetta Recine, do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

“Há temas fundamentais que não estão presentes ou fortes o suficiente e que precisam de estímulo da consulta pública para aparecerem, tais como centralidade dos direitos humanos, gênero, agrotóxicos, transgênicos, agricultura familiar, agroecologia, papel regulador do Estado, centralidade da comida para promover a nutrição, entre outros”, conclui ela.

A consulta pública tem prazo até 5 de dezembro deste ano. Para acessá-la, clique aqui.

Vamos falar mais sobre soberania e segurança alimentar e nutricional?


Consulta pública sobre relatório para Conselho de Direitos Humanos da ONU é prorrogada

Quem quiser dar contribuições e recomendações ao texto do III Relatório Brasileiro ao Mecanismo de Revisão Periódica Universal do Conselho de Direitos Humanos da ONU agora terá mais tempo. O prazo da consulta pública foi prorrogado até o próximo dia 19 de novembro, segundo informação divulgada pela Secretaria de Direitos Humanos do Ministério da Justiça.

O objetivo da consulta é expor a público o conteúdo do informe brasileiro, a fim de receber contribuições e recomendações ao aprimoramento do texto.

O documento está disponível no site da Secretaria Especial de Direitos Humanos, e as contribuições podem ser encaminhadas por meio de formulário próprio. Após o fechamento do texto, o relatório será enviado ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

No segundo trimestre de 2017, o Brasil passará pela terceira vez pelo Mecanismo de Revisão Periódica Universal (RPU) do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas. O projeto visa oferecer acesso fácil e organizado às informações e documentos relacionados à revisão do Brasil, incluindo materiais relacionados às suas duas passagens anteriores, em 2008 e 2012.

Aqui você encontrará as recomendações feitas ao Brasil por seus pares e os compromissos voluntários assumidos pelo país em relação aos direitos humanos. Poderá também acessar os relatórios preparados pelo Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) para cada sessão, além dos relatórios-sombraelaborados pelas organizações da sociedade civil. Saiba mais aqui.

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Sociólogo Boaventura Santos faz radiografia da crise política brasileira e aponta caminhos

A crise política brasileira, o golpe parlamentar-judicial contra a democracia brasileira, o futuro da esquerda e o avanço das forças conservadoras no Brasil e no mundo foram temas da entrevista que o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos concedeu à revista Carta Capital, publicada na edição desta semana.

Boaventura afirma que a onda neoliberal que atinge hoje o Brasil chegou com força em Portugal há cinco anos, mas foi brecada pela resistência dos setores progressistas portuguesas. Para barrar os retrocessos defendidos pelo governo Temer e maior parte do Congresso brasileiro, como a PEC 241 (agora que chegou ao Senado, virou PEC 55), reforma do ensino público e reformas trabalhista e previdenciária, será preciso que a esquerda brasileira esteja unida com esse propósito.

O sociólogo português esteve no Brasil para lançar o livro A Díficil Democracia – Reinventar as Esquerdas, tendo participado de algumas palestras na III Bienal do Livro de Brasília e na Universidade de Brasília (UnB) para discutir o tema. Em suas análises, Boaventura afirma que boa parte das irrupções democráticas dos últimos 30 anos ocorreram em períodos de reforço do neoliberismo. “Foi assim nas transições da ditadura para a democracia dos anos 80 e nos protestos de 2011, depois de a crise financeira de 2008 ter aumentado o poder global do capital financeiro que a tinha provocado e “resolvido” a seu favor.”

Sobre o impeachment de Dilma Rousseff, Boaventura afirma na entrevista à Carta Capital que foi uma “passagem brusca e sem respaldo constitucional de uma democracia de baixa intensidade”, e que os sistemas político e eleitoral do Brasil têm limites para refletir a vontade das maiorias e que há uma grande distância entre esses sistemas e os cidadãos, “maior agressividade dos poderes fáticos, menor proteção social das classes mais vulneráveis, menos confiança na intervenção moderadora dos tribunais”.

Mas o que chamou mesmo atenção do sociólogo foi a participação “agressiva” do Poder Judiciário brasileiro na concretização do golpe, justamente num momento histórico, em que o sistema judicial poderia se afirmar como “um dos pilares mais seguros da democracia brasileira”. “Por que é que esta oportunidade foi tão grosseiramente desperdiçada?  O sistema judicial deve uma resposta à sociedade brasileira.”

Boaventura não se surpreendeu com as primeiras medidas tomadas pelo governo Temer, “são um receituário neoliberal global” para criar novas oportunidades de acumulação de capital por meio de privatizações, redução da despesa pública – principalmente nas políticas sociais – e aumento da repressão a movimentos sociais.

Devemos notar que a lógica da austeridade já se tinha instalado no segundo mandato de Dilma. Mas há uma diferença qualitativa. Com o governo do PT essa lógica traduzia-se em algumas medidas de emergência e com a crença equivocada de permitirem a curto prazo o regresso à normalidade de uma governação minimamente inclusiva no plano social. Com o governo Temer, tais medidas, um menu imenso, são a nova normalidade.”

Leia aqui a íntegra da entrevista com o sociólogo Boaventura de Sousa Santos.

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Vitória do ‘não voto’ impõe debate sobre reforma política

Vamos aproveitar e falar sobre reforma do sistema político?

Novo vazamento de caulim no Pará revela, outra vez, a irresponsabilidade do setor mineral na Amazônia

A empresa francesa Imerys divulgou nesta segunda-feira (31/10) que ocorreu um novo vazamento de rejeitos do beneficiamento do caulim em Barcarena (PA), o quarto sob sua responsabilidade na região – os outros ocorreram em 2007, 2008 e 2014. O rejeito de caulim, minério usado na fabricação de artigos de porcelana, na indústria de papel, borracha, plásticos, pesticidas, farmacêuticos e fertilizantes, entre outros, vem causando diversos danos socioambientais na região.

A Imerys, juntamente com a Vale, domina o mercado de produção de caulim no Brasil com 40,9% da produção nacional, e é a maior beneficiadora desse minério no mundo. O caulim extraído em Ipixuna (PA) é enviado por mineroduto para Barcarena onde a Imerys opera sua unidade industrial (a maior do mundo) que inclui a secagem, a embalagem e o terminal portuário privativo que exporta quase a totalidade da sua produção. No Pará, a mineradora francesa tem duas minas de extração de caulim.

“Barcarena é um triste retrato da relação entre a grande mineração industrial e violação dos direitos sociais e ambientais na Amazônia”, afirma Alessandra Cardoso, assessora política do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), lembrando que o histórico de vazamentos e contaminações do meio ambiente na região também inclui outras empresas, como a norueguesa Hydro Norsk, que explora a bauxita para a produção de alumina e alumínio.

Segundo Alessandra, ações do Ministério Público, incluindo a edição de Termos de Ajustamento de Conduta – TACs, não foram suficientes para proteger a população e o meio ambiente e muito menos para evitar novos acidentes causados pelas empresas que beneficiam minérios em Barcarena. “Tampouco o governo do Estado e a Prefeitura parecem de fato comprometidos em barrar a atuação criminosa das empresas e proteger sua população”, diz Alessandra. “Não bastasse sua atuação ambiental e socialmente temerárias, as empresas se mostram pouco responsáveis pelo quadro de desemprego vivido pelos moradores da cidade. Em outubro, a Hydro contratou um empresa baiana e a mesma trouxe toda mão de obra daquele estado para ocupar os novos postos de trabalho abertos, sob o olhar e a expectativa, frustrada, dos 30 mil trabalhadores desempregados da cidade.”

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Os problemas ambientais, de pobreza, de falta de infraestrutura e de perspectivas para a população de Barcarena só se acumulam, mostrando “a face sombria e pouco atraente do modelo mineral brasileiro do qual Barcarena é um forte marcante, mas que poucos querem enxergar”, afirma Alessandra.

O Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) acionaram a Justiça pedindo providências urgentes para possibilitar que a população de Barcarena tenha acesso à água potável, com base em pesquisas da Universidade Federal do Pará (UFPA) que comprovam a contaminação por metais pesados na água consumida por moradores do município. Segundo a mineradora Imerys, o vazamento desta semana não atingiu outra região além da praia de Vila do Conde, que fica em frente ao porto privado da empresa, mas o histórico de contaminação de rios, nascentes e córregos, causando problemas de abastecimento de diversas comunidades da região, colocam em xeque a informação da empresa.

Vamos falar um pouco mais de questões socioambientais?


Vitória do ‘não voto’ impõe debate sobre reforma política

Por Carta Capital.

A crise política que levou ao impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e reduziu a presença do PT de 638 para 254 prefeituras, entre 2012 e 2016, foi responsável também por fazer desta eleição a mais rejeitada pelo eleitor brasileiro desde a redemocratização.

O chamado “não voto” (abstenções, brancos e nulos) somou 41,24% do eleitorado no segundo turno, conforme dados preliminares do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No mesmo turno em 2012, a soma havia sido de 33,4%. Foi o mais alto índice de desistência nas disputas municipais. Somente as abstenções, que na primeira rodada eleitoral deste ano havia atingido 17,58%, saltou para 21,55% no pleito encerrado no domingo 30.

O resultado impõe, na avaliação de cientistas políticos ouvidos por CartaCapital, a necessidade de o País debater uma reforma política com redução de partidos, mais tempo de campanha e maior engajamento da sociedade na definição de programas eleitorais.

“O resultado dessa eleição é um sinal amarelo que se acende para todas as forças políticas. Tanto para a esquerda, que foi rechaçada, quanto para os liberais ou conservadores, que venceram mas não receberam um cheque em branco”, avalia o professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESP-SP) William Nozaki.

Ele sugere que o alto desinteresse confirma a rejeição ao sistema eleitoral. “A crise de representação se consolida nesta eleição, porque o eleitor escolheu não participar do processo eleitoral”, afirma.

Já o cientista político Rafael Araújo, professor da PUC-SP e da FESP-SP, avalia que a alta pulverização partidária, com o crescimento de legendas como o PRB (de 85 para 105 prefeituras, computando o Rio de Janeiro) e o PHS (de 16 para 37, incluindo Belo Horizonte), demonstra que a população confirma a crise política “como um problema e não reconhece no voto uma solução”.

“A classe política precisa criar novos vínculos com a população”, pondera Araújo. Segundo ele, os eleitores precisam entender que votar não pode ser apenas uma obrigação. “A população precisa amadurecer e entender como funciona a burocracia e o processo jurídico de Estado”, ressalta “Nesta eleição, ela se isentou e disse: ‘preciso que alguém tome conta de mim’.”

Minirreforma

Para Nozaki, a crise de representa que ceifou o mandato de Dilma alterou a lógica do “não voto”, antes restrito a setores da classe média de centros urbanos. A dissidência eleitoral ganha terreno, agora, na periferia e no interior do País, escancarando a falta de representatividade. “Os partidos têm de reinventar programas e canais de diálogo com a sociedade”, sugere.

Não à toa, a rejeição aos candidatos foi bastante expressiva entre os cariocas. No Rio de Janeiro, 46,93% do eleitorado optou pela abstenção, branco ou nulo. O senador Marcelo Crivella (PRB) foi eleito com 1,7 milhão de votos, contra mais de 2 milhões de abstenções, brancos e nulos.

Vamos falar sobre reforma política?

Em Porto Alegre, o ‘não voto’ ganhou até jingle, o “Anula Lá”.A paródia sobre a música de campanha presidencial de Lula em 1989, que recebeu apoio do PT e do PSOL, foi um dos fatores que levaram a capital gaúcha a registrar 44,29% de abstenções, brancos e nulos.

Nelson Marchezan Júnior (PSDB) foi eleito com 60,5% dos votos no domingo, mas 383.751 eleitores (44,29% do total) optaram pelo ‘não voto’. Enquanto Alexandre Kalil (PHS) foi eleito com uma diferença inferior a 114 mil votos.

Em São Paulo, o prefeito eleito João Doria (PSDB) venceu no primeiro turno. O tucano, porém, obteve 11.117 votos a menos que o total de abstenções, brancos e nulos.

Araújo interpreta os números como resultado de dois movimentos: a despolitização facilitada pelo discurso anticorrupção e a minirreforma eleitoral tocada pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB).

Especialista na relação entre mídia e política, o professor da PUC aponta que a construção de um discurso segundo o qual o período do PT no comando o País foi o mais corrupto tem impacto nos índices tão elevados de rejeição ao modelo político. “É complexo para o eleitor compreender que ter mais apuração policial não é o mesmo que ter mais corrupção. Mas foi isso que levou a população à rua para tirar foto com a polícia e depois se recursar a participar da eleição”, diz Araújo.

Já a redução do tempo de campanha de 90 para 45 dias, após a minirreforma de Cunha, favoreceu a rejeição aos candidatos ao reduzir o tempo de debate e apresentação de propostas, avalia Araújo. “A reforma pode ter sido feita como um cálculo para manter as pessoas afastadas de um envolvimento com o processo eleitoral”, afirma.

Nozaki também credita à minirreforma parte da esvaziada participação do eleitorado. “O clima já estava marcado por certa aversão ao processo eleitoral e o tempo curto (de campanha) contribuiu para jogar água no moinho da despolitização”, diz.

Cooperação Internacional e golpe parlamentar: novo desafio, nova perspectiva

Início dos anos 70 do século 20, auge da ditadura militar no Brasil. Nos campos e nas cidades reinava a paz dos cemitérios. Trabalhadores rurais e trabalhadores urbanos viviam quase como escravos nas fazendas e nas fábricas, a política estava abolida das conversas cotidianas, o noticiário explorava as práticas esportivas, as igrejas pregavam a vida depois da morte. Que estava por toda parte. Nas prisões, com milhares de presos políticos, nas câmaras de tortura, a morte imperava soberana e seu poder transbordava para o dia a dia da sociedade brasileira.

Aos poucos, uma rede de pequenos coletivos populares foi se formando por todo o país, muitos chamados de Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), outros de Comissões de Fábrica, outros de Clubes de Mães, outros de Roça Comunitária. Surgiam para refletir sobre a situação concreta da população e para realizar pequenas ações políticas e sociais que aliviassem um pouco o sofrimento cotidiano.

Um general, um dos principais articuladores do golpe de Estado de 1964, estava atento a tudo isso. Seu nome era Golbery do Couto e Silva, sua especialidade era a atividade de “inteligência”, ou a antecipação de cenários para a atuação militar. Este analista logo percebeu que algo estava errado no país, um excesso de silêncio para uma população sempre extrovertida, um conjunto grande de problemas vividos sem canal para se expressar. Em 1972 formulou sua hipótese e sua proposta: “Ou mudamos algo, ou terminaremos todos pendurados num poste.” Explicou que “quanto mais você concentra o poder, mais ele perde força real e, por outro lado, gera um núcleo de contra-poder forte.” O estrategista militar explicitou sua proposta: a ditadura deveria imediatamente tomar a iniciativa de uma “abertura lenta, gradual e segura”. Esta estratégia foi, pouco depois, colocada em prática pelos militares.

Agências de cooperação internacional: parcerias por uma sociedade mais justa

Na medida em que a rede inicial de coletivos populares se expandia e se fortalecia, espaços institucionais iam se abrindo lentamente, a liberdade de reunião e de expressão era exercida de forma controlada, vigiada, mas num crescendo de participação popular. Esta participação ia transformando a rede em movimentos populares locais, logo regionais e, em poucos anos, em movimentos populares nacionais. Este percurso também não foi feito de forma espontânea, mas acompanhada, apoiada e refletida por militantes, por religiosos, por estudantes, por intelectuais e por profissionais em busca de alternativas de atuação.

Na medida em que a rede inicial de coletivos populares se expandia e se fortalecia, espaços institucionais iam se abrindo lentamente, a liberdade de reunião e de expressão era exercida de forma controlada, vigiada, mas num crescendo de participação popular. Esta participação ia transformando a rede em movimentos populares locais, logo regionais e, em poucos anos, em movimentos populares nacionais. Este percurso também não foi feito de forma espontânea, mas acompanhada, apoiada e refletida por militantes, por religiosos, por estudantes, por intelectuais e por profissionais em busca de alternativas de atuação.

Além disso, este novo cenário que foi sendo desenhado teve a contribuição determinante de um sujeito político discreto, porém muito presente e atuante: as agências de cooperação internacional. Os representantes desta cooperação eram normalmente pessoas que conheciam muito bem nosso país e nosso povo; tinham laços de confiança com coletivos populares ou instituições como igrejas ou pequenos centros de pesquisa. Muitas vezes eram estrangeiros que viviam há muito tempo no Brasil, radicados aqui com suas famílias. Através destes laços de confiança e de identidade política que pequenos projetos eram elaborados e os recursos eram distribuídos.

Nos países europeus, então vivendo o Estado de Bem Estar Social, a sensibilidade para a situação de opressão nas ditaduras latino-americanas facilitava a captação e doação de recursos expressivos para os grupos que realizavam trabalho popular. A cooperação internacional tinha suas instituições, algumas vinculadas à Igreja Católica, outras às Igrejas Luterana, Presbiteriana, Anglicana e demais igrejas históricas; outras ao movimento sindical; outras a setores leigos independentes, ambientalistas, socialistas etc Estas instituições também passaram a apoiar a criação de centros de assessoria, investigação e ação social, cujo papel era dar suporte e qualificação política para os grupos e dirigentes dos movimentos sociais emergentes – e para que estes criassem suas próprias instâncias nacionais e seus respectivos escritórios e estruturas nacionais. Assim surgiram as entidades de apoio (futuras ONGs) e os movimentos populares com expressão nacional.

Logo as agendas destas entidades de apoio e dos movimentos populares passaram a se utilizar de conceitos e referências novas: formação política de dirigentes e de massa; planejamento estratégico e indicadores de resultado; metodologia de trabalho popular e sindical; história da sociedade e história do Brasil; ferramentas para a transformação da realidade; educação popular; comunicação popular etc.

Fim da ditadura e início da democracia: parcerias renovadas

Estamos avançados nos anos 80, a ditadura está enfraquecida e continua seu processo de retirada de cena de maneira “lenta, gradual e segura”, os movimentos populares vão ocupando cada vez mais a cena política do país, com suas próprias lideranças, com seus próprios métodos de organização e ação. As agências de cooperação internacional acompanham todo este processo, contribuindo de forma definitiva para dar condições operacionais para as entidades de apoio, assim como para viabilizar as estruturas do movimento popular organizado; contribui muito também para os processos formativos e de educação popular gestados pelas entidades e movimentos, em nível local, regional e nacional. Os representantes das diferentes agências de cooperação internacional continuam com laços fortes de confiança com as lideranças locais, sendo que as decisões sobre estratégias de luta; capacitação das lideranças; organização das entidades e movimentos populares, são compartilhadas, assim como o planejamento estratégico e as possibilidades de distribuição dos recursos destinados ao trabalho político e organizativo.

A segunda metade dos anos 80 foi marcada, no Brasil, por um processo de dimensão histórica: a eleição do Congresso Constituinte e a elaboração da nova Constituição Federal. Em 1987 os movimentos populares e sindicais, urbanos e rurais, e as entidades da sociedade civil de todo o país tiveram seus olhos voltados para Brasília, para o Congresso Nacional, mais especificamente para a agenda e cronograma das comissões e sub-comissões onde se debatia e se definia os conceitos e os termos da nova Carta do país. Atentos ao caráter histórico deste processo, milhares de militantes, dos mais variados movimentos e entidades, rumaram para Brasília para, no Congresso Nacional, participar ativamente de debates com deputados e senadores, buscando a construção a muitas mãos de uma nova Constituição, radicalmente democrática, que contemplasse as contribuições e esperanças da experiência coletiva em mais de uma década de lutas populares de base.

Embora muito do que foi trazido pelas caravanas populares não tenha sido assimilado pelos deputados e senadores na nova Carta, esta sem dúvida expressa o “espírito da época”, abrindo caminho para uma nova fase política no Brasil, marcada principalmente pela democratização do Estado; pela participação e controle social; pela criação de conselhos e realização de conferências; pela elaboração participativa de políticas públicas; pela participação direta dos cidadãos e cidadãs nas instâncias do poder municipal, estadual e federal; pela construção de parcerias entre o Estado e as entidades da sociedade civil e do movimento popular.

Este novo cenário teve, certamente, um sujeito político discreto e sempre presente, uma parceira fundamental na criação, desenvolvimento, enraizamento, visibilização e qualificação dos movimentos populares e de seus dirigentes: as agências de cooperação internacional, às quais se deve um reconhecimento por sua contribuição, indireta porém significativa, para o caráter democrático da Constituição Federal de 1988 e sua posterior implementação.

No período pós-Constituição de 1988, o Brasil viveu uma experiência democrática intensa, com forte participação direta da sociedade na formulação de políticas públicas e de sistemas estatais para a implementação destas políticas, alicerçados em novos espaços institucionais com representação paritária governamental e da sociedade civil, espaços estes de monitoramento, avaliação e planejamento de uma ampla gama de programas sociais.

Embora tenham ocorrido em todos os governos do período democrático, os últimos quatro mandatos presidenciais, do presidente Lula e da presidenta Dilma, foram marcados pelo aprofundamento destas novas formas de criação, monitoramento e implementação das políticas públicas, com a co-responsabilidade das entidades da sociedade civil e dos movimentos populares na gestão de recursos públicos significativos. Participação social no PPA (Plano Plurianual), na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) e na execução orçamentária; processos conferenciais,; conselhos de direitos; comissões temáticas; espaços e mecanismos de diálogo; secretarias de participação social nos ministérios; mobilizações sociais e interlocução com gestores públicos, todas estas novas formas de interação e de participação social foram experimentadas nestes últimos 13 anos de governo federal, com bons resultados em termos de democratização das decisões políticas e da gestão dos recursos públicos.

O conjunto deste cenário contemplava parcialmente as expectativas e esperanças históricas das agências de cooperação internacional, no sentido de melhoria das condições de vida da população brasileira e da democratização do Estado com participação social. Devido à redução dos recursos disponíveis da cooperação internacional; devido ao surgimento de outras áreas prioritárias para a cooperação no mundo, mas também devido ao fato de que o Brasil vinha superando sua condição de país com ampla parcela da população na pobreza extrema e na exclusão social, as agências de cooperação internacional no Brasil vinham buscando campos específicos para a atualização da sua missão institucional.

Neste sentido as agências passaram a se dedicar em apoiar projetos específicos de segmentos vulneráveis; projetos situados em regiões empobrecidas e de pouca presença do Estado; projetos de visibilização de questões sociais pouco conhecidas; projetos de formação e capacitação de gestores de ONG’s, dioceses e pastorais sociais; projetos de comunicação social alternativa à mídia hegemônica; processos de articulação e reflexão em torno de temas que interessam aos setores populares e aos parceiros, tais como mudanças climáticas; 4 agroecologia; produção orgânica; tecnologias sociais e projetos exemplares com potencial de replicabilidade.

Golpe parlamentar: democracia e legado civilizatório sob risco

Este cenário político democrático, que vem sendo construído ao longo das últimas décadas, a partir das lutas contra a ditadura; da emergência de novos sujeitos políticos; da Constituição Federal de 1988; das experiências de criação de espaços, processos e instâncias de participação social; da produção de políticas públicas e novos sistemas nacionais para sua implementação, com controle social; todo este cenário político democrático está a ponto de ser desmontado com o golpe parlamentar ocorrido no Brasil.

As elites políticas e econômicas, que se encontravam fora do centro de poder nos últimos anos, se insurgiram contra o pacto governamental estabelecido desde 2003 e planejaram o golpe parlamentar que acaba de destituir a presidenta eleita Dilma Rousseff, encerrando assim o ciclo de 13 anos de um projeto democrático-popular no Governo Federal do Brasil.

Porque afirmamos que é um golpe parlamentar o que ocorreu? Trata-se de um golpe parlamentar por que ele atende a formalidade do processo de impeachment, no sentido de cumprir com os procedimentos constitucionais previstos, culminando com uma votação política pela maioria absoluta do Senado Federal, porém com um conteúdo jurídico precário, que não prova em nenhum momento a existência de um crime de responsabilidade por parte da presidenta Dilma Rousseff. Ou seja, condenou-se e afastou-se uma presidenta da República por que se formou uma maioria parlamentar eventual na Câmara e no Senado Federal, mas não por que, do ponto de vista jurídico, se provou qualquer crime por parte da autoridade maior do país. Num regime presidencialista como o brasileiro, o impeachment teria que reunir causas políticas e jurídicas para o afastamento da presidenta, o que não ocorreu.

De acordo com as declarações públicas e com as práticas já encaminhadas pelo presidente golpista Michel Temer e seu novo ministério, o que podemos esperar nos próximos dias e meses, talvez anos, é um amplo e profundo desmonte dos direitos sociais, das políticas públicas e dos espaços de participação social construídos ao longo das últimas décadas, procurando anular, inclusive, as principais conquistas democratizantes expressas na Constituição Federal de 1988.

O desafio que se coloca hoje para as agências de cooperação internacional que atuam no Brasil desde os anos 70 é: que atitude tomar frente ao golpe parlamentar e à destruição de um legado civilizatório, construído em décadas de inúmeras parcerias entre as agências, como representantes de suas respectivas sociedades, instituições e governos, e os movimentos populares e entidades da sociedade civil brasileira?

Direitos sociais foram reconhecidos; políticas públicas foram construídas; sistemas para sua implementação foram implementados; instâncias governamentais paritárias de participação social para monitoramento e planejamento das ações foram criadas; uma sociedade brasileira menos desigual estava surgindo depois de quase meio século da antiga “paz dos cemitérios”, que a caracterizava no início dos anos 70. Ao longo da “abertura lenta, gradual e segura” – e 5 muito depois dela – os setores populares e as agências de cooperação internacional vinham produzindo uma mudança real na sociedade e no Estado brasileiro. Hoje, toda esta conquista histórica está sendo ou encontra-se sob risco de ser anulada.

Novo desafio para os movimentos populares e agências de cooperação internacional

O Bispo Emérito de São Felix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga, ao avaliar o cenário político atual do Brasil, afirmou: ”Aconteça o que acontecer, nosso sonho é mais forte.” Isso significa que, por mais que se procure anular o já conquistado, os movimentos populares e seus aliados não desistirão de seguir construindo uma sociedade mais justa, lutando pela manutenção de direitos e pela conquista de novos direitos. Por mais que se desmonte o que se construiu, o patamar atual é outro, uma sociedade muito mais organizada e consciente a respeito da história do seu país; a respeito do Estado; a respeito das suas possibilidades de transformação.

Não se trata agora de um novo começar, mas sim de uma retomada do percurso, após uma mudança institucional profunda e inesperada, fruto de um golpe de Estado de novo tipo. Trata-se de recuperar a memória do processo vivido até aqui; sistematizar as experiências, aprender com elas; traçar linhas para um novo acúmulo; juntar forças e capacidade política e desenhar novos horizontes a serem perseguidos. Tudo terá que ser revisto: país, Estado, modelo político, representação política, modo de fazer política e de fazer a gestão pública.

Uma coisa ficou clara neste processo histórico: o “novo” trazido pela participação popular não cabe, como não coube, nas velhas estruturas e nas velhas formas de se fazer política no Brasil. O “velho” não suportou o “novo” e tomou a decisão de destruí-lo. Agora, trata-se da participação popular avançar para transformar também as velhas estruturas e as velhas formas de se fazer política.

Enfim, as agências de cooperação internacional possuem um novo desafio. Para começar a definir como enfrentá-lo, é importante lembrar como tudo começou, nos tempos da “abertura lenta, gradual e segura”: reunir com o povo onde ele vive e trabalha; ouvir o que ele pensa e sente; planejar junto com o povo, principal sujeito político, o presente e o futuro – e os novos caminhos desta nova construção coletiva.

Juntamente com os movimentos populares e as entidades da sociedade civil brasileira, as agências de cooperação internacional podem definir como defender o legado civilizatório de uma sociedade mais justa e solidária.

Caminhando juntos, numa atitude respeitosa de escuta, reflexão, divisão de tarefas e construção conjunta, nosso sonho será mais forte.

Paulo Maldos

Centro de Assessoria e Apoio a Iniciativas Sociais – CAIS

Brasília, setembro de 2016.

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Carta de Brasília, com o compromisso de Organizações da Sociedade Civil e movimentos sociais em manter a resistência e luta contra os retrocessos no Brasil.

Crimes socioambientais da mineração são tema de seminário em Brasília

Representantes de diversas organizações sociais que atuam na defesa de territórios no Brasil contra violações de direitos humanos provocadas por projetos de mineração reuniram-se semana passada em Brasília (DF) para discutir os impactos socioambientais provocados por esses projetos no país. O caso mais emblemático, como não poderia deixar de ser, é o rompimento da barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco (Vale-BHP Billiton) em Bento Rodrigues (MG), que provocou o maior crime socioambiental do país e que completa um ano de impunidade no próximo dia 5 de novembro.

O seminário, organizado pelo Comitê Nacional em Defesa dos Territórios Frente à Mineração, contou com a participação de Alessandra Cardoso, assessora política do Inesc, que tratou da questão fiscal e tributária da atividade mineradora no país. “As compensações financeiras pelo uso de recursos minerais que vão para os governos não são utilizadas para o desenvolvimento sustentável das regiões atingidas”, criticou Alessandra durante sua exposição.

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Amazônia: paraíso extrativista e tributário das transnacionais da mineração”

Do caos à lama: a verdadeira e cruel face do modelo mineral brasileiro

Durante o seminário, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denunciou o crime em Bento Rodrigues (MG), que se alastrou por toda a bacia do rio Doce e que está afetando o abastecimento de água de mais de 1,5 milhão de pessoas. Segundo Jackson Dias, do MAB, até agora não há um esforço da Samarco e governos em tentar compensar de forma justa os atingidos. O MAB denunciou também que a mesma empresa e engenheiro que fizeram o relatório de viabilidade geotécnica da barragem rompida da Samarco são os mesmos que fizeram os estudos da barragem de rejeitos que a empresa canadense Belo Sun ameaça construir na região da Volta Grande do Xingu, atingida pela hidrelétrica de Belo Monte, no estado do Pará.

Saiba mais aqui sobre o seminário.

Vamos falar sobre questões socioambientais?

Responsável pela Ficha Limpa, Marlon Reis defende fim do foro privilegiado

Publicado pelo Correio Braziliense.

Conhecido como um dos maiores defensores da transparência e um dos mais influentes advogados eleitoralistas, Marlon Reis, idealizador da Lei da Ficha Limpa, assumiu a campanha pelo fim do foro privilegiado como uma meta particular.

O ex-juiz do interior do Maranhão ganhou notoriedade, em 2002, ao criar o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, o MCCE. Foi esse grupo que elaborou o projeto de lei que ficou conhecido como “Ficha Limpa”.

Nas Eleições de 2012, o ex-juiz se antecipou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e criou um blog que exigia que candidatos de três municípios, que estavam sob sua jurisdição, divulgassem os financiadores das campanhas. Hoje, candidatos do Brasil inteiro são obrigados a prestar contas a cada 72h no site do TSE.

Em relação ao fim do foro privilegiado, o ex-juiz acredita que a Proposta de Emenda Constitucional 470/2005, que tramita no Congresso e propõe o fim do foro de prerrogativa de função para deputados e senadores, pode ajudar a desafogar os processos que tramitam no Supremo Tribunal Federal. “Muitos diziam que o fim do voto secreto era matéria impossível. Agora, ultrapassada essa conquista, a próxima é esta, o fim do foro privilegiado”, disse em entrevista ao Correio.

Marlon acredita no fim do foro privilegiado da forma que existe atualmente. Na concepção dele, apenas chefes de poderes, como presidente da República, vice-presidente e presidentes da Câmara e Senado devem continuar com o foro de prerrogativa. “Ministros de Estado, por exemplo, devem ser julgados pela justiça comum.”

Para o ex-juiz, uma vara especial, proposta pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barro seria ideal para julgar as autoridades com foro. “É razoável que uma pessoa em mandato tenha um âmbito próprio onde corra a causa proposta contra ele. É possível aceitar uma discussão sobre como seria essa regra de competência, embora reconheçamos que não precisa ser igual à de qualquer cidadão. Pode, sim, haver algumas especificações.”

Qual é o principal problema com o foro privilegiado atualmente?

Os tribunais não estão devidamente aparelhados para realizar matérias de atividades que são próprias de processos judiciais. Especialmente, em atos instrutórios, que envolvem realização de audiências, às vezes com centenas de testemunhas, e a produção de outros meios de provas técnicas. Além disso, há um abarrotamento de atividades nos tribunais, especialmente nos tribunais superiores, que faz com que haja pautas, muitas vezes extremamente relevantes, e que, com razão, ajudam a colocar em segundo plano alguns processos movidos contra autoridades. Realmente, os tribunais não têm aptidão para realizar, eles próprios, esses atos de organização processual.

O foro deveria acabar para todos?

Penso que os chefes de poder como presidente da República, vice-presidente da República e presidentes da Câmara e Senado, no exercício do cargo, devem continuar por causa da prerrogativa do cargo. Sou a favor de que ministros de Estado percam o direito também. Ministros devem ser julgados pela justiça comum. Penso que, assim, o processo seria mais justo. Facilitaria também os processos e desafogaria os tribunais superiores.

Como está a tramitação da Proposta de Emenda Constitucional 470/2005?

Ela não está bem. É importante que esse assunto seja considerado prioritário e ingresse imediatamente na pauta do Congresso Nacional. A PEC precisa, portanto, ultrapassar os diversos momentos do processo legislativo para que seja votada, o que está longe, no momento, de acontecer. É preciso que o Senado dê a devida dirigência a essa matéria. Eu acredito que ela é possível de ser aprovada. Lutamos por anos contra o voto secreto no Congresso, muitos diziam que era uma matéria impossível de se vencer porque os próprios parlamentares tinham interesse no voto secreto, mas conseguimos. O efeito positivo do voto aberto do Congresso fica evidente para a sociedade, na transparência que promoveu. Agora, ultrapassada essa conquista, a próxima é esta, o fim do foro privilegiado.

A PEC fala somente sobre a extinção do foro para parlamentares. Atualmente, 22 mil pessoas possuem o direito. Retirar apenas os parlamentares seria o ideal?

Como a PEC não fala sobre a extinção de foro para outras autoridades, penso que se deve fazer textos substitutivos para a proposta. Isso deve ser discutido.

Como seria o fim do foro privilegiado?

Quando eu falo sobre o fim do foro privilegiado, eu me refiro sobre como hoje ele é. Privilégio de foro acontece sempre que estabelece uma regra de competência específica para uma autoridade. E isso precisa continuar acontecendo. Nós não nos referimos à necessidade de que os processos sejam distribuídos para qualquer autoridade como acontece com qualquer pessoa. É razoável que uma pessoa em mandato tenha um âmbito próprio onde corra a causa proposta contra ele. É possível aceitar uma discussão sobre como seria essa regra de competência, embora reconheçamos que não precisa ser igual à de qualquer cidadão. Pode sim haver algumas especificações.

Refere-se à vara especial?

Sim, sou a favor de uma vara especial no Distrito Federal para que aprecie todos os feitos de competência do Supremo Tribunal Federal e que aprecie os processos que, hoje, estão sobre competência do Superior Tribunal de Justiça. Essa semana assumi um compromisso pessoal de me envolver com esse tema, como uma questão central. Agora vou começar contatos com organizações e movimentos com a finalidade de chamar atenção para a urgência dessa pauta.

Jovens do Coletivo da Cidade descobrem o xadrez como atividade esportiva e educativa

Toda terça e sexta-feira, crianças e adolescentes da Cidade Estrutural (DF) têm se reunido no Coletivo da Cidade, ONG que atua na região, para praticar um dos esportes mais complexos e instigantes que existem: o xadrez. Além de estimular a memória, aumentar a capacidade de concentração e velocidade de raciocínio, o xadrez também tem representado uma possibilidade de mudança para os jovens que moram na região, uma das mais vulneráveis de Brasília, informa a reportagem do Metropóles, que foi à Estrutural ver de perto esse crescente interesse dos jovens pelo xadrez.

Um dos jovens que pratica o xadrez no Coletivo da Cidade já começou essa jornada. Gabriel do Amaral, de 14 anos, conheceu o esporte no Coletivo há três anos e já começa a se destacar em competições. Aluno de escola pública e morador da Estrutural, Amaral ficou em segundo lugar no Festival Interescolar de Xadrez deste ano, vencendo vários adversários de escolas particulares.

“Quero levar o xadrez para a minha vida no futuro”, afirma Amaral, que além de estudar e praticar o esporte no Coletivo da Cidade, aproveita suas horas de folga em casa para assistir a vídeos sobre o jogo no Youtube e jogar partidas online. Gabriel do Amaral sonha em chegar a grande mestre do xadrez, título concedido pela Federação Internacional de Xadrez, e parece estar no caminho certo.


Um dos principais responsáveis por essa ‘febre’ do xadrez na Cidade Estrutural é o professor João Henrique de Oliveira, que desde o início das atividades do Coletivo da Cidade procurou despertar o interesse das crianças e adolescentes para o esporte. Pelo interesse da garotada por suas aulas, o sucesso é total.

“Quando falo sobre essa prática, gosto de citar uma frase de um grande mestre russo: ‘O xadrez, assim como o amor e a música, tem o poder de fazer o homem feliz’”, afirma João Henrique.

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Cartilha explica ciclo orçamentário e processo de formulação de políticas públicas

A sociedade brasileira acaba de ganhar mais uma ferramenta para entender, acompanhar e participar da formulação, implementação e fiscalização do orçamento público e das políticas públicas: é a cartilha “Políticas Públicas e o Ciclo Orçamentário”, que faz parte da série “Educação Política” do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap). Foi lançada nesta quinta-feira (27/10) e está disponível para baixar aqui.

A cartilha, segundo o Diap, é importante para se conhecer “como são formuladas e implementadas as políticas públicas, incluindo as disputas de natureza orçamentária”, ainda mais agora em que o governo federal promove “o maior ajuste fiscal dos últimos anos, com propostas de corte de gastos, como a PEC 241, ou de revisão de direitos previdenciários, como a proposta de reforma da Previdência Social”.

Diz o texto de apresentação da cartilha:

“O objetivo da cartilha é chamar atenção para a importância e a necessi- dade de o cidadão conhecer, entender, discutir e participar da formulação, implementação e fiscalização das políticas públicas, bem como apontar fontes de acesso a dados e informações úteis ao exercício pleno da cidada- nia, como recomendam as leis de transparência e de acesso à informação. O acesso do cidadão aos dados e informações sobre os processos de construção das políticas públicas, bem como à realização do gasto público, além de um direito, se constitui em passo fundamental para o controle social e a participação cidadã na correta aplicação dos recursos públicos, inclusive como forma de prevenção e combate à corrupção.”

No item 21, que trata das fases do orçamento público, a cartilha usa como referência o “Manual de Formação em Orçamentos e Direitos – Orçamento Público para a Promoção de Direitos Humanos”, do Inesc, que destaca as seguintes dimensões:

– Legal: o orçamento público é uma lei que estabelece os parâmetros legais para a realização da receita do governo e a execução de despesas num determinado prazo, de acordo com os limites definidos pela Constituição e em leis específicas, como a da Responsabilidade Fiscal.

– Política: o orçamento público é uma peça de negociação política, elaborada pelo Executivo e aprovado pelo Legislativo. Há no processo uma disputa pelos setores da sociedade por mais recursos para as políticas públicas de seu interesse (ver vídeo abaixo).

– Econômica: está relacionada às funções econômicas do Estado, por meio das funções alocativa, distributiva e estabilizadora, além do fato de que o orçamento afeta a economia e é afetado por ela.

– Planejamento: administração dos recursos públicos, definição de metas, objetivos, controle e avaliação de desempenho das políticas públicas, das instituições e de suas regências.

– Financeira: sistematiza as receitas e despesas, facilitando o controle dos fluxos.

– Direito: instrumento para ampliar a destinação, ainda que gradual e progressiva, dos recursos para a promoção de direitos, especialmente os humanos e sociais.

E por fala em orçamento e direitos:

Brasil: um futuro hipotecado pela ideologia neoliberal

Por Marilza de Melo Foucher.

“O velho mundo morreu, o novo mundo tarda a aparecer e neste claro-obscuro, surgem os monstros”. Antonio Gramsci.

Contextualização

Vivemos como diz Edgar Morin numa era planetária que se acelera nos anos 90, com a globalização que estabelece um mercado mundial, e, uma rede de comunicações extremamente ramificada em todo o planeta. A expansão tecnológica, assim como o desenvolvimento científico e econômico, projetava uma visão de futuro comum para toda a humanidade. Entretanto, o desenvolvimento continuou desigual, assim como a repartição de riquezas. Alertas não faltaram da parte do mundo associativo e dos poucos governos progressistas. Muitos milhões foram gastos em conferências internacionais para poucos resultados. Infelizmente, o planeta Terra segue até hoje ameaçado de morte ecológica. As usinas nucleares vetustas representam ameaça de morte, a agricultura transgênica e os agrotóxicos se espalham ameaçando a biodiversidade do planeta e as enfermidades epidêmicas se proliferam.

Ou seja, a situação atual de nosso planeta é hoje caracterizada por várias crises: econômicas, financeiras, sociais, políticos, ambientais, diplomáticas, entre outras. Sem contar outras ameaças, entre estas a existência de guerras civis e novas formas de terrorismo que se alastram causando massacres humanos em vários lugares do mundo. Assiste-se ao retorno da religião no espaço da política, onde predomina um fundamentalismo altamente perigoso para a coesão social. Passamos a viver numa sociedade individualista, e, cada vez mais competitiva.  Estamos diante de um estranho mundo, cada vez mais obcecado por números, a economia guia o nosso destino, porém, às vezes nos leva por caminhos incertos. Aproprio-me das palavras de Edgar Morin quando dizia: “A ciência econômica notadamente, passou a ser rainha e guia das políticas, ela não pode conceber o que lhe escapa ao cálculo, ou seja, as emoções, paixões, infortúnios, crenças, esperanças que estão na carne da existência humana.”

A democracia refém da globalização da ideologia neoliberal – Os países do Norte foram os principais atores de uma governança mundial junto com a ONU, FMI, Banco Mundial, União Européia, empresas multinacionais e transnacionais. Os métodos aplicados para a regulação foram desequilibrados e sempre favoreceram as grandes potências. Este fato, não dá à governança global uma legitimidade democrática. Esses atores permitiram a financeirização do capitalismo, primeiro impondo aos países do sul reformas estruturais para se adaptar às novas exigências da economia neoliberal que terminara por se transformar em estratégia ideológica. Hoje o livre comércio cria uma concorrência, não apenas de produtos, mas de sistemas sociais, em detrimento daqueles que conseguiram depois de anos de muitas lutas obterem ganhos sociais significativos. Sabe-se que a hegemonia do capitalismo financeiro só poderia ser alcançada pela via política, mediante o manejo oportuno de recursos de poder. Hegemonia, para lembrar Gramsci se estabelece com liderança intelectual e moral.

Esses grandes atores globais esqueceram que na era planetária em que vivemos tudo interage e os problemas enfrentados no Sul terminam atingindo o Norte e vice-versa. Por esta razão, os países do Norte não poderiam sair indenes de uma crise global. Esta ultima crise do capitalismo internacional (2008) provocou vários desequilíbrios, ou seja, o desequilíbrio entre as finanças e a economia real; os desequilíbrios macroeconômicos entre os principais atores da economia internacional; e desequilíbrio ecológico, que se tornará necessariamente uma restrição o crescimento futuro, não só por causa da mudança climática, mas também, dado a outros problemas de catástrofes ambientais.

Se não conseguirmos impedir a evolução ditatorial do capitalismo financeiro e sua ideologia neoliberal, torna-se impossível pensar em emancipação humana, na dignidade humana, na justiça social e uma sociedade mais fraterna. A sustentabilidade do desenvolvimento ficara pendurada em números… Basta ver como a sustentabilidade ecológica se transformou rapidamente em marketing ecologico voltada para a rentabilidade da natureza e seus ecossistemas. A democracia participativa, vista como a chave de sucesso do desenvolvimento com sustentabilidade, exigia a participação dos atores locais em todos os níveis de discussão concernente aos projetos, entretanto foram rapidamente abandonados. O exercício da cidadania política é visto como perigo para a propagação ideológica neoliberal.  Às vezes a convocação da comunidade para os projetos ambientais representa apenas um verniz de legitimidade para obtenção de financiamentos internacionais ou para impor mega-projetos.

Desde 2008, os governantes dos Estados Unidos e Europa discursam em regular o sistema financeiro, mas, na pratica pouca coisa avançou. É notório que os sistemas regulatórios globais não estão na escala dos desafios que a humanidade enfrenta. A chamada aldeia global vive hoje em caos permanente sem coesão, sem redistribuição de recursos e sem justiça. O pior, e talvez o mais grave de tudo, seja que somos uma minoria a puxar o sinal de alerta. A desilusão é grande, e isto vem provocando certa apatia por parte dos cidadãos.

Outro dado preocupante: o mundo pode deslizar em uma espécie de regime autoritário, cuja única intenção é manter privilégios de uma casta ou de uma oligarquia. Isso é politicamente dramático, e pode representar o fim da democracia. Essa ameaça ronda a Europa, onde a democracia se encontra enferma e a política não se regenera. A maioria dos cidadãos desiste de exercer a cidadania, ou vota na extrema direita que sempre emerge em período sombrio de crise econômica. Hoje a União Européia é composta de uma maioria conservadora e de extrema direita.

Estamos diante de um processo de despolitização engendrada pela ideologia neoliberal, e, nada é mais letal do que a resignação dos cidadãos.  Nos Estados Unidos o ideal democrático há anos foi substituído pelo poder do dinheiro. Na América do Sul os governos progressistas que chegaram ao poder, principalmente no Cone Sul (Brasil, Chile, Paraguai, Argentina e Uruguai) foram confrontados à realidade sócio-política deixado por décadas de políticas neoliberais traduzidas pela falência do estado e de seus serviços públicos. Esses países serviram de laboratório para a implantação da ideologia neoliberal e necessitaram de muitos anos para mudar a lógica exclusiva do desenvolvimento e de seu sistema de educação tomando o exemplo do Brasil. Infelizmente, a tendência hoje no Brasil é a retomada desta ideologia com o novo governo oriundo do golpe parlamentar.

A hegemonia do quarto poder – Vale ressaltar também, a tirania do poder midiático. Os defensores do neoliberalismo têm investido pesadamente nos meios de comunicação para fazer uma máquina de guerra limpa para remover qualquer consciência política para o povo, para torná-los suscetíveis a aceitar os ditames da ideologia neoliberal. O sistema de comunicação será o vetor de propagação e legitimação desta ideologia. As técnicas de comunicação são altamente sofisticadas e diante do numero considerável de analfabetos políticos, qualquer medida ou campanha publicitária pode transformá-los em cidadãos passivos e em bons consumidores. Por estranha coincidência, os grandes grupos econômicos são hoje proprietários de jornais e canais de televisão. A mídia está cada vez mais concentrada, os jornalistas cada vez mais dóceis e a informação cada vez mais pobre.

O quarto poder vem colaborando largamente na despolitização da vida em sociedade e ao rebaixamento do senso político.  E, no entanto, a política é o cerne de qualquer processo de socialização humana e de todas as sociedades, das mais antigas até as mais contemporâneas. Uma coisa é certa, não podemos refazer a sociedade, deixando de lado da participação política. Isto requer que os cidadãos tenham interesse de participar da política para obter mudanças de uma vida melhor. Quando as pessoas se tornam indiferentes às coisas públicas, elas permitem que políticos descomprometidos com o interesse geral, passem a governar em seu nome e deste modo os cidadãos legitimam uma democracia sem o povo! O golpe parlamentar que destituiu a Presidenta Dilma Rousseff é bem ilustrativo do papel do quarto poder. A crise econômica e a corrupção serviram apenas de álibi para preparação do golpe.

Exagerar a crise econômica para provocar uma crise política- Há três anos, a economia do Brasil estava crescendo, as perspectivas eram boas e não havia nada que pudesse alarmar os investidores internacionais. Porém o ambiente econômico global deteriorou-se com a desaceleração da China, a fraqueza da economia européia e a lentidão da melhoria dos Estados Unidos. Tudo isto fez com que a situação mundial fosse desfavorável, especialmente para países que dependem da exportação de commodities, a exemplo do Brasil.

Os meios de comunicação que já vinham fazendo uma oposição ferrenha ao governo de Dilma Rousseff, tudo fizeram para que ela saísse derrotada na disputa de seu segundo mandato. Como não conseguiram derrotá-la investiram junto com a oposição governamental numa campanha violenta para impedir sua governabilidade. Com um congresso hostil, todas as propostas do governo eram barradas pelos parlamentares. Também o quarto poder aproveitou dos sinais de fragilidade da economia brasileira para exagerar sobre a gravidade crise econômica. Criou-se então um clima político hostil, e os meios de comunicação começaram a explorar o descontentamento das categorias sociais mais afetadas pela crise. Afirmavam permanentemente que o desastre econômico era culpa governo Dilma. Para os meios de comunicação não existia crise mundial e sim uma crise econômica brasileira.

Em novembro de 2015 o premio Nobel de economia (2008) Paul Krugman visitou o Brasil e disse: «Existe elemento de pânico espalhado por uma mídia sensacionalista, que tem retratado o Brasil como um caso de desastre total”. O pesquisador da Universidade de Princeton chamou atenção para a visão derrotista da mídia local e global. Disse ainda, que existia uma tendência entre os jornais financeiros de abordar com mais severidade as crises que ocorrem sob governos de centro-esquerda. Todos estes fatores criam um clima de pessimismo, desconfiança e caos que desestimula os negócios no país. O prêmio Nobel da economia parecia otimista quanto a capacidade do Brasil no enfrentamento da crise: “Não vai ser no mês que vem, nem no ano que vem, mas em breve ficará óbvio que os danos estavam sendo superestimados”, antecipa. Assim que o declínio do real ficar para trás, a economia deve voltar a crescer: a inflação vai cair, as taxas de juros poderão ser reduzidas e, com esse alívio na pressão sobre a economia, a situação orçamentária vai melhorar também. Todavia, os meios de comunicação preferiram apostar no colapso econômico do país do que injetar o otimismo para estimular os investidores. Junto com os representantes da indústria e comercio e com apoio de alguns membros do poder judiciário eles apoiaram de modo irresponsável uma campanha internacional dando uma percepção de que a crise da economia era a maior crise jamais conhecida no Brasil. A mensagem que os irresponsáveis transmitiam para seus aliados do capitalismo financeiro era que a única saída era destituir Dilma, o impeachment da Presidente seria uma das principais causas da recuperação do real uma vez que um novo governo poderia, sem dúvida, aprovar leis cruciais para equilibrar as contas do estado. O novo governo poderia contar com uma base mais sólida no Congresso, o que seria mais fácil para adotar novas medidas austeridades.

Esfacelamento do sistema de educação na esfera mundial – A conseqüência da globalização neoliberal em termos de educação é o surgimento e expansão de um mercado educacional, patrocinando o aumento da concorrência entre as instituições de ensino, nomeadamente na rede pública. Vimos em muitos lugares, o aumento de escolas particulares e a proliferação de universidades privadas. A qualidade do ensino baixou consideravelmente. O sistema de formação escolar, universitário, profissional tem criado seres humanos politicamente cegos para decifrar a complexidade e os desafios de nosso planeta.

A ideologia neoliberal coloca tanto a educação como a cultura na esfera da concorrência comercial. O objetivo é excluir completamente a educação da categoria de direitos humanos básicos para classificá-la na categoria de bens mercantis. Tanto a educação como a cultura tornam-se um produto oferecido no mercado. Em 2003 o grande sociólogo francês Edgar Morin já lançava um grito de alerta sobre a urgência vital de “educar para a era planetária”. Ele que admira tanto o Brasil e tecia elogios aos programas de inclusão social posto em pratica pelo governo Lula, na certa hoje deve estar vivendo o mesmo drama que muitos intelectuais brasileiros vivem: O Brasil não só teve um golpe parlamentar, mas vive hoje um grande retrocesso com o desmantelamento de todas as conquistas sociais dos governos Lula e Dilma.

Os investimentos realizados na área de educação não foram suficientes para melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Todavia, o governo pós golpe do Senhor Temer decidiu de modo arbitrário, e sem consultar o corpo de professores e instituições ligadas ao ensino realizar uma reforma na Educação reacionária e punitiva. O governo tenta criar um processo de “deseducação” no Brasil. A reforma educacional foi aprovada pelos mesmos que aprovaram o golpe parlamentar. A proposta de emenda constitucional PEC 241 congela os gastos público por 20 anos. Ela diminui os investimentos em educação, saúde, e assistência social. A PEC, considerada prioritária pelo governo Temer, decreta o fim da obrigação do Estado com os direitos sociais. Na reforma educacional são retiradas de obrigatoriedade do currículo escolar as matérias como História, Sociologia, Artes, Filosofia. Já dizia Paulo Freire “Não basta saber ler que ’Eva viu a uva’. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. É exatamente este modo de pensar a educação que o governo golpista propõe destruir.  O Temer coloca assim o Brasil como principal laboratório para adoção da ideologia neoliberal.

Com o apoio incondicional dos meios de comunicação, dos grandes grupos econômicos, dos organismos patronais, uma grande parte do poder judiciário, o Brasil possui hoje todos os ingredientes necessários para a implantação de definitiva desta ideologia: Existe uma direita e extrema direita organicamente bem articulada para impor não só um modelo econômico neoliberal para o Brasil, que associa o modelo socioeconômico a regras e valores. A ideologia neoliberal não se encontra somente centrada na economia; ela consiste na ampliação e disseminação dos valores de mercado em matéria de política social e envolve todas as instituições do Estado, mesmo que o mercado conserve como tal sua singularidade. A política então fica submetida a uma racionalidade econômica. O que esta em jogo hoje é uma mudança radical de um projeto de sociedade que a esquerda timidamente tentou construir há mais de uma década. Logicamente, com todas as imperfeições muitas pautas de reivindicações oriundas de lutas foram postas em praticas. Houve certos avanços no reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais. Todas essas conquistas foram frutos de longos anos de luta social e acabam de ser interrompidas por Temer. O futuro do país fica assim hipotecado pela ideologia neoliberal.

PEC 241 dá golpe nas políticas públicas atuais e futuras, afirmam especialistas

Realizado horas antes da votação que aprovou a PEC 241 nesta terça-feira (25/10) na Câmara dos Deputados, os participantes do debate “O Futuro da Seguridade Social” realizado pela Comissão de Legislação Participativa (CLP) da Câmara deixaram claro: o congelamento dos gastos públicos por 20 anos proposto pela PEC não ameaça apenas a seguridade social (saúde, previdência e assistência social), mas todo o conjunto de políticas públicas do país.

Proposto pelo Instituto de Estudos Socioecômicos (Inesc), o debate contou com a participação de representantes da Auditoria Cidadã da Dívida, da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Anfip) e da Frente Nacional em Defesa do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e da Seguridade Social. Para Carmela Zigoni, assessora política do Inesc, a PEC 241 limita os gastos com saúde, educação e seguridade sem levar em consideração projeções econômicas de retomada do crescimento. E criticou o fato de a PEC permitir que gastos em determinadas áreas possam crescer acima da inflação desde que outras recebam menos recursos. “Isso deixa as políticas sociais na mira de cortes orçamentários”, afirmou, lembrando que a PEC 241 terá impacto direto na piora da qualidade de vida da população. “Estamos resolvendo um problema da arrecadação cortando direitos.”

Vilson Romero, presidente da Anfip, criticou o discurso único de que a Previdência Social está quebrada no país e mostrou que a realidade é bem outra: “O déficit da Previdência é um mito. O governo considera apenas parte das contribuições sociais, incluindo somente a arrecadação previdenciária direta urbana e rural, excluindo outras fontes importantes de custeio da Seguridade Social, como Cofins, PIS/Pasep, Contribuição Social sobre o Lucro Liquido (CSLL), além de ignorar as renúncias fiscais”, explicou, ao justificar que o sistema é superavitário, demonstrando dados da Associação. “Simplesmente não existe o tão falado deficit. E a sociedade precisa ficar atenta, porque do contrário corre o risco de ter prejuízos em seus direitos”, ressaltou.

 

Os vídeos dos demais participantes bem como o debate na íntegra podem ser vistos aqui.

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PEC 241 é uma bomba contra os direitos constitucionais da população brasileira

O que o governo e setores da grande imprensa fazem no país, denunciou Maria Lúcia Fattorelli, da Auditoria Cidadã da Dívida, é criar um de terrorismo para justificar a necessidade da PEC 241. Sem ela, afirmam seus defensores, o país quebra. “O que está ‘quebrando’ o Brasil é a contínua sangria de quase metade do orçamento federal, anualmente, para o pagamento de juros extorsivos ao setor financeiro e a sigilosos investidores, incidentes sobre ‘dívidas’ geradas sem contrapartida alguma, fruto de transformação de centenas de bilhões de reais de prejuízos da política monetária do Banco Central em ‘dívida pública’, além de outras operações ilegais e ilegítimas”, afirma Fattorelli.

A representante da Frente Nacional em Defesa do Sistema Único de Assistência Social (Suas) e da Seguridade Social, Virgínia Berriel, também criticou a proposta governista e afirmou que ela faz parte de uma ofensiva contra os direitos sociais. “Estamos em um processo muito claro e evidente de desmonte de direitos”, afirmou.

O deputado federal Chico Lopes (PC do B – CE), presidente da Comissão de Legislação Participativa (CLP) que conduziu o debate, afirmou que a PEC 241 prejudica os programas sociais previstos pela Constituição de 1988. Para a deputada Érika Kokay (PT-DF), “a lógica dessa PEC está errada, porque significa, dentre muitas coisas, que se abre mão de se ter um projeto nacional”. Já a deputada Ângela Albino (PC do B – SC) lembrou que a PEC não afeta apenas a sociedade brasileira hoje, “mas também as futuras gerações”. E criticou o governo Temer por promover mudanças tão significativas no país sem chancela do voto popular. “A PEC 241, o que se pretende fazer com a Petrobras, a reforma da previdência e a flexibilização das leis trabalhistas jamais chegariam ao poder senão através do golpe. E quando falo de golpe, não é só a deposição da presidenta. Trata-se de que o limite da legalidade foi substituído pelo limite da força”.

O ciclo de debates sobre o futuro da seguridade social no Brasil em tempos de PEC 241 terá edições em outras cidades, a saber:

Fortaleza (CE) no dia 11 de novembro.

Belo Horizonte (MG) no dia 1 de dezembro.

Florianópolis (SC) no dia 12 de dezembro.

Para entender um pouco mais sobre a questão, assista ao vídeo sobre como se constrói o orçamento público para a garantia de direitos:

Com informações da Agência Câmara.

Os muitos erros da análise do Ipea sobre custo do Plano Nacional de Educação

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação (CNDE) divulgou nesta quarta-feira (26/10) uma dura e crítica análise da nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicada semana passada com avaliação do custo do Plano Nacional de Educação (PNE). Para a CNDE, a nota técnica do Ipea comete “alguns graves erros metodológicos e analíticos”, construindo assim “um futuro que é exatamente igual ao presente, um presente que deve ser mudado”:

O Ipea é um órgão plural, com diferentes visões sobre as questões econômicas e sociais. Contudo, isso não o exime de produzir trabalhos com metodologia correta e com a necessária leitura do marco legal. No caso da NT30, embora seja um esforço válido, tanto a leitura da Constituição Federal quanto da própria Lei 13.005/2014, do PNE, foram falhas, bem como as projeções demográficas, que ignoraram as etapas intermediárias do Plano, o fluxo escolar e a sistemática de financiamento da educação. Preocupa, finalmente, a sintonia da Nota com a PEC 241, medida que, se aprovada, representa o fim da vinculação constitucional de recursos para a educação e a inviabilização do PNE.

O Plano Nacional de Educação foi aprovado pelo Congresso em 2014 e vai ser aplicado até 2024. São 20 metas voltadas para a promoção da educação de qualidade no país, e para seu financiamento, ficou estabelecido que o investimento público deverá chegar a10% do PIB, no mínimo, em 2024. A nota técnica do Ipea afirma que, no momento da aprovação do PNE, as receitas no Brasil estavam acima do crescimento do PIB, mas foram logo caindo – nos estados, nos municípios e na União. Ainda segundo a nota técnica do Ipea:

Nesse atual contexto, o país empreende um grande esforço para ajustar suas contas públicas, o que inclui uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC 241), estabelecendo um teto para os gastos públicos federais. O reflexo dessa conjuntura no âmbito da Educação é que a meta 20 do PNE se encontra, portanto, em xeque.

O objetivo desta nota técnica é verificar quanto seria necessário para preservar a efetivação, a contento, das outras 19 metas do Plano. De acordo com nossas estimativas, para 2024, o valor do investimento público na educação pública haveria de ser de 365,1 bilhões de reais – a preços de julho de 2015 –, o que corresponderia a 6,2% do PIB de 2015.

A Campanha Nacional pelo Direito à Educação reconhece a dedicação e esforço do Ipea em analisar a viabilidade do PNE 2014-2024, tornando o instituto um “espaço imprescindível para o debate público para a consagração do direito constitucional à educação”, mas lamenta que o Ipea ignore os riscos que serão impostos pela PEC 241 ao financiamento dos direitos sociais e que cometa erros significativos em sua análise sobre o financiamento necessário para a educação no Brasil.

Entre os erros apontados pela CNDE no relatório do Ipea estão:

* Confunde o conceito de Custo Aluno Qualidade Inicial (CAQi) e CAQ. Os parâmetros do CAQi são os padrões mínimos para o Brasil e não a média, como a nota técnica faz em seu modelo;

* Ao tentar argumentar que avança em relação ao CAQi, o estudo cria um CAQ-PNE em que se altera o valor da remuneração média dos professores. E, aqui, há um equívoco, pois o CAQi fixa o piso da remuneração, não sua média. Mais grave, no caso dos profissionais formados em nível médio, modalidade Normal, o trabalho utiliza um valor praticamente igual ao piso nacional, o que significa transformar o Piso Salarial Nacional do magistério público em média nacional;

* O erro na questão da média salarial fica mais grave na hora de calcular o chamado CAQ-PNE da creche e da pré-escola. A nota técnica do Ipea coloca 83% dos professores de creche (e 86% da pré-escola), com formação em nível médio, modalidade Normal. Essa operação é realizada para reduzir o custo do modelo com educação infantil, claramente a etapa mais onerosa na educação básica, basicamente pelas necessidades da primeira infância e com forte demanda de expansão;


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Trajetória de 15 anos de Fórum Social Mundial ganha coletânea de artigos

Por Kaique Santos, para o site da Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (Abong).

Com o lema “Um outro mundo é possível”, o Fórum Social Mundial (FSM) teve sua primeira edição realizada em 2001, em Porto Alegre (RS). De lá para cá, diversos eventos internacionais e milhares de regionais e/ou temáticos em várias partes do mundo depois, o processo – como é chamado por organizações e movimentos sociais que o protagonizam – chega ao 15º ano de sua trajetória como sendo um espaço de convergências dos desejos de transformação de uma sociedade altermundialista. “Nos últimos quinze anos, várias propostas foram postas em prática, em especial, no Brasil e na América Latina. E, na sua maioria, demonstraram-se eficazes. São tantas as experiências de sucesso que já se faz necessário um Fórum Social dedicado exclusivamente à discussão e apresentação das boas práticas”, comemora Mauri Cruz, diretor executivo da Abong e representante da Associação no Conselho Internacional do FSM.

Para marcar estes 15 anos de história, o Coletivo FSM Brasil 2016 lança a publicação 15 anos de Fórum Social Mundial – balanços, desafios e perspectivas da luta por outro mundo possível. A coletânea reúne artigos de opinião de atores/atrizes que representam algumas das principais lutas ao longo desta trajetória de 15 anos. São ensaios que apontam os desafios e a importância do FSM neste período e ainda projetam as perspectivas para seu futuro.

O documento traz ainda uma análise do que foram o FSM 15 Anos Porto Alegre – edição temática realizada em janeiro deste ano para marcar os 15 anos do FSM – e o FSM 2016 Montreal – edição internacional que ocorreu em agosto, no Canadá.

Clique aqui para acessar a publicação completa!

O projeto Rumo ao FSM 2016, patrocinado pela Petrobras, oportunizou não estes materiais, como as várias iniciativas da sociedade civil brasileira nos processos de mobilização, organização, realização e participação dos eventos realizados neste marco em 2016.

Em texto que assinam juntos, Mauri e Damien Hazard, membro do Conselho Diretor da Abong e do Coletivo Baiano do FSM, reconhecem que o FSM permanece diante de grandes desafios. Mesmo assim, celebram: “Com todos os entraves e desafios, o FSM permanece um espaço único no âmbito global, com o potencial de reunir e fomentar narrativas contra-hegemônicas, disseminá-las e assim oferecer às forças progressistas de todo o planeta uma renovação do pensamento utópico, num momento em que, muitas vezes, a esperança dá lugar à desilusão.”

O Coletivo FSM Brasil 2016 é composto por representantes de sete organizações da sociedade civil (Abong, Ciranda, Flacso, CUT, IPF, Geledés e UBM) membros do Conselho Internacional do Fórum.

Mapa das Desigualdades do Nossa Brasília vai revelar as muitas cidades da capital federal

Do Movimento Nossa Brasília.

Medir a desigualdade nos territórios e servir como uma fonte popular para explicitar a disparidade entre as regiões. Este é o objetivo do Mapa das Desigualdades que está sendo elaborado pelo Movimento Nossa Brasília, Inesc e Oxfam Brasil, e que se propõe a ser uma construção colaborativa nas regiões selecionadas para o início do trabalho.

O Mapa das Desigualdades possibilita visualizar as desigualdades no território ao comparar regiões e permite que se compare saúde, educação e outras políticas garantidoras de direitos, mostrando como estão distribuídas pelas cidades do Distrito Federal.

“Nós sabemos que as cidades não são iguais, existem várias cidades dentro das cidades”, explica Cleo Manhas, integrante do Nossa Brasília e uma das idealizadoras da proposta. Como o Distrito Federal é um território muito amplo e com várias cidades, o grupo optou por iniciar o trabalho de levantamento participativo dos indicadores em 3 regiões administrativas onde já tem incidência: Samambaia, São Sebastião e Estrutural.

Ouvindo movimentos e parceiros locais, o Nossa Brasília pretende reafirmar o protagonismo da sociedade civil na validação de informações sobre a região onde vivem. “A gente vai primeiro ver quais as expectativas deles, qual o entendimento deles sobre as políticas locais e as principais políticas em destaque, e vamos fazer um comparativo com os indicadores que a gente já tinha separado, e junto com eles escolher quais representam as regiões”, diz Cleo ao explicar a metodologia elaborada para este processo que se inicia com atividade em Samambaia no dia 22 de outubro.

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Essa experiência é uma reaplicação de uma metodologia desenvolvida pela Rede Nossa São Paulo, com o destaque da inovação da proposta envolver o diálogo com a comunidade, com a participação de movimentos locais ao estabelecer indicadores prioritários regionais. Ao final deste levantamento nas 3 cidades selecionadas, a equipe do Nossa Brasília sistematizará as informações coletadas e fará uma comparação com dados disponíveis sobre o Plano Piloto, considerada uma das regiões com maior índice de desenvolvimento do país, alimentando a Plataforma Cidades Sustentáveis. O resultado ficará disponível para acesso e uso público na página do movimento na internet.

Com indicadores desagregados e o resultado da comparação com regiões privilegiadas, a população pode ter maior clareza de como está seu território, quais suas necessidades e como estão sendo destinados os recursos públicos na gestão das cidades, tendo às mãos informações mais qualificadas e uma nova ferramenta para fazer incidência junto ao governo para que as prioridades sejam atendidas. Desta forma, “os indicadores contribuem para que as políticas públicas sejam melhor planejadas e melhor aplicadas”, como conclui Cleo Manhas sobre a importância do Mapa.

O Movimento Nossa Brasília pretende lançar o Mapa das Desigualdades ainda no fim de novembro de 2016, em um evento que discuta e aprofunde o direito à cidade e as características regionais do Distrito Federal.

Calendário das oficinas do Mapa das Desigualdades nas cidades:

22/out – Samambaia
29/out – São Sebastião
05/nov – Estrutural

Seminário discute o futuro da seguridade social no Brasil em tempos de PEC 241

Qual o futuro da seguridade social no Brasil? A depender das últimas decisões do Congresso, como as aprovações da Medida Provisória 726 e a PEC 241, teremos tempos bem difíceis pela frente, com redução de direitos e precarização de serviços e políticas públicas voltadas para milhões de trabalhadores e aposentados do país.

Para discutir o impacto dessas medidas na seguridade social brasileira, denunciar o ataque aos direitos individuais e sociais e à Constituição Federal, e oferecer alternativas a essas medidas, a Comissão de Legislação Participativa (CLP) promoverá um seminário no Plenário 3 da Câmara dos Deputados, em Brasília, com representantes da sociedade civil, entre eles o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), autor da proposta para a realização do evento.

O seminário “O Futuro da Seguridade Social no Brasil” terá transmissão ao vivo pela internet, a partir das 14 horas.

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Na justificativa para a realização do seminário, o Inesc afirma que MP 726, ao transferir parte das competências do antigo Ministério do Trabalho e Previdência Social para o da Fazenda, ao mesmo tempo em que transferiu as competências do Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) para o Ministério do Desenvolvimento Social, “pode comprometer o alcance dessa política pública, com reflexos negativos para milhões de trabalhadores/as, aposentados/as e pensionistas”. Além disso, o Inesc lembra que a PEC 241 limita gastos públicos por 20 anos, diminuindo “a abrangência dos programas sociais garantidores dos direitos individuais e sociais que a Constituição Federal de 1988 apresenta, gerando impactos ainda não dimensionados pela sociedade brasileira”.

Participarão do seminário:

Carmela Zigoni – assessora política do Inesc;

Maria Lúcia Fattorelli – coordenadora da Auditoria Cidadã da Dívida;

Ronaldo Ferreira dos Santos – presidente do Conselho Nacional de Saúde (CNS);

Vilson Antonio Romero – presidente da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP);

Vanda Anselmo Braga dos Santos – presidente do Colegiado Nacional de Gestores Municipais de Assistência Social (CONGEMAS);

Lenita Maria Durchi, diretora de Estudos e Política Social do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

Economia verde é questionada por especialistas em dois novos livros

A Economia Verde tem sido amplamente disseminada e defendida como solução para questões ambientais que impactam negativamente a vida no planeta. O enfrentamento se daria prioritariamente pela utilização em larga escala de novas tecnologias e mecanismos de mercado – que diminuiriam ou anulariam efeitos causados pelo atual modelo de desenvolvimento econômico mundial.

Mas as soluções apresentadas são eficientes? É possível frear as mudanças climáticas e salvar a natureza precificando seus componentes? Podemos diminuir o impacto ambiental mantendo os níveis atuais de consumo? Potencializar mercados baseados em uma métrica de carbono tem um efeito real? Qual é o impacto gerado na compra de uma passagem de avião que inclui uma taxa extra de neutralização da “pegada de carbono?

Estas e outras questões são discutidas em duas publicações que serão lançadas no Rio de Janeiro no dia 25 de outubro pela Fundação Heinrich Böll Brasil. São elas “Crítica à economia verde” (Barbara Unmüßig, Lili Fuhr e Thomas Fatheuer) e “A Métrica do Carbono: Abstrações Globais e Epistemicídio Ecológico ” (Camila Moreno, Lili Fuhr e Daniel Speich Chassé).

Eles chamam a atenção para a complexidade da atual crise mundial e defendem que o caminho é – sim – utilizar novas tecnologias, mas também fortalecer mecanismos democráticos de participação e políticas de erradicação da pobreza e diminuição de desigualdades.

Em “Crítica à Economia Verde”, os autores elencam pontos que, segundo eles, jogam luz nas promessas que os defensores deste conceito fazem e que não podem ser cumpridas.

“É preciso repensar a economia da forma como a vemos hoje: a lógica vigente é ver a natureza como mais um produto a ser mensurado, medido, valorado. Este modelo, sem qualquer questionamento dos atuais níveis de produção e consumo global, não leva a humanidade a lugar algum”, ressalta Maureen Santos, coordenadora do Programa de Justiça Socioambiental da Fundação e editora das versões brasileiras dos livros.

A mensuração de ativos da natureza parece chegar ao seu ápice com as chamadas “emissões de carbono” – que seriam contabilizadas em toneladas de CO2 emitidos na atmosfera. Os valores, aparentemente objetivos e confiáveis, serviriam de parâmetro para “medir” o quanto cada país emite de carbono na atmosfera e o que deveria ser feito para que esta emissão fosse “compensada”.

A convenção climática caminha para sua 22a Conferência em Marrakesh (COP 22) e vem para referendar, via o recém ratificado Acordo de Paris, a centralidade do combate às mudanças climáticas na redução de emissões de CO2 e suas compensações, sem questionar o modelo de desenvolvimento baseado na exploração dos combustíveis fósseis e no consumo desenfreado.

O problema então seria quase que exclusivamente o excesso de emissões de CO2 na atmosfera? “Seriam as mudanças climáticas mais importantes e urgentes do que a perda de biodiversidade, a degradação das terras agricultáveis ou o esgotamento da água doce? Podem estes fenôme­nos ser considerados de forma isolada?”, questionam os autores.

O livro argumenta que a forma como descrevemos e enquadramos um proble­ma, muitas vezes predetermina os tipos de soluções e respostas a serem dadas e que o modelo carbonocêntrico ao mesmo tempo que cria, destrói conhecimento, além de formular uma nova abstração global.

Alógica de mercado impera já algum tempo nas Conferências da ONU, mas espera-se que o mau funcionamento no enfrentamento das mudanças climáticas dos mecanismos que compõem a economia verde e a geração de impactos negativos que eles criam nos territórios e para as populações que nele vivem também sejam tema das negociações.

SERVIÇO:

Lançamento das publicações “Crítica à Economia Verde” e “A Métrica do Carbono: Abstrações Globais e Epistemicídio Ecológico”

Quando: 25 de outubro de 2016

Onde: IAB – Beco do Pinheiro, 10 – Flamengo, Rio de Janeiro.

As duas publicações serão distribuídas gratuitamente. Exemplares impressos podem ser solicitados pelo e-mail info@br.boell.org e o download da versão digital pode ser feito no link http://br.boell.org/pt-br/publicacoes

Sobre os autores:

Barbara Unmüßig – É cientista política e diretora plena da Fundação Heinrich Böll desde 2002. É também, desde 2009, membro substituto do conselho consultivo do Instituto Alemão de Direitos Humanos.

Camila Moreno – É pesquisadora na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA/UFRRJ) e acompanha as negociações de clima junto às Nações Unidas desde 2008.

Daniel Speich Chassé – É professor de história na Universidade de Lucerne (Suíça). Estuda a evolu­ção dos sistemas de conhecimento no mundo moderno a partir de 1800. Seu foco é a governança do meio ambiente e da economia.

Lili Fuhr – É geógrafa e coordenadora de política ambiental internacional da Fundação Heinrich Böll desde 2008, com concentração em política internacional climática e de recursos naturais.

Thomas Fatheuer – É sociólogo, viveu no Brasil entre 1992 e 2010, onde foi diretor do escritório da Fundação Heinrich Böll no Rio de Janeiro. Antes, trabalhou em projetos de proteção das florestas na região amazônica para o DED (Serviço Alemão de Cooperação Técnica e Social) e a GTZ (Agencia Alemã de Cooperação Técnica).

Sobre a Fundação Heinrich Böll

A Fundação Heinrich Böll é uma organização alemã sem fins lucrativos ligada ao Partido Verde, cujo nome é uma homenagem ao escritor alemão e vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Dentre os princípios da Fundação estão a defesa da ecologia, da sustentabilidade, da democracia, dos direitos humanos e da justiça social.

Com sede em Berlim, a Fundação atua no debate de ideias e no apoio a atividades em 60 países, através de 30 escritórios. O escritório brasileiro, cuja sede fica no Rio de Janeiro, foi inaugurado em 2000.

O golpe chega à Funai

A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), instância nacional que congrega as distintas organizações indígenas regionais do Brasil, diante do debate instalado sobre o tema da indicação do Presidente da Funai vem de público manifestar a sua preocupação sobre as estratégias adotadas por este governo ilegítimo de tratar as questões indígenas na tentativa de fragmentar o movimento por meio dos povos e suas organizações. Não é de agora que tentam usar manobras e artimanhas políticas para nos colocar uns contra os outros, não podemos aceitar que o interesse dessa gente seja mais forte que a nossa resistência e a nossa histórica luta coletiva em defesa de nossos Direitos e de nossos Territórios.

Na atual conjuntura , esta perspectiva se torna mais necessária, uma vez que está clara a determinação do atual governo de adotar medidas antipopulares que restringem e tendem a reduzir ou até suprimir direitos conquistados, a exemplo da famigerada PEC 241, que estabelece um limite para os gastos federais para os próximos 20 anos, a PEC 215/00 e a PEC 187/16, que sob suposto respeito à autonomia propõe que os povos indígenas participem de atividades produtivas e florestais, quando na verdade é outro instrumento que tenta levar à frente os interesses dos ruralistas contidos na PEC 215.

A aprovação definitiva da PEC 241, que já foi aprovada em primeiro turno, implicará no orçamento de 2017 uma redução de R$ 430 milhões nas políticas públicas que atendem a agricultura familiar, a reforma agrária, os povos indígenas, os quilombolas e as comunidades tradicionais, diretamente nos serviços essenciais de saúde e educação e de direitos humanos em geral. Para a Funai especialmente está previsto em 2017 o menor valor de aplicação livre dos últimos anos. O programa de demarcação e fiscalização das terras indígenas caiu de 17 milhões de reais em 2007 para 15 milhões em 2017, uma redução de 15%. Por isso que à PEC 241 bem lhe cabe o nome de PEC da morte.  Mas é desde este ano, de 2016, que a Funai realiza as suas atribuições institucionais no limite. Ela corre o risco de não terminar o ano funcionando em decorrência da falta de recursos financeiros para cobrir as atividades fins, além da área meramente administrativa.

Em razão de todo esse contexto e ainda marcado pelo rateio político em que o cargo da presidência da Funai é tratada por parte do governo de turno e sua base aliada, composta por partidos políticos tradicionalmente inimigos dos povos indígenas, a APIB se recusa a indicar nomes, por entender que as negociatas políticas e interesses escusos estarão no bojo dessa nomeação, cujo presidente deverá agir por conveniência e não por princípios que contemple a real demanda dos Povos indígenas. Todavia, reiteramos a posição já manifestada anteriormente, que somos totalmente contrários à militarização da Funai, esta precisa sim, de condições para atuar e os povos indígenas não precisam de General e sim de respeito e de justiça.

No entanto, a APIB respeita a vontade de todas lideranças indígenas que postulam o seu nome ou são indicadas por partidos políticos, ONGs e até membros da Funai para o cargo da Presidência do órgão indigenista. No momento, temos conhecimento de que há pelos menos 09 ou 11 nomes para o pleito.  Diante dessa situação, a APIB se mantém na posição de seguir na luta cumprindo o seu papel de controle social do movimento indígena.

Rechaçamos ainda a postura da Secretaria Especial de Saúde Indígena – SESAI, que até hoje não conseguiu cumprir devidamente o seu papel de executar as ações de saúde, e agora, extrapolando as suas funções age de má fé, se prestando à manobra de utilizar a máquina pública, para trazer as lideranças indígenas de todo o Brasil alegando ser para discutir os rumos da Saúde indígena, e no momento, querer incidir na decisão da presidência da Funai!? Que interesse tem por trás dessa articulação e desse apoio ao General? Por duas vezes as reuniões do controle social foram canceladas pelo secretário Rodrigo Rodrigues alegando falta de recursos e de repente aparece um jeito de levar várias lideranças pra além do número do Fórum de presidentes de CONDISI para falar sobre outro órgão , isso é no mínimo contraditório e inaceitável, estão invertendo os papéis e distorcendo a lógica do controle social, utilizando as instâncias do governo que prestam assistência aos povos pra tentar legitimar as suas maldades contra nós.

A Funai, como órgão indigenista oficial do Estado Brasileiro, deve cumprir com a sua missão institucional de coordenar a política indigenista brasileira, sobretudo dando seguimento a regularização dos territórios indígenas ameaçados pelo atual congresso Nacional e pelo próprio Estado Brasileiro. Assim, não podemos aceitar que as tentativas de impor mais uma vez à nomeação de pessoas não alinhadas aos direitos indígenas só reforça a nossa visão de que o governo brasileiro para além de não ter compromisso com os direitos dos povos originários desse país, tenta emplacar medidas que violam tais direitos, dificultando ou impedindo que o seu principal canal de diálogo com o movimento indígena e indigenista que é o CNPI intervenha no debate sobre o fortalecimento da Funai.

Mais uma vez o governo brasileiro ensaia violar tratados internacionais que versam sobre direitos humanos, sobretudo a Convenção 169 da OIT quando não respeita o direito à consulta prévia, livre e informada, quando medidas legislativas ou administrativas são suscetíveis de afetar os nossos povos, como as medidas que estão em curso.

Para a APIB, o presidente da Funai deverá, assegurar uma política distante do indigenismo integracionista, tutelar, paternalista ou autoritário e dar cumprimento às seguintes responsabilidades institucionais:

1. Dar sequência aos processos de demarcação das terras indígenas, instituindo grupos de trabalho (GTs) para assegurar a identificação e delimitação dos territórios indígenas, a fim de serem declarados pelo Ministro da Justiça como terras tradicionais e homologadas pela Presidência da República.

2. Cumprir devidamente o seu papel de órgão articulador e fiscalizador junto a outras instâncias governamentais, impedindo desvios como a tentativa de municipalização do atendimento à saúde indígena.

3. Assegurar a participação dos povos e organizações indígenas na formulação, avaliação e implementação da política indigenista do Estado Brasileiro, principalmente das propostas aprovadas pela I Conferência Nacional de Política Indigenista, realizada no final do ano de 2015.

4. Agir junto ao Executivo para que este garanta:
–  A dotação orçamentária necessária, à implementação da Política Nacional de Gestão Ambiental e Territorial das Terras Indígenas (PNGATI).

– Atuação no Congresso Nacional para inviabilizar a aprovação de dezenas de iniciativas legislativas que tramitam no intuito de suprimir os direitos indígenas, principalmente territoriais, tal e como as PEC 215, PEC 187/16, PL 1610 de mineração em terras indígenas etc.

– Incidência junto ao Supremo Tribunal Federal (STF) para que interpretações reducionistas do direito originário dos povos indígenas a suas terras, como a tese do “Marco Temporal”, que remete a ocupação tradicional ao ano de 1988, não sejam consolidadas.

– Tomar as medidas cabíveis para colocar fim à violência e criminalização crescentes contra povos, comunidades e lideranças indígenas.

– Fortalecer a FUNAI, com orçamento e quadro de servidores, visando uma Política Indigenista contemporizada com o novo marco jurídico nacional e internacional, de reconhecimento, proteção e promoção dos direitos dos povos indígenas.

A APIB, por fim, chama aos povos e organizações indígenas de todo o Brasil a se articularem e mobilizarem contra a onda de retrocessos e supressão de direitos desenhado no âmbito dos distintos poderes do Estado: no Executivo, por meio do corte orçamentário e de servidores; no Legislativo, por meio da recriação da Comissão Parlamentar de Inquérito da Funai e do Incra e de outras iniciativas legislativas antiindígenas; e no Judiciário, por meio da reinterpretação dos princípios basilares do direito originário indígena à terra embutida na tese do marco temporal, sem esquecer da crescente violência e criminalização que os invasores praticam contra os povos nos territórios indígenas.

Neste momento histórico exigimos que a Funai tenha condições reais de cumprir devidamente o seu papel institucional de demarcar e proteger os territórios, proteger a vida, a cultura e o conjunto dos direitos dos povos indígenas.

Brasília – DF, 18 de outubro de 2016.

ARTICULAÇÃO DOS POVOS INDÍGENAS DO BRASIL – APIB
MOBILIZAÇÃO NACIONAL INDÍGENA

Idec lança campanha nacional por alimentação adequada e saudável

Na Semana Mundial da Alimentação, o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) lançou esta semana o “Movimento Comer Livre”, uma série de iniciativas para sensibilizar as pessoas para uma alimentação mais adequada e saudável.

A campanha terá o auxílio de seis filmes, que abordarão os principais obstáculos citados no Guia Alimentar da População Brasileira como empecilhos para a alimentação saudável. Em seis semanas, os filmes vão abordar aspectos como publicidade, custo, falta de tempo e de informação entre os pontos que dificultam os hábitos alimentares saudáveis.

Nas redes sociais, os internautas serão desafiados a responder como superar essas barreiras e comer de forma livre. As melhores respostas serão divulgadas como dicas. O primeiro vídeo já está no ar e provoca os consumidores a responder: afinal, o que é comer livre para você?

A campanha pretende mostrar que, para comer de forma saudável e livre, é preciso priorizar o consumo de comida de verdade, como os alimentos in natura ou minimamente processados, além de refeições caseiras; outra dica importante é evitar os produtos alimentícios ultraprocessados, que são vendidos em caixinhas ou pacotes, já prontos para serem comidos, mas que apresentam excessos de sódio, gorduras, açúcar, bem como aromatizantes, conservantes e outros aditivos.

“O objetivo da campanha é empoderar o cidadão a fazer escolhas de forma autônoma e, sobretudo, encorajar a adoção de um padrão alimentar ‘livre’ da influência nociva das práticas enganosas de publicidade de alimentos ultraprocessados”, diz a nutricionista do Idec, Ana Paula Bortoletto, que faz parte do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea).

O movimento lançado pelo Idec está em sintonia com o tema da 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, realizada em novembro do ano passado, em Brasília, e que teve como lema “Comida de verdade, no campo e na cidade”.

Vamos falar sobre Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional?

Você está sendo roubado pela PEC 241

Publicado por Auditoria Cidadã da Dívida.

O Brasil tem sido violentamente roubado pelo Sistema da Dívida.

Todos os anos, centenas de bilhões são subtraídos do orçamento federal para o inconstitucional pagamento de grande parte dos juros nominais – os mais elevados do mundo – e sequer sabemos quem são os credores, pois essa informação é sigilosa.

Mais algumas centenas de bilhões de reais vazam do orçamento para remunerar a sobra de caixa dos bancos, nas questionáveis operações denominadas “compromissadas” que já superam R$ 1 trilhão. Também não são revelados os beneficiários dessa despesa estimada em quase R$ 200 bilhões em 2015.

Outras centenas de bilhões de reais do orçamento federal se destinaram a cobrir prejuízos da política monetária suicida do Banco Central, tais como as bilionárias perdas com a farra dos contratos de swap cambial nos últimos anos (cujos beneficiários também são sigilosos); os prejuízos escandalosos de R$ 147,7 bilhões em 2009; R$48,5 bilhões em 2010, entre outros. Todos esses prejuízos do BC são transformados em “dívida pública”!

Também foram transformados em “dívidas públicas” montantes bilionários de dívidas privadas, dívidas prescritas e até passivos de bancos. Adicionalmente, diversas ilegalidades, ilegitimidades e até fraudes comprovadas inclusive por Comissões do Congresso Nacional fazem parte da chamada dívida pública desde a década de 70, passando por sucessivos governos desde então.

Esses mecanismos perversos e obscuros que “geram dívida pública” constituem a principal causa da crise fiscal que estamos enfrentando no país, pois a partir do momento em que a dívida é gerada, sobre ela passam a incidir os juros mais elevados do planeta, que são arbitrados pelo Banco Central.

O gasto com o Sistema da Dívida tem consumido quase a metade do orçamento federal anualmente, conforme dados oficiais. Em 2015, foram destinados 42,43% do Orçamento Geral da União, ou seja, R$ 962.210.391.323,00 para juros e amortizações:

Grande parte desse pagamento é inconstitucional, pois decorre de manobra que contabiliza expressiva parcela dos juros nominais como se fosse “amortização”, burlando o disposto no art. 167, inciso III, da Constituição Federal, conforme denunciado pela CPI da Dívida Pública desde 2010 .

Apesar dessa sangria, a dívida vem aumentando continuamente. Em 2015, por exemplo, a dívida pública federal interna aumentou R$ 732 bilhões, saltando de R$3,204 trilhões para R$3,937 trilhões em apenas 11 meses (31/01 a 31/12), conforme publicado pelo Banco Central.

Esse crescimento brutal da dívida não teve contrapartida alguma em investimentos efetivos, que ficaram restritos a apenas R$ 9,6 bilhões em 2015.

Toda a economia real encolheu em 2015. Passamos por preocupante processo de desindustrialização; queda no comércio; desemprego recorde, arrocho salarial e até o PIB do país diminuiu 3,8%, porém, os lucros dos bancos cresceram como nunca, conforme dados do próprio Banco Central:

Fonte: http://www4.bcb.gov.br/top50/port/top50.asp

Os bancos auferiram lucros de R$96 bilhões em 2015, ou seja, 20% a mais do que haviam lucrado em 2014, e esse lucro teria sido 300% maior se não tivessem feito a “reserva para créditos duvidosos” de R$183,7 bilhões:

O estratosférico lucro dos bancos quando toda a economia do país despenca é uma evidência de que está ocorrendo uma transferência de renda para o setor financeiro privado. A engrenagem que promove isso é o Sistema da Dívida, ou seja, a utilização do endividamento público às avessas; em vez de representar ingresso de recursos para investimentos geradores de desenvolvimento socioeconômico, tem servido para alimentar os mecanismos de política monetária suicida do Banco Central que, ao mesmo tempo, transferem bilhões aos bancos privados e geram dívida pública para toda a sociedade pagar…

Assim, o que está “quebrando” o Brasil é essa contínua sangria de quase metade do orçamento federal, anualmente, para o pagamento de juros extorsivos ao setor financeiro e a sigilosos investidores, incidentes sobre “dívidas” geradas sem contrapartida alguma, fruto de transformação de centenas de bilhões de reais de prejuízos da política monetária do Banco Central em “dívida pública”, além de outras operações ilegais e ilegítimas.

Nessa circunstância, surge a PEC 241, cujo objetivo explícito, mascarado de controle de gastos, é sacrificar todas as demais rubricas orçamentárias para destinar mais recursos ainda para essa chamada “dívida pública”, que nunca foi objeto de uma auditoria, como manda a Constituição Federal.

O que a PEC 241 pretende fazer?

Usando o óbvio discurso de que é necessário controlar gastos, a PEC 241 libera recursos à vontade, sem teto e sem limite, para o Sistema da Dívida.

A causa da explosão da dívida pública não tem sido, de forma alguma, um suposto exagero dos investimentos sociais (previdência, pessoal, saúde, educação, etc.), mas sim, a incidência de juros abusivos e a prática de questionáveis operações financeiras que beneficiam somente aos sigilosos investidores privados, gerando dívida pública sem contrapartida ao país.

Cabe registrar que no período de 2003 a 2015, acumulamos “superávit primário” de R$ 824 bilhões , ou seja, as receitas “primárias” (constituídas principalmente pela arrecadação de tributos) foram muito superiores aos gastos sociais, tendo essa montanha de dinheiro sido reservada para o pagamento da questionável dívida pública. Apesar do contínuo corte de investimentos sociais imprescindíveis à população, a dívida pública se multiplicou, no mesmo período, de R$ 839 bilhões ao final de 2002 para quase R$ 4 TRILHÕES ao final de 2015 .

O relator da PEC 241/2016 “assinala que a Dívida Bruta do Governo Geral aumentou de 51,7% do PIB em 2013 para 67,5% do PIB em abril de 2016”, porém, não menciona as razões desse aumento, que não teve absolutamente nada a ver com os gastos sociais que essa PEC vai congelar por 20 anos, mas sim com o que ela deixa de controlar: os juros abusivos e os mecanismos financeiros ilegais que estão gerando dívida pública.

A PEC 241 pretende:

• Agravar ainda mais o privilégio da chamada “dívida pública” no orçamento federal, na medida em pretende congelar a destinação de recursos para todas as demais rubricas orçamentárias por 20 anos(!) para que tais recursos destinem-se à dívida pública;

• Amarrar todas as possibilidades de desenvolvimento socioeconômico do Brasil, devido ao aprofundamento do cenário de escassez de recursos para investimentos, ao mesmo tempo em que aumentará a transferência de recursos para o setor financeiro;

• “Legalizar” a burla que vem sendo praticada desde o Plano Real ao art. 167, inciso III, da Constituição Federal , na medida em que permitirá a destinação de toda e qualquer parcela de recursos para a chamada dívida pública;

• Deteriorar fortemente o atendimento aos direitos sociais no Brasil, 9a economia mundial que já amarga a vergonhosa 75a posição no ranking dos direitos humanos, segundo o IDH medido pela ONU;

• Privilegiar esquema fraudulento que está sendo implantado no país, mascarado da falsa propaganda de venda de créditos incobráveis (como a Dívida Ativa) que na realidade não saem do lugar e continuam sendo cobrados pelos órgãos competentes, tendo em vista que essa PEC 241 deixa fora do congelamento a destinação de recursos para “empresas estatais não dependentes” que operam esquema semelhante ao que quebrou a Grécia;

• Manter a gastança irresponsável com os maiores juros do mundo, incidentes sobre dívidas ilegais, ilegítimas e até fraudes denunciadas por diversas comissões do Congresso Nacional, e que nunca foram submetidas à auditoria prevista na Constituição.

A PEC 241 não irá resolver o problema do país, mas representará privilégio brutal para o setor financeiro privado e investidores sigilosos. É evidente que o gasto que precisa ser controlado no Brasil é o gasto com essa chamada “dívida pública”. Mas a PEC 241 faz o contrário.

O que está por trás dessa PEC 241?

Além de privilegiar a chamada “dívida pública” e continuar alimentando cada vez mais o Sistema da Dívida às custas do sacrifício de todas as demais rubricas orçamentárias, a PEC 241 privilegia esquema fraudulento semelhante ao que quebrou a Grécia.

Bem escondido no texto proposto pela PEC 241/2016 para o Art. 102, inciso V, parágrafo 6o, inciso IV do ADCT, encontra-se o privilégio de recursos, à vontade, sem teto e sem limite, para “empresas estatais não dependentes”.

Enquanto as empresas estatais estratégicas e lucrativas vêm sendo privatizadas há 20 anos no Brasil, estão sendo criadas em diversos estados e municípios, “empresas estatais não dependentes” que emitem debêntures com desconto brutal e pagam juros estratosféricos, com garantia estatal.

A empresa PBH ATIVOS S/A, por exemplo, foi criada por lei votada na Câmara de Vereadores de Belo Horizonte , com um capital autorizado de R$100.000,00. No entanto, R$100.000,00 corresponde ao valor de cada uma das debêntures emitidas por essa empresa, como demonstra informação extraída de sua página na internet:

Você está sendo roubado pela PEC 241

Essas “empresas estatais não dependentes” são pessoas jurídicas de direito privado e operam escandaloso esquema de transferência de recursos públicos para o setor financeiro privado, tendo em vista que vendem, a investidores privilegiados, com desconto que pode chegar a 60%, debêntures com garantia real (dada pelos entes federados), pagando juros estratosféricos que podem ultrapassar 20% ao ano.

O rombo será enorme e, por tratar-se de empresas estatais, os entes federados serão chamados a honrar a garantia dada, gerando assim grandes volumes de obrigações onerosas que configuram dívida pública. Assim, esse mecanismo abusivo e inconstitucional gera dívida pública sem contrapartida alguma.

Esse esquema está mascarado por sedutora propaganda de que entes federados poderiam “vender”, “ceder” ou “novar” direitos de créditos de Dívida Ativa de difícil arrecadação.

Na prática, tais créditos continuam sendo cobrados por órgãos competentes (Procuradorias de Fazenda), e o que está sendo cedido de fato, pelos entes federados a “empresas estatais não dependentes”, é meramente uma garantia onerosíssima, sem contrapartida alguma, o que é ilegal! Os projetos de lei PLS 204/2016, PLP 181/2015 e PL 3337/2015 que tramitam no Congresso Nacional visam “legalizar” esse esquema, que irá provocar um enorme rombo nas contas públicas.

Esse negócio entrou no país por meio de consultorias especializadas, como a ABBA Consultoria e Treinamento por exemplo. O Sr. Edson Ronaldo Nascimento, responsável da ABBA, é também assistente consultor do FMI, Presidente da PBH Ativos S/A (empresa estatal não dependente de Belo Horizonte); Superintendente Executivo da Secretaria de Fazenda do Estado de Goiás; Secretário de Fazenda do Estado de Tocantins, entre outros cargos estratégicos ocupados no Distrito Federal e Secretaria do Tesouro Nacional. Assim o esquema ilegal se alastra.

É infame que a mesma PEC que engessa por 20 anos investimentos sociais em saúde, educação, assistência etc. privilegie a destinação de recursos à vontade, sem limite e sem teto algum, para alimentar esse esquema ilegal que gera dívida pública sem contrapartida, semelhante ao que quebrou a Grécia.

Por que não são enfrentadas as amarras que impedem que o Brasil, o país da abundância, garanta vida digna para todas as pessoas?

O Brasil é atualmente a 9a maior economia mundial e nossa realidade é de extrema abundância. O Brasil detém, por exemplo:

– A maior reserva de nióbio do mundo, mineral estratégico, empregado em aeronaves, satélites espaciais, usinas nucleares e equipamentos de última geração. O Canadá possui apenas 2% das reservas mundiais de nióbio e, com esse recurso, garante saúde e educação pública, gratuita e de excelente qualidade para a sua população. O Brasil possui 98% das reservas. A exploração atual é feita principalmente em Minas Gerais de maneira totalmente opaca, por empresa particular, embora a Constituição Federal estabeleça que os minerais são bens da União ;

– A terceira maior reserva de petróleo;
– A maior reserva de água potável;
– A maior área agriculturável e clima favorável, permitindo a produção de alimentos durante os 12 meses do ano;
– Riquezas minerais diversas e Terras Raras que só existem em nosso País;
– Riquezas biológicas: fauna e flora de incontáveis espécies;
– Extensão territorial continental, com a população plenamente integrada, pois falamos o mesmo idioma;
– Potencial energético, industrial e comercial;
– Imensa riqueza humana e cultural.

Possuímos também riquezas financeiras: Reservas Internacionais de US$ 375 bilhões; montante de R$1 trilhão esterilizado no Banco Central (operações compromissadas), e sobra de R$ 480 bilhões em 2015 …

Nossa realidade de abundância nada tem a ver com o escandaloso cenário de escassez a que temos sido submetidos, com desemprego recorde, falta de recursos para o atendimento às necessidades sociais básicas e desarranjo econômico que tem levado ao encolhimento do PIB do gigante Brasil.

Esse cenário de escassez tem sido sustentado pelo modelo econômico concentrador de renda e riqueza que favorece atores privilegiados instalados no sistema financeiro privado e grandes corporações por meio de vários esquemas, como o Sistema da Dívida, o modelo tributário regressivo, a predatória exploração ambiental e ecológica, a desordenada política agrícola, sem falar nas brechas para o avanço dos lucros na exploração privada dos serviços de saúde, educação e previdência à medida em que tais serviços são sucateados por falta de recursos na rede pública.

Em vez de desmontar esse cenário de escassez e corrigir as distorções que tornam o gigante Brasil um dos países mais injustos do mundo, a PEC 241 aprofundará fortemente esse inaceitável cenário, inserindo no texto constitucional, por 20 anos, o favorecimento ainda mais escandaloso aos interesses sigilosos que usurpam nossas riquezas e impedem o nosso desenvolvimento socioeconômico.

A PEC 241 está roubando você e o país que você poderia e deveria ter. É urgente denunciar esse verdadeiro crime de lesa Pátria, enfrentar essas amarras que impedem o nosso desenvolvimento socioeconômico, a fim de garantir vida digna para todas as pessoas.

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Artigo “O Banco Central está suicidando o Brasil”, disponível em http://www.gazetadopovo.com.br/opiniao/artigos/o-banco-central-esta-suicidando-o-brasil-dh5s162swds5080e0d20jsmpc
Contratos celebrados pelo Banco Central, sem transparência alguma: não se sabe quem são os beneficiários, como estão sendo contabilizadas as perdas e os valores efetivamente envolvidos na garantia, a secretos investidores privilegiados, da cobertura da variação cambial. Só se sabe que o prejuízo é brutal e está fazendo a dívida interna explodir. Operações de swap cambial já forma consideradas ilegais, conforme TC-012.015/2003-0: “Não há, na Lei n.º 4.595/64 ou em outra legislação, dispositivo que autorize o Banco Central a atuar no ramo de seguros ou que o autorize a assumir posições de agente segurador de capital, muito menos a especular com variações cambiais, assumindo posições que podem dar muito lucro ou muito prejuízo.”
Ver Relatório Específico da Auditoria Cidadã da Dívida no 1/2013, disponível em http://www.auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2013/11/Parecer-ACD-1-Vers%C3%A3o-29-5-2013-com-anexos.pdf
Quadro XXXVI – Títulos Públicos Federais, disponível em http://www.bcb.gov.br/
Fonte: http://www.bcb.gov.br/htms/infecon/seriehistdivliq-p.asp
Fonte: http://www.bcb.gov.br/ftp/notaecon/ni201609pfp.zip , Tabela 36
Ver também:
• Artigo “PEC 241: teto para investimentos sociais essenciais e garantia de recurso para esquema fraudulento que o PLS 204/2016 o PLP 181/2015 e PL 3337/2015 visam “legalizar””, disponível em goo.gl/YmMe8m
• Folheto disponível em goo.gl/gmVu5P
• Esquema Fraudulento – Animação disponível em https://www.youtube.com/watch?v=xwpZ1B0cvCw
Lei Municipal n° 10.003 de 25/11/2010
http://www.cbmm.com.br/br/p/82/vendas-e-logistica.aspx
Art. 20 da Constituição Federal
Artigo “Sobraram R$480 bilhões no caixa do governo em 2015”, disponível em http://www.auditoriacidada.org.br/blog/2016/07/25/sobraram-r-480-bilhoes-no-caixa-do-governo-em-2015/

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