Entre agosto e outubro o Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos), em parceria com a Faculdade de Educação do Campo da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) e a Comissão Pastoral da Terra (CPT), promovem um ciclo de debates para cerca de 30 mulheres do sudeste do Pará. A região, marcada pela luta pela terra, também enfrenta a ocupação de grandes projetos de mineração, que afetam radicalmente o cotidiano da população.
A programação, que conta com quatro rodas de conversa virtuais e estimuladas por convidadas, traz para debate temas como a re(x)istência frente aos megaprojetos de mineração; a relação com a natureza e a defesa da vida; as violências econômicas e financeiras contras as mulheres, além de abordar conceitos como o de neoliberalismo e corpo-território.
As temáticas buscam aprofundar discussões que emergiram durante a primeira fase destes encontros, ainda em 2020. Na ocasião, quatro lives protagonizadas por lideranças de movimentos sociais, professoras e pesquisadoras da região abordaram as desigualdades enfrentadas pelas mulheres em seus territórios e seus esforços de defesa de suas comunidades. Os encontros deram origem ao livro Mulheres amazônidas: ecofeminismo, mineração e economias populares.
Neste segundo momento, pretende-se fortalecer os diálogos entre o contexto de enfrentamento dos megaprojetos no Pará e no Brasil e as realidades e pensadoras latinoamericanas. Ailce Margarida Alves, professora coordenadora do projeto de extensão e pesquisa “Mulheres Amazônidas: resistências na defesa da vida e do território em áreas de conflito com megaempreendimentos no sudeste do Pará (Unifesspa)”, expressa, de forma poética, que esta nova etapa marca “o sonho de que esta ciranda avance, com trocas importantes, significativas, que nos fortaleça e que nos ligue com outras mulheres de Abya Yala, que estão construindo resistências em outros territórios e passando por processos semelhantes”.
Para além das rodas de conversa, a parceria com pesquisadoras da Unifesspa dará origem a três informativos sobre as condições das mulheres que vivem em municípios que recebem um alto valor pela Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM).
Canaã dos Carajás, Marabá e Parauapebas, as três cidades analisadas, deveriam utilizar esta compensação para melhorar a qualidade de vida de suas populações. No entanto, segundo Tatiana Oliveira, assessora política do Inesc, acontece o contrário. “Vimos aprendendo com estas mulheres e com as pesquisas que temos realizado que não só os recursos da CFEM não são aplicados da maneira como deveriam, como, para nossa surpresa, nos municípios que mais os arrecadam, observamos um aumento da miserabilidade muito grande”, explica.